quarta-feira, 22 de junho de 2011

OS POETAS DE CORDEL...

* * *
Sebastião da Silva glosando o mote:
Não tem mais Lampião e nem cangaço
Mas tem gente pior que Lampião.


Lampião era um tipo sanguinário
Para muitos, de fato, foi perigo,
Protegia quem fosse seu amigo,
Perseguia quem fosse adversário.
Hoje vê-se um tipo salafrário
Roubar tudo do povo e da nação,
Quem devia mofar na detenção
É tratado com beijo e com abraço,
Não tem mais Lampião e nem cangaço
Mas tem gente pior que Lampião.
* * *

Crispiniano Neto glosando o mote:
No ano que falta inverno
o pobre sofre demais.


É de cortar coração,
os pobres na indigência
e o serviço de emergência
em atraso e confusão
Senhor ministro, o sertão
não tá suportando mais
nesses dias nossa paz,
pode tornar-se um inferno
No ano que falta inverno
o pobre sofre demais.
Rezando prá São José
rouba santo em procissão
quase louco estende a mão
nos últimos degraus da fé
mas vê que a seca não é
por ordem de satanás
a culpa é de quem não faz,
nada, mas diz: - Eu governo
No ano que falta inverno
o pobre sofre demais.
Governo, tenha coragem
de melhorar o sertão
com planos de irrigação
reforma agrária e barragem
com crédito e açudagem
que não vai ter seca mais
trabalhadores rurais
vão viver num berço eterno
No ano que falta inverno
o pobre sofre demais.
* * *
João Paraibano glosando o mote:
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.


No vagão da saudade eu tenho ido
Ver a casa onde antes nasci nela
Uma lata de flores na janela
A parede de taipa, o chão varrido
Milho mole esperando ser moído
Numa máquina do veio enferrujado
Que apesar da preguiça e do enfado
Mãe botava de pouco e eu moía
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.
Vou pra ver nessa casa que foi minha
Minha rede já pensa duma banda
O batente na porta da varanda
Um bueiro de lata na cozinha
Mãe prendendo os dois pés duma galinha
Num cordão de algodão descaroçado
Um espeto cheirando a milho assado
E um cuscuz fumaçando na bacia
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.
Eu não posso esquecer que o rouxinol
Dessa casa também foi habitante
Mãe cortando pedaço de bramante
Pra colocar o remendo no lençol
Pai voltando da roça ao pôr-do-sol
Cochilando com o peso do enfado
Um pé sem chinelo, outro calçado
Uma mão ocupada, outra vazia
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.
Lembro a boca redonda da cumbuca
Que mamãe tirou sal pro alimento
A vassoura do rabo dum jumento
Espantando um enxame de mutuca
Um cancão desarmando uma arapuca
Um canário cantando engaiolado
Um cachorro latindo acocorado
Sem cobrar um tostão pra ser vigia
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.
Toda noite eu me lembro de lembrar
De um pião enrolado até o meio
Mãe botando carvão num ninho cheio
Pra ninhada da franga não gorar
Uma gata lambendo um alguidá
Com o cabelo da testa penteado
Depois subia pra cima do telhado
Na certeza que o gato também ia
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado.
* * *
Geraldo Amâncio glosando o mote:
O tempo passou depressa,
fui feliz e não sabia.


Eu corria atrás de cobre
só por ter necessidade
mas a minha mocidade
pra mim foi um tempo nobre
eu era muito mais pobre,
mas tinha mais alegria
essa minha nostalgia
não tem ciência que meça
O tempo passou depressa,
fui feliz e não sabia.
Com a alma corrompida
dos sopapos da saudade,
57 de idade,
e a matéria dolorida
eu sei que em outra vida
como afirma a profecia
só não sei qual é o dia
eu quero aproveitar essa
O tempo passou depressa,
fui feliz e não sabia .
Minha aurora foi embora
é isso que desanima
o crepúsculo se aproxima
minha noite se apavora
mocidade foi embora
nessa minha poesia
nossa vida é como dia
só é bom quando começa.
O tempo passou depressa,
fui feliz e não sabia .
Eu disse pra o Criador
se eu for bom repentista
em todo ponto de vista
pago promessa ao Senhor
mas nunca fui rezador
esqueci da romaria
enganei Cristo e Maria
e nunca paguei a promessa
O tempo passou depressa,
fui feliz e não sabia.

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