sexta-feira, 31 de agosto de 2012

REMÉDIO PARA PRESSÃO...POR LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO.

Eu tomo um remédio para controlar a pressão.
Cada dia que vou comprar o dito cujo, o preço aumenta.
Controlar a pressão é mole. Quero ver é controlar o preção.
Tô sofrendo de preção alto.

O médico mandou cortar o sal. Comecei cortando o médico, já que a
consulta era salgada demais.

Para piorar, acho que tô ficando meio esquizofrênico. Sério!
Não sei mais o que é real.
Principalmente, quando abro a carteira ou pego extrato no banco.
Não tem mais um Real.


Sem falar na minha esclerose precoce. Comecei a esquecer as coisas:
Sabe aquele carro? Esquece!
Aquela viagem? Esquece!
Tudo o que o presidente prometeu? Esquece!

Podem dizer que sou hipocondríaco, mas acho que tô igual ao meu time:
- nas últimas.
Bem, e o que dizer do carioca? Já nem li ga mais pra bala perdida...
Entra por um ouvido e sai pelo outro.

Faz diferença...
"A diferença entre o Brasil e a República Checa é que a República
Checa tem o governo em Praga e o Brasil tem essa praga no governo"

" Não tem nada pior do que ser hipocondríaco num país que não tem
remédio" ....

Luiz Fernando Veríssimo

UMA CARTA PARA SER ANALIZADA...


CARTA DO ZÉ COCHILO (da roça) PARA SEU COLEGA LUIZ (da cidade)
 
SÓ RINDO MESMO!!!
Leiam até o final. É interessante e verdadeiro.
 
A carta a seguir - tão somente adaptada por Barbosa Melo -, 
foi escrita por Luciano Pizzatto que é engenheiro florestal, 
especialista em direito sócio ambiental e empresário, 
diretor de Parque Nacionais e Reservas do IBDF-IBAMA 88-89, 
detentor do primeiro Prêmio Nacional de Ecologia.
Prezado Luis, quanto tempo.
 


Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra né? O Zé do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão e que por isso o sapato sujava. 
 
Se não lembrou ainda, eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo... hehehe, era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormi já era mais de meia-noite. De madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra, né Luis? 
Pois é. Estou pensando em mudar para viver aí na cidade que nem vocês. Não que seja ruím o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro... Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos aí da cidade. To vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente. 
 
Veja só. O sítio de pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro de uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança. 
 
Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou, deve ser verdade, né Luís?
Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né ), contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou.
 
Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana, aí não param de fazer leite. Ô, os bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário?
  Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que     devia. Nossa! Eu não sei como encompridar uma cama, só comprando outra, né Luis? O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca. 
 
  Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele. Bom Luís, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelos fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para acudi-lo.
 
Depois que o Juca saiu, eu e Marina (lembra dela, né? Casei) tiramos o leite às 5 e meia, aí eu    levo o leite de carroça até a beira da estrada, onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora.
 
Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros. Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos, as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não vai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô Luís, aí quando vocês sujam o rio também pagam multa grande, né? 
 
  Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios aí da
 
Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luís? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora! Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.
 
Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vir fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo, aí eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro foram os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.
 
  Tô preocupado, Luís, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade, aí tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.
 
  Eu vou morar aí com vocês, Luís. Mas fique tranquilo, vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sitio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Aí é bom que vocês é só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho, nem plantar, nem cuidar de galinha, nem porco, nem vaca, é só abrir a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nós, os criminosos aqui da roça. 
 
Até mais Luis. 
Ah, desculpe, Luís, não pude mandar a carta com papel reciclado, pois não existe por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio. 
 
(Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desigual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.)

SOBRE PIGMEUS E GIGANTES...


LUIZ OTÁVIO CAVALCANTI...
GIGANTES E PIGMEUS

Pessoas, nos cargos que ocupam, crescem ou diminuem. Na medida da obra que realizem. Algumas pessoas, pelo talento, ou pela coragem, tornam-se maiores na função desempenhada. Outras pessoas, aparecem menores.
O julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, finalizado o primeiro capítulo, constitui divisor de águas. No conceito de julgamento dos ministros sobre conjunto de evidências que incriminam réus em delitos de corrupção. E também no aperfeiçoamento de parâmetros republicanos na vida pública brasileira.
Renato Janine Ribeiro diz que o Brasil “é um país traumatizado”. Pelas dores da colonização, da escravatura, da injustiça. Ele prefaciou livro do médico pernambucano, Jurandir Freire Costa. Este escreveu que “tudo que se estuda sobre o homem tem algum nível de dor. E a dor tem, entre suas causas, em lugar de destaque, a injustiça”.
Talvez, por isso, certos dias, a gente acorde sentindo dor indefinida. Sem saber exatamente do que se trata. Outros dias, a gente acorde experimentando bem estar improvável. É o que me aconteceu, hoje, depois de encerrada a rodada que julgou os primeiros mensaleiros. Senti-me confortado. Não pela condenação em si. Mas pelo sentimento da prática da justiça. Pela misericórdia da condenação de Santo Agostinho.
Numa nação em que a impunidade varia conforme o nível de renda, o que os brasileiros acabam de ver é sinal de esperança. É pigmeu o ministro Dias Toffoli, no seu parcialismo. Gigante é o ministro Joaquim Barbosa, no seu destemor. É pigmeu o ministro Ricardo Lewandowski, no seu desamor. Gigante é o ministro Cesar Peluso, no seu profundo humanismo.
 São as instituições que patrocinam mudanças na sociedade. Orientadas pelo caráter de cada um. E inspiradas no senso ético da maioria. Essa é a lição que o STF está legando ao Brasil. O país ficou mais próximo do seu sonho.

VINICIUS DE MORAES...


SONETO DA INTIMIDADE – Vinicius de Moraes

Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
Eu saio as vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.
Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.
Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve
Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

PRA QUEM ACHA QUE ESPANHOL É IGUAL AO PORTUGUÊS...





PARA AQUELES QUE DIZEM QUE ESPANHOL É FÁCIL, QUASE IGUAL AO PORTUGUÊS.

Traduza a frase abaixo


"LA VIEN UN TARADO PELADO COM SU SACO EN LAS MANOS CORRIENDO DETRAZ DE LA BUSETA, PARA COMIR PORRO Y CHUPAR PINTÓN."



Traduziu?

Acertou?

Tem certeza?







Veja abaixo..... 

TRADUÇÃO CORRETA:

”LÁ VEM UM HOMEM LOUCO CARECA COM SEU PALETÓ NAS MÃOS CORRENDO ATRÁS DO MICRO ÔNIBUS, PRA COMER CHURROS E BEBER CACHAÇA.”


- Pois é, além de não saber espanhol, você só pensa besteira.
 


AULA DE DIREITO....POR DALADIANA CUNHA LIMA.



 

AULA DE DIREITO



Uma manhã, quando nosso novo professor de "Introdução ao Direito" entrou na sala,
a primeira coisa que fez foi perguntar o nome a um aluno que estava sentado na primeira fila:
- Como te chamas?
- Chamo-me Juan, senhor..
- Saia de minha aula e não quero que voltes nunca mais! - gritou o desagradável professor.
Juan estava desconcertado.
Quando deu de si, levantou-se rapidamente, recolheu suas coisas e saiu da sala.
Todos estávamos assustados e indignados, porém ninguém falou nada.
- Agora sim! - e perguntou o professor - para que servem as leis?...
Seguíamos assustados porém pouco a pouco começamos a responder à sua pergunta:
- Para que haja uma ordem em nossa sociedade.
- Não! - respondia o professor.
- Para cumpri-las.
- Não!
- Para que as pessoas erradas paguem por seus atos.
- Não!!
- Será que ninguém sabe responder a esta pergunta?!
- Para que haja justiça - falou timidamente uma garota.
- Até que enfim! É isso... para que haja justiça.
E agora, para que serve a justiça?
Todos começávamos a ficar incomodados pela atitude tão grosseira.
Porém, seguíamos respondendo:
- Para salvaguardar os direitos humanos...
- Bem, que mais? - perguntava o professor.
- Para diferençar o certo do errado... Para premiar a quem faz o bem...
- Ok, não está mal porém... respondam a esta pergunta:
agi corretamente ao expulsar Juan da sala de aula?...
Todos ficamos calados, ninguém respondia.
- Quero uma resposta decidida e unânime!
- Não!! - respondemos todos a uma só voz.
- Poderia dizer-se que cometi uma injustiça?
- Sim!!!- E por que ninguém fez nada a respeito?
Para que queremos leis e regras
se não dispomos da vontade necessária para pratica-las?
- Cada um de vocês tem a obrigação de reclamar
quando presenciar uma injustiça. Todos.
Não voltem a ficar calados, nunca mais!
- Vá buscar o Juan - disse, olhando-me fixamente.
Naquele dia recebi a lição mais prática no meu curso de Direito.
Quando não defendemos nossos direitos
perdemos a dignidade e a dignidade não se negocia.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

SOBRE A NOSSA MEDICINA...


MEDICINÊS NORDESTINO – Vitor Ronaldo Costa
O doutor que é bem formado
No curso de medicina
Se vai clinicar no mato
Longe de gente grã-fina
Tem que aproveitar o ensejo
De aprender co’o sertanejo
O linguajar da rotina
O nome da enfermidade
Vale pro doutor arguto
Mas pro povo sertanejo
Não trás nenhum contributo
Por isso o doutor agora 
Vai se ligar sem demora
No “medicinês” matuto
Vamos começar dizendo
Algo pra nós sem sentido
Se o caboclo torce o pé 
E o entorce é dolorido
Pro doutor ele comenta
Que andar não mais aguenta
Pois o “pé tá dismintido”
Se a criança está calada
Quieta, murcha pelo canto
Dispensa até brincadeira
Não quer saber de acalanto
A mãe chama a curandeira
Que faz reza de primeira
Pra liquidar co’o “quebranto”
Inflamação no testículo
Deixa o cara remoído
Orquite incomoda mais
Que a maldita dor de ouvido
Mas nordestino da gema
Diz quando tem o problema
Que “tá cum zôvo doído”
Criança com diarréia
Que vomita o que ela engole
Desidrata e fica triste
Não há nada que a console
Um sinal de gravidade
No neném de pouca idade
É ter a “moleira mole”
Se a dor no final do esterno
Parece não ter saída
O matuto se entristece
Passa a noite mau dormida
Então vem a benzedeira
Reza e cura na certeira
Mal de “espinhela caída”
Quando a tosse é muito sêca
Rouca verdadeiro esporro
E o cabra quase sufoca
Grita e pede por socorro
O medicinês matuto
Logo afirma absoluto
Tá com “tosse de cachorro”
Mal que acomete o juízo
Sempre é grande desafio
O pensamento confuso
Deixa o doente arredio
Se é perturbação da mente
O caboclo diz que sente
“Farnizim no grugumio”
Se a sensação é de morte
Vista escura abafamento
Parece que o sangue some
Como por encantamento
É desmaio repentino
Que no jargão nordestino
Se entende por “passamento”
Perna curta ou machucada
Faz o caboclo mancar
De fato o dito problema
Dificulta o seu andar
Mas não se assuste se o termo
Que indique o sujeito enfermo
No sertão for “cachingar”
Quando a coriza aparece
Quer com febre ou com soluço
Deixa o matuto de cama
Sofrendo que nem pinguço
Com certeza é resfriado
E o nariz avermelhado
Arde e queima com “difruço”
Contra abcesso cutâneo 
Há quem tome jurubeba
Mas a medicina implica
Com quem se diz natureba
Se o furúnculo vem forte
O cabra culpa a má sorte
E diz que está com “pereba”
Dente siso quando aponta
Afirmo sem exagero
Incomoda e vem com dor
Provocando desespero
E o matuto sem demora
Vai pro dentista e implora
Pra arrancar o “dentiquêro”
Desarranjo intestinal
Causado por alimento
Evolui com diarréia
Gases, cólica e tormento
E assim nesse grave estado
Queixa-se o pobre coitado
Que sofre de “vazamento”
Menino com febre baixa
E sem nenhum apetite
sente dor quando mastiga
e o rosto inchado persiste
a genitora roceira
desconfia que é “papeira”
e o doutor, parotidite
Seu Mané acordou triste
Por qualquer coisa ele explode 
Fica só, todo amuado
Enroscando seu bigode
E o matuto observando 
de longe vai comentando:
Tá nervoso, “tá de bode”
Quando a ferida do pé
Permanece infectada
O sertanejo se queixa
Da “virilha” inflamada
E o caroço dolorido
Que o deixa mais que abatido
Ele diz que é “landra inchada”.
Queixa de vista inflamada
A satisfação destrói
Olho irritado e vermelho
Tem secreção que corrói
E o sertanejo proclama
Que o peão que assim reclama
Tem “sapiranga nos ói”.
O linguajar sertanejo
Gera o termo que defina
Qualquer transtorno emotivo
Ou que expresse a dor de angina
E apesar de ser sofrida
Aquela gente esquecida
Inda crê na Medicina

NOTÍCIAS DE PAU DOS FERROS...



ZÉ GALINHA, O JOGO E O ENTERRO

Elilson José Batista
Pau dos Ferros: década de 60. Cidade tranquila, no marasmo típico de um povoado sertanejo. As notícias, poucas, vinham pelas ondas do rádio, notadamente a Rádio Difusora de Cajazeiras–PB. Mas a cidade tinha um serviço de alto-falante municipal, para divulgar os acontecimentos locais.
Sucedeu que, num domingo de clássico intermunicipal, Pau dos Ferros versus Alexandria, rinhenta peleja no Campo de Futebol onde hoje se localiza o Estádio Municipal 09 de Janeiro, o escalado para locutor no serviço de alto-falante, localizado no Mercado Público, foi Zé Galinha, notório pelo seu entusiasmo futebolístico.
Ressentido pela ausência no espetacular shock, Zé Galinha recebeu a incumbência de noticiar um evento e, ainda com a visão no esporte bretão, com a voz impostada soltou o verbo:
- Atenção, povo pauferrense: não percam logo mais, às 17:30 horas, sensacional enterro, passando com seus componentes pelas principais ruas dessa cidade. Ouçam, em homenagem a esse grande evento, a música “Vassourinhas”.
Antes que terminasse a famosa introdução do frevo: “Tan taran ta ran tan ran / tan tanran tan tan tan ran…” surgiu, estupefato, Dr. José Edmilson de Holanda, para tentar emendar:
- Zé Galinha, isso é um aviso de enterro, e não de jogo de futebol!
Ainda com o microfone ligado, o desavisado Zé Galinha vaticinou:
- Vixe, caguei o pau!
Do livro Inéditos & Afins

SEMVERGONHAS...FISIOLÓGICOS...


Toffoli segue Lewandowski e absolve João Paulo Cunha
O ministro José Antonio Dias Toffoli iniciou ontem sua participação no julgamento do mensalão no STF com um voto pela absolvição do petista João Paulo Cunha.
Toffoli acompanhou na íntegra o voto do revisor, ministro Ricardo Lewandowski. Entendeu que João Paulo não cometeu irregularidade ao receber R$ 50 mil, por meio de sua mulher.
* * *
Pode-se acusar esta parelha de tudo. Menos de ingratidão.
Foi um excelente investimento - feito por Dona Marisa, por Lula e pelo PT -, a indicação destes dois. Um retorno fantástico e a curto prazo.
Eu bato palmas pra quem é grato e não cospe no prato que comeu. Os dois ministros demonstraram que são pessoas coerentes, de palavra e, sobretudo, pessoas agradecidas a quem os colocou em tão alto posto da República Federativa de Banânia.

COMEÇANDO COM A LETRA C...


 ·  ·  · há 34 minutos · 









vícios vêm como passageiros, visitam-nos como hóspedes e ficam como amores.”Confúcio



Há momentos na vida de um ser humano em que ele se vê sem nada realmente interessante pra fazer.

Assim, sem companhia, computador ou iPod e com celular fora de serviço, numa viagem de ônibus para Cruz Alta, fui obrigado a me divertir com os meus próprios pensamentos.

Por alguma razão que ainda desconheço, minha mente foi tomada por uma ideia um tanto sinistra: vícios.

Refleti sobre todos os vícios que corrompem a humanidade. Pensei, pensei e, de repente, uminsight: tudo que vicia começa com a letra C!

De drogas leves a pesadas, bebidas, comidas ou diversões, percebi que todo vício curiosamente iniciava com cê.

Inicialmente, lembrei do cigarro que causa mais dependência que muita droga pesada. Cigarro vicia e começa com a letra c. Depois, lembrei das drogas pesadas: cocaínacrack e maconha. Vale lembrar que maconha é apenas o apelido da cannabis sativa que também começa com cê.

Entre as bebidas super populares há a cachaça, a cerveja e o café.. Os gaúchos até abrem mão do vício matinal do café mas não deixam de tomar seu chimarrão que também – adivinha – começa com a letra c.

Refletindo sobre este padrão, cheguei à resposta da questão que por anos atormentou minha vida: por que a Coca-Cola vicia e a Pepsi não? Tendo fórmulas e sabores praticamente idênticos, deveria haver alguma explicação para este fenômeno. Naquele dia, meu insightfinalmente revelara a resposta.. É que a Coca tem dois cês no nome enquanto a Pepsi não tem nenhum. Impressionante, hein?

E o chocolate? Este dispensa comentários. Vícios alimentares conhecemos aos montes, principalmente daqueles alimentos carregados com sal e açúcar. Sal é cloreto de sódio. E o açúcar que vicia é aquele extraído da cana.

Algumas músicas também causam dependência. Recentemente, testemunhei a popularização de uma droga musical chamada “créeeeeeu”. Ficou todo o mundo viciadinho, principalmente quando o ritmo atingia a velocidade… cinco.

Nesta altura, você pode estar pensando: sexo vicia e não começa com a letra C. Pois você está redondamente enganado. Sexo não tem esta qualidade porque denota simplesmente a conformação orgânica que permite distinguir o homem da mulher. O que vicia é o “ato sexual”, e este é denominado coito.

Pois é. Coincidências ou não, tudo que vicia começa com cê. Mas atenção: nem tudo que começa com cê vicia. Se fosse assim, estaríamos salvos pois a humanidade seria viciada emCultura.
Escrito por Ricardo Mallet

SOBRE O DEPLORÁVEL ESTADO DE SACANAGEM DA NOSSA POLÍTICA...



 
ANTES DA POSSE:

O nosso partido cumpre o que promete.
Só os tolos podem crer que
não lutaremos contra a corrupção.
Porque, se há algo certo para nós, é que
a honestidade e a transparência são fundamentais.
para alcançar os nossos ideais
Mostraremos que é uma grande estupidez crer que
as máfias continuarão no governo, como sempre.
Asseguramos sem dúvida que
a justiça social será o alvo da nossa ação.
Apesar disso, há idiotas que imaginam que
se possa governar com as manchas da velha política.
Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que
se termine com os marajás e as negociatas.
Não permitiremos de nenhum modo que
as nossas crianças morram de fome.
Cumpriremos os nossos propósitos mesmo que
os recursos econômicos do país se esgotem.
Exerceremos o poder até que
Compreendam que
Somos a nova política.

DEPOIS DA POSSE:

Basta ler o mesmo texto acima, DE BAIXO PARA CIMA, linha a linha!!!

 
 
 

LITERATURA PORTUGUESA...BOCAGE.

 A  ÁGUA
Meus senhores eu  sou a água
que lava a cara,   que lava os olhos
que lava a  rata e os entrefolhos
que  lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está  vago
pois lava as mamas e  por onde cago.
Meus  senhores aqui está a água
que rega a salsa e o  rabanete
que lava a língua a  quem faz minete
que lava o  chibo mesmo da rasca
tira o  cheiro a bacalhau da lasca
que bebe o homem que bebe o  cão
que lava a cona e o  berbigão
Meus senhores  aqui está a água
que lava os  olhos e os grelinhos
que  lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes  lutas
que lava sérias e lava  putas
apaga o lume e o  borralho
e que lava as  guelras ao caralho
Meus  senhores aqui está a água
que rega as rosas e os  manjericos
que lava o bidé,   lava penicos
tira mau cheiro  das algibeiras
dá de beber  às fressureiras
lava a  tromba a qualquer fantoche e
lava a boca depois de um  broche.

PAPO DE MINEIRO...

Mineiro nao é bobo, não, so finge...

O ônibus que seguia em direçao ao Rio de Janeiro para numa cidadezinha do interior de Minas.
Ali o capiau sobe no coletivo, carregando três leitoezinhos no colo.
Ao perceber a cena, um carioca metido a besta, quis logo tirar um sarro com a cara do mineirinho.
- E ai mineiro, levando os porquinhos para passear?
- Pois é, sim sinhô, os bichins nunca viru o mar, uai!..... Pois carece di vê !
- E esses bichinhos têm nome, mineiro?
- Claru que tem, sô ! oia, este aqui chama "Suatia"; o nome daquele ali é "Suavo "...
Nao gostando nada das respostas, porque achava que o mineiro tava gozando com a sua cara, o carioca o interrompe:
- Pera ai, deixa que eu adivinho o nome do ultimo. Garanto que é "Suamae"! rsrsrsrs...
- Né nao sinhô, esse aqui é "Seupai". - "Suamae" eu cumi onti...
 

 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

LITERATURA DE CORDEL...




AS PALHAÇADAS DE BIU – Manoel Camilo dos Santos
No sertão Pernambucano
no interior do estado
distante d´uma cidade
um velho remediado
tinha uma fazendola
vivia ali descansado.
Chamava-se Zé Gibão
esse velho fazendeiro
tinha um filho somente
e esse ainda solteiro
foi o maior caipora
que houve no mundo inteiro.
Biu enquanto foi menino
numa escola aprendia
era muito inteligente
mas sempre sempre sofria
devido o seu caiporismo
apanhava todo dia.
Sempre lhe acontecia
na escola uma moleza
virava ali um tinteiro
borrava os livros da mesa
era uma surra de “bolo”
que levava com certeza.
Quando nada acontecia
devido a moleza dele
era um se levantar
e o banco cair com ele
além da queda a vaia
só botavam a culpa nele.
Antes mesmo ele aprendeu,
ler, escrever e contar
depois deixou a escola
pra não morrer de apanhar
já estava rapaz feito
só pensava em se casar.
Biu sabia muito ler
mas era muito acanhado
se via moça de perto
ficava encabulado
baixava a vista e ficava
muito tempo ali calado.
Portanto o saber de Biu
de quase nada servia
não queria trabalhar
não comprava nem vendia
como era filho único
o pai não o aborrecia.
Um dia Biu disse ao pai:
“Eu… sô um menino sortêro
mai minha vida é iguá
a de um prisionêro
vô inventá um negoço
pra tomém ganha dinhêro.
O velho disse: “É verdade
eu sempre tenho dizido
qui você mô fio é
um tanto esmurecido
num sôi fio de pai pobe
tem idade e soi sabido.”
Biu disse: “Eu tenho vontade
de cortá carne na fêra”
disse o velho: “pôi então
mate a vaca lavandêra
leve pra cidade e venda
é negoço de premêra”.
Na quinta-feira seguinte
logo cedo combinaram
pegaram a dita vaca
no mesmo instante mataram
fizeram a carne em mantas
depois de seca emalaram.
Biu junto com um portador
saíram de madrugada
uma égua com a carga
e Biu em outra selada
quando chegaram na rua
a feira estava trancada.
Quando chegaram na feira
embora com pouco jeito
arranjaram uma torda
Biu ficou bem satisfeito
ficando mesmo de frente
ao sobrado do Prefeito.
Depois Biu casualmente
olhando para as janelas
do sobrado do Prefeito
viu três moças muito belas
passou o dia entretido
somente a olhar pra elas.
As moças passaram o dia
na varanda do sobrado
destraindo com a feira
Biu de lá admirado
passou o dia e à tarde
vendeu a carne fiado.
As três moças na varanda
passaram o dia brincando
nem viram aquele “besta”
que lhes estava espreitando
era Biu, o qual voltou
pra casa se pabulando.
Quando Biu chegou em casa
o velho lhe perguntou:
“Cuma te fosse de fêra
vendeu tudo que levô?”
Biu disse: “A fêra foi rim
e a carne toda sobrô.
“Cuma a fêra foi rim
vendí a carne fiado
arrumei um casamento
cum a moça do sobrado
e quero qui mô pai vá
acertá o meu noivado.”
O velho disse: “Mô fio
casamento assim num vai
logo da premeira vei
qui você na rua sai?”
Biu sorrindo disse ao velho:
“Eu sou jeitoso mô pai.”
O rapaz dizendo isto
no mesmo instante saiu
o velho olhando a velha
lhe perguntou: “Você viu?
Mim diga se acha jeito
naquela históra de Biu.”
A velha disse: “Eu sei de lá
tudo pode acontecê
gente moça é o fute
se lembra o qui fei você
do mermo jeito é seu fio.”
Disse o velho: “Pode sê.”
A velha disse: “Essas coisa
é mermo da mocidade
e eu sendo você ia
logo amanhã na cidade
justá este casamento.”
O velho disse: “É verdade.”
O velho disse: “É mermo
apoi amenhã eu vô
Qui tudo só presta im quente
Você agora acertô
e Biu você vai tomém.”
Biu respondeu: “Sim senhô.”
No outro dia cedinho
se prepararam direito
vestiram roupa de mescla
e botaram para-peito
selaram as bestas e sairam
cada qual mais satisfeito.
Quando chegaram na rua
bem de frente ao sobrado
amarraram os animais
num pé de figo copado
bateram palmas na porta
nisto saiu um criado.
O criado perguntou-lhes:
- Tem negócio com o patrão?
“Tenho e num tenho seu moço
tá im casa o capitão?
Quiria falá cum ele”,
disse o criado: – Pois não.
O Prefeito se achava
na sala superior
o criado foi entrando
e dizendo: – Senhor doutor
lá fora tem dois vaqueiros
querem falar com o senhor.
O Prefeito que estava
bastante preocupado
disse: – Ora inda mais esta
não negocio com gado
mas diga a eles que entrem
- disse o Prefeito zangado.
O criado disse: – Entrem
o velho disse: “Por não”
entrou um atrás do outro
tudo de chapéu na mão
com as esporas arranhando
o mosaico do salão.
Quando chegaram na sala
o velho disse: “Bom dia
seu majó, eu sô o dono
da Fazenda da Cutia
e vim justá o casamento
do mô fio cum sua fia.”
- E que casamento é este?
- o Prefeito perguntou,
o velho disse: “Num seio
taí ele qui contô.”
Biu disse: “Tô pá casá
cum a fia do sinhô.”
O doutor disse: – Ou Lindalva,
nisso a mais velha chegou:
- Será esta a sua noiva?
o Prefeito perguntou:
Biu levantou a cabeça
e respondeu: “Nom sinhô.”
- Volte minha filha e mande
a sua irmã Conceição
e esta quando chegou
o pai perguntou: – Então
será esta sau rapaz?
Biu olhou e disse: – Não.
Volte minha filha e mande
a sua irmã Nazaré
esta chegando na sala
disse: – Pronto pra que é
disse o doutor: – Será esta?
Biu olhou e disse: – É.
- És noiva deste rapaz?
perguntou o doutor ligeiro
a moça lhe respondeu:
- Nunca vi este vaqueiro
Biu disse: “Mai eu já vi
a sinhora um dia intêro.”
Biu disse: “Eu sô aquele
Qui onte passei o dia
cortano carne na fêra
e mencê cum alegria
lá de riba do sobrado
uiava eu e sirria.”
“Apoi bem eu sô aquele
qui quando mencê sirriu
eu balancei pá seu lado
o lenço qui inté caiu
eu lhe perguntei baixinho
mencê qué casá cum Biu”?
“E de tarde fui pra casa
cum todo contentamento
passei a noite agarrado
cum mencê no pensamento
e agora vim pra gente
acertá o casamento.”
O doutor fez ar de riso
pro rapaz e pro velhote
a moça se retirou
dizendo: – Que parparote
em dias de minha vida
nunca vi este timote.
Disse o Prefeito: – Pois vamos
cuidar dessa arrumação
e disse ao criado: – Vá
diga ao tenente João
que me mande as ordenanças
porque tenho precisão.
Nisto o doutor retirou-se
Biu perguntou sem consolo:
“Ordenança será sordado?”
disse o velho: “Ou rapai tolo
qui danado de sordado
ordenança num é bolo.”
Disse o velho: “Ele mandou
foi fazê café pra gente
e mandou buscá os bolo
na casa de seu tenente.”
Nisso a polícia chegou
o velho disse: “Oxente!”
Disse o Prefeito aos soldados:
- Os senhores sem demora
agarrem estes vaqueiros
e os arrastem para fora
dêem cada um, um molho
depois mandem irem embora.
Um soldado foi ao velho
tomou-lhe logo o quicé
e o outro agarrou Biu
e danou-lhe um pontapé
Biu disse: “Taí mô pai
café com bolo o que é.”
Nada valeu peditório
foi couro não houve jeito
o facão falou francês
foi a torto e a direito:
- Casamento bom é este
dizia em grito o Prefeito.
Quando a polícia soltou-os
eles fizeram carreira
nas bestas e onde passavam
era grande a tinideira
com tanta velocidade
que só se via a poeira.
A velha estava na porta
cheia de contentamento
foi dizendo: “Viva os norvo”
o velho neste momento
pulou e disse: “Égua véia
fala aí im casamento.”
“Pro caso desse poiquêra
apanhei qui quage morro
tô cum a guela rouca
de tanto pidir socorro
eu num seio aonde é qui tô
qui num mato esse cachorro.”
“Levei tanta facãozada
qui ví a hora morrê
pro caso desse safado
mai agora eu vô dizê
se falare nisso ainda
eu mato ele e você.”
No outro sábado seguinte
Biu disse: “Hoje eu resôvo
aquela carne fiada
qui vindi aquele povo”
o velho disse: “O que
tú vai apanhá de novo.”
Biu disse: “Mô pai aquela
mim butô sá na mulêra
aquela mim ficará
pro premêra e derradêra”
disse o velho: “Já seu corno
namore moça na fêra.”
Biu disse isso e montou-se
e saiu muito vexado
entrou na rua com medo
de encontrar com soldado
procurou seu devedor
o qual não foi encontrado.
Ficou muito desgostoso
no meio do pessoal
então para distrair-se
comprou ali um jornal
lendo encontrou um anúncio
que vinha da capital.
Dizia assim o anúncio:
Precisamos de um rapaz
o que tiver competência
em casas comerciais
se apresente em Recife
na rua Largo da Paz
Na casa número cinquenta
com loja e mercearia
a firma é a seguinte:
J. M. & Cia.
o emprego é guarda livro
assim o jornal dizia.
Biu quando leu o jornal
fez logo um plano certeiro
disse: “Vô comprá uma roupa
e mandá cusê ligêro
e digo a mô pai qui vô
pro Recife sê caxêro.”
Biu chegou em casa e disse
o plano que já trazia
o velho disse: “Mô fio
eu seno você num ia.”
Biu disse: “Eu vô mô pai
caxêro tem garantia.”
Biu mandou fazer a roupa
vestiu-se e fez partida
pra rua e pegou o trem
bem satisfeito da vida
no mesmo dia chegou
na capital referida.
Quando chegou na Central
no meio da multidão
quase que fica assombrado
vendo gente em borbutão
perguntou a um chapiado:
“Hoje aqui tem prucissão?”
Disse o chapiado: – Não
isso aqui é todo dia:
“E esse povo qui qué
qui buzina qui arrilia
um passa e ôto passa
chega mim fai agunia.”
Perguntou-lhe o chapiado:
- Aonde és morador?
“Na Fazenda da Cutia
onde mô pai me criô”:
- Já tinha vindo em Recife?
Biu respondeu: “Nom sinhô.”
“Foi essa a premêra vei
qui eu vim me impregá
cunhece seu J. M. ?
é pá onde eu vô e pá lá
é lá no Laigo da Pai
vamo mai eu mim insiná.”
O rapaz lhe disse: – Vamos
mas você me paga bem
eu levo sua maleta
Biu lhe disse: “Num convém
aqui tem muito gatume
eu num cunfio im ninguém.”
Disse o rapaz: – Está certo,
seguiram nesse momento
Biu que nunca tinha visto
semelhante movimento
ia de cara pra cima
que parecia um jumento.
No Mercado São José
Biu fez uma palhaçada
ia olhando pra cima
e tropeçou na calçada
caiu com maleta e tudo
foi uma queda danada.
Quando Biu se levantou
o povo todo sorria
disse o chapiado: – Vamos
não posso perder um dia
seguiram e logo chegaram
na dita mercearia.
O rapaz disse: – É aqui
me pague, eu quero voltar
Biu botou a mala abaixo
disse: “Votê é pá pagá?
você nem trove a maleta
num vei só me insiná.”
O rapaz disse: – A maleta
eu lhe pedi pra trazer
você não quis me entregar
a razão não sei por quê
a viagem é dois mil réis
Biu respondeu: “Pago o que.”
- Não paga? Ora não paga
você paga é até mais
nisto foi chegando um guarda
e disse: – Pague ao rapaz,
Biu aí pagou e disse:
“Dêxa tistá satanai.”
Ele pagou e entrou
na casa comercial
disse: “Bom dia patrão
eu só vim na capitá
foi pro caso dum anunço
qui incontrei num jorná.”
 
O comerciante disse:
- E o senhor tem competência?
Biu respondeu: “Eu num seio
dizê a sua incelença”,
o patrão disse: – Queremos
um rapaz de consciência.
- Você é do interior?
lhe perguntou o patrão:
Biu lhe disse: “Nom sinhô
eu moro lá no sertão
mô pai é um fazendêro
qui se chama Zé Gibão.”
O patrão disse: – Está certo
tome conta do escritório
vá enchendo essas faturas
é serviço provisório
quero ver se você faz
serviço satisfatório.
 
Nessa dita casa tinha
seis ceixeiros no balcão
Biu começou nas faturas
a ensino do patrão
até que chegou a hora
de fazerem refeição.
As onze horas do dia
chegou na porta a criada
e disse: – Pronto, patrão
está pronta a feijoada.
Nisso o patrão disse: – Vamos
almoçar, rapazeada.
Os caixeros foram entrando
Biu também se levantou
bateu a mão no tinteiro
e a tinta derramou
em cima do escritório
tudo que tinha borrou.
O patrão disse: – Oh! Rapaz
botasse tudo a perder.
Biu tirou um lenço branco
começou a embeber
a tinta que nos papéis
era tanta a correr.
Disse o patrão: – Deixe isso
e vá embora almoçar
os caixeiros já estão
na mesa a lhe esperar.
Biu entrou muito vexado
quase sem poder falar.
Quando ele entrou na sala
tropeçou em um batente
foi de arrojo e peitou
em um espelho na frente
o qual devido a pancada
ficaram os cacos somente.
Quando Biu chegou na mesa
quase assombrado sentou-se
nem disse ali aos caixeiros
o que lá fora passou-se
começou logo a comer
no mesmo instante instalou-se.
Botou café em um pires
deu um chupo e engoliu
formou um nó na goela
fechou os olhos e tossiu
esticou-se na cadeira
todo mundo ali sorriu.
Debaixo da dita mesa
tinha um cachorro deitado
quando Biu esticou a perna
foi logo abucanhado
ele ai pulou de costas
e foi feio o resultado.
Um botão do palitó
quem tinha se colocado
no crochê da dita mesa
estava bem engatado
quando Biu pululou de costas
arrastou o toalhado.
Pulou com o toalhado
por cima duma cadeira
os pratos cairam todos
e ficou a bagaceira
o cachorro vendo aquilo
endoideceu na carreira.
Os caixeiros ali ficaram
tudo de talher na mão
Biu assombrado correu
nessa mesma ocasião
com a toalha entre as pernas
foi esbarrar no balcão:
O patrão quase se assombra
quando Biu chegou lá fora
entrou e viu o prejuízo
disse: – Ou tipo caipora
voltou e disse: – Rapaz
pegue a reta e vá embora.
Dali Biu voltou pra casa
dizendo muito zangado:
“Quage mim acunticia
cuma da vei do sobrado
demo leve certo emprego,
patrão caxêro e sordado.”
E segiu pra casa a pés
um tanto mal satisfeito
quase liso resolveu
a ir trabalhar no eito
no “Engenho Chega e Fica”
ai sim, sofreu direito.
Quando chegou no engenho
foi logo ao barracão
comprou 100 gramas de carne
e tomou um bom pifão
começou a conversar
dizendo ser valentão.
O senhor do engenho disse:
- Vá botar lá no banheiro
umas quatro latas d’água
e seja muito ligeiro
Biu lhe disse: “Vâ você
eu num sô seu paricêro.”
O homem partiu em cima
pegou-o pelo gogó
Biu disse: “Mô patrãozinho
num me mate tenha dó.”
Nisto o mijo já estava
correndo no mocotó.
Tremendo e todo mijado
aí o homem o soltou
e Biu chorando correu
a meia-noite chegou
numa grande casa velha
para dormir embocou.
Então no quarto da casa
tinha um defunto enforcado
ele quando entrou, bateu
com a cara no finado
e assombrado agarrou-se
com o defuntão inchado.
E deu um grito tão grande
quando o caso aconteceu
deu um empurrão no defunto
que a casa estremeceu
e assombrado gritando
de estrada afora correu.
No outro dia cedinho
numa pequena cidade
arranjou logo um serviço
com muita facilidade
entendeu de se casar
foi nova infelicidade.
Quando ali ganhou dinheiro
comprou roupa se ajeitou
com u’a moça doidada
logo um namoro arranjou
e a pedi-la em casamento
um dia se destinou.
Na casa do pai da moça
falou na porta e bateu:
“Ou de casa”: – Ou de fora
o velho lhe respondeu.
- Quem é? perguntou o velho:
“Num é ninguém não sô eu.
Quando o velho abriu a porta
o besta só fez dizer:
“Eu vim pidí sua fia
dê se quisé ou num dê.”
O velho disse: – Primeiro
me diga quem é você.
Ele disse: “Eu sô Biu
e mô pai é Zé Gibão.”
O velho disse: – Está certo
entre aqui para o salão
vamos acertar direito
e tratar da arrumação.
Biu entrou e se sentou
num recanto do salão
com o chapéu entre as pernas
e a bengala na mão
e com a cabeça baixa
a ninguém dava atenção.
E batendo com os pés
o chapéu escapoliu
ele apanhou o chapéu
nisso a bengala caiu
com todo o peso que tinha
que o salão todo “zuniu”.
Todo mundo ali sorriu
com a queda da bengala
e Biu de encabulado
já tinha perdido a fala
nisso trouxeram o café
para tomarem na sala.
Porém Biu que não sabia
se o café estava quente
encheu a boce e gritou:
no meio de toda gente
espanou café na cara
de quem estava na frente.
Caíram os pires das mãos
o café se derramou
por cima das pernas dele
queimando tudo, gritou
“Ô café quente danado”,
ai de costas pulou.
Pulou de costas e bateu
com a cabeça na janela
que estava aberta atrás dele
Biu agarrou-se com ela
mordeu-a e ficou chorando
com a dor da pancada dela.
Biu chorando com a dor
disse: “Qui casa danada
mim queimei com o café
E essa amardiçuada
quage me quebra a cabeça
isso é uma iscumungada.
Abriu a porta e saiu
vermelho como uma brassa
dizendo: “Cum essa é dua
danado é quem mai se casa
pode havê o qui hové
morro e num sai mai de casa.”
Daí foi chegar em casa
com três semanas e meia
contou tudo o que sofreu
ao pai com cara feia
disse o velho: “Tú soi mole
qui só rabo de uveia.”
Malimpregado mô fio
As letra qui tu aprendesse
Nem valeu a pena o meno
Os leite qui tu bebesse
E os fogo que sortei
Logo assim qui tu nacesse.
Cum nada mai mim importa
Assim Biu respondeu
Mai nunca eu sai de casa
Inda que diga um judeu
Longe de casa tu inrica
O cão qui vá mai não eu.