quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A MORTE DE UM GRANDE MÚSICO: SEVERINO ARAÚJO...O MAESTRO DA ORQUESTRA TABAJARA...




MORREU SEVERINO ARAÚJO, O MAESTRO DA ORQUESTRA TABAJARA


O músico, compositor, arranjador, maestro, nascido em Limoeiro, Pernambuco, comandou a famosa Orquestra Tabajara por 69 anos
Severino Araújo (1917 -2012)
Maestro da mais longeva orquestra de bailes do País, a Tabajara, o pernambucano Severino Araújo, 95 anos, morreu na noite desta sexta (3), no Rio, vítima de falência múltipla de órgãos.
Ele estava internado no hospital Ipanema Inn há 15 dias e afastado do comando da banda há cinco anos, por problemas de saúde que foram se agravando.
Filho de um mestre de banda de Limoeiro, no Agreste de Pernambuco, Araújo aprendeu música durante a infância, inicialmente como clarinetista, e assumiu o comando da Orquestra Tabajara em 1938, aos 21 anos, quatro anos após sua criação, em João Pessoa.
Severino transformou o grupo de jazz tradicional em um conjunto brasileiro com linguagem própria, interpretando sambas, valsas e choros. Ao longo de sete décadas, gravaram mais de 100 discos e continuam na estrada. Liderou por quase seis décadas o conjunto, até que um problema na perna o deixou com dificuldades de locomoção e o fez passar o comando para seu irmão Jaime Araújo.
Severino Araújo era casado com Neuza Monteiro, 85, sua segunda mulher, e deixa quatro filhos: Tânia, Ronaldo, Francisco e Ieda – os dois últimos, de seu primeiro casamento. O corpo do maestro foi sepultado neste sábado (4), ao meio dia, no cemitério São João Batista, em Botafogo, no Rio.
Em 15 de junho de 2010, a TV Cultura levou ao ar, no programa Mosaicos, o especial “A arte de Severino Araújo e Orquestra Tabajara”, um documentário musical narrado por Rolando Boldrin, que resgata a história e a obra dos homenageados.
Dirigido por Nico Prado, o programa recupera imagens históricas do artista. Também promove o encontro inédito de Jaime Araújo, Spok e Proveta, da Banda Mantiqueira.
Eles falam sobre a importância de Severino para a música brasileira e interpretam três clássicos de autoria do maestro pernambucano: Relembrando o Norte, Espinha de Bacalhau e Chorinho em Aldeia.
O maestro Severino Araújo tinha dez anos a menos do que o frevo. Há 74, ele estava à frente da Orquestra Tabajara, uma lenda na música brasileira – ambos, o maestro e a orquestra. Aos 90 anos, convalescente de uma operação no joelho, ele alterou uma rotina iniciada no final dos anos 30.
TRAJETÓRIA – Severino Araújo teve uma trajetória parecida com a de Capiba, cujo pai exercia a mesma profissão. Ainda criança, a família de Severino Araújo mudou-se para a pequena Ingá, no interior da Paraíba. Foi ali que se destacou como clarinetista, a ponto de sua fama chegar à capital do Estado e receber convite para integrar a Banda da Polícia Militar.
A carreira recordista de Severino Araújo com a Orquestra Tabajara começa em 1937, João Pessoa, quando foi contratado como clarinetista da PRI-4, emissora do governo do Estado, aRádio Tabajara. E no ano seguinte, com o falecimento do maestro Luna Freire, ele foi convidado para reger a orquestra, da qual passou afastado um ano, quando foi contratado pela poderosa Rádio Tupi, do Rio.
Na então capital federal, Severino Araújo logo tornou-se requisitado como músico e arranjador, e gravou seus primeiros discos. A estreia, com frevo, naturalmente. Com o cantor Déo, nos vocais, e uma orquestra de estúdio, lançou “Eu vou pra Pernambuco”, em outubro de 1944.
O primeiro sucesso foi Chorinho em Aldeia, composto quando ele serviu o Exército no Recife (Aldeia a que se refere é o bairro de Camaragibe, embora o batalhão em que serviu fique em Paudalho).
A orquestra foi para o Rio em 1945. Ela e seu maestro nunca mais se separaram desde então.
Em 2007, ele concedeu entrevista ao Jornal do Commércio de Recife: “Eu não sou o mais indicado para falar da história do frevo. Meu pai é que foi um grande compositor de frevos”, disse, modesto, em entrevista por telefone. Mas não demorou a lembrar que a Orquestra Tabajara gravou muitos frevos, e que ele compôs alguns clássicos do gênero, e pelo menos um álbum antológico, A Tabajara no frevo (Continental, 1956).
Selo do disco de 78 rotações – pela gravadora Continental. O frevo, “Furiosa” um clássico dos carnavais pernambucano, é de autoria maetro Zumba (José Gonçalves)
É deste álbum um dos frevos mais regravados de Severino Araújo, Relembrando o Norte, “Esta música eu ainda fiz em João Pessoa, com o nome de Frevo de Cabo Branco, mas como ninguém no Rio sabia o que era Cabo Branco, mudei para Relembrando o Norte”, revelou o maestro.
Para ele foi a força das escolas de samba que barrou o sucesso do frevo no Rio:
As escolas estão pelo Brasil todo, são muito poderosas. Mas quando chegamos aqui, em 1945, contratados pela Rádio Tupi, fizemos sucesso tocando frevo. Ficamos seis meses fazendo bailes com frevos, e o que o patrocinador nos pagou deu para juntar uns bons cruzados (sic), e ainda sobrou dinheiro para a Tupi”, conta.
Severino Araújo, o autor do chorinho “Espinha de Bacalhau”, com sua inseparável clarineta
Com um dos currículos mais ricos da MPB, gravando com praticamente todos os grandes nomes da era do rádio, o frevo nunca saiu do repertório da Orquestra Tabajara. Foi acompanhada pela orquestra de Severino Araújo que Carmélia Alves emplacou um sucesso, em 1954, com o frevo-canção “Casa de Noca” (de Capiba).
Quando soube que no Recife as escolas de samba não têm mais tanta força, ele emendou:
Nem o frevo. A última vez que a Tabajara fez Carnaval no Recife foi em 1977. Sei que o frevo não toca mais por aí. E isso acontece porque os grandes compositores morreram, existem poucos dos cantores do passado, e as orquestras desapareceram. Mas não foi só por causa do fim dos bailes de Carnaval, e sim porque os clubes de pedestres que saíam levando o povo pela rua, com boas orquestras, também desapareceram”, analisou.
O mais idoso compositor de frevo, que entrou para a história, não aprovava muito o que lhe chegava de Pernambuco: “Ouço pouco, mas acho um frevo errado, é muito corrido. No último Carnaval vi o Recife na TV, mas quando a orquestra toca é muito ligeiro, não era assim o frevo que conheci”. 
* * *

Nenhum comentário:

Postar um comentário