terça-feira, 28 de junho de 2011

SOBRE CAPIBA...UMA HISTÓRIA REAL.

POR LEONARDO DANTAS DA SILVA...

O Recife vivia uma fase posterior a Revolução Liberal de 1930. São Paulo pegara em armas numa Revolução Constitucionalista e, naquele ano de 1932, tropas das diversas unidades da Federação haviam se deslocado para o cenário da luta.

Nas ruas do Recife o panorama era o mesmo. As notícias da Revolução Constitucionalista chegavam pelos jornais ou, simplesmente, pela boca do povo. A vida da província era a mesma, pacata, tranquila, sem muita preocupação com o dia de amanhã.

Foi por essa época que o funcionário do Banco do Brasil, Lourenço da Fonseca Barbosa, pernambucano nascido em Surubim, mas criado na Paraíba, havia retornado ao Recife e aqui levava a sua costumeira vida de boêmio.

A tranquilidade da cidade contribuía para a doce vida do compositor Capiba também escritor e poeta festejado nas mais diversas rodas do Recife, cujas músicas viviam a ser dedilhadas nos pianos das residências burguesas dos bairros da Boa Vista e São José, com os seus frevos já pintando como sucessos nos carnavais de então.

Em alta madrugada, vinha o nosso poeta pela Rua Pedro Ivo (uma estreita rua por trás da igreja Matriz de Santo Antônio) em busca da Rua Nova aonde pegaria, às 4 da manhã, o “bonde dos operários” que o levaria para a sua morada.

Lépido e fagueiro não notara o poeta que estava sendo seguido. Um homem alto, com um boné parecido com os usados pelas forças policiais de então, surgia do meio da escuridão. Aproveitando o deserto da rua estreita, abordou o nosso Capiba apontando-lhe uma faca de mais de 12 centímetros de lâmina (“era mais de 40 mil réis de faca”, comentava o poeta após o susto), afirmando nervoso:

– “É um assalto! Passe pra cá a carteira…”

Tranquilo, com a voz que lhe é peculiar, o poeta ponderou para o já nervoso ladrão:

–“Mas o que é isso!… Bota essa lambedeira pra lá… E tem necessidade disso tudo?… Vamos conversar…”

Tirando a carteira, o nosso Capiba mostrou ao ladrão que dispunha de doze mil réis… mas você não pode levar todo. Assim, como é que fica o leite dos meninos?… Como é que eu vou me manter até o final do mês?…”

Antes que o ladrão desse qualquer sugestão, o nosso herói foi fazendo a sua partilha:

– “Você fica com oito mil réis e eu fico com quatro para o leite dos meninos… Combinado?…

Estando concordes, o ladrão ficou com dois terços do total e o nosso Capiba com o outro terço restante.

Antes que o bonde chegasse ficaram o compositor e o ladrão sentados sobre o meio-fio, à espera da condução em plena madrugada do Recife, conversando sobre os caminhos da vida que fizeram de um, bancário, e do outro, ladrão…

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