Não quero pedir nada ao fado e à vida -
Fernando Pessoa
Não quero pedir nada ao fado e à vida. Nada vale pedir—lhes, porque são Dependentes de uma outra coisa ida Que não lhes deixou forma nem razão.
Para que hei eu de pedir glória ou esmola A quem não tem licença para ser? O ar suficientemente me consola Por existir, e o campo com’ o ver.
Não, nada peço. Quando a prece é inútil Ë prolixo o mais curto do rezar. Se a natureza é assim tão falsa e fútil De que serve sentir, crer ou pensar?
Há ramos altos cuja sombra espalha Um sossego de fresco sobre nós, E há um som de água, que ao cair da calha, Nos faz mais sonolentos e mais sós.
Isso sim, isso... O resto é o que o mundo Tem por glória ou amor ou isenção.
Fernando Antônio Nogueira Pessoa (Lisboa, Portugal, 13 de junho de 1888 - Lisboa, 30 de novembro de 1935) - Considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa, foi criado da África do Sul. Além de poeta, foi tradutor, astrólogo, jornalista, crítico literário. Se tornou também muito conhecido pelos seus heterônimos literários, com especial destaque para Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis.
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