domingo, 6 de novembro de 2011

SONETOS:CARLOS PENA FILHO, CHICO BUARQUE, VINICIUS DE MORAES...


SONETO...CARLOS PENA FILHO

Por trás do musgo silencioso e espesso,
que cresce no teu ventre desolado,
nasce um mundo obscuro e inusitado
que eu não sei se mereço ou desmereço,

Sei apenas que às vezes, quando teço
canções noturnas do prazer frustrado,
sou, nem sei por que sombras, exilado
para além do meu fim e meu começo.

Esse teu mundo, concha que é morada
de anêmonas e polvos, é mais raro
que a luz de Deus na noite abandonada.

E é por isso talvez que não se entrega
e me deixa a esperar teu corpo claro
de fêmea esquiva que ao prazer se nega.



SONETO...CHICO BUARQUE.

Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono

Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo

Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída

Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio

SONETO...VINICIUS DE MORAES

Soneto De Separação
Composição: Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes

De repente do riso
fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas
fez-se a espuma
E das mãos espalmadas
fez-se o espanto
De repente da calma
fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão
fez-se o pressentimento
E do momento imóvel
fez-se o drama
De repente,
não mais que de repente
Fez-se de triste
o que se fez amante
E de sozinho
o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo,
distante
Fez-se da vida
uma aventura errante
De repente,
não mais que de repente


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