sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

GENTE QUE A GENTE NEM VÊ POR QUE É QUASE NADA...


O DESABAFO DE UM EXCLUÍDO

por Carlos Aires
Eu sou um pobre excluído
Que vive vagando a esmo
A perguntar a mim mesmo
Porque é que sou assim?
Só vejo ao redor de mim
Tristeza fome e miséria
Vivo escutando pilhéria
Taxado de vagabundo
Só ando sujo e imundo
Morrendo de sede e fome
Sem moradia, sem nome,
Sendo a escória do mundo.
Os que me encontram na rua!
Veem-me como um desafeto,
Um andarilho, um sem teto,
Um Zé Ninguém, um errante.
Apressado, segue adiante,
Frio, apático, indiferente,
Desprezando o indigente,
Sofredor desalentado
Que na sarjeta é jogado
Sem dó e sem piedade
E pela sociedade
É esquecido, ignorado.
Meus dias são torturantes
E as noites são infelizes,
Busco abrigo nas marquises
Evitando a chuva e o vento.
Pra não dormir ao relento
Eu improviso um colchão
Com um velho papelão
Que alguém já não quis mais,
Umas folhas de jornais
Servem-me de cobertura
E nessa cruel tortura
Adormeço entre os meus ais.
Outro momento irritante
É quando o dia amanhece
Que a fome logo aparece
E na barriga persiste
Nada pode ser mais triste
E nem mais angustiante
É realmente humilhante
A tétrica situação
Em busca de solução
Eu passo a manhã inteira
E nos despejos da lixeira
Pego migalhas de pão.
Num lamentável flagelo
Perdurando eu sobrevivo
E não encontro motivo
Para comemorações
Pois quem vive nos lixões
De maneira lastimável
É só mais um miserável
Um odioso, um nefando,
Que ao léu vive vagando
Sem regozijo ou prazer
E o fim desse padecer
Só Deus é quem sabe quando.
Não vou colocar a culpa
No cidadão que é honesto
Simples, humilde, modesto,
Que vive corretamente,
Mais sim no inconsequente
Do político salafrário
Que faz com que nosso erário
Vire suborno e propina
Na calada e em surdina
Sempre agindo a sangue frio,
Saquear, fazer desvio,
Pra ele virou rotina.
Enquanto isso o sem teto,
Sem comida, sem abrigo,
Na condição de mendigo
Vive implorando uma esmola
Sem frequentar a escola
Não passa de um iletrado
Esquecido, abandonado,
Malvisto, é sempre um suspeito,
Que nunca será aceito
Pelo farto ou abastado.
E sempre que é abordado
É vitima de preconceito.
Com esse meu desabafo
Não quero ferir ninguém
Porém, o que nada tem,
Sofre descriminação
Mesmo sendo um cidadão
Tem seu direito negado
Sempre será rejeitado
Pela aristocracia
Pois essa lhe deprecia
Achando que é excremento
Um crápula, um mau elemento,
Sem recato e sem valia.

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