sábado, 4 de agosto de 2012

A POESIA QUE VEM DO POVO...


Jó Patriota
Eu nasci em Itapetim
Lugar onde o camponês
Nunca estudou matemática
Nunca aprendeu português
Mas sabe fazer um verso
Que Castro Alves não fez.
Quando a dor se aproxima
fazendo eu perder a calma
passo uma esponja de rima
nos ferimentos da alma
Minha alma tem a tristeza
Da coruja quando pia
Na solidão dos sepulcros
Nas noites de ventania
Eu comparo a nossa vida
Com o mar irritado e forte
Alguma bússola indicando
Leste, oeste, sul e norte
Dum lado a praia da vida
Do outro o porto da morte.
Passei a crer na bondade
Nos amigos inda creio
Depois que vi dois mendigos
Repartir o pão no meio
* * *
João Paraibano
Coruja dá gargalhada
Na casa que não tem dono
A borboleta azulada
Da cor de um papel carbono
Faz ventilador das asas
Pra rosa pegar no sono.
Faço da minha esperança
Arma pra sobreviver
Até desengano eu planto
Pensando que vai nascer
E rego com as próprias lágrimas
Pra ilusão não morrer.
* * *
Júnior Guedes
Frondoso e bonito, o velho umbuzeiro
Que brotou das fendas abertas da terra.
Cresceu num aceiro do pé de uma serra
Passando agruras o tempo inteiro.
Foi ficando forte a cada janeiro,
Mudando a paisagem que tem no lugar.
Felizes daqueles que vem contemplar,
Seu verde, a sombra e sua doçura
O doce da fruta na forma mais pura
Que o puro da brisa que sobra do mar.
* * *
Albino Pereira
A riúna e o bacamarte
São coisas da nossa terra.
Já foram arenas de guerra,
Mas hoje é cultura e arte
Sempre estão em toda parte
Nas novenas do sertão.
Seu tiro é como um trovão,
Parecendo relampejos
Abrilhantando os festejos
Das noites de São João.
* * *
Zé de Almeida
O meu verso já tem se comparado
Com o mel da abelha jandaíra
Com o perfume da flor da macambira
Com o campo florido perfumado
Com as flores que cobrem todo o prado
Com o sol amarelo cor de gema
Com o canto feliz da seriema
Com o grito saudoso da graúna
Com a casca de pau da baraúna
E o verdume da folha da jurema.
* * *
Luciano Maia
Cantor das coivaras queimando o horizonte,
Das brancas raízes expostas à lua,
Da pedra alvejada, da laje tão nua
Guardando o silêncio da noite no monte.
Cantor do lamento da água da fonte
Que desce ao açude e lá fica a teimar
Com o sol e com o vento, até se finar
No último adejo da asa sedenta,
Que busca salvar-se da morte e inventa
Cantigas de adeuses na beira do mar.

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