MÃOS DE UM VELHO
POR GERALDO PEREIRA...
Nilo de Oliveira Pereira (Ceará-Mirim, Dez/1909 – Recife, Jan/1992)
O meu imaginário toma corpo nesse dia dos pais; toma corpo e ganha os ares, viaja como se fora o pássaro dos anos e vai resgatar lá atrás a figura de meu pai.
Consigo me transportar até o começo de tudo – os meus inícios – e vou me encontrar na casa em que nasci, na rua em que me criei, cresci e de menino me transformei em adulto. Nessa trajetória toda tive a meu lado sempre um personagem ao mesmo tempo real e fictício. Real, porque presente a cada minuto e a cada dia de meu ser. E fictício pelo preenchimento das fantasias de minha imaginação; fictício por ser um gigante idealizado aos olhos da criança.
Um gigante que se tornou tão frágil no tempo da finitude. Tão frágil e tão medroso com as coisas da eternidade, com futuros que eram mais de seus temores religiosos, que de sua atuação nesse mundo de Deus.
Eu era um menino, tão menino, ele um jovem que sustentava pela mão o filho imberbe ainda, levando-o aqui e acolá. Gostava quando participava com ele de uma conferência, ouvindo Mário Melo ou escutando com atenção um Agamenon Magalhães ou outro qualquer de seus agrados. Falas que eu não compreendia direito. Antevia futuros, talvez, promovendo essa aproximação precoce do filho com a palavra, com a intelectualidade. Não soube de meus livros, de minha eleição para a sua Academia, ocupando justamente a cadeira de número 16, que fora a sua. Não soube também de seus livros, publicados depois que se encantara, in memoriam, como se diz no comum das coisas. E não soube de seu próprio centenário, assinalado com uma conferência magistral de uma conterrânea, que escreveu tese sobre si.
É isso mesmo! Hoje o meu pensamento está assim, dividido, por um lado o meu pai, encantado já há tanto tempo, vinte anos na contabilidade das ausências, e eu, pois que sendo pai, hei de almoçar com os meus, vou provar do bacalhau feito pela filha mais velha, primogênita da prole, mais vou levando a tiracolo a outras duas e mais a mulher de meus sonhos; de meus sonhos físicos e de meus sonhos espirituais e humanísticos. Por lá estarão o meu genro, Gonzalo de prenome e o meu neto, Pablo, El campeón. A vida é dessa forma, as pessoas vão passando com o tempo, o relógio dos anos carrega de um por um, deixando claros incríveis e vai trazendo gente que se acresce à família; gente que faz crescer a chamada constelação parental.
A saudade é grande, sobretudo do tempo de criança, das idas e vindas ao parque 13 de Maio, das mãos dadas, como se isso nos ligasse definitivamente. Como se isso desfizesse por antecipação os desentendimentos no campo do social ou na seara do político. Aquelas mãos de antes ficaram tão velhas e tão marcadas, que eu as olhei certa vez em derradeira visão, para não esquecer nunca: mãos de um velho. Agora, vejo as minhas mãos e as comparo com aquelas, não há diferenças. Eu também estou velho!
Consigo me transportar até o começo de tudo – os meus inícios – e vou me encontrar na casa em que nasci, na rua em que me criei, cresci e de menino me transformei em adulto. Nessa trajetória toda tive a meu lado sempre um personagem ao mesmo tempo real e fictício. Real, porque presente a cada minuto e a cada dia de meu ser. E fictício pelo preenchimento das fantasias de minha imaginação; fictício por ser um gigante idealizado aos olhos da criança.
Um gigante que se tornou tão frágil no tempo da finitude. Tão frágil e tão medroso com as coisas da eternidade, com futuros que eram mais de seus temores religiosos, que de sua atuação nesse mundo de Deus.
Eu era um menino, tão menino, ele um jovem que sustentava pela mão o filho imberbe ainda, levando-o aqui e acolá. Gostava quando participava com ele de uma conferência, ouvindo Mário Melo ou escutando com atenção um Agamenon Magalhães ou outro qualquer de seus agrados. Falas que eu não compreendia direito. Antevia futuros, talvez, promovendo essa aproximação precoce do filho com a palavra, com a intelectualidade. Não soube de meus livros, de minha eleição para a sua Academia, ocupando justamente a cadeira de número 16, que fora a sua. Não soube também de seus livros, publicados depois que se encantara, in memoriam, como se diz no comum das coisas. E não soube de seu próprio centenário, assinalado com uma conferência magistral de uma conterrânea, que escreveu tese sobre si.
É isso mesmo! Hoje o meu pensamento está assim, dividido, por um lado o meu pai, encantado já há tanto tempo, vinte anos na contabilidade das ausências, e eu, pois que sendo pai, hei de almoçar com os meus, vou provar do bacalhau feito pela filha mais velha, primogênita da prole, mais vou levando a tiracolo a outras duas e mais a mulher de meus sonhos; de meus sonhos físicos e de meus sonhos espirituais e humanísticos. Por lá estarão o meu genro, Gonzalo de prenome e o meu neto, Pablo, El campeón. A vida é dessa forma, as pessoas vão passando com o tempo, o relógio dos anos carrega de um por um, deixando claros incríveis e vai trazendo gente que se acresce à família; gente que faz crescer a chamada constelação parental.
A saudade é grande, sobretudo do tempo de criança, das idas e vindas ao parque 13 de Maio, das mãos dadas, como se isso nos ligasse definitivamente. Como se isso desfizesse por antecipação os desentendimentos no campo do social ou na seara do político. Aquelas mãos de antes ficaram tão velhas e tão marcadas, que eu as olhei certa vez em derradeira visão, para não esquecer nunca: mãos de um velho. Agora, vejo as minhas mãos e as comparo com aquelas, não há diferenças. Eu também estou velho!
Nenhum comentário:
Postar um comentário