quinta-feira, 30 de junho de 2011

QUANDO CHICO BUARQUE PEDIA FERNANDO HENRIQUE...


VOCE CONHECE WILSON DAS NEVES ?







Wilson das Neves

Wilson das Neves é um baterista consagrado no Brasil. Muito presente no samba, já tocou com grandes nomes do gênero como: Martinho da Vila, João Nogueira, Elis Regina, Cartola, Elza Soares e diversos outros. Após 40 anos de carreira, decidiu mostrar seu lado compositor e em 1997 lançou seu primeiro CD solo: "O som sagrado de Wilson das Neves", em parceria com Paulo César Pinheiro e Chico Buarque. O disco logo caiu no gosto da crítica especializada, recebendo diversos elogios. Em 2004 lançou seu segundo trabalho solo "O Brasão de Orfeu", que não me agradou muito. Agora em 2010, acaba de sair do forno seu mais novo álbum: "Pra Gente Fazer Mais Um Samba". Deste gostei bastante, ficou muito bom. Recomendado principalmente para quem gosta daquele samba de raíz mesmo, aquele samba mais cadenciado



O Samba É Meu DomO Samba É Meu Dom
Wilson das Neves
Composição: Wilson das Neves/Paulo Cesar Pinheiro


O samba é meu dom
Aprendi bater samba ao compasso do meu coração
De quadra, de enredo, de roda, na palma da mão
De breque, de partido alto e o samba-canção
O samba é meu dom
Aprendi dançar samba vendo um samba de pé no chão
No Império Serrano, a escola da minha paixão
No terreiro, na rua, no bar, gafieira e salão
O samba é meu dom
Aprendi cantar samba com quem dele fez profissão
Mário Reis, Vassourinha, Ataulfo, Ismael, Jamelão
Com Roberto Silva, Sinhô, Donga, Ciro e João
O samba é meu dom
Aprendi muito samba
Com quem sempre fez samba bom
Silas, Zico, Aniceto, Anescar, Cachinê, Jaguarão
Zé com Fome, Herivelto, Marçal, Mirabô, Henricão
O samba é meu dom
É no samba que eu vivo
Do samba é que eu ganho o meu pão
E é no samba que eu quero morrer
De baqueta na mão
Pois quem é de samba
Meu nome não esquece mais não



Grande Hotel
Chico Buarque
Composição: Wilson das Neves/Chico Buarque


Vens ao meu quarto de hotel
Sem te anunciares sequer
Com certeza esqueceste que és
Que és uma senhora
Vejo-te andar de tailleur
Atravessando a novela
Sentes prazer em falar
De sentimentos de outrora


Deito-me no canapé
Não sem antes abrir a janela
E ver tuas palavras ao léu
Jogas conversa fora
Sabes que estive a teus pés
Sei que serás sempre aquela
Pretendes me complicar
Mas passou a nossa hora


Não me incomodo que fumes
Podes mesmo te servir à vontade do meu frigobar
Ou levar um souvenir
Dispõe do meu telefone
Desejando, liga o interurbano pra qualquer lugar
E apaga a luz ao sair


Quando eu pensava em dormir
Tu chegas vestida de negro
Vens decidida a bulir
Com quem está posto em sossego
Entras com ares de atriz
Sabes que sou da platéia
Deves pensar que ando louco
Louco pra mudar de idéia, não?
Pensas que não sou feliz
Entras com roupa de estréia
Deves saber que ando louco
Louco pra mudar de idéia

GLOSANDO O POBRE...





Outras glosas do mote de domínio popular

“Shineray” a cinquentinha
É seu sonho de consumo
Pobre sempre leva fumo
É chamado de gentinha
Compra briga com vizinha
Mora em Alto do Mandu
Ou depois de Igarassu
No Jordão ou Cavaleiro
Se merda fosse dinheiro
Pobre nascia sem cu

Um carrinho de espetinho
O seu empreendimento
Mora num “apertamento”
Ou então num puxadinho
Lá no Alto Zé do Pinho
Ou cidade Garapu
Passa mal chama o SAMU
Que não acha o paradeiro
Se merda fosse dinheiro
Pobre nascia sem cu

Pobre come uma buchada
Rico come é caviar
Pobre no rio a nadar
Rico de lancha arretada
Pobre bate uma pelada
Rico é golfe e kung fu
Pobre paga IPTU
Rico manda pro estrangeiro
Se merda fosse dinheiro
Pobre nascia sem cu

QUESTÃO DE INTERPRETAÇÃO...

VIRGINDADE MODERNA


Primeira noite dos recém-casados. Na cama, a moça diz ao rapaz:
- Sabe, amor, eu não disse a você, mas eu não sei fazer nada de nada!
- Não se preocupe, minha linda! Você tira a roupa, deita sobre a cama e deixa que eu faço o resto!
E ela, muito meigamente, responde:
- Não, amor! - Trepar, eu trepo bem pra cacete, desde os 12 anos. O que eu não sei é:
lavar,
passar,
cozinhar,
arrumar casa .....

quarta-feira, 29 de junho de 2011

SOBRE QUALIDADE DE VIDA...

BEM VIVER

QUANTO MENOS, MELHOR
QUER ATRAIR PROSPERIDADE/ COMECE JOGANDO FORA TUDO O QUE NÃO SERVE MAIS

A CAUSA PRIMORDIAL de todas as doenças é o acúmulo de toxinas em nosso corpo, que impede o fluxo natural da energia. Essa é a visão da tradicional medicina indiana, ayurveda, mais antigo sistema de cura do mundo. Ao mantermos nosso organismo livre de toxinas contribuímos de forma decisiva para termos saúde – definida não apenas como ausência de doença, mas como um estado de contentamento geral, pelo simples fato de existir, de ser.
Nosso corpo é o templo da nossa alma e precisamos mantê-lo forte, flexível e saudável. Numa analogia simples, podemos dizer que nossa casa é o templo de nosso corpo – e também merece cuidados. É para esse espaço que voltamos todos os dias, é onde nos alimentamos, descansamos, vivemos em família. É o nosso porto seguro. E para mantê-lo saudável também precisamos limpar as toxinas – ou seja, as tralhas que tendemos a acumular e que dispersam a energia da prosperidade.
Aproveite para pensar sobre esse assunto. Você já tinha ouvido falar em toxinas da casa? São todos os objetos que não utilizamos há anos, roupas das quais a gente não gosta mas que permanecem penduradas no armário, coisas feias, lascadas ou quebradas, papeis velhos, remédios vencidos.... Enfim, tudo aquilo que ocupa espaço e atravanca o fluxo espontâneo da energia, assim como as toxinas do nosso corpo.
Da mesma maneira que devemos manter o peso do nosso corpo, precisamos também manter o peso da nossa casa para termos saúde. Ao nos desapegarmos das coisas velhas, abrimos automaticamente espaço para que a energia que estava estagnada volte a circular. Tudo o que era negativo começa a ser limpo, e o espaço passa a ser preenchido por prana, energia vital do universo.
Reserve o fim de semana para por fim `bagunça, libertar-se do acúmulo de coisas desnecessárias. Faça uma revisão crítica do que você acumulou ao longo do tempo, perguntando-se: preciso realmente disso? Ouça a resposta a partir do seu coração – e não apenas da razão – e separe tudo o que não serve mais para dar a alguém que fato usará aquilo.
Durante esse processo de limpeza física do espaço onde você vive, aproveite a oportunidade para livrar-se também de mágoas, tristezas, medos do passado.... Livre-se dos barulhos! O silêncio é o campo fértil para nosso rejuvenescimento. Jogue fora o turbilhão dos pensamentos, assim você abre espaços entre eles, seduz o seu espírito e ouve as mensagens inspiradoras da sua alma. Pense nesse processo como uma faxina muito especial: a faxina da prosperidade e da felicidade.


Autora Márcia de Luca é fundadora do CIYMAM – Centro integrado de Yoga

SOBRE DESENCANTOS...

CORDEL DESENCANTADO

Sérgio Gomes

Se falo certo,
Tô errado,
Se falo errado,
Tô diplomado,
Porque nesse Brasil,
O bom é ser analfabetizado...

Se sou hetero,
tô errado,
Se sou gay,
Tô valorizado,
Porque nesse Brasil,
Anda tudo meio afrescalhado...

Se elogio uma mulher,
É assédio, tô errado,
Mas, se ignoro, coitado
Tô lascado, me chamam de viado
Porque nesse Brasil,
Anda tudo muito politizado...

Se faço brincadeira na escola,
Tô errado,
Se não faço, fazem comigo
Tô lascado,
Porque nesse Brasil,
Anda tudo bullynguizado...

Já não sei o que fazer,
Se posso me virar ou me mexer,
Se devo andar de frente ou de lado,
Êta paisinho de merda danado!

terça-feira, 28 de junho de 2011

SOBRE O BADEJO...ARRANCO DE VARSÓVIA.




Badêjo Ou Badéjo?



Joguei meu anzol no brejo
pra saciar teu desejo
queria pegar um badéjo
e trocar um monte de beijo
você me deixou no queijo
e ainda disse que o nome do peixe é badêjo

é badêjo ou badéjo?
badêjo ou badéjo?

badêjo
você me deixou no brejo
e não me deu nenhum beijo

é badéjo ou badêjo?
badéjo ou badêjo?

badéjo
você não me deu um beijo
me deixou aqui no brejo

perguntei ao pescador às margens do rio Tejo
ele não me explicou
se é badêjo, se é badéjo
meu amor não faz assim
não mereço esse despejo
por que tanto faz pra mim
se o nome do peixe é badéjo ou badêjo?

é badêjo ou badéjo?
badêjo ou badéjo?


badêjo
eu te amei no atacado
você me amava no verejo

joguei meu anzol no brejo
pra saciar teu desejo
queria pegar um badéjo
e trocar um monte de beijo
você me deixou no queijo
e ainda me disse que o nome do bicho é badêjo

é badêjo ou badéjo?
badêjo ou badéjo?

badêjo
eu vejo defeitos em mim
também vejo em você mas finjo que não vejo
badéjo ou badêjo?
badéjo ou badêjo?

badéjo
vou voltar pra quem me ama
quem anda pra trás é carangueijo

perguntei ao pescador às masgens do rio Tejo
ele não me explicou
se é badêjo, se é badéjo
meu amor não faz assim
não mereço esse despejo
por que tanto faz pra mim
se o nome do peixe é badéjo ou badêjo?

é badêjo ou badéjo?
badêjo ou badéjo?

badêjo
você nunca se apaixonou
não sofreu por amor
neste ponto te invejo

badêjo ou badéjo?
badêjo ou badéjo?

badêjo
eu saía da praça mauá
pra te namorar em santo aleixo

badéjo ou badÊjo?
badéjo ou badÊjo?
badéjo
encontrei muitas rimas com "êjo"
difícil é rimar com o danado do "éjo"

badêjo ou badéjo?
badêjo ou badéjo?
badêjo
você assim não seria molejo
o nome do grupo seria moléjo

badêjo ou badéjo
badêjo ou badéjo
badêjo
eu te amei no atacado
você me amava no varejo


é badéjo ou badêjo

youtube eu te embalei criança



Samba do IrajáSamba do Irajá
Chico Buarque
Composição: Nei Lopes


Tenho impressa no meu rosto
E, no peito, o lado oposto ao direito
Uma saudade...que saudade!
Sensação de na verdade
Não ter sido nem metade
Daquilo que você sonhou
São caminhos, são esquemas
Descaminhos e problemas
É o rochedo contra o mar

É isso aí, ê Irajá
Meu samba é a única coisa
que eu posso te dar

Saudade veio à sombra da mangueira
Sentou na espreguiçadeira
E pegou num violão
Cantou a moda do caranguejo
Estendeu a mão prum beijo
E me deu opinião(opinião, opinião)
Depois, tomou um gole de abrideira
Foi sumindo na poeira
Para nunca mais voltar

É isso aí, ê Irajá
Meu samba é a única coisa
que eu posso te dar

SOBRE A CACHAÇA...



Cego Aderaldo

Cachaça é bebida boa
O povo chama “branquinha”:
Botam mel pra ficar doce
Então chamam “meladinha”,
Mas sai com as pernas trançando
Como quem cose bainha!

Os que gostam de aguardente
Não devem beber demais,
Que um velho de oitenta anos
Bebendo quer ser rapaz,
E no banho veste a calça
Com a barguilha pra trás.

* * *

Francisco Evaristo

O homem degenerado
Que se vicia a beber
Quando está puxando fogo
Só trata em aborrecer,
Faz coisas que o diabo
Faz questão pra não querer…

A cachaça, meus amigos,
Sempre só faz ação feia:
Logo que o cabra a toma
A todo mundo aperreia,
Precisa até a policia
Levá-lo logo à cadeia…

E termina até na peia
Devido ser imprudente
Depois se solta, mas fica
Tristonho e muito doente
Tudo isso só porque
Meteu-se na aguardente

Eis a razão porque digo
Dela qual o seu defeito:
Ataca primeiro o cérebro
Come o “figo”, acaba o peito,
E depois do mal tá crônico
Não há médico que dê jeito.

* * *

Zé da Venda

Carro sem roda não anda
Bebo deitado não cai
Corno em casa não manda
E cana sem ponche não vai.


* * *

Ascenso Ferreira

Suco de cana caiana
passado nos alambiques,
pode ser que prejudique,
mas bebo toda sumana .

* * *

Raminho

Aguardente é moça branca,
filha do velho usineiro.
Por causa dessa derrota,
hoje sou um cachaceiro.

* * *

Chico de Noca

Para quem bebe aguardente,
Se mete num grande porre,
Dá, apanha, mata ou morre
O beber não é decente…
Porém dando pra contente
Ou mesmo pra entristecer,
Podendo a cana fazer
Tornar-se franco um sovino,
Direi sempre que combino:
Não é defeito o beber!

* * *

Zé Preto

Nasce um menino e se cria
Na proa duma barcaça.
Não há serviço no mar
quesse menino num faça.
Quando se ajunta c’uns outros,
Começa a beber cachaça.

* * *

Siqueira de Amorim

Aguardente geribita
feita da cana caiana
Eu bebo desde o começo
Até o fim da semana
O cantador só é forte
Quando canta e bebe cana!

Um pouquinho de aguardente
A muita gente conforta:
Faz esquecer a tristeza,
Revive a esperança morta
Até as mulheres bebem
Também por detrás da porta!

Quando eu pego na viola
Disposto a cantar repente
Digo ao dono do “pagode”:
— Traga um pouco de aguardente…
Bebo pra matar o frio
E bebo pra ficar quente!

Hoje bebe todo mundo
Deputado e senador,
Bebe o soldado, o sargento,
O juiz, o promotor.
Como é que pode deixar
De beber o cantador?

* * *

Edinho de Magali

Sou canista sem segundo
Bebo mais que toda a gente
Se o veneno da serpente
Fosse cachaça com sobra
Eu desejava ser cobra
Tanto gosto de aguardente.

* * *

Zé Quincas

Se o rapaz fez mal à moça
E assaltou na sacristia
A culpa é da ‘marvada’
O pastor já bem dizia.

Se o rico bebeu uísque
E caiu no mictório,
Se excedeu, coitado, é pena
Não deve haver falatório.

Vomitou bem no decote
Da mulher do seu amigo
Correu nu em gritaria
Se borrou até o umbigo.

Esqueceu a mãe no freezer
CPF no bidê
Empurrou a avó na escada
Se for contar, ninguém crê

A cena é cotidiana,
‘Tudo isto é tolerável…
Quem não erra? – reza o dito,
O doutor é tão amável’

Mas, se um pobre bebe cana
É só diz uma verdade,
É cachaceiro, doente,
Não é de sociedade.

Um preconceito tarado
Grava a nossa cachaça
Sem razão, sem argumento,
Uma febre que não passa.”

* * *

Cancioneiro popular sergiano

Água de cana é cachaça
Concha pequena é cuié
Língua de véia é a desgraça
Bicho danado é muié.

* * *

Taioca dos Palmares

Bebo cana toda hora
Bebo cana todo dia
No dia que bebo cana
Burra peida e gata mia

SOBRE CAPIBA...UMA HISTÓRIA REAL.

POR LEONARDO DANTAS DA SILVA...

O Recife vivia uma fase posterior a Revolução Liberal de 1930. São Paulo pegara em armas numa Revolução Constitucionalista e, naquele ano de 1932, tropas das diversas unidades da Federação haviam se deslocado para o cenário da luta.

Nas ruas do Recife o panorama era o mesmo. As notícias da Revolução Constitucionalista chegavam pelos jornais ou, simplesmente, pela boca do povo. A vida da província era a mesma, pacata, tranquila, sem muita preocupação com o dia de amanhã.

Foi por essa época que o funcionário do Banco do Brasil, Lourenço da Fonseca Barbosa, pernambucano nascido em Surubim, mas criado na Paraíba, havia retornado ao Recife e aqui levava a sua costumeira vida de boêmio.

A tranquilidade da cidade contribuía para a doce vida do compositor Capiba também escritor e poeta festejado nas mais diversas rodas do Recife, cujas músicas viviam a ser dedilhadas nos pianos das residências burguesas dos bairros da Boa Vista e São José, com os seus frevos já pintando como sucessos nos carnavais de então.

Em alta madrugada, vinha o nosso poeta pela Rua Pedro Ivo (uma estreita rua por trás da igreja Matriz de Santo Antônio) em busca da Rua Nova aonde pegaria, às 4 da manhã, o “bonde dos operários” que o levaria para a sua morada.

Lépido e fagueiro não notara o poeta que estava sendo seguido. Um homem alto, com um boné parecido com os usados pelas forças policiais de então, surgia do meio da escuridão. Aproveitando o deserto da rua estreita, abordou o nosso Capiba apontando-lhe uma faca de mais de 12 centímetros de lâmina (“era mais de 40 mil réis de faca”, comentava o poeta após o susto), afirmando nervoso:

– “É um assalto! Passe pra cá a carteira…”

Tranquilo, com a voz que lhe é peculiar, o poeta ponderou para o já nervoso ladrão:

–“Mas o que é isso!… Bota essa lambedeira pra lá… E tem necessidade disso tudo?… Vamos conversar…”

Tirando a carteira, o nosso Capiba mostrou ao ladrão que dispunha de doze mil réis… mas você não pode levar todo. Assim, como é que fica o leite dos meninos?… Como é que eu vou me manter até o final do mês?…”

Antes que o ladrão desse qualquer sugestão, o nosso herói foi fazendo a sua partilha:

– “Você fica com oito mil réis e eu fico com quatro para o leite dos meninos… Combinado?…

Estando concordes, o ladrão ficou com dois terços do total e o nosso Capiba com o outro terço restante.

Antes que o bonde chegasse ficaram o compositor e o ladrão sentados sobre o meio-fio, à espera da condução em plena madrugada do Recife, conversando sobre os caminhos da vida que fizeram de um, bancário, e do outro, ladrão…

SE ANALISANDO...

CONSEQUÊNCIAS


Estou pagando com juros
Tudo o que fiz no passado.

(Mote do poeta Asa Branca do Ceará)

Já fui moço e já fui belo,
Já esbanjei elegância,
Na areia da arrogância
Edifiquei meu castelo.
Hoje o meu riso amarelo,
Meio nicotinizado,
É o retrato-falado
Dos meus dias obscuros.
Estou pagando com juros
Tudo o que fiz no passado.

Aos conselhos paternais
Eu nunca dei atenção,
Qualquer orientação
Era intromissão demais.
O que fiz com os meus pais
Hoje recebo dobrado:
O meu filho revoltado
Só me traz grandes apuros.
Estou pagando com juros
Tudo o que fiz no passado.

Cada paixão desprezada
Por este meu coração
Transformou-se em tropeção
Que sofro na caminhada.
Espinhosa é minha estrada,
Pois o trajeto traçado
Parece até desenhado
Por promotor de enduros.
Estou pagando com juros
Tudo o que fiz no passado.

Autor: Wellington Vicente.

POR DEBAIXO DOS PANOS...

OS SEGREDOS DE SARNEY E COLLOR


Mary Zaidan

Então está tudo certo. Não passou de mais um mal entendido da série de incompreensões que insiste em perturbar os primeiros meses do governo Dilma Rousseff. A presidente, que antes não queria, depois queria, e agora não quer de novo, enterrou de vez essa história de sigilo eterno para documentos ultrassecretos.

Livrou-se da indução hipnótica dos ex-presidentes José Sarney e Collor de Mello, que queriam porque queriam trancafiar segredos para todo o sempre.

Quem estalou os dedos e quebrou o encanto foi o Itamaraty. Assegurou que o Paraguai não reivindicará territórios de volta, que não há conflitos passados que perturbem o Acre nem qualquer outra fronteira geográfica ou de amizade entre os países com os quais o Brasil se relaciona ou se relacionou desde o descobrimento.

Só resta saber por quais sigilos Sarney e Collor tanto se bateram. Queriam esconder o que?

Como vão guardar em segredo absoluto suas motivações, permite-se liberdade plena para qualquer tipo de conclusão. E, a julgar pela folha corrida de ambos, nada indica ser boa coisa.

Não vamos descobrir nunca. Talvez as próximas gerações até consigam, caso o Senado não modifique a proposta da Câmara de abrir os documentos ao público em, no máximo, 50 anos.

Mas a realidade não se pode esconder.

Donos e herdeiros de clãs que dominam seus estados e dão cartas em outros tantos, Sarney e Collor fizeram glória e fortuna exatamente nos maiores paraísos de miséria do país.

Em todos os indicadores sociais, o Maranhão de José Sarney só ganha das Alagoas de Collor de Mello. Os dois estados têm os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) – Maranhão, 0,683, e Alagoas, 0,677 - ; lideram os rankings de analfabetismo e de mortalidade infantil - Alagoas com 66 mortes por mil de crianças até um ano de vida e o Maranhão com 39 em mil -, e o de menor expectativa de vida. Somam-se aí taxas pornográficas de saneamento: o Maranhão tem apenas 1,4% de esgoto tratado, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico.

Ao querer manter debaixo do tapete atos de quando ocupavam o Palácio do Planalto – único motivo plausível para tanto empenho no sigilo eterno de documentos – Sarney e Collor, que, como se vê, não têm qualquer apreço pela população de seus estados, condenando-as à pobreza eterna, perpetuam-se como símbolos do que há de mais nocivo ao país.

E isso não é segredo.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

PARCERIAS DE CHICO BUARQUE COM DOIS SANFONEIROS:SIVUCA E DOMINGUINHOS...




João e MariaJoão e Maria
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque/ Sivuca


Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock para as matinês

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país

Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?



Xote De Navegação
Chico Buarque
Composição: Dominguinhos - Chico Buarque



Eu vejo aquele rio a deslizar
O tempo a atravessar meu vilarejo
E às vezes largo
O afazer
Me pego em sonho
A navegar

Com o nome Paciência
Vai a minha embarcação
Pendulando como o tempo
E tendo igual destinação
Pra quem anda na barcaça
Tudo, tudo passa
Só o tempo não


Passam paisagens furta-cor
Passa e repassa o mesmo cais
Num mesmo instante eu vejo a flor
Que desabrocha e se desfaz
Essa é a tua música
É tua respiração
Mas eu tenho só teu lenço
Em minha mão


Olhando meu navio
O impaciente capataz
Grita da ribanceira
Que navega pra trás
No convés, eu vou sombrio
Cabeleira de rapaz
Pela água do rio
Que é sem fim
E é nunca mais

UMA HOMENAGEM AOS 103 ANOS DE JOÃO GUIMARÃES ROSA...



Frases de Guimarães Rosa

É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter amado.

Guimarães Rosa

todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens?

Guimarães Rosa

sussurro sem som
onde a gente se lembra
do que nunca soube

Guimarães Rosa

Deus nos dá pessoas e coisas,
para aprendermos a alegria...
Depois, retoma coisas e pessoas
para ver se já somos capazes da alegria
sozinhos...
Essa... a alegria que ele quer

João Guimarães Rosa

Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.

Guimarães Rosa

Saudade é ser, depois de ter.

Guimarães Rosa

Felicidade se acha é em horinhas de descuido

Guimarães Rosa

O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem

João Guimarães Rosa
O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem..

Guimarães Rosa

Infelicidade é uma questão de prefixo.

Guimarães Rosa

O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas vão sempre mudando.

Guimarães Rosa

"Viver para odiar uma pessoa é o mesmo que passar uma vida inteira dedicado à ela"

Guimarães Rosa

Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.

Guimarães Rosa

Viver é etecetera.

Guimarães Rosa

Quem sabe direito o que uma pessoa é?Antes sendo:julgamento é sempre defeituoso,porque o que a gente julga é o passado.

Guimarães Rosa

Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo.

Guimarães Rosa

Sorte é isto. Merecer e ter.

Guimarães Rosa

O mundo é mágico.
As pessoas não morrem, ficam encantadas.

João Guimarães Rosa

Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.

João Guimarães Rosa

"Para ódio e amor que dói, amanhã não é consolo."

Guimarães Rosa


Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando."

Guimarães Rosa

UM ENFARTE VIOLENTO...


26/06/2011 02h44 - Atualizado em 26/06/2011 12h57
Morre o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza
Ele sofreu um infarto fulminante, segundo assessoria do governo de SP.
Velório será realizado a partir das 10h na Assembleia Legislativa
Do G1, em São Paulo

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Ex-ministro da Educação Paulo Renato
Souza (Foto: Arquivo/ Daigo Oliva/G1)O ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, 65 anos, morreu na noite deste sábado (25) após sofrer um infarto fulminante na cidade de São Roque, interior de São Paulo, onde passava o feriado de Corpus Christi em um hotel da cidade.

Segundo informações da assessoria do governo do Estado de São Paulo, Paulo Renato chegou a ser socorrido, mas não resistiu. O velório será realizado neste domingo (26) na Assembleia Legislativa de São Paulo, a partir das 10h.

No Twitter, o ex-governador de São Paulo José Serra lamentou a morte de Paulo Renato. "Foi-se Paulo Renato, meu querido amigo, um dos maiores homens públicos do Brasil. Foi um grande secretário e um grande ministro da Educação", escreveu Serra.

Por meio de sua assessoria, o ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que Paulo Renato sempre priorizou a educação. "Lamento profundamente o falecimento do amigo Paulo Renato, que sempre colocou os interesses da educação acima de quaisquer outros. Fará falta ao Brasil."

COMPARAÇÃO....

DOIS TEMPOS, DUAS LAPAS
Diz o anedotário político que o Marechal Arthur da Costa e Silva, segundo ditador do período militar, ao participar da cerimônia de batismo de um navio, recebeu uma garrafa de champanhe de um auxiliar. E começou o trabalho de arrancar a rolha. O ajudante-de-ordens, mais que depressa, informou que não era pra beber. Era pra quebrar “a garrafa no casco”. No casco do navio a ser batizado, evidentemente.
Mas o marechal, mais que depressa, quebrou a garrafa no seu próprio casco, despedaçando-a no salto do sapato… Foi caco de vidro pra todo lado e um silêncio constrangedor se estabeleceu entre as pessoas presentes à cerimônia.
Eu me lembrei dessa história, e de muitas outras, do Lapa de Cavalo que foi este Marechal, ao ler uma declaração, há poucos dias, de outro lapa, o Lapa de Asno.
Lapa de Cavalo foi presidente em tempos de ditadura, ilegítima e ilegalmente, sem ter tido um único voto do povo. Lapa de Asno foi presidente em tempos de democracia, eleito livre, legítima e democraticamente pelo voto direito do eleitorado brasileiro.
O povo que não elegeu Lapa de Cavalo parecia que não tinha boca naquele tempo, porque não podia falar livremente, e contava piadas que circulavam de boca em boca. O povo que elegeu Lapa de Asno, nos tempos de hoje, parece que não tem cérebro, tanto que votou nele novamente pra reeleição.
Dito isto, eu digo qual foi a declaração de Lapa de Asno que me lembrou o seu antecessor, Lapa de Cavalo.
Numa palestra para banqueiros - seus antigos patrões velados e que hoje são seus mantenedores explícitos junto com os empreiteiros -, Luis Inácio produziu esta pérola:
“Quando peguei esse País, só tinha miserável. E eu, operário sem um dedo, fiz mais que o Bill Gates, Steve Jobs e esses aí.”
Entre os sem boca dos tempos da ditadura e os sem cérebro do Socialismo Muderno, francamente, eu fico com os descerebrados de hoje em dia. Me divirto mais com eles. Quem se der ao trabalho de ler os comentários dos eleitores lula-dilmistas aqui no JBF, vai entender o que estou dizendo.
Entre a garrafa que o Marechal quebrou no próprio casco e a incrível citação ”sem um dedo” do conferencista mais bem pago do mundo, eu prefiro o atualíssimo Lapa de Asno e sua fanfarronice ambulantemente metamorfoseada.
A pior democracia do mundo, com um jumento presidindo, é superior à melhor ditadura do mundo, com um cavalo mandando.
Taí Cuba que não me deixa mentir.

domingo, 26 de junho de 2011

ENVIADAS DO CORAÇÃO...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.

1...Estou entre o litoral e o semiárido,no agreste.A temperatura está em 25 graus...

2...O sol está esquentando, a piscina está azul...a minha turma está se levantando pro café da manhã...é ótimo ter uma vida interior, para se ter prazer nas coisas simples da vida...O Dalai Lama diz, que quem tem felicidade ,já a sente, tomando café com pão ao acordar...este ato ja é prazeiroso para quem ama a vida...No decorrer do dia vamos jogar conversa fora,tomar vinho francês e comer carneiro assado...trouxe mais de 300 cds, gravados pessoalmente por mim,para escutar o melhor.gravo semanalmente no mínimo cinco cds,que baixo na internet.sei escutar, sei escolher,e analiso em cada canção,o tom, se maior ou menor, os arranjos, as passagens musicais,as letras e as interpretações...gosto muito dos achados poéticos...é a frase simples que reflete um universo de ideias...Flávio Cavalcante, o apresentador de TV, tinha á época, um quadro no seu programa, que escolhia os melhores achados...o que eu faço a todos os instantes...certa vez ele disse:a frase mais perfeita das músicas é a de Nilton Cesar:ah se eu fosse você,eu voltava pra mim...realmente é uma relíquia...mas, ninguém teve mais achados poéticos do que Vinicius de Moraes:sobre o amor, que seja eterno enquanto dure...que não seja mortal, posto que é chama...
alguns achados poéticos:
a gente as vezes tem vontade de ser um rio cheio pra poder transbordar...Vinicius.
sirvo o seu pitéu na cama, e nada dele comer...Chico
hoje só nasce erva daninha, no chão que ele pisou...Chico
no tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido...Chico
o que a mão ainda não toca, o coração um dia alcança...Ivone Lara
e quando provares das frutas,sintam o gosto por mim...Ivan Lins
quem souber sorrir daquilo que perdeu,venceu venceu venceu...Paulo César Pinheiro...
olho nos olhos, quero ver o que você diz, ao sentir que sem você eu vivo tão feliz...Chico...
Na morte a gente esquece...Aldir Blanc
meu catavento tem no engenho de dentro, o que existe do lado de fora do seu girassol...Guinga.
Quando eu caio morto, ela empina...Chico.
a saudade é arrumar o quarto, do filho que já morreu...Chico
Deixa, ninguém vive mais de uma vez...Vinicius.
pode ter mais, mas sabe menos que eu...Vinicius

3...Existia um engraxate em Nova Cruz chamado Baltazar...este proferiu, na sua simplicidade ,uma frase que a minha irmã, Violante, ainda hoje comenta...ele chegou no velório da minha mãe e disse :tudo bem Violante...e depois disse: me desculpe,NINGUÉM PODE PERGUNTAR SE ESTÁ TUDO BEM, A QUEM ESTÁ SEPULTANDO O CORAÇÃO...
4...Lamentável o gêlo que os socialistas e os petralhas decretaram ao sanfoneiro DOMINGUINHOS:não ser contratado para nada em Pernambuco NAS FESTAS JUNINAS...CRIME:TER FEITO UM CLIP PARA JOSÉ SERRA, na campanha...que gente escrota! não respeitaram nem o talento, nem o estado de saúde do grande músico.

sábado, 25 de junho de 2011

UMA CARTA DO TEMPO PARA BERNARDO CELESTINO PIMENTEL...



A CARTA DO TEMPO...
Recebi hoje uma carta de sua majestade o tempo...me foi entregue por cinquenta e quatro anos de vida...o efeito da missiva foi um antidepressivo...que eu vou guardar no meu hemisfério cerebral dominante. abaixo, a transcrição na integra da carta.


Ilmo dr bernardo celestino Pimentel


VIMOS POR MEIO DESTA LHE COMUNICAR QUE O AMOR AMADURECEU A VIDA.

agora o tempo chegou e as coisas se tornam simples e fáceis...

as coisas por se só, evidenciam os nossos fascínios...

nada é misterioso ou difícil...

pratica se o nosso projeto de vida...

muda se o paradigma...

por se só, EU, o tempo me torno senhor de tudo...

não há mais ilusões...

tudo vai acontecendo com mais facilidade,

inclusive a morte.

HOJE, chegou o amanhã, e logo cedo eu encontrei com o futuro... era tudo azul.

O passado não resolve mais nada.

atenciosamente, O TEMPO.

DUETO...




Dueto
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque


Consta nos astros, nos signos, nos búzios
Eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no evangelho, garantem os orixás
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais
Serás o meu amor, serás a minha paz
Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar
Mas se o destino insistir em nos separar
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos
Se dane o evangelho e todos os orixás
Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz
Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos mapas, nos lábios, nos lápis
Consta nos Ovnis, no Pravda, na Vodca

FERAS DO CORDEL...



Dedé Monteiro
No dia de abandonar
O meu torrão querido,
Ouvi meu próprio gemido
A me pedir pra ficar…
Mas, vendo que de voltar
Havia pouca esperança,
Triste como uma criança
Que está com fome ou com sede
No punho da minha rede
Deixei um nó por lembrança
* * *
José Saturnino dos Santos

Do cordel para o repente
É diferente o traçado
Porque o cordel é escrito
E o repente é improvisado
O cordel tem que ser lido
E o repente cantado.
* * *
Geraldo Amâncio

A rede que hoje eu durmo
tem um cheiro diferente
da que eu tinha em minha infância
com meu irmão inocente
que tinha o cheiro das mãos
de mãe balançando a gente.
* * *
João Paraibano
Faço da minha esperança
Arma pra sobreviver
Até desengano eu planto
Pensando que vai nascer
E rego com as próprias lágrimas
Pra ilusão não morrer.
Me lembro da minha mãe
Dentro do quarto inquieta
Passando o dedo com papa
Nessa boca analfabeta
Sem saber que um dedo rude
Tava criando um poeta.
* * *
Braulio Tavares

Superei com o valor da minha prosa
o meu mestre imortal Graciliano,
os romances de Hermilo e de Ariano
e as novelas de João Guimarães Rosa;
sou maior que Camões em verso e glosa,
com Pessoa também fui comparado,
tenho a verve do estilo de Machado
e a melódica lira de Bandeira:
sou o Gênio da Raça Brasileira
quando canto martelo agalopado!
* * *
Beija-Flor

O homem fez um motor
um rádio e televisão
fabricou um avião
obra de tanto valor
o homem fez um motor
prá correr nas profundezas
fez uma cama e um mesa
um revolver e um faca
morre e não faz uma jaca
que é fruto da natureza.
* * *
Sebastião Marinho

Repentista respeitado
Narra, canta e profetiza
Gera mito, cria lei
Forma lenda e faz pesquisa
Cantador faz tudo isso,
Inda canta e improvisa

Repentista em Beira-Mar
Canta oceanos e ilhas
Cordelista narra em versos
O Tratado de Tordesilhas
Em décimas e decassílabos
Sete linhas e sextilhas
* * *
Ascendino Alves dos Santos

O poeta e a cigarra
Não nasceram pra chorar
Cantam , cantam a vida inteira
Até a morte os levar
Ele canta pra viver
Ela vive pra cantar.

* * *
Vitorino Bezerra
Ensinei Patativa a fazer glosa
Inspirei Casemiro de Abreu
Castro Alves foi grande aluno meu
Passei muitas lições pra Rui Barbosa
Ensinei a Dercy ser vaidosa
Com as suas piadas imorais
Gravei disco com os filhos de Goiás
Expulsei Wanderley botei Leão
Pra ser técnico da nossa seleção
E o que é que me falta fazer mais…
* * *

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A QUADRILHA DE CHICO BUARQUE...




Quadrilha
Chico Buarque


E neste ano, como todo ano, uma vez por ano
Tem quadrilha no arraial
E neste ano, como sempre, salvo chuva e salvo engano
A satisfação é geral
Não me leve a mal
Não me leve a mal

O forró corria manso, sem problema e sem vexame
Quando o chefe da quadrilha decretou changer de dame
A mulher do delegado rendeu o bacharel
O peão laçou a jovem filha do coronel
A Terezinha Crediário deu um passo com o vigário
A beata com o sacristão
Diz que a senhora do prefeito
Merecidamente eleito
Foi com o líder da oposição
Não tem nada não
Não tem nada não

Zé-com-fome deitou olho na patroa do ``seu'' Lima
Que não faz xodó na moça mas também não sai de cima
Juca largou a sanfona e, abandonando o salão
Foi prevaricar com a dona que vendia quentão
E foi doente com doutora, indigente e protetora
Foi aluna com professor
E o perigoso bandoleiro, Zé Durango ``El Justicero''
Fez beicinho pro promotor
Mas, faça o favor!
Mas, faça o favor!

O forró estereofônico estava mesmo um barato
Muita música na praça e muita dança lá no mato
Quem gozou da brincadeiram, muito bom, muito bem
Quem tomou chá de cadeira, só no ano que vem
Pois nesse ano, como todo ano, uma vez por ano
Tem quadrilha no arraial
E nesse ano, como sempre, salvo chuva e salvo engano
A satisfação é geral
Ninguém leva a mal
Ninguém leva a mal

UM TRATADO SOBRE OS QUE USAM CHAPÉU DE TOURO...

* * *
Um folheto de José Costa Leite

ABC DOS CORNOS

No Brasil de polo a polo
existe corno demais
mulher bonita e vadia
mesmo com gosto de gas
sempre bota no marido
um chifre grosso e comprido
que a ponta enrama pra trás.

Existe corno atrevido
meio pobre sem recurso
que deixa a mulher vadiar
pois quer ser querido a pulso
em todo canto atravessa
e se mete na conversa
entre a mulher e o urso.

Corno agressivo é aquele
que beija na boca dela
mas quando sabe que é corno
quer pular pela janela
de ser corno se acanha
toma tudo que ela ganha
e ainda bate nela.


Existe o corno baixinho
que enfrenta prejuízo
e de tanto levar chifres
está perdendo o juízo
pra ele não tem desvio
em casa não dá um pio
corno, careca e liso.


O corno barriga branca
é gostosa a mulher dele
todo mundo corre atrás
que não serve para ele
ele faça o que fizer
nunca manda na mulher
mas a mulher manda nele.


Corno bondoso, coitado
fale dele quem quiser
leva chifres todo dia
venha o tanto que vier
ele por ser bom esposo
seu coração generoso
sempre perdoa a mulher.


Tem o corno beija-flor
com ele ninguém peleja
ele é anti-social
com ninguém ele graceja
a mulher carinhosa
faz a comida gostosa
ele não come mas beija.

Existe o corno cagão
que aguenta chifre a pulso
vê a mulher com um cara
ele dá um grande impulso
fica meio aborrecido
depois disfarça escondido
e enche o sapato do urso .


O corno camaleão
tem muito pouco valor
leva chifres todo dia
e ainda lhe tem amor
tocaia ela também
e se lhe pega com alguém
ele chega muda de cor.

Corno cego é paciente
cem por cento camarada
só leva chifres de dia
de noite e de madrugada
se vê a mulher no motel
com Jacinto ou Manoel
ele faz que não viu nada.


Já o corno cigarreira
ninguém dá nada por ele
vende cigarros ao povo
e ela bota chifres nele
as vezes ele se esquece
mas o negrão oferece
charuto pra mulher dele.

Existe o corno cantor
igualmente um lobisomem
a mulher tem um hotel
e vive cercada de homem
reclamar nem adianta
os outros comem ele canta
ele canta os outros comem .


Corno cabrito é um cara
que reclama porque quer
quando sabe que é corno
dá pinotes onde estiver
e dá na hora do banho
saltos de todo tamanho
e volta pra mesma mulher .


Já o corno confiscante
sabe que é corno também
e pra se vingar dela ainda vive
amocegando o trem
reclama do seu papel
e se lhe pega no motel
toma tudo que ela tem.


Existe o corno chiclete
que na mulher não tem fé
ela tem mais de 10 homens
só vive no cabaré
chiclete não tem melhora
se mastiga e cospe fora
mas ele gruda no pé.


Já o corno dedo duro
é gente de pouca fé
ele aponta os outros cornos
em casa ou no cabaré
ele diz meio sisudo
que todo mundo é chifrudo
mas ele diz que não é.


Corno doador é manso
e gosta de entregar
tudo o que tem pra mulher
manda ela se virar
ela não perde parada
e com qualquer camarada
toma cerveja no bar .


Corno defunto é calado
por ter culpa no cartório
a mulher não perde tempo
fica com Pedro ou Osório
mas se morrer um vizinho
liga dizendo: - amorzinho
eu estou lá no velório.


Já o corno duas faces
não fala nem faz discurso
porém como a mulher ganha
ele aguenta tudo a pulso
vive igual uma baleia
pra mulher tem cara feia
e bonita para o urso .


Existe o corno elefante
que mora em qualquer lugar
sua mulher com os homens
sempre vive a vadiar
dele ninguém nunca zomba
ele tem tamanho e tromba
mas não pode levantar.


Já o corno encanador
leva chifres todo o ano
todo dia e toda hora
a mulher levanta o pano
ele faz encanação
a mulher sai com um negrão
e ele entrando pelo cano.


O corno feio já sabia
que chifres ia levar
o corno folha também
já não podia negar
que a mulher era tonta
e começou a levar ponta
muito antes de casar .
Corno gambá, fedorento
leva chifres toda hora


corno gêmeos aperreia
se um peida o outro chora
corno girafa no clima
fica olhando por cima
e chora se ela vai embora.


Corno inútil não levanta
pra fazer mal a ninguém
sua mulher tem freguês
se não vai o urso vem
ele bota a barba de molho
e só mexe com o olho
se ela sai com alguém.


Corno lagarto esperto
Só vive fazendo um curso
dá uma de detetive
e aguenta chifres a pulso
muda o giro da roleta
e disfarça de borboleta
e corre pra pegar o urso.

Porém o pior de todos
é o corno papelão
enquanto ele se diverte
ela fica de mão em mão
a pobre não tem descanso
só vive afogando o ganso
é a sua diversão.

Existe o corno pavão
que chega a hora da janta
vê a mulher com um cara
reclamar não adianta
pavão também fica brabo
só tem beleza no rabo
e de jeito nenhum levanta.
Já o corno pai de santo
ninguém se confia nele
todos os chifres do mundo
sua mulher dá a ele
e ele ainda acha pouco
vive tirando o caboclo
de cima da mulher dele.


O corno pesado é calado
e com nada se acanha
em todo concurso de corno
ele vence na campanha
é chamado todo instante
de jumento ou elefante
baleia ou saco de banha .


O corno super-lesado
existe aqui ou ali
entra homem em sua casa
que só peixe no jiqui
ouvindo a cama rangindo
ele pergunta sorrindo:
- o que estão fazendo ai?


Em toda parte onde chego
só tem corno, mais de cem
que fica em volta de mim
se um vai o outro vem
aqui o cordel findou
se você não gostou
por certo é corno também.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

SEU BAJOSO...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL...



ERA uma vez uma bodega, na rua 13 de maio, em Nova Cruz, onde acontecia tudo... tinha até um cachorro, que era amigado com uma rapariga da rua do sapo.
A rua do sapo era a rua das paixões sem amanhã... era a rua do beréu.
mas, seu bajoso era um comerciante direito e vivia da sua bodega... muito organizado.
criou as cinco gavetas principais, para organizar o fluxo de dinheiro: a gaveta da banana, a gaveta da cachaça, a gaveta do açúcar, a gaveta do cigarro, e a gaveta do querosene.
quando precisava DE DEZ CRUZEIROS PARA PASSAR UM TROCO , resultante da venda de cigarro, exclamava em voz alta: neste instante, a gaveta da banana está emprestando dez cruzeiros, á gaveta do cigarro... lá pras tantas, anunciava a liquidação de referida pendencia... depois, outra gaveta emprestava á outra... era uma graça, a contabilidade do seu bajoso... uma gaveta pagava com juros, á outra... MAS UM DIA, aparece um desconhecido, com uma proposta mirabolante: a venda de uma máquina que fazia dinheiro... e o picareta explicava, ao seu bajoso e as suas gavetas, como se processava o milagre: de cada vez que se rodasse a manivela, saía uma nota de dois cruzeiros...
Os olhos de bajoso pululavam de admiração... era a possibilidade de ver gavetas cheias... afinal um comerciante é honesto, mas fez da sua vida um negócio... E quanto seria esta maravilhosa máquina: vinte cruzeiros... IMEDIATAMENTE a máquina foi paga, guardada com cuidado e o homem se escafedeu...foi aguardado, apenas, a diminuição do movimento, para o início da confecção de muito dinheiro.
seu bajoso, com a chave do mundo seria um homem rico, colocou a maravilha em cima do balcão e foi ver a multiplicação dos pães... só que , na mão do novo dono, a manivela rodava, mas não saía nada... tristeza no semblante do velho, ao cair na real. ainda tentou encontrar aquele vigarista....
O velho se vestiu ,e foi falar com o dr juiz da cidade, DR EUTIQUIANO REIS... O MAGISTRADO ESCUTOU A HISTÓRIA E SENTENCIOU: BAJOSO, EU ESTOU COM VONTADE É DE MANDAR LHE PRENDER...

O FUTEBOL...CHICO BUARQUE DE HOLANDA.



E o Juiz Apitou
Wilson Batista
Composição: Wilson Batista - Antônio Almeida


Eu tiro o domingo para descansar
Mas não descansei
Que louco eu fui
Regressei do futebol
Todo queimado de sol
O Flamengo perdeu
Pro Botafogo
Amanhã vou trabalhar
Meu patrão é Vascaíno
E de mim vai zombar

Foram noventa minutos
Que eu sofri como louco
Até ficar rouco
Nandinho passa a Zizinho
Zizinho serve a Pirilo
Que preparou pra chutar
Aí o juiz apitou
O tempo regulamentar
Que azar!




O Futebol
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque


Para estufar esse filó
Como eu sonhei

Se eu fosse o Rei
Para tirar efeito igual
Ao jogador
Qual
Compositor
Para aplicar uma firula exata
Que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nega
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol
Com precisão
De flecha e folha seca

Parafusar algum joão
Na lateral
Não
Quando é fatal
Para avisar a finta enfim
Quando não é
Sim
No contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível, minha nega
No sentimento diagonal
Do homem-gol
Rasgando o chão
E costurando a linha

Parábola do homem comum
Roçando o céu
Um
Senhor chapéu
Para delírio das gerais
No coliseu
Mas
Que rei sou eu
Para anular a natural catimba
Do cantor
Paralisando esta canção capenga, nega
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da idéia quando ginga

(Para Mané para Didi para Mané Mané para Didi para Mané para
Didi para
Pagão para Pelé e Canhoteiro




Ilmo Sr. Ciro Monteiro ou Receita Pra Virar Casaca de Neném
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque


Amigo Ciro
Muito te admiro
O meu chapéu te tiro
Muito humildemente
Minha petiz
Agradece a camisa
Que lhe deste à guisa
De gentil presente
Mas caro nego
Um pano rubro-negro
É presente de grego
Não de um bom irmão
Nós separados
Nas arquibancadas
Temos sido tão chegados
Na desolação

Amigo velho
Amei o teu conselho
Amei o teu vermelho
Que é de tanto ardor
Mas quis o verde
Que te quero verde
É bom pra quem vai ter
De ser bom sofredor
Pintei de branco o teu preto
Ficando completo
O jogo da cor
Virei-lhe o listrado do peito
E nasceu desse jeito
Uma outra tricolor

SOBRE A FARSA DA COPA 2014...






FOI TUDO MENTIRA


WALTER JORGE.
Políticos de todos os escalões e siglas partidárias atreladas aos governos empenhados na aprovação de seus Estados como sede da Copa do Mundo de 2014, só faltaram jurar que tudo seria bancado pelo setor privado e que o poder público não entraria com verbas para as obras destinadas ao referido evento.

Decorridos mais de dois anos da escolha das cidades e com todas as obras atrasadas, os “bestinhas” estão querendo mudar as regras do jogo e até já escolheram uma palavra mágica para destravar tudo: Flexibilização. Este é o “palavrão” mais pronunciado nos gabinetes governamentais. Servirá tão somente para justificar as alterações nos orçamentos e assinaturas de contratos adicionais sobre as licitações.

Em Brasília, querem aprovar uma medida que cria o que podemos chamar de cortina de fumaça, cuja finalidade é simplesmente esconder os valores gastos com a malfadada Copa. A transparência está indo pro brejo.

Mesmo sem ser vidente, muito antes da aprovação do Brasil, manifestei a minha opinião contrária. Alguns leitores do Jornal do Commércio que leram as minhas cartas me chamaram de pessimista. Se a maioria da população brasileira é a favor. Os políticos e as empreiteiras, é claro, também são favoráveis. Qual a razão de tanta birra? Direi já.

Começo lembrando que as contas do Pan-Rio–2007, ainda não fecharam. Muitas das coisas que previ, estão acontecendo: Obras emperradas e para completar, surge essa tentativa de burlar a Lei de Licitações. Isto quer dizer que os preços dos serviços poderão ser alterados, mas ninguém terá o direito de acompanhar. É muita Democracia!

Nossas autoridades precisam levar em conta que a realização de um campeonato mundial vai muito além de um torneio de futebol, pois quem vier ao Brasil em 2014, não será apenas para ver os jogos. Fazer turismo é o seu principal objetivo.

E é justamente no setor de turismo que a porca torce o rabo. Nenhuma das cidades escolhidas está em condições. O Recife é a pior de todas. Não está, nem estará pronta para receber os turistas, porque os seus problemas se arrastam por mais de cinco décadas. Jornais dos anos 60 já publicavam reclamações dos recifenses pedindo providências ao então prefeito, Dr. Miguel Arraes, no sentido de disciplinar o trânsito e melhorar as condições sanitárias e urbanas da cidade.

É certo que tanto ele, como os prefeitos que o sucederam fizeram alguma coisa, mas não o suficiente para conter o crescimento desordenado dessa cidade coberta de lixo, cheia de ruas esburacadas, “enfeitadas” por barracos e sem estacionamento.

Os problemas da violência urbana serão resolvidos até lá? E a situação dos morros mudará até 2014? Se não melhorar, os turistas vão testemunhar o vergonhoso espetáculo que é encenado anualmente por ocasião das chuvas: áreas de risco da cidade sendo cobertas por lonas plásticas. O Recife, toda a área metropolitana e as cidades interioranas estarão com os seus eternos problemas de saneamento básico solucionados? E as estradas receberão os devidos melhoramentos? Tenho minhas dúvidas.

A Copa é uma festa e como tal, defendemos o ponto de vista de que faz festa quem pode. E o Brasil, por mais que os dirigentes digam o contrário, não está em condições de sediar uma Copa do Mundo. É um evento para países desenvolvidos. Aqui, sobram carências e prioridades e faltam administradores competentes. Só não enxerga, quem não quer. Estão colocando as vaidades pessoais acima dos interesses coletivos.. A conta, inevitavelmente, será bem elevada e a fatura sobrará para as futuras gerações. Cidadãos independentes e responsáveis mostram-se preocupados.

SOBRE A EDUCAÇÃO NAS ESCOLAS...

QUEM FOI ROUSSEAU ?


Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 28 de Junho de 1712 — Ermenonville, 2 de Julho de 1778) foi um importante filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata suíço. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um precursor do romantismo.

Citações

"O homem nasce livre, e em toda parte é posto a ferros . Quem se julga o senhor dos outros não deixa de ser tão escravo quanto eles."

"A maioria de nossos males é obra nossa e os evitaríamos, quase todos, conservando uma forma de viver simples, uniforme e solitária que nos era prescrita pela natureza"

"O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer 'isto é meu' e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: 'Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém'"

"E quais poderiam ser as correntes da dependência entre homens que nada possuem? Se me expulsam de uma árvore, sou livre para ir a uma outra"

"A meditação em locais retirados, o estudo da natureza e a contemplação do universo forçam um solitário a procurar a finalidade de tudo o que vê e a causa de tudo o que sente"

"A única instituição que ainda se constitui natural é a Família "

"O escravo não é propriedade do outro, mas não deixa de ser homem ".

"O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe."
"Mesmo quando cada um de nós pudesse alienar-se não poderia alienar a seus filhos: eles nascem homens e livres, sua liberdade lhes pertence e ninguém, senão eles, pode dispor dela. Antes de chegar à idade da razão, o pai pode, em seu nome, estipular as condições de sua conservação, do seu bem-estar, porém, não dá-los irrevogável e incondicionalmente porque um dom semelhante contraria os fins da natureza e sobrepuja os limites da finalidade paternal. Seria, pois, preciso para que um governo arbitrário fosse legítimo, que, em cada geração o povo fosse dono de aceitá-lo ou de rejeitá-lo; porém, então o governo não seria arbitrário."
Sobre o governo, que para Rousseau é "Um corpo intermediário entre os súditos e o soberano, para sua mútua correspondência, encarregado da execução das leis e da conservação da liberdade, tanto civil como política.", e a submissão do povo aos chefes [governantes] diz: "É somente um incumbência, um cargo, pelo qual simples empregados [governantes] do soberano [povo] exercem em seu nome o poder de que os faz depositários, e que ele pode limitar, modificar e reivindicar quando lhe aprouver."

"Se houvesse um povo de deuses, ele seria governado democraticamente. Um governo tão perfeito não convém aos homens."

"Maquiavel fingindo dar lições aos Príncipes, deu grandes lições ao povo".

TRECHO DO DISCURSO SOBRE A DESIGUALDADE HUMANA...ROUSSEAU.

Se eu tivesse de escolher o lugar do meu nascimento, teria escolhido uma sociedade de grandeza
limitada pela extensão das faculdades humanas, isto é, pela possibilidade de ser bem governada, e onde,
bastando-se cada qual ao seu mister, ninguém fosse constrangido a atribuir a outros as funções de que
estivesse encarregado; um Estado em que, todos os particulares se conhecendo entre si, nem as manobras
obscuras do vício, nem a modéstia da virtude pudessem subtrair-se aos olhares e ao julgamento do
público, e em que esse doce hábito de se ver e de se conhecer fizesse do amor da pátria o amor dos
cidadãos, em vez do da terra.
Eu quisera nascer num país em que o soberano e o povo só pudessem ter um único e mesmo interesse,
a fim de que todos os movimentos da máquina tendessem sempre unicamente à felicidade comum; como
isso só poderia ser feito se o povo e o soberano fossem a mesma pessoa, resulta que eu quisera nascer sob
um governo democrático, sabiamente moderado.
Eu quisera viver e morrer livre, isto é, de tal modo submetido às leis que nem eu nem ninguém
pudesse sacudir o honroso jugo, esse jugo salutar e doce, que as cabeças mais altivas carregam tanto mais
docilmente quanto são feitas para não carregar nenhum outro.
Eu quisera, pois, que ninguém, no Estado, pudesse dizer-se acima da lei, e que ninguém, fora dele,
pudesse impor alguma que o Estado fosse obrigado a reconhecer; de fato, qualquer que possa ser a
constituição de um governo, se neste se encontra um só homem que não esteja submetido à lei, todos os
outros ficam necessariamente à discrição deste último: e, havendo um chefe nacional e outro estrangeiro,
qualquer que seja a partilha da autoridade que possam fazer, é impossível que ambos sejam bem
obedecidos e o Estado bem governado.
Eu não quisera habitar uma república de nova instituição, por muito boas que fossem as leis que
pudesse ter, de medo de que, constituído o governo de outra maneira, talvez, que não a exigida pelo
momento, não convindo aos novos cidadãos, ou os cidadãos ao novo governo, ficasse o Estado sujeito a
ser abalado e destruído quase desde o seu nascimento; porque a liberdade é como esses alimentos sólidos
e suculentos, ou esses vinhos generosos, próprios para nutrir e fortificar os temperamentos robustos a
eles habituados, mas que inutilizam, arruinam, embriagam os fracos e delicados, que a ele não estão
afeitos. Os povos, uma vez acostumados a senhores, não podem mais passar sem eles. Se tentam sacudir
o jugo, afastam-se tanto mais da liberdade quanto, tomando por ela uma licença desenfreada que lhe é
oposta, suas revoluções os entregam quase sempre a sedutores que só fazem agravar as suas cadeias. O
próprio povo romano, modelo de todos os povos livres, não foi capaz de se governar ao sair da opressão
dos Tarquínios. Aviltado pela escravidão e os trabalhos ignominiosos que lhe foram impostos, não
passava, primeiro, de uma estúpida populaça que foi preciso conduzir e governar com a maior sabedoria,
a fim de que, acostumando-se pouco a pouco a respirar o ar salutar da liberdade, as almas enervadas, ou
antes, embrutecidas pela tirania, adquirissem gradativamente a severidade de costumes e a altivez de
coragem que as tornaram, finalmente, o mais respeitável dos povos. Eu teria, pois, procurado, como
pátria, uma feliz e tranqüila república cuja antigüidade se perdesse de certo modo na noite dos tempos,
que não tivesse experimentado senão golpes próprios para manifestar e consolidar nos seus habitantes a
coragem e o amor da pátria, e onde os cidadãos, acostumados de longa data a uma sábia independência,
fossem não somente livres, mas dignos de o ser.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

QUERIDO DIÁRIO...MÚSICA DO CD NOVO DE CHICO BUARQUE....QUER UMA MULHER SEM ORIFÍCIOS....?



Querido Diário
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque


Hoje topei com alguns
conhecidos meus
Me dão bom-dia [bom-dia], cheios de carinho;
dizem para eu ter muita luz
e ficar com Deus
Eles têm pena de eu viver sozinho
Hoje a cidade acordou
toda em contramão
Homens com raiva,
buzinas, sirenes, estardalhaço
De volta à casa, na rua
recolhi um cão
que, de hora em hora, me arranca um pedaço
Hoje pensei em ter religião
De alguma ovelha, talvez,
fazer sacrifício
Por uma estátua ter adoração
Amar uma mulher sem orifício
Hoje, afinal, conheci o amor
E era o amor, uma obscura trama
não bato nela, não bato
nem com uma flor
mas se ela chora, desejo-me em flama
Hoje o inimigo veio,
veio me espreitar
Armou tocaia lá
na curva do rio
Trouxe um porrete, um porrete a "mode" me quebrar
mas eu não quebro não, porque sou macio, viu?!

FADO TROPICAL...SE A SENTENÇA SE ANUNCIA BRUTA, MAS QUE DEPRESSA A MÃO CEGA EXECUTA,POR QUE SE NÃO O CORAÇÃO PERDOA...




Fado Tropical
Chico Buarque
Composição : Chico Buarque/ Ruy Guerra


Oh, musa do meu fado,
Oh, minha mãe gentil,
Te deixo consternado
No primeiro abril,
Mas não sê tão ingrata!
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou.
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!


"Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo ( além da sífilis, é claro). Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

Com avencas na caatinga,
Alecrins no canavial,
Licores na moringa:
Um vinho tropical.
E a linda mulata
Com rendas do alentejo
De quem numa bravata
Arrebata um beijo...
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!


"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto,
De tal maneira que, depois de feito,
Desencontrado, eu mesmo me contesto.
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto.
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa,
Mas meu peito se desabotoa.
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa,
Pois que senão o coração perdoa".


Guitarras e sanfonas,
Jasmins, coqueiros, fontes,
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre trás-os-montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo...
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:
Ainda vai tornar-se um império colonial!
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:
Ainda vai tornar-se um império colonial!

OS POETAS DE CORDEL...

* * *
Sebastião da Silva glosando o mote:
Não tem mais Lampião e nem cangaço
Mas tem gente pior que Lampião.


Lampião era um tipo sanguinário
Para muitos, de fato, foi perigo,
Protegia quem fosse seu amigo,
Perseguia quem fosse adversário.
Hoje vê-se um tipo salafrário
Roubar tudo do povo e da nação,
Quem devia mofar na detenção
É tratado com beijo e com abraço,
Não tem mais Lampião e nem cangaço
Mas tem gente pior que Lampião.
* * *

Crispiniano Neto glosando o mote:
No ano que falta inverno
o pobre sofre demais.


É de cortar coração,
os pobres na indigência
e o serviço de emergência
em atraso e confusão
Senhor ministro, o sertão
não tá suportando mais
nesses dias nossa paz,
pode tornar-se um inferno
No ano que falta inverno
o pobre sofre demais.
Rezando prá São José
rouba santo em procissão
quase louco estende a mão
nos últimos degraus da fé
mas vê que a seca não é
por ordem de satanás
a culpa é de quem não faz,
nada, mas diz: - Eu governo
No ano que falta inverno
o pobre sofre demais.
Governo, tenha coragem
de melhorar o sertão
com planos de irrigação
reforma agrária e barragem
com crédito e açudagem
que não vai ter seca mais
trabalhadores rurais
vão viver num berço eterno
No ano que falta inverno
o pobre sofre demais.
* * *
João Paraibano glosando o mote:
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.


No vagão da saudade eu tenho ido
Ver a casa onde antes nasci nela
Uma lata de flores na janela
A parede de taipa, o chão varrido
Milho mole esperando ser moído
Numa máquina do veio enferrujado
Que apesar da preguiça e do enfado
Mãe botava de pouco e eu moía
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.
Vou pra ver nessa casa que foi minha
Minha rede já pensa duma banda
O batente na porta da varanda
Um bueiro de lata na cozinha
Mãe prendendo os dois pés duma galinha
Num cordão de algodão descaroçado
Um espeto cheirando a milho assado
E um cuscuz fumaçando na bacia
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.
Eu não posso esquecer que o rouxinol
Dessa casa também foi habitante
Mãe cortando pedaço de bramante
Pra colocar o remendo no lençol
Pai voltando da roça ao pôr-do-sol
Cochilando com o peso do enfado
Um pé sem chinelo, outro calçado
Uma mão ocupada, outra vazia
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.
Lembro a boca redonda da cumbuca
Que mamãe tirou sal pro alimento
A vassoura do rabo dum jumento
Espantando um enxame de mutuca
Um cancão desarmando uma arapuca
Um canário cantando engaiolado
Um cachorro latindo acocorado
Sem cobrar um tostão pra ser vigia
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.
Toda noite eu me lembro de lembrar
De um pião enrolado até o meio
Mãe botando carvão num ninho cheio
Pra ninhada da franga não gorar
Uma gata lambendo um alguidá
Com o cabelo da testa penteado
Depois subia pra cima do telhado
Na certeza que o gato também ia
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.
* * *
Geraldo Amâncio glosando o mote:
O tempo passou depressa,
fui feliz e não sabia.


Eu corria atrás de cobre
só por ter necessidade
mas a minha mocidade
pra mim foi um tempo nobre
eu era muito mais pobre,
mas tinha mais alegria
essa minha nostalgia
não tem ciência que meça
O tempo passou depressa,
fui feliz e não sabia.
Com a alma corrompida
dos sopapos da saudade,
57 de idade,
e a matéria dolorida
eu sei que em outra vida
como afirma a profecia
só não sei qual é o dia
eu quero aproveitar essa
O tempo passou depressa,
fui feliz e não sabia .
Minha aurora foi embora
é isso que desanima
o crepúsculo se aproxima
minha noite se apavora
mocidade foi embora
nessa minha poesia
nossa vida é como dia
só é bom quando começa.
O tempo passou depressa,
fui feliz e não sabia .
Eu disse pra o Criador
se eu for bom repentista
em todo ponto de vista
pago promessa ao Senhor
mas nunca fui rezador
esqueci da romaria
enganei Cristo e Maria
e nunca paguei a promessa
O tempo passou depressa,
fui feliz e não sabia.

NOTAS DE UM IGNORANTE...MILLOR FERNANDES.

Entre as coisas que me surpreendem e humilham, figura esta, fundamental, que é a cultura de meus amigos e conhecidos. Não só a cultura no sentido clássico, mas também o conhecimento imediato das coisas e fatos que lhe estão sob os olhos no dia-a-dia da existência. Quem está a meu lado sempre leu mais livros do que eu, conhece mais política do que eu, já esteve em mais países do que eu, já teve mais casos sentimentais do que eu, estudou mais do que eu, praticou e pratica mais esportes. Paro e me pergunto que fiz dos meus anos de vida. Já fui atropelado e sofri alguns acidentes, como explosão, queda e afogamento. Mas entre os acidentados não estou na primeira fila. Tenho vários amigos que já caíram de avião, outros de cavalo, alguns sofreram pavorosos desastres de automóveis, um esteve preso num armário enquanto uma casa (não a dele, é claro!) se incendiava, outro ajudou a salvar o navio Madalena em meio a tremendas ondas que ameaçavam arrebentar sua lancha a todo momento.Que fiz eu de minha vida? Em matéria de cultura encontro imediatamente quinhentas pessoas, só entre as que eu conheço, que sabem mais línguas do que eu, leram mais, falam melhor e mais logicamente, conhecem mais de teatro e citam com precisão escolas filosóficas, afirmando que tal pensamento pertence a esta e contradiz aquela. Que fiz eu? De esportes ignoro tudo, não sei sequer contar os pontos de vôlei, só assisti até hoje a uma partida de pólo, nunca joguei futebol e quando vou ver esses jogos desse esporte, só consigo reconhecer os jogadores mais famosos. Esqueço o nome de todos, e no domingo seguinte já não sei mais o escore da partida a que assisto neste. Nado mal, corro pedras, jamais consegui me levantar num esqui aquático, não guio lancha, joguei golfe uma vez, tênis seis meses, não entendo de velejar (o que já me causou uma grande humilhação diante de esportivíssimas americanas de quinze anos que me conduziram num passeio lá na terra delas), e, em matéria de mares, nunca lhes sei os ventos e fico parvo com o senso de direção de muitos e muitos de meus amigos que jamais supus tomassem nada de brisa e tufões. Guio, mas o motor de meu carro é para mim um mistério indevassável. Sei apenas abrir o capô e contemplar a máquina, atitude metafísica que até hoje não pôs carro algum em marcha.
Seria eu então um homem dedicado á cultura propriamente dita, aos livros, ao estudo, ao amor da leitura e do pensamento? Não, pois meu pensamento é confuso e minha leitura parca. Conheço homens, dos que não vivem de escrever, que pensam muito melhor do que eu e leram muito mais, sem contar os especialistas, que conhecem livro pelo cheiro.
Entre os que viajam também não sou dos que tenham viajado mais. Com o agravante de que nunca sei bem onde estou, não conheço a distância que vai de Roma a Paris, nem sei se Marselha está ao Sul ou ao Norte da Itália. Fico boquiaberto quando vejo amigos meus apontarem estátuas e falarem sobre os personagens que elas representam com uma facilidade com que falariam de si próprios. Mesmo o conhecimento de nomes, pessoas e fatos adquiridos em viagens eu o esqueço em três semanas. Mas não adianta o leitor querer me consolar, dizendo que talvez eu seja um bonvivã, porque nunca o fui dos maiores, tendo minha vida sido conduzida sempre numa certa disciplina, necessária a quem veio de muito longe. Donde o amigo poderá concluir então que eu sou um trabalhador infatigável, um esforçado, um detonado. E isso também não é verdade porque, com raras exceções, nunca trabalhei demasiadamente e cada vez procuro trabalhar menos, numa conquista ao mesmo tempo prática e filosófica. Bebo? Bebo mal e ocasionalmente. Não sei quando a bebida é boa ou falsificada. Não sei o nome dos vinhos mais triviais e sempre me esqueço qual é o restaurante em que eles fazem um prato que certa vez eu adorei. Por mais jantares a que tenha ido e por melhores alguns lugares que tenha freqüentado, devo sempre esperar que alguém se sirva na minha frente para não pegar o talher errado e o copo idem. Além do que não como muito, nem tenho nenhuma particular predileção por comer. Gosto então da vida calma, sou um praticante da meditação e do ioga? Nunca dos que mais o são. Por outro lado a extrema agitação também não me é familiar.
Que fiz da minha vida? Quando há um acidente de rua, vem-me o pavor de tomar partido, pois nunca tenho realmente a convicção do lado certo. Se fala o mais poderoso eu sou inclinado a ficar de seu lado por uma tendência a defender os que hoje são mais comumente acusados de todos os males, vítimas do tempo. Se fala o mais humilde sinto-me inclinado a defendê-lo por um ancestralismo que me faz seu irmão, por idéias arraigadas que fazem com que todo homem queira lutar instintivamente pelo mais fraco. Por quê? Não sei. Sou bom de guardar nomes, caras, datas? Já disse que não. Sempre esqueço o nome dos conhecidos e troco o dos amigos mais íntimos num fenômeno parifásico que só a loucura mesma explicaria ou então a bobeira nata que Deus me deu. E política meu conhecimento chega ao máximo de saber que o Sr. Plínio Salgado pertence ao PRP, o Brigadeiro à UDN e Jango ao PTB e creio que há alguns outros partidos também. Mas mesmo essas convicções não são inabaláveis e, se alguém me pegar desprevenido e fizer dessas letras e nomes outras combinações, lá vou eu a aceitá-las, embrulhado e tonto, até que outro interlocutor crie para mim novas combinações e novas confusões.
Mas peguem um puro e simples crime e eu nunca sei quem matou a empregada e em meu peito jamais se chegou a criar uma suspeita sólida a respeito do poeta de Minas. Isso, aliás é o máximo a que vou – sei que houve um crime em Minas Gerais, alguém matou alguém. O morto não está na lista de minhas lembranças, não sei de quem se trata. Sei que o indiciado assassino é um poeta, vi sua cara barbada e meio calva em muitos jornais e revistas. Mas meus conhecidos sabem de tudo. As mulheres de meus conhecidos então nem se fala. Que fiz eu de minha vida? – me pergunto de novo, honestamente, com a surpresa e a amargura com que o Senhor perguntava: “Caim, que fizeste de teu irmão?” Pois boêmio não sou, embora tenha gasto milhares de noites solto pelas ruas. Mas os boêmios me consideram um arrivista da boemia assim como os homens cultos me consideram um marginal da cultura. E os esportistas a mesma coisa com relação aos parcos esportes que pratico. Todos com carradas de razão.
E nem a maior parte do meu tempo foi gasta em conquistas amorosas, pois nesse terreno o Porfírio Rubirosa, se me conhecesse, me olharia com o mesmo desprezo com que me olham conhecidos galãs nacionais.
Dessa mente confusa, dessa existência confusa, dessas mal-traçadas-linhas de viver creio que só resta mesmo uma conclusão a que durante anos e anos me recusei por orgulho e vergonha – sou, por natureza e formação, um humorista.

QUANTAS HORAS VOCE TRABALHA SOMENTE PARA PAGAR IMPOSTO...? SE LIGUE...

Os 10 países onde MENOS se trabalha em um ano para pagar impostos em 2011:

1. Maldivas: 0 horas
2. Emirados Árabes Unidos: 12 horas
3. Bahrein: 36 horas
4. Qatar: 36 horas
5. Bahamas: 58 horas
6. Luxemburgo: 59 horas
7. Omã: 62 horas
8. Suíça: 63 horas
9. Irlanda: 76 horas
10. Seicheles: 76 horas

Os 10 países onde MAIS se trabalha em um ano para pagar impostos em 2011:

1. Brasil: 2.600 horas (Mais que o dobro do 2º colocado! E com serviços públicos impecáveis…)
2. Bolívia: 1.080 horas
3. Vietnã: 941 horas
4. Nigéria: 938 horas
5. Venezuela: 864 horas
6. Bielorrússia: 798 horas
7. Chade: 732 horas
8. Mauritânia: 696 horas
9. Senegal: 666 horas
10. Ucrânia: 657 horas
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terça-feira, 21 de junho de 2011

FESTA ACABADA,MÚSICOS A PÉ....



Cantando no Toró
Chico Buarque
Composição : Chico Buarque


Sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que dar o tom
Quase rodando, caindo de boca
A voz é rouca mas o mote é bom
Sambando na lama e causando frisson

Mas olha só
Um samba de cócoras em terra de sapo
Sapateando no toró

Cantando e sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que dar lição
Quase rodando, caindo de boca
Mas com um pouco de imaginação
Sambando na lama sem tocar o chão

E o tal ditado, como é?
Festa acabada, músicos a pé
Músicos a pé, músicos a pé
Músicos a pé

Sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem fazer fé
Quase rodando, caindo de boca
Aba de touca, jura de mulher
Sambando na lama e passando o boné

Mas olha só
Por fora filó, filó
Por dentro, molambo
Cambaleando no toró

Cantando e sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que dar o que tem e o que não tem
Tocando a bola no segundo tempo
Atrás de tempo, sempre tempo vem
Sambando na lama, amigo, e tudo bem

E o tal ditado, como é?
Festa acabada, músicos a pé
Músicos a pé, músicos a pé
Músicos a pé

Sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que estar feliz
Sambando na lama de salvando o verniz

Mas olha só
Em terra de sapo, sambando de cócoras
Sapateando no toró

Cantando e sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que estar tranchã
Sambando na lama, amigo, até amanhã

E o tal ditado, como é?
Festa acabada, músicos a pé
Músicos a pé, músicos a pé
Músicos a pé

ESCLARECIDA A MARACUTAIA DE 2006...




Petista revela quem foram os mentores e os arrecadadores do dinheiro que financiaria uma das maiores fraudes eleitorais da história brasileira.



DINHEIRO SUJO - Os petistas pagariam 1,7 milhão de reais a empresários corruptos para que montassem a farsa. A origem do dinheiro era, até agora, um mistério.

Não tão famoso quanto o mensalão, mas igualmente assustador em sua concepção e execução, o escândalo do Dossiê dos Aloprados paira no ar como um mistério desde 2006, quando, às vésperas do primeiro turno das eleições, a Polícia Federal prendeu em um hotel de São Paulo petistas carregando uma mala com 1,7 milhão de reais. O dinheiro seria usado para a compra de documentos falsos que ligariam o tucano José Serra, candidato ao governo paulista, a um esquema de fraudes no Ministério da Saúde. Nas investigações sobre o caso, a PF colheu 51 depoimentos, realizou 28 diligências, ordenou cinco prisões temporárias, quebrou os sigilos bancário e telefônico dos envolvidos, mas não chegou a lugar algum.

As mais de 2000 páginas do processo tinham como destino certo os arquivos da Justiça Federal. Esta reportagem desvenda o mistério cinco anos depois. Ela é baseada no depoimento de um dos acusados do crime, o bancário Expedito Veloso. O petista decidiu quebrar o pacto de silêncio firmado entre os planejadores e os executores do malfadado plano, um atentado grotesco e ousado à normalidade democrática, e ilumina, entre outros detalhes inéditos, as duas zonas de sombra mais escuras que pairavam sobre o caso: a origem do dinheiro e o mandante da operação.

Ex-diretor de gestão de riscos do Banco do Brasil e atual secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal, Expedito integrou o núcleo central da campanha à reeleição de Lula em 2006 e, segundo o pouco que as investigações conseguiram avançar, foi um dos encarregados de intermediar a montagem do dossiê, com uma dupla de empresários corruptos de Mato Grosso. À polícia, o bancário admitiu sua participação no caso, mas alegou que desconhecia os detalhes da operação. Em conversas com colegas de partido, garantiu que o verdadeiro mentor, o principal beneficiário e um dos arrecadadores de dinheiro para montar toda a farsa foi o ex-senador e atual ministro da Ciência e Tecnologia Aloizio Mercadante.



FINANCIADOR - O ex-governador Orestes Quércia fez um acordo com o PT para derrotar José Serra e doou uma parte do dinheiro: “Ele teria um naco de um eventual governo Mercadante”

“O plano foi tocado elo núcleo de inteligência do PT, mas com o conhecimento e a autorização do senador”, disse Expedito Veloso. Ele, inclusive, era o encarregado de arrecadar parte do dinheiro em São Paulo. As confissões do bancário foram gravadas e, na semana passada, Expedito foi confrontado com o conteúdo das conversas. Surpreso, tentou minimizar o fato: “Era um desabafo dirigido a colegas do partido”, disse, sem, contudo, negar o conteúdo dos diálogos (veja a entrevista no final da postagem).

Não é a primeira vez que o nome do ministro surge na lista dos aloprados. A Polícia Federal chegou a indiciá-lo por considerar que ele era o único beneficiado pelo escândalo. Frágil, a acusação acabou anulada por falta de provas. Mercadante disputava, então, a eleição para o governo de São Paulo. Nas conversas gravadas, Expedito Veloso conta que o ministro e o PT apostavam que a estratégia de envolver o adversário José Serra no escândalo de desvio de verbas públicas lhe garantiria os votos necessários para, quem sabe, ganhar o pleito.

“A avaliação era que o dossiê poderia levar a disputa ao segundo turno”, disse o bancário. De Brasília, o núcleo de inteligência do partido deu o sinal verde para a execução do plano. Por intermédio de Valdebran Padilha, tesoureiro informal do PT em Mato Grosso, o comitê paulista negociou diretamente com os empresários matogrossenses Darci e Luiz Antônio Vedoin, que cobraram 1,7 milhão de reais para falsificar documentos e conceder uma entrevista na qual acusariam José Serra de envolvimento com as fraudes no Ministério da Saúde.

Para tentarem atingir a imagem do candidato e, ao mesmo tempo, fazer tudo sem deixar rastros, os petistas montaram um esquema complexo, dividido em três células, cada qual cuidando de uma etapa do processo. Havia um grupo encarregado exclusivamente de avaliar os danos que os documentos causariam à candidatura tucana. Faziam parte desse grupo o presidente do PT à época, Ricardo Berzoini, o próprio Veloso e Jorge Lorenzetti, churrasqueira e amigo do então presidente Lula.


O segundo grupo tinha como função fazer chegar as informações à imprensa domesticada. Dele participavam Oswaldo Bargas, amigo de Lula desde os tempos de militância no ABC paulista, e Hamilton Lacerda, coordenador de campanha de Mercadante. Por fim, o terceiro destacamento tinha a atribuição mais delicada: arrecadar o 1,7 milhão de reais pedido pela quadrilha para montar a farsa. Em suas confissões, o bancário revela que foi justamente uma falha desse terceiro grupo que levou ao fracasso da operação. Segundo ele, os petistas ficaram quatro dias em São Paulo aguardando o dinheiro, que demorou a chegar. E, quando apareceu, a polícia estava no rastro.

As conversas de Expedito Veloso trazem outra revelação inédita. Além do caixa dois da campanha petista, a compra do dossiê foi financiada pelo então candidato do PMDB ao governo paulista, Orestes Quércia. “Faltavam 6 pontos para haver segundo turno na eleição de São Paulo”, disse o bancário. “Os dois (Mercadante e Quércia) fizeram essa parceria, inclusive financeira. ( … ) As fontes (do dinheiro) são mais de uma. ( … ) Parte vinha do PT de São Paulo. A mais significativa que eu sei era do Quércia.”

O ex-governador Orestes Quércia morreu no fim do ano passado, não pode se defender das acusações, mas são claras as evidências de que ele estava ligado ao grupo de alguma forma. No dia da prisão dos aloprados, o programa eleitoral do peemedebista exibiu as acusações contra Serra, mesmo após a constatação de que tudo não passava de uma farsa dos adversários petistas. Descobre-se agora que se tratava de um pacto. “Em caso de vitória do PT, ele (Quércia) ficaria com um naco do governo Mercadante”, contou Expedito.

A empreitada ruiu quando agentes da PF prenderam o policial Gedimar Passos, segurança do comitê de campanha de Lula, e Valdebran Padilha, o petista que servia como interlocutor junto aos empresários corruptos, em um hotel próximo ao Aeroporto de Congonhas. O que deu errado? “O Mercadante disse que estava tudo pronto em São Paulo. Que o dinheiro estava pronto em São Paulo. Que o Valdebran podia ir porque já estava tudo juntado (o dinheiro), e não estava. ( … ) O Valde­bran alugou um avião para ficar apenas duas horas no aeroporto e foi preso quatro dias depois no hotel”, contou o bancário. Procurado, o ministro Mercadante não quis comentar o episódio.

A partir das inconfidências de Expedito Veloso, descobre-se que a sórdida investida contra os tucanos em São Paulo não foi a primeira e que os alvos nem sempre são necessariamente de par­tidos adversários. A bruxaria não poupou os próprios petistas. Expedito revelou que, antes da prisão dos aloprados, ocorreu outro episódio, envolvendo os mesmos personagens, usando os mesmos métodos, só que dessa vez agindo em Mato Grosso. Os alvos: os então sena­dores Serys Slhessarenko, do PT, e Antero Paes de Barros, do PSDB.

Eles disputavam o governo do estado com Blairo Maggi (PR), que concorria à re­eleição, quando surgiu um dossiê envolvendo a petista e o tucano com a máfia dos sanguessugas. Suas candidaturas foram fulminadas pelas denúncias. Foi mais uma armação dos aloprados, segundo as revelações gravadas de Expedito Veloso, que contou a história à própria senadora tempos depois.

O mentor dessa vez foi o ex-deputado petista Carlos Abicalil, atual secretário do Ministério da Educação. O financiador e beneficiário: o governador Blairo Maggi. Até o custo era parecido com sua congênere paulista. Disse Expedito Veloso: “O Abicalil já tinha negociado com Blairo Maggi para f. a Serys e o Antero Barros. Pagaram 2 milhões aos Vedoin para incluir os dois indevidamente na lista dos sanguessugas. ( … ) Saiu uma reportagem antes da eleição que arrebentou os dois”.

Serys confirma que Expedito a procurou no ano passado e fez uma confidência: “Ele disse que meu envolvimento com aqueles bandidos foi tudo uma armação criminosa contra mim, patrocinada pelos colegas do partido”. O ex-senador Antero também soube da fraude. “Liguei para o Serra e avisei que estavam fazendo a mesma patifaria contra ele.”

Por meio de sua assessoria, o hoje senador Blairo Maggi negou qualquer envolvimento no caso: “Essa prática de divulgar dossiês nunca pertenceu ao meu estilo de trabalho”. O petista Abicalil foi ainda mais incisivo: “Nem sei que dossiê é esse. Nunca elaborei dossiê e nunca participei desse tipo de trama, nem hoje e nem no passado”. O sucesso da operação em Mato Grosso, porém, animou os aloprados. “O pessoal pensou assim: “Agora é só sair outra igual que arrebenta com o Serra também”, revela Expedito Veloso.

Ao impedir a transação, a PF apreendeu 1,7 milhão de reais, em notas de real e de dólar. A origem do dinheiro nunca foi descoberta pelas autoridades, o que impossibilitou a punição dos envolvidos no caso - a maioria membros do grupo de inteligência e da Executiva do PT. Eles construíram uma narrativa inverossímil como se ninguém soubesse a cena que estava fazendo, chegando a ponto de insinuar até que o dinheiro apreendido com o grupo teria sido “plantado” pela polícia.

Agora surgem elementos mais do que concretos para esclarecer de uma vez por todas a verdade sobre caso - e, o que é melhor -, informações relevantes narradas diretamente por quem participou do crime.

* * *



Expedito Veloso: “Cumpri uma missão política”

Procurado pela reportagem na semana passada, Expedito Veloso confirmou o teor dos diálogos obtidos pela revista. Disse que as conversas eram um “desabafo” feito para colegas do partido e que não deveriam ter sido divulgadas. Afirmou que sua participação no escândalo foi lateral e, ainda assim em cumprimento a uma missão de campanha do PT.

- O senhor apontou o ministro Aloizio Mercadante como mentor e beneficiário da operação. Foi uma conversa interna, uma conversa partidária.

Isso vai me complicar. Acabei de sair do banco. Paguei muito caro por isso. Não tenho interesse em que esse assunto venha à tona.

- O senhor confirma o teor da conversa?

Era uma conversa fechada, uma conversa privada. Conversei isso apenas com alguns poucos companheiros petistas, mas nunca imaginei que ela pudesse sair do círculo do partido.

- A ex-senadora Serys Slhessarenko confirmou ter ouvido do senhor parte dessa história.

Realmente contei a ela detalhes do caso. Só não esperava que essas conversas tivessem sido gravadas.

- Qual foi sua participação na montagem do dossiê?

Absolutamente lateral. Analisei uns documentos. Só isso. Cumpri uma missão política da campanha.

- O senhor disse que o Quércia e o PT de São Paulo arrecadaram o dinheiro.

Não participei desse assunto de dinheiro. Isso tem de ficar claro.

- O senhor confirma tudo o que disse nas conversas gravadas?

Eu estava querendo mostrar às pessoas que eu não era um “aloprado”. Não me lembro dos detalhes, mas tudo o que você relata que ouviu eu realmente disse. Era um desabafo dirigido a colegas do partido.

- Além das pessoas que o senhor relaciona na gravação, quem mais soube ou participou da montagem do dossiê?

Você ouviu a conversa. Não tenho nenhum interesse em discutir isso. Você já conhece a história. Publique o que quiser.