sábado, 28 de janeiro de 2017

NO DIA QUE EU CONHECI UMA BRUXA...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.






          CORRIA O ANO DE 1959...

EU TINHA CINCO ANOS...

NOVA CRUZ SEM LUZ ELÉTRICA, ERA ILUMINADA PELAS LAMPARINAS DAS CALÇADAS DO POVO...

EU FUI O FIM DE RAMA...

O CAÇULA, COMPANHEIRO INSEPARÁVEL DA MINHA MÃE...

VIVIA NO CÓS DA SUA SAIA...

NUMA NOITE ESCURA COMO BREU, MINHA MÃE INVENTA DE VISITAR UMA AMIGA:GLORINHA DE SEU HERÁCLITO...

UMA NOITE DE CONVERSAS, SOB LAMPARINAS,COM UM LANCHE SIMPLES, UM DOCE, E ESTAMOS NA HORA DE VOLTAR PARA CASA...ERAM 22H.

GLORINHA SE DIRIGE A MAMÃE E DIZ, ANTES DE SAIR EU QUERO QUE A SENHORA CONHEÇA A MINHA VÓ...

A CITADA VELHA, MORAVA NO FUNDO DO QUINTAL, EM UM QUARTO ISOLADO, DEPOIS DE UM JARDIM...COM UM CARAMANCHÃO...


FOMOS A COMITIVA CONHECER A VELHA...

UMA SENHORA DE  UNS OITENTA ANOS,FEIA, COM RISO SARCÁSTICO, E FOCANDO A CARA COM A SUA PRÓPRIA LAMPARINA...FEIA DE ARREPIAR...

APÓS A APRESENTAÇÃO, A VELHA SÓ NOS DESPERTAVA

 MEDO E PAVOR...ERA UMA MADAME MIM..

SEU ASPECTO ERA TÃO TÉTRICO COMO O SEU ESTALEIRO...O SEU COVIL...

.COM RISO CÍNICO E CHEIRANDO AO MAL...

TOMA AS MÃO DA MINHA MÃE, QUE ATÉ ENTÃO ERA UMA MULHER EXTREMAMENTE FELIZ...

PASSA ALGUNS SEGUNDOS OLHANDO AS MÃOS DE MAMÃE, E OLHANDO PARA O SEU ROSTO...FAZENDO NEGATIVAS COM A CABEÇA...

TUDO ISSO ACOMPANHADO DE UM RISO SARCÁSTICO...UMA VERDADEIRA BRUXA...


ATÉ QUE CONSEGUE, AINDA SEGURANDO AS MÃO S DE MAMÃE, FALAR:

COITADINHA, COMO EU TENHO PENA DA SENHORA...SÓ VEJO DESGRAÇA NO SEU DESTINO...NA LINHA DAS SUAS MÃOS...
E REPETIU ISTO VÁRIAS VEZES, SEM SOLTAR AS MÃOS...

MAMÃE EXIBIU UM SORRISO DE ENCABULADA, DE DECEPÇÃO, E DE MEDO...


GLORINHA, A NETA DA BRUXA, DESCONVERSOU, DIZENDO:DONA LIA, NÃO SE INCOMODE COM O QUE VÓ DIZ, ELA JÁ ESTÁ CADUCANDO....

GLORINHA TENTAVA AMENIZAR AS PROFECIAS, MAS NÃO CONSEGUIU DESFAZER O CARÁTER DE VERDADE QUE ELAS CONTINHAM... A SUA FACE ERA DE VERGONHA E DE PAVOR...

               VOLTAMOS AS 24H PARA NOSSA CASA, EU CRIANÇA, MORRENDO DE MEDO...TINHA VISTO REALMENTE UMA BRUXA...TINHA CINCO ANOS...

O QUE SE SUCEDEU ,EU NÃO VOU CONTAR..POR MOTIVOS DE FORO ÍNTIMO...

MAS, A PARTIR DAÍ,VI ACONTECER NA NOSSA FAMÍLIA ,UMA SUCESSÃO DE DESGRAÇAS...

TODA VEZ QUE ACONTECIA UM DESMANTELO, EU DIZIA A MAMÃE:FAZ PARTE DA PREVISÃO DA BRUXA, MÃE DE SEU HERÁCLITO....

PENSE NUMA SUCESSÃO DE DESGRAÇAS...

AS DESGRAÇAS  VINHAM NO RITMO DE UMA FILA DE DOMINÓ,ONDE O PRIMEIRO FOI EMPURRADO...

JAMAIS EU ESQUECEREI DA BRUXA DE NOVA CRUZ...DA RUA 15 DE NOVEMBRO...AH BOCA DE PRAGA...

E TERMINO, REPETINDO CERVANTES:

EU NÃO ACREDITO EM BRUXARIAS NÃO, MAS QUE ELAS EXISTEM, EXISTEM...

MENINOS, EU VI...

UM DOS MAIORES SHOW DA TELEVISÃO NOS ULTIMOS DEZ ANOS: CAETANO, GIL E YVETE.



sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O DÉCIMO SÉTIMO MUSEU DO MUNDO...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL

          NO RANKING DOS MUSEUS DO MUNDO, O MUSEU DE BRENAND , EM RECIFE,SE ENCONTRA EM DÉCIMO SÉTIMO LUGAR ENQUANTO O LOUVRE,PARIS, OCUPA A POSIÇÃO DEZENOVE...ISTO NUMA RELAÇÃO DOS  VINTE CINCO MELHORES MUSEUS DO MUNDO...

         realmente o museu de Brenand é um primor...muito bem cuidado...com rios perenes, cachoeiras e muitas aves aquáticas...realmente um local privilegiado...logo na frente do PRÉDIO nos deparamos com a estátua:o pensador de Rodin...belíssima...
          a arte nos Brenand é atávica...vem do sangue...dos genes...genes pleiotrópicos, de efeitos múltiplos, que tornam estes artistas  multifacéticos...
          o pai de Brenand era uma mecenas, que já se dedicava a arte...certa vez acolheu em sua morada um escultor pobre mais muito talentoso, era o Abelardo da hora, que depois foi muito perseguido pela redentora...
          Abelardo tinha o seu atelier na casa do velho Brenand, e ensinava aos filhos do velho, os ofícios da arte....tinha como recompensa a sua moradia...
          mas é aí que o destino está bastante enganado...Abelardo descobre o amor na filha do velho Brenand...amor impossível, devido a sua pouca densidade econômica...o desnível social era muito grande...
          porém como a arte imita a vida, certa vez Abelardo da hora fez uma estátua de um homem beijando uma moça...só que a moça era a copa fiel da filha do velho Brenand, e o homem era a figura do próprio Abelardo...
          à noite, o velho faz uma visita ao atelier de Abelardo e se depara com a belíssima obra de arte, e imediatamente caiu em si...encarou a obra, achou-a bem feita, mas falou: a obra está bem feita, mas a partir de hoje você não pode mais morar aqui...Abelardo baixou a cabeça e aceitou a sentença...partiu numa nuvem fria na primeira madrugada...
          o que tem o amor de igualar as pessoas tem a classe social para afasta-las...na sua estadia na casa dos Brenand, Abelardo foi um grande professor de artes, teve participação na formação dos Brenand filhos...depois fundou uma escola de artes no recife, sem fins lucrativos.
          Ensinou a arte por amor e prazer...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

A TENDENCIA DE SE JULGAR PELAS APARENCIAS...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.

          Brena está dizendo que, no livro de Chico Buarque, LEITE DERRAMADO, que ela está lendo,é dito que uma das características de quem está ficando velho é falar sempre do passado...do que foi...do que passou...do leite derramado...
          Será que estou ficando velho?
por que esta lembrança constante de tudo?
          Por que esta evocação permanente pelo ontem, pelos que se foram,pelos que me ensinaram e muito?
          Agora, tenho sete anos...são duas horas da tarde...estou com meu pai, de pé, no BALCÃO DO NOSSO ARMAZÉM...quem TEM COMÉRCIO VIVE COM A ARAPUCA ARMADA ESPERANDO QUE ELA DISPARE, QUE É QUANDO CHEGA O FREGUÊS...JÁ DIZIA ZÉ MENDONÇA...
          DE REPENTE,desfila pelas nossas portas,um jovem que ganhara uma grande herança, ele inaugurava o seu carro zero kilômetro, o desejado da época: uma linda aero willys...era o sonho de consumo  dos anos cinquenta...
          Os meus olhos de criança se acenderam de desejos, via de perto uma aero wilys  novinha, que só tinha visto nas páginas de O CRUZEIRO...
          Com um semblante de admiração e cobrança digo a meu pai:papai, FULANO está é bem, passou num carro zero kilômetro...
          Meu pai, fechou a cara e num tom de repreensão me falou:
          Meu filho,nunca diga que alguém está bem por que comprou um carro novo...seu pai pode comprar á vista vinte carros deste agora, sem ir no banco, basta abrir o cofre...não julgue as coisas e as pessoas pela aparência...no entanto,eu nunca tive um carro...ando de ônibus e  de trem, no bacurau...nem por isto estou mal...
          Hoje , em Pirangi, soube que o carro vizinho a minha garagem custa 750.000.00, passei a tomar mais cuidado ao estacionar, e me lembrei deste episódio do meu pai...meu velho chico...
          Agora escutem LUIZ GONZAGA, e descubram se uma coisa tem a ver com a outra.
        Certas histórias não param de acontecer em nós até o fim da vida.

         

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

OBJETO NÃO IDENTIFICADO...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL


               Era 1973...eu fazia o Pré vestibular no colégio Marista,o 3* ano,e á noite nosso grupo estudava lá no edifício 21 de Março, no consultório do Dr Leide Moraes...Eu, Kleber Moraes, Edmílson e Percy...
Certa noite, ás 2 horas da madrugada,paramos para o lanche,e nos surpreendemos com uma coisa muito estranha...Na altura do Manchadão,vimos um objeto do tamanho de um fusca,parado no ar,emitindo muitas luzes,igual como se descreve nos desenhos, os discos voadores...Chamei pra janela o resto da turma...eu perguntava: vocês tão vendo o que estou vendo? O que poderá ser? pensamos em todas as possibilidades, inclusive num avião, e descartamos...ficamos estatalados durante dez minutos, atônitos...Após este tempo, o objecto foi minguando em frações de segundos e se transformou num ponto luminoso,que após dez minutos desapareceu...nós atribuímos isso, ao excesso de velocidade...Neste resto de noite não houve mais estudo...amanhecemos o dia comentando com satisfação á novidade.
          No outro dia,chegamos pra aula no Marista e contamos a novidade, a reação foi geral:eita que povo mentiroso!...combinamos de nunca mais tocar no assunto.
Dado e passado na cidade de Natal, no ano de 1973...quer mais detalhes pergunte ao Dr Kleber Moraes,atualmente Diretor da Maternidade Escola Januário Cicco.

CECÍLIA MEIRELES...


CANÇÃO – Cecília Meireles


No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas…
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.
Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto
Quando as ondas te carregaram
meu olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.
Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.
E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

A MALDADE QUE ASSOLA O PAÍS...


CASCUDINHO...

POR ARISTEU BEZERRA...


DITADOS POPULARES EXPLICADOS POR CÂMARA CASCUDO

Com o rei na barriga
A expressão provém do tempo da monarquia em que as rainhas, quando grávidas do soberano, passavam a ser tratadas com deferência especial, pois iriam aumentar a prole real e, por vezes, dar herdeiros ao trono, mesmo quando bastardos. Em nossos dias refere-se a uma pessoa que dá muita importância a si mesma.
Tapar o sol com a peneira
Peneira é um instrumento circular de madeira com o fundo em trama de metal, seda ou crina, por onde passa a farinha ou outra substância moída. Qualquer tentativa de tapar o sol com a peneira é inglória, uma vez que o objeto é permeável à luz. A expressão teria nascido desta constatação, significando atualmente um esforço mal sucedido para ocultar uma asneira ou negar uma evidência.
Colocar panos quentes
Significa favorecer ou acobertar coisa errada feita por outro. Em termos terapêuticos, colocar panos quentes é uma receita, embora paliativa, prescrita pela medicina popular desde tempos remotos. Recomenda-se sobretudo nos estados febris, pois a temperatura elevada pode levar a convulsão e problemas daí decorrentes. Nesses casos, compressas de panos encharcados com água quente são um santo remédio. A sudorese resultante faz baixar a febre.
Sangria desatada
Diz-se de qualquer coisa que requer uma solução ou realização imediata. Esta expressão teve origem nas guerras, onde se verificava a necessidade de cuidados especiais com os soldados feridos. É que, se por qualquer motivo, se desprendesse a atadura posta sobre as feridas, o soldado morreria, por perder muito sangue.
Cor de burro quando foge
A frase original era “Corra do burro quando ele foge”. Tem sentido porque, o burro enraivecido, é muito perigoso. A tradição oral foi modificando a frase e “corra” acabou virando “cor”.
Elefante branco
A expressão vem de um costume do antigo reino de Sião, situado na atual Tailândia, que consistia no gesto do rei de dar um elefante branco aos cortesões que caiam em desgraça. Sendo um animal sagrado, não podia ser posto a trabalhar. Como presente do próprio rei, não podia ser vendido. Matá-lo, então, nem pensar. Não podendo também ser recusado, restava ao infeliz agraciado alimentá-lo, acomodá-lo e criá-lo com luxo, sem nada obter de todos esses cuidados e despesas. Daí o ditado significar algo que se tem ou que se construiu, mas que não serve para nada.
Como sardinha em lata
A palavra sardinha vem do latim sardina. Designa o peixe abundante na Sardenha, conhecida região da Itália. É um alimento apreciado e nutritivo, de sabor bem peculiar. As sardinhas, quando enlatadas em óleo ou em outro molho, vêm coladas umas às outras. Por analogia, usa-se a expressão sardinha em lata para designar a superlotação de veículos de transporte público.
Bicho-de-sete-cabeças
Tem origem na mitologia grega, mais precisamente na lenda da Hidra de Lerna, monstro de sete cabeças que, ao serem cortadas, renasciam. Matar este animal foi uma das doze proezas realizadas por Hércules. A expressão ficou popularmente conhecida, no entanto, por representar a atitude exagerada de alguém que, diante de uma dificuldade, coloca limites a realização da tarefa, até mesmo por falta de disposição para enfrentá-la.
Com a corda toda
Antigamente, os brinquedos que possuíam movimento eram acionados torcendo um mecanismo em forma de mola ou um elástico, que ao ser distendido, fazia o brinquedo se mexer. Ambos os mecanismos eram chamados de “corda”. Logo, quando se dava “corda” totalmente num brinquedo, ele movia-se de forma mais agitada e frenética. Daí a origem da expressão.
Chorar as pitangas
Pitangas são deliciosas frutinhas cultivadas e apreciadas em todo o país, especialmente nas regiões norte e nordeste. A palavra deriva de pyrang, que, em tupi-guarani, significa vermelho. Sendo assim, a provável relação da fruta com lágrimas, vem do fato dos olhos ficarem vermelhos, parecendo duas pitangas, quando se chora muito.
* * *
Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) foi um historiador, antropólogo, advogado, professor universitário, jornalista e, principalmente, folclorista brasileiro. Era apaixonado pelas tradições populares, superstições, literatura oral e história do Brasil. Ele passou toda sua vida em Natal e dedicou-se ao estudo da cultura brasileira. Foi professor da Faculdade de Direito de Natal, hoje Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande de Norte (UFRN), cujo o Instituto de Antropologia leva seu nome. O conjunto da sua obra é considerável em quantidade e qualidade: ele escreveu 31 livros e 9 plaquetas sobre o folclore brasileiro, em um total de 8.533 páginas, o que o coloca entre os intelectuais brasileiros que mais produziram. É também notável que tenha obtido reconhecimento nacional e internacional publicando e vivendo distante do s centros Rio e São Paulo.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

OS BONS CONSELHOS...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.





          AINDA HOJE SINTO FALTA DOS CONSELHOS DE MEU PAI...
          COMO A SUA EXPERIENCIA VIA COISAS QUE OS MEUS OLHOS DE CRIANÇA NÃO ENXERGAVAM E NEM ACREDITAVAM...
          DEPOIS, COM O TEMPO, CONSTATEI TUDO O QUE O MEU VELHO DIZIA...O QUE EU ACHAVA QUE ERA ABSURDO ERA A MAIS PURA VERDADE...
          UM BOM PAI É ALGO INSUBSTITUÍVEL, E BASTANTE MAL COMPREENDIDO NA MAIOR PARTE DA CONVIVENCIA COM OS FILHOS...O REAL VALOR DO PAI QUEM ENSINA É O MESTRE MUNDO, É O TEMPO,QUANDO AS FLORES SE DESPETALAM SANGRANDO Á VIDA...
          CHEGA UM TEMPO QUE TUDO VEM COM FACILIDADE, INCLUSIVE A MORTE...HOJE ESCUTEI UMA FRASE MUITO INTERESSANTE, APÓCRIFA:NÃO ME RESSUSCITEM QUANDO EU MORRER...EU PREFIRO PARTIR EM PAZ...TALVEZ TENHA SIDO A FRASE DO ANO...É A CONSCIENCIA DO CICLO VITAL: NASCER, CRESCER E MORRER...
          JÁ SEU TÔTÔ DIZIA:AH PAULO BEZERRA...COMO ERA BOM SE A MORTE ENGOLISSE BOLA...ELE QUE NADAVA EM DINHEIRO NUNCA MORRERRIA.
          ME DEDICO MUITO A ESCUTAR OS POETAS...HOJE ESCUTEI DOIS POETAS:VINICIUS DE MORAES E  O MAESTRO FRANCIS HIME...AMBOS FALAM DOS CONSELHOS DO PAI PARA O FILHO...MAS COM O TEMPO, O FILHO FICA VELHO E O PAI VIRA CRIANÇA, E A ORDENS DOS CONSELHOS SE INVERTEM...
          HOJE, JÁ SINTO A NECESSIDADE DE ESCUTAR O QUE DIZEM AS MINHAS CRIAS, A MEDIDA QUE ME APROXIMO DA MINHA PRÓXIMA INFÃNCIA...ELES USAM ATÉ OS MEUS ARGUMENTOS ANTIGOS PARA ME CONVENCEREM DE CERTAS VERDADES...A GENTE PENSA QUE ELES ATÉ ESQUECERAM DO QUE FALÁVAMOS...PURA ILUSÃO...UM BOM PAI É UM ETERNO PROFESSOR...UMA BOA CRIAÇÃO É TUDO...O EXEMPLO É UMA ESCULTURA NA ALMA DO FILHO.
          OS CONSELHOS DO PAI SE INICIAM MUSICALMENTE NOS ACALANTOS, MAS O MAESTRO FRANCIS HIME FALA NO DESACALANTO, QUE É O FILHO ACORDANDO O VELHO PAI, É QUANDO A ORDEM DOS CONSELHOS SE INVERTEM...
          O POETA VINICIUS DE MORAES CONVERSA COM A MENINA DAS DUAS TRANÇAS, PROTEGENDO O SEU FILHO...O FILHO TAMBÉM CONVERSA COM A MESMA MENINA PARA PROTEGER O PAI...
          ESCUTEM ESTAS CANÇÕES E SINTAM A BELEZA DOS CONSELHOS, QUE NASCEM DO EU PROFUNDO E FRUTIFICAM POR TODA VIDA,E INDEPENDEM DA PRIMAVERA OU DO VERÃO.
          OS BONS CONSELHOS  SÃO ESTAÇÕES QUE SÓ POSSUEM OUTONO,ONDE OS FRUTOS SÃO PERENES...
          A FELICIDADE É O ESPINHO QUE NÃO SE VÊ EM CADA FLOR...



GENTE QUE A GENTE NEM VÊ POR QUE É QUASE NADA...


O DESABAFO DE UM EXCLUÍDO

por Carlos Aires
Eu sou um pobre excluído
Que vive vagando a esmo
A perguntar a mim mesmo
Porque é que sou assim?
Só vejo ao redor de mim
Tristeza fome e miséria
Vivo escutando pilhéria
Taxado de vagabundo
Só ando sujo e imundo
Morrendo de sede e fome
Sem moradia, sem nome,
Sendo a escória do mundo.
Os que me encontram na rua!
Veem-me como um desafeto,
Um andarilho, um sem teto,
Um Zé Ninguém, um errante.
Apressado, segue adiante,
Frio, apático, indiferente,
Desprezando o indigente,
Sofredor desalentado
Que na sarjeta é jogado
Sem dó e sem piedade
E pela sociedade
É esquecido, ignorado.
Meus dias são torturantes
E as noites são infelizes,
Busco abrigo nas marquises
Evitando a chuva e o vento.
Pra não dormir ao relento
Eu improviso um colchão
Com um velho papelão
Que alguém já não quis mais,
Umas folhas de jornais
Servem-me de cobertura
E nessa cruel tortura
Adormeço entre os meus ais.
Outro momento irritante
É quando o dia amanhece
Que a fome logo aparece
E na barriga persiste
Nada pode ser mais triste
E nem mais angustiante
É realmente humilhante
A tétrica situação
Em busca de solução
Eu passo a manhã inteira
E nos despejos da lixeira
Pego migalhas de pão.
Num lamentável flagelo
Perdurando eu sobrevivo
E não encontro motivo
Para comemorações
Pois quem vive nos lixões
De maneira lastimável
É só mais um miserável
Um odioso, um nefando,
Que ao léu vive vagando
Sem regozijo ou prazer
E o fim desse padecer
Só Deus é quem sabe quando.
Não vou colocar a culpa
No cidadão que é honesto
Simples, humilde, modesto,
Que vive corretamente,
Mais sim no inconsequente
Do político salafrário
Que faz com que nosso erário
Vire suborno e propina
Na calada e em surdina
Sempre agindo a sangue frio,
Saquear, fazer desvio,
Pra ele virou rotina.
Enquanto isso o sem teto,
Sem comida, sem abrigo,
Na condição de mendigo
Vive implorando uma esmola
Sem frequentar a escola
Não passa de um iletrado
Esquecido, abandonado,
Malvisto, é sempre um suspeito,
Que nunca será aceito
Pelo farto ou abastado.
E sempre que é abordado
É vitima de preconceito.
Com esse meu desabafo
Não quero ferir ninguém
Porém, o que nada tem,
Sofre descriminação
Mesmo sendo um cidadão
Tem seu direito negado
Sempre será rejeitado
Pela aristocracia
Pois essa lhe deprecia
Achando que é excremento
Um crápula, um mau elemento,
Sem recato e sem valia.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

CONHEÇA NELSON RODRIGUES...


Nelson Rodrigues (1912-1980)
POR JOSÉ DOMINGOS BRITO
Nasceu no Recife em 23/08/1912. Jornalista, cronista, romancista e dramaturgo, é considerado o iniciador do teatro moderno brasileiro. Aos quatro anos a família se muda para o Rio de Janeiro, para se juntar ao pai Mario Rodrigues, deputado federal e jornalista que deixou o Recife indisposto com os políticos tradicionais. Aos sete anos pediu à mãe para entrar na escola, onde no ano seguinte participou de um concurso de redação. O tema era livre e o melhor trabalho seria lido na classe. A professora quase desmaiou ao ver sua redação: era uma história de adultério. Na infância suas leituras eram de adulto, romances onde a temática era uma só: a morte punindo o sexo ou o sexo punindo a morte.
Aos 13 anos “botou calças compridas” para trabalhar como repórter de polícia no jornal de seu pai “A Manhã”, onde também trabalhavam alguns de seus 13 irmãos. No jornal manteve contatos com colaboradores ilustres: Monteiro Lobato, Agripino Grieco, Ronald de Carvalho, José do Patrocínio, Aparício Torelly, Mauricio Lacerda etc. O jovem jornalista impressionou os colegas com sua facilidade em dramatizar pequenos acontecimentos. Ágil na escrita, logo ganhou uma coluna assinada e publica seu primeiro artigo em fevereiro de 1928. O título era “A tragédia da pedra…” com as famosas reticências que lhe acompanharam em tantos outros artigos. Depois exercitou seu lado sombrio com a crônica “O rato…”, onde descreve a morte de um rato atropelado por um carro. Em seguida começa a “bater” em Ruy Barbosa, para desespero de seu pai. No segundo artigo esculhambando a “Águia de Haia”, perdeu a coluna e foi rebaixado para a seção de polícia. O jornal, mal administrado e cheio de dívidas é vendido ao sócio. Pouco depois, seu pai lançou um novo jornal “Crítica”, em fins de 1928, que fez muito sucesso com uma circulação de 130 mil exemplares.
Nesta ocasião dá-se o assassinato de Carlos Pinto, repórter do jornal “A Democracia”. Correu a notícia que o mandante do crime foi um dos Rodrigues, e a policia prende todos eles: pai, mãe e os filhos. Nelson escapou porque estava no Recife, passando uma temporada para se livrar de uma depressão. Junto aos primos conheceu o Recife, Olinda, Boa Viagem e a zona do Cais do Porto, tida como a maior da América do Sul. Sua prima Netinha, com mantinha um namoro por carta quando estava no Rio, tirou-o da depressão e ele voltou para a redação do jornal “Crítica”. Em 26 de dezembro de 1920 o jornal estava sem assunto para a primeira página e Mario Rodrigues estampou o desquite de um casal famoso: Sylvia e José Thibau. No outro dia Sylvia entra na redação procurando o editor. Não encontrando-o pede para falar com seu filho Roberto e dá-lhe um tiro. Nelson, com 17 anos, estava ao lado e assistiu a cena. A família ficou traumatizada com a morte violenta.
Dois meses após, Mario Rodrigues sofre uma trombose cerebral e falece aos 44 anos. Como diz o ditado que “desgraça pouca é bobagem” estoura a Revolução de 30. Em 24 de outubro o Governo é deposto e todos os jornais do velho regime foram invadidos e empastelados. Pouco depois voltaram a circular, exceto “Crítica” o jornal dos Rodrigues. A família inteira passou um perrengue que durou uns meses, até que surgiu uma oportunidade. Em 1931 Roberto Marinho convida seu irmão Mario Filho (que dá nome ao Estádio do Maracanã) para assumir a página de esportes do jornal “O Globo”. Em 1932 Nelson, também, é contratado com um ordenado de 500 mil réis por mês. Com uma vida desregrada e fumando muito, pegou uma tuberculose e ficou 14 meses, entre 1934-1935, internado em Campos de Jordão, para onde retornaria outras vezes.
Casou com Elza Bretanha, também jornalista d’O Globo, com quem namorava há 2 anos, em 1940 sem avisar as famílias, e foi morar no Engenho Novo. Era a volta ao subúrbio levando uma vida de penúria. Um dia, ao passar em frente ao Teatro Rival, viu uma enorme fila para assistir A família Lerolero, de Raimundo Magalhães Júnior, e ouviu o comentário: “Esta chanchada está rendendo os tubos”. Parou e pensou: por que não escrever teatro? Em meados de 1941 é concluída sua primeira peça: A mulher sem pecado, que só foi encenada no fim de 1942. Não foi um sucesso de público, mas alguns críticos elogiaram. No ano seguinte, escreve Vestido de noiva e distribui cópias entre os jornalistas, críticos e amigos. Manuel Bandeira elogiou e, com este aporte, conseguiu elogios em quase todos os jornais. Mas falavam que a peça era muito complexa, que exigia um cenário de alto custo; portanto dificilmente alguém se proporia a encená-la. Até que a peça caiu nas mãos de Zbignew Ziembinski, um ator e diretor polonês recém-chegado ao Brasil. “Não conheço nada no teatro mundial que se pareça com isso”, foi o comentário de Ziembinski.
A partir daí começa a ficar famoso, odiado e amado pela crítica e pelo público. Porém, ainda com dificuldades financeiras e procurando outro emprego. Em 1945, através de David Nasser, é apresentado a Freddy Chateaubriand, da revista “O Cruzeiro”. Passa a trabalhar na revista com um salário de cinco mil cruzeiros, sete vezes mais do que ganhava n’O Globo. Assume o cargo de diretor de redação das revistas “Detetive” e “O Guri”. Depois soube que Freddy Chateaubriand estava querendo um folhetim para levantar a tiragem d’O Jornal. Ele se ofereceu para escrevê-lo e assim nasceu “Suzana Flag”, o pseudônimo que assinava a novela Meu destino é pecar. O folhetim alavancou as vendas do jornal e tornou-se um livro, cuja venda ultrapassou 300 mil exemplares. Isto estimulou-o a escrever outro folhetim: Escravas do amor, outro retumbante sucesso.
Sua terceira peça – Álbum de família – surge em 1946. A peça, com o incesto como tema central, foi proibida pela censura e só foi liberada 19 anos depois, em 1965. Nos anos seguintes teve suas peças interditadas pela censura, passou a ser sinônimo de obsceno e tarado e ficou conhecido como autor maldito. Ainda em 1946 aproveitou o sucesso de “Suzana Flag”, publicando sua “autobiografia”, intitulada Minha vida e foi outro sucesso de vendas. Evidentemente não era do conhecimento do público que se tratava de um pseudônimo. Em 1948 estréia mais uma peça: Anjo negro, gerando mais polêmica e consagrando-o como “maldito”. Seguem-se Senhora dos afogados (1948) e Dorotéia (1949).
Fanático torcedor do Fluminense, foi um grande cronista esportivo, ao mesmo tempo que escrevia reportagens policiais e folhetins romanescos. Em 1950 passou a trabalhar no jornal “Última Hora”. O dono do jornal, Samuel Wainer, propôs que ele escrevesse, com pagamento extra, uma coluna diária tratando de um fato qualquer, mas que fosse real. O título proposto foi Atire a primeira pedra. Nelson não gostou e propôs outro: A vida como ela é. Tal como nos folhetins anteriores, foi um grande sucesso que ajudava bastante a vender o jornal nas bancas. No ano seguinte, e aproveitando o sucesso dos folhetins, relançou Suzana Flag em O homem proibido. Sem sombra de dúvida foi a autor de romances de maior sucesso, publicados na forma de folhetins em jornais.
Em 1953 estreia no Teatro Municipal “A falecida” uma comédia chamada de “tragédia carioca” para atrair o público. Por esta época sua vida financeira já estava bem equilibrada ao ponto de manter outra família. Manteve um romance com Yolanda que durou cinco anos e lhe rendeu três filhos, que ele não reconheceu como seus. Para melhorar a situação financeira, a família Rodrigues ganha, em 1955, uma ação contra o Governo de indenização pela destruição do jornal “Crítica” e recebem uma boa bolada. Nelson compra um apartamento em Teresópolis e um carro para a mulher, a legítima. Esse período de prosperidade durou pouco. Teve um problema de vesícula e após a operação de alto risco ficou três meses sem publicar suas colunas nos jornais. A coluna publicada em “A Manchete Esportiva” foi interrompida de novembro de 1958 a março de 1959.
Em seguida cria outro personagem de folhetim, mais um sucesso: Engraçadinha, que entreteve os leitores da “Última Hora” até fevereiro de 1960. Depois, repetindo o sucesso que teve com Suzana Flag, foram publicados dois livros biográficos: Engraçadinha – seus amores e seus pecados dos doze aos dezoito e Engraçadinha – depois dos trinta. Certo dia conheceu um motorista de ônibus, malandro exibido que tinha todos os dentes de ouro. Ele misturou o cara com outro conhecido, o bicheiro carioca Arlindo Pimenta, e criou o personagem “Boca de ouro”. Como nas peças anteriores, tem problemas com a censura, mas fez grande sucesso em 1961, com Milton Moraes no papel principal.
Surge nova amante, mulher casada que logo se separa do marido, e dois anos depois ele também separa-se de Elza. O fato causou comoção entre os amigos Otto Lara Resende, Fernando Sabino e Claudio Mello e Souza, pois a esposa Elza chegou a tentar suicídio. Pode-se dizer que ele viveu uma “tragédia Rodrigueana” na própria pele. A nova esposa deu um trato em sua aparência, e logo começou a participar do programa esportivo “Grande resenha Facit”, da TV Rio, dirigido por Walter Clark. Era o primeiro programa tipo mesa-redonda da televisão brasileira. Isto não o impedia de continuar com suas peças: Beijo no asfalto (1960), Bonitinha, mas ordinária (1962), Toda nudez será castigada (1965) etc. Algumas delas passaram para a tela do cinema. Sua penúltima peça – Anti-Nelson Rodrigues – foi encenada em 1973, com direção de Paulo César Pereio. A última foi A serpente, escrita em 1979. Quase todas elas vêm sendo encenadas até hoje.
O início da década de 1970 marca também os “anos de chumbo” da ditadura. Nelson mantinha um relacionamento com alguns militares. Precisou deles para tirar seu filho Nelsinho, preso politico, da cadeia. Conseguiu com o presidente Médici um indulto para que ele saísse do País, mas Nelsinho não aceitou o privilégio. Sua fama de reacionário no meio politico não eram menor que a de “maldito” ou “pornográfico”. Não obstante isso, batalhou para para localizar e libertar alguns amigos, entre eles Hélio Pellegrino e Zuenir Ventura. Em 1974 a saúde se complica de novo. É operado de um aneurisma da aorta. Apesar da proibição médica, voltou a fumar. Em 1977 é novamente internado com uma arritmia ventricular grave e insuficiência respiratória. Em tais condições, consegue que a esposa Elza volte para casa. Bem antes disso já andavam se encontrando quase todas as noites no restaurante “O bigode de meu tio”, na Vila Isabel. Em fins do mesmo ano, com a saúde abalada, reuniu algumas crônicas e publicou seu último livro: O reacionário: memórias e confissões. Mesmo doente, aceitou um convite para fazer o lançamento numa livraria em Florianópolis. Como não viajava de avião, foram 15 horas de carro junto com uma irmã, que lhe servira como enfermeira. Passou a tarde inteira sentado ao lado de uma pilha de livros, de caneta em punho, aguardando a chegada dos interessados num autógrafo. Não apareceu ninguém, nenhum livro foi vendido naquela tarde.
A viagem de volta foi marcada por um silêncio constrangedor, o qual marcou seus últimos anos de vida. Faleceu em 21/12/1980, manhã de domingo. Naquele mesmo dia fez 13 pontos na Loteria Esportiva, num “bolão” junto com seus amigos do jornal “O Globo”. À tarde a seleção brasileira jogava contra a Suíça, em Cuiabá. No meio da partida, o Brasil inteiro assistiu pela TV o juiz Arnaldo César Coelho interrompendo o jogo com um minuto de silêncio para homenagear o grande dramaturgo.

A POESIA DE CARLOS PENNA FILHO...


A SOLIDÃO E SUA PORTA – Carlos Pena Filho



Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha)
Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha
Arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida
Com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

LITERATURA DE CORDEL...


TROVAS DE GERALDO AMÂNCIO

“Não erra 

aquele que almeja
Possuir bem, progredir,
Talvez o pecado seja
O não saber possuir.”
“O amor toma tempo, tanto
Que o próprio tempo não soma,
Seja eterno ou por enquanto,
Vale o tempo que nos toma.”
“Existem menos defeitos,
Mais justiça e menos danos,
Entre os humanos direitos
Que nos direitos humanos.”
“Criador das unidades,
Porto de infinito cais,
Raiz das pluralidades,
Deus é isso e muito mais.”
“Quando o prepotente desce
Ao sepulcro onde se instala,
Seu próprio orgulho apodrece,
Sua arrogância se cala.”
“Metade da humanidade
Infelizmente não come;
E não dorme a outro metade,
Temendo os que passam fome!”
“Eu pouco penso em morrer.
A morte não me estarrece;
O meu medo é não saber
Depois dela o que acontece!”
“Sono de velho parece
Mulher descompromissada,
Que chega quando anoitece,
Mas foge de madrugada.”
* * *
Geraldo Amâncio Pereira é poeta, repentista, trovador, cordelista e contador de causos. Nascido no sítio Malhada da Areia, município do Cedro,Ceará, em 29 de abril de 1946. Cursou faculdade de História em Fortaleza. Começou com acompanhamento de viola em 1966. Participou de centenas de festivais em todo o país, e classificou-se mais de 150 vezes em primeiro lugar. Organizou festivais internacionais de repentistas e trovadores, além do festival Patativa do Assaré. É autor das três antologias sobre cantoria em parceria com o poeta Vanderley Pereira. Gravou 15 CDs ao longo da carreira, além de ter publicado cordéis em livros. Apresentou o programa dominical “Ao Som da Viola”, na TV Diário em Fortaleza.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

MENTIRAS VERDADEIRAS...

*TRINTA MENTIRAS VERDADEIRAS:*


*1. ADVOGADO*: – Esse processo é rápido.
*2. AMBULANTE*: – Qualquer coisa, volta aqui que a gente troca.
*3. ANFITRIÃO*: – Já vai? Ainda é cedo!
*4. ANIVERSARIANTE*: – Presente? Sua presença é mais importante.
*5. BÊBADO*: – Sei perfeitamente o que estou dizendo.
*6. CASAL SEM FILHOS*: – Visite-nos sempre; adoramos suas crianças.
*7. CORRETOR DE IMÓVEIS*: – Em 6 meses colocarão: água, luz e telefone.
*8. DELEGADO*: – Tomaremos providências.
*9. DENTISTA*: – Não vai doer nada.
*10. DESILUDIDA*: – Não quero mais saber de homem.
*11. DEVEDOR*: – Amanhã, sem falta!
*12. ENCANADOR*: – É muita pressão que vem da rua.
*13. FILHA DE 17 ANOS*: – Dormi na casa de uma colega.
*14. FILHO DE 18 ANOS*: – Antes das 11 estarei de volta.
*15. GERENTE DE BANCO*: – Temos as taxas mais baixas do mercado.
*16. INIMIGO DO MORTO*: – Era um bom sujeito.
*17. JOGADOR DE FUTEBOL*: – Vamos reverter a situação no próximo jogo. (hummmm !!!!)
*18. LADRÃO*: – Isso aqui foi um homem que me deu.
*19. MECÂNICO*: – É o carburador.
*20. MUAMBEIRO*: – Tem garantia de fábrica.
*21. NAMORADA*: – Pra dizer a verdade, nem beijar eu sei.
*22. NAMORADO*: – Você foi a única mulher que eu realmente amei.
*23. NOIVO*: – Casaremos o mais breve possível!
*24. ORADOR*: – Apenas duas palavras…
*25. POBRE*: – Se eu fosse milionário ajudava todo mundo.
*26. RECÉM-CASADO*: – Até que a morte nos separe.
*27. SAPATEIRO*: – Depois alarga no pé.
*28. SOGRA*: – Em briga de marido e mulher não me meto.
*29. VAGABUNDO*: – Há 3 anos que procur
o trabalho mas não encontro.
*30. AMIGAS NO FACEBOOK*: Linda!

VELUDO...


VELUDO...

História de um cão
Luiz Guimarães

Eu tive um cão. Chamava-se Veludo.
Magro, asqueroso, revoltante, imundo,
para dizer numa palavra tudo,
foi o mais feio cão que houve no mundo.
Recebi-o das mãos dum camarada.
Na hora da partida, o cão gemendo,
não me queria acompanhar por nada.
Enfim - mau grado seu - o vim trazendo.

O meu amigo cabisbaixo, mudo,
olhava-o... O sol nas ondas se abismava...
"Adeus!" - me disse, e ao afagar Veludo
nos olhos seus o pranto borbulhava.
"Trata-o bem. Verás como rasteiro
te indicará os mais sutis perigos.
Adeus! E que este amigo verdadeiro
te console no mundo ermo de amigos."

Veludo, a custo, habituou-se à vida
que o destino de novo lhe escolhera;
sua rugosa pálpebra sentida
chorava o antigo dono que perdera.
Nas longas noites de luar brilhante,
febril, convulso, trêmulo, agitando
a sua cauda, caminhava errante,
à luz da lua - tristemente uivando.

Toussenel, Figuier e a lista imensa
dos modernos zoológicos doutores,
dizem que o cão é um animal que pensa.
Talvez tenham razão estes senhores.
Lembro-me ainda. Trouxe-me o correio,
cinco meses depois, do meu amigo,
um envelope fartamente cheio.
Era uma carta. Carta! Era um artigo,

contendo a narração miuda e exata
da travessia. Dava-me importantes
notícias do Brasil e de La Plata,
falava em rios, árvores gigantes,
gabava o steamer que o levou; dizia
que ia tentar inúmeras empresas.
Contava-me também que a bordo havia
mulheres joviais - todas francesas.

Assombrara-se muito da ligeira
moralidade que encontrou a bordo.
Citava o caso d'uma passageira...
Mil coisas mais de que me não recordo.
Finalmente, por baixo disso tudo,
em nota breve do melhor cursivo
recomendava o pobre do Veludo,
pedindo a Deus que o conservasse vivo.

Enquanto eu lia o cão, tranquilo e atento,
me contemplava, e - creia que é verdade,
vi, comovido, vi nesse momento
seus olhos gotejarem de saudade.
Depois lambeu-me as mãos, humildemente,
estendeu-se a meus pés silencioso
movendo a cauda, - e adormeceu contente,
farto d'um puro e satisfeito gozo.

Passou-se o tempo. Finalmente, um dia,
vi-me livre daquele companheiro.
Para nada Veludo me servia...
Dei-o à mulher d'um velho carvoeiro.
E respirei! "Graças a Deus! Já posso",
dizia eu, "viver neste bom mundo,
sem ter que dar, diariamente, um osso
a um bicho vil, a um feio cão imundo".

Gosto dos animais, porém prefiro
a essa raça baixa e aduladora,
um alazão inglês, de sela ou tiro,
ou uma gata branca cismadora.

Mal respirei, porém! Quando dormia
e a negra noite amortalhava tudo
sentí que à minha porta alguem batia.
Fui ver quem era. Abri. Era Veludo.
Saltou-me às mãos, lambeu-me os pés ganindo,
farejou toda a casa satisfeito
e, de cansado, foi rolar dormindo
como uma pedra, junto do meu leito.

Praguejei furioso. Era execrável
suportar esse hóspede importuno
que me seguia como o miserável
ladrão, ou como um pérfido gatuno.
E resolvi-me enfim. Certo, é custoso
dizê-lo em alta voz e confessá-lo.
Para livrar-me desse cão leproso
havia um meio só: era matá-lo.

Zunia a asa fúnebre dos ventos;
ao longe o mar, na solidão gemendo,
arrebentava em uivos e lamentos...
De instante em instante ia o tufão crescendo.
Chamei Veludo; ele seguia-me. Entanto,
a fremente borrasca me arrancava
dos frios ombros o revolto manto,
e a chuva meus cabelos fustigava...

Despertei um barqueiro. Contra o vento,
contra as ondas coléricas vogamos.
Dava-me força o torvo pensamento.
Peguei num remo e com furor remamos.
Veludo, à proa, olhava-me choroso
como o cordeiro no final momento.
Embora! Era fatal! Era forçoso
livrar-me, enfim, desse animal nojento.

No largo mar ergui-o nos meus braços
e arremessei-o às ondas,de repente...
Ele moveu gemendo os membros lassos,
lutando contra a morte. Era pungente.
Voltei à terra, entrei em casa. O vento
zunia sempre na amplidão profundo.
E pareceu-me ouvir o atroz lamento
de Veludo nas ondas moribundo.

Mas ao despir, dos ombros meus, o manto,
notei - oh grande dor! - haver perdido
uma relíquia que eu prezava tanto!
Era um cordão de prata: - eu tinha-o unido
contra o meu coração, constantemente,
e o conservava no maior recato,
pois minha mãe me dera essa corrente,
e, suspenso à corrente, o seu retrato.

Certo caira além, no mar profundo,
no eterno abismo que devora tudo.
E foi o cão, foi esse cão imundo
a causa do meu mal! Ah, se Veludo
duas vidas tivera, duas vidas
eu arrancara àquela besta morta
e àquelas vís entranhas corrompidas.
Nisto sentí uivar à minha porta.


Corrí, abri... Era Veludo! Arfava.
Estendeu-se a meus pés e docemente,
deixou cair da boca que espumava
a medalha suspensa da corrente.
Fora crível, oh Deus? Ajoelhado
junto do cão, estupefato, absorto,
palpei-lhe o corpo: estava enregelado.
Sacudi-o, chamei-o! Estava morto.