terça-feira, 31 de março de 2015

O SOL...



Herculano Alencar

"O sol nasce para todos. A sombra para quem é mais esperto."
Stanislaw Ponte Preta

               Estudo filosófico do 

guarda-sol

O sol, esse eminente democrata,
não guarda um só senão do preconceito:
não discrimina o branco, nem o preto,
tampouco o mameluco ou a mulata.
Se põe quer sobre o mar, quer sobre a mata,
seja no polo norte ou polo sul,
seja em Piripiri ou Istambul,
pra um cão pura raça ou vira-lata.
O sol nasce pra todos, todos dias,
bem antes de Davi matar Golias
e o papa dar sermão em espanhol.
A sombra, ao contrário, já escassa,
vai rareando, enquanto a vida passa,
e nasce pra quem abre o guarda-sol.

VISITA AO COLÉGIO...




VISITA AO COLÉGIO (Álvaro Moreyra)


Chego. Puxo o cordão da campainha.
Ouço-a tocar. Assim é que tocava.
É o mesmo som de outr’ora que ela tinha
Quando, triste, das férias eu chegava.
Recebe-me o porteiro. Ainda é o que vinha
Abrir-me a porta, e alegre me contava
As coisas novas que o colégio tinha,
Quando, triste, das férias eu chegava.
Entro e por tudo o meu olhar caminha.
Nada mudou. Quem disse que mudava?
Nem o porteiro. Nem a campainha.
Só eu. Só eu. Se pudesse, chorava,
Pois já não trago as ilusões que tinha
Quando, triste, das férias eu chegava...

segunda-feira, 30 de março de 2015

A SEMENTE DO MAL...



MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)


               Gregos e troianos reconhecem que a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, é uma irresponsável, ignorante e contribui para o desastre econômico da atualidade; mas isto se comprova com o recente encontro dela com o MST, cujo vandalismo persegue o agronegócio, o setor mais produtivo e lucrativo do País.
Seria fastigioso elencar os males que o MST trouxe ao País, sempre prestigiado pelos governos federais, e se tornado, por afinidade, um dos braços políticos do PT. Como linha auxiliar dos aloprados, foi invocado há poucos dias por Lula da Silva como o “exército de Stédile”.
               Foi no Rio Grande do Sul, a presença da Presidente no meio da massa de aplaudidores contratados em contra ponto das estrondosas manifestações do “Fora Dilma”. Estavam lá representantes da Via Campesina, a estúpida milícia que destruiu anos de pesquisa da empresa Futurene em Itapetininga.
               A reunião abominável deu-se quando ainda não passara um mês que o bando de mulheres ignorantes e mercenárias da Via invadiu a propriedade e arrasou as estufas com milhares de mudas de uma espécie transgênica de eucalipto, que está enriquece a Austrália, o Canadá e a Finlândia. As sementes arruinadas aumentariam em mais de 20% a sua produtividade e diminuiriam o tempo da colheita.
Nota-se que diante disso a chamada “grande imprensa” e a saltitante intelectualidade abrigada pelo PT-governo, silenciam se acumpliciando pela omissão diante deste crime contra a ciência e, porque não dizer, contra o futuro.
A grande imprensa e os chapas-branca fazem um alarde medonho com a derrubada de estátuas da antiga cultura budista e islamita, pelos bandidos do talibã e do Estado Islâmico, mas se calam diante do terror bárbaro dos sem-terra no Brasil.
Este amparo sigiloso (como os empréstimos do BNDES) atravessa os governos do PT desde Lula da Silva, que no seu primeiro mandato, facilitou as mesmas porras loucas da Via Campesina a ocupar pela força uma fazenda da Aracruz e destroçar seus laboratórios.
               Não se sabe a serviço de quem o lumpemproletariado venal recrutado do “exército de Stédile” realiza terrorismo com a cobertura material do PT-governo e apoio ideológico dos partidos satélites.
Dilma, que pelas contumazes mentiras é comparada ao Pinóquio do livro imortal do escritor italiano Carlo Collodi, infelizmente não tem um grilo falante como aquele que aconselhava o boneco de Gepeto até transformá-lo num menino de carne e osso.
Um conselheiro ou assessor amigos e independentes poderiam informar a Presidente o que realmente ocorre nas ações dos sem-terras, abrindo seus olhos…  Alguém deveria dizer-lhe que o campo experimental da FuturaGene é de uma empresa nacional, a Suzano Papel e Celulose, festejada nos círculos científicos, e acrescentando à economia nacional mais de quatro bilhões anuais e mantém sete mil empregos diretos.
A semente do mal plantada pelo PT-governo e o Partido do Trambique nos leva à Parábola do Joio e o Trigo, de Jesus Cristo, contada no evangelho de Mateus (13:24-30) e na versão abreviada do gnóstico Evangelho de Tomé.
Esta alegoria bíblica projeta o Juízo Final com os anjos vindo para separar os “filhos do maligno” (o “joio”, ou ervas daninhas) dos “filhos do reino” (o trigo). E, antecedendo, tem o complemento educativo da Parábola do Semeador.
Atualíssimo como lição de vida, a Parábola do Semeador está presente nos três evangelhos sinópticos e no apócrifo Evangelho de Tomé. Ensina-nos como devemos esclarecer os patriotas sobre as maldades que recaem sobre nós pela semeadura incompetente e corrupta da dupla Dilma-Lula.
O Evangelho de Mateus (13:1-9) fala do semeador que deixou cair uma semente entre espinhos num terreno rochoso, e ela se perdeu; mas quando semeou em boa terra, o grão germinou e cresceu, multiplicando a colheita por cem vezes.
Daí, os brasileiros esclarecidos vêem que nos cabe plantar a boa semente em solo fértil, para colher um futuro radioso para nossos filhos e netos, desprezando e rejeitando a semente do mal do lulo-petismo apodrecida nas rochas escarpadas do peleguismo, onde definham a ética, a honestidade e a moral.

A VOLTA DA MULHER MORENA...VINICIUS DE MORAES.



A volta da mulher morena
 

Meus amigos, meus irmãos, cegai os olhos da mulher morena
Que os olhos da mulher morena estão me envolvendo
E estão me despertando de noite.
Meus amigos, meus irmãos, cortai os lábios da mulher morena
Eles são maduros e úmidos e inquietos
E sabem tirar a volúpia de todos os frios.
Meus amigos, meus irmãos, e vós que amais a poesia da minha alma
Cortai os peitos da mulher morena
Que os peitos da mulher morena sufocam o meu sono
E trazem cores tristes para os meus olhos.
Jovem camponesa que me namoras quando eu passo nas tardes
Traze-me para o contato casto de tuas vestes
Salva-me dos braços da mulher morena
Eles são lassos, ficam estendidos imóveis ao longo de mim
São como raízes recendendo resina fresca
São como dois silêncios que me paralisam.
Aventureira do Rio da Vida, compra o meu corpo da mulher morena
Livra-me do seu ventre como a campina matinal
Livra-me do seu dorso como a água escorrendo fria.
Branca avozinha dos caminhos, reza para ir embora a mulher morena
Reza para murcharem as pernas da mulher morena
Reza para a velhice roer dentro da mulher morena
Que a mulher morena está encurvando os meus ombros
E está trazendo tosse má para o meu peito.
Meus amigos, meus irmãos, e vós todos que guardais ainda meus [últimos cantos
Dai morte cruel à mulher morena! 

domingo, 29 de março de 2015

CADA UM COME O QUE GOSTA...


          O caipira tinha dinheiro de sobra, gostava de ostentar seus carrões, roupas de grife e correntes de ouro, não abria mão de frequentar restaurantes caros. Mas não gostava de passar por jeca – sejamos francos: ninguém gosta de passar por jeca, ainda mais se for jeca.

Certa feita, nosso matuto veio para a capital a negócios. Resolveu jantar num restaurante chique. A desgraça é que ele não tinha a menor ideia do que pedir para comer e beber. Não entendia o que estava escrito no cardápio. Escolheu sua mesa a dedo. Ao lado da mesa de um grã-fino.

-- Garçom, me traga o prato de sempre – pediu o bacana, frequentador assíduo da casa.

O caipira não deixou por menos:

-- Dois.

O bacana pediu ao garçom “o vinho de sempre”.

E o caipira:

-- Dois.

Nosso jeca foi nessa batida até a hora da sobremesa. O bacana estava a ponto de estourar. E estourou:

-- Garçom, isso aqui está insuportável. Quero o manobrista.

-- Dois, pediu o caipira.

-- Escuta aqui, cidadão: um manobrista dá para os dois.

O caipira retrucou:

-- Nada disso! Cada um come o seu. 

SOBRE O CACAU...



DIA DO CACAU
O dia 26 de março é uma data comemorativa para os amantes do chocolate: é o Dia do Cacau.
O cacau é a principal matéria-prima do chocolate.
O Estado da Bahia é o maior produtor de cacau do Brasil, porém sua capacidade produtiva foi reduzida em até 60% com o advento da vassoura-de-bruxa, causada pelo fungo fitopatogênico Crinipellis perniciosa, atualmente Moniliophthora perniciosa. O Brasil, então, passou do patamar de país exportador de cacau para importador, não sendo completamente autossuficiente do produto.

SOBRE O CHATO...



DEFINIÇÃO DE CHATO


               "DEFINIR JÁ É CHATO, previnem os melhores autores. "Omnis definitio platta est". Entretanto, arriscaríamos uma primeira proposição:
Chato é o indivíduo, ser, coisa ou evento, cuja presença, existência, atitude, ação ou lembrança, continuadamente, tem a capacidade de inspirar sentimentos contrários à alegria de viver, à paz de espírito e à Paz Mundial.
É condição que tais sentimentos resultem de uma continuidade, pois força é reconhecer a existência de indivíduos, seres, coisas e eventos, que, não sendo propriamente chatos, tornam-se tais por circunstâncias alheias à vontade do agente, por indisposição passageira do paciente, por motivos esporádicos e mesmo perdoáveis. Chatos esporádicos somos todos nós, numa ou noutra ocasião; mas a reprodução ou repetição, do FENÔMENO DA CHATICE é que a caracteriza.
No presente Tratado preocupamo-nos com os chatos consuetudinários, os que, variando apenas de objeto-paciente, tem sobre terceiros a faculdade de imprimir e inocular os sentimentos a que se refere a definição. Por pura questão de fé no gênero humano, deixamos de parte o chato-absoluto, o chato incurável, contra o qual seres e coisas são inermes e desamparadas. Existem; mas, como qualquer enfermidade incurável ou temor da morte, nos levariam ao homicídio ou ao suicídio, únicas fugas possíveis."

(Tirado do "Tratado Geral dos Chatos" - Guilherme Figueiredo - 1962)

sábado, 28 de março de 2015

ACALANTOS E DESACALANTOS...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL


          

               É IMPRESCINDIVEL QUE UM PAI DÊ CONSELHOS AO FILHO...é por isso que o pai vem primeiro que o filho...quando criança e adolescente a gente acha que é só neura do pai...a medida que os anos chegam, vamos comprovando diariamente o que o nosso velho dizia,o que um dia escutou do nosso avô...

              Participem da vida do filho, mesmo que ele lhe ache chato...tem razão você e ele...
Mas, chega um tempo, que nós também precisamos escutar os nossos filhos, quando a gente começa a se esquecer do que ensinou a eles...é a vida...é o mundo, vasto mundo,Raimundo...
               SOU UM HOMEM FELIZ por que dei ao mundo três pessoas melhores do que eu...e sei que depois de mim eu vou estar presente...
               incultí nos meus filhos A FÉ, o fundamento da esperança, que é o fundamento da alegria, que existe em quem tem vida interior...
TER vida interior é jamais padecer de solidão...é encontrar prazer e contentamento nas coisas simples...

               CONHEÇO PESSOAS que estão velhas, cansadas, mas não podem parar de trabalhar,por que não gostam de outra coisa,a não ser ganhar dinheiro...não possuem um ROBE,detestam música, fugiram das suas casa para a prisão dos apartamentos, detestam bichos e o que dá despesas...nem gostam de chuva, nem gostam de sol...detestam carne e peixe...
              ONTEM disse uma coisa inusitada ao meu filho Bruno, não sei se ele percebeu...falei:ESTOU MUITO RUIM PARA VIVER, POR QUE GOSTO DE TUDO O QUE EU FAÇO...de fazer o prato do cachorro, a fazer uma cirurgia, a escutar músicas, a escrever,a compor...pra mim um dia tinha que ter o dobro das horas,para eu acomodar as minhas paixões, e dar vencimento a minha vida interior...passo meses sem fazer uma coisa que eu gosto, por que não tenho tempo...
               MAS, o que eu quero mostrar mesmo, hoje, é um filho lembrando ao pai,quando este se esqueceu o que lhe ensinou...o pai cantou pro filho um ACALANTO...o maestro FRANCIS HIME,imagina o filho cantando pro pai,PORTANTO, UM DESACALANTO ...ESCUTEM QUE PÉROLA...o que um dia foi acalanto:uma canção para dormir,passa a ser um DESACALANTO...uma canção para acordar e abrir os olhos.



Desacalanto

Francis Hime

Acorda, meu pai
Não te deixo dormir
Não toque em estrelas
Não vá por aí
Afasta o delírio
Não prove do mar
Não ouça a Iara
Do rio chamar
Acorda, meu pai
E me ajuda entender
Por que tanta fúria
Tanto malquerer
Eu estou muito assustado
Com o mundo que eu vi
Acorda meu pai
Não te deixo dormir
A noite se encosta
Num poste de luz
Em pó se desfaz
Em fragmentos azuis
Aos pés de um menino
A cidade afundou
Levando o vazio
De quem não sonhou
Sou moço de longe
De longe te ouvi
Dizendo: "Meu filho,
Não vá por aí"
Não toque em estrelas
Não prove do mar
Não ouça a Iara do rio
De noite chamar

A POESIA DE VINICIUS DE MORAES...



A MULHER QUE PASSA – 
Vinícius de Moraes





Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pêlos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?
Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida?
Para o que sofro não ser desgraça?
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!
No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha amada mulher que passa!
Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.

A FANTÁSTICA LITERATURA DO POVO...

Manoel Xudu
O homem que bem pensar
Não tira a vida de um grilo
A mata fica calada
O bosque fica intranqüilo
A lua fica chorosa
Por não poder mais ouvi-lo
* * *
Valdir Teles
Pai vinha de São José
Com uma bolsa na mão
Minha mãe abria a bolsa
Me dava a banda de um pão
Porque se desse o pão todo
Faltava pro meu irmão.
* * *
Nonato Costa
Quem compete com os anos perde a luta
Sem nenhum artefato de defesa,
Pois o fórum de Deus ganha a disputa
Decretando a falência da beleza,
As madeixas caindo a pele verte,
Não tem creme hidratante que conserte,
E nenhum tipo de plástica que ajude,
Na agência bancária do futuro
O presente começa a pagar juro
Do empréstimo que fez na juventude.
* * *
Mariana Teles
O levantar da cabeça
É sempre a melhor saída
Passar por cima dos baques,
Molhar com pranto a ferida,
Sem cansar, nem pedir pausa,
Na queda se enxerga a causa
Dos recomeços da vida!
* * *
João Paraibano
Branca, preta, pobre e rica,
Toda mãe pra Deus é bela;
Acho que a mãe merecia
Dois corações dentro dela:
Um pra sofrer pelos filhos;
Outro pra bater por ela.
* * *
Zé Melancia
Já fui cantador destemido
Cantador de alta classe…
Já cantei face a face
Com poeta garantido…
Com rima e verso medido,
Na matéria e em repente,
Quem fui eu antigamente,
Quem estou sendo hoje em dia,
Só resta da melancia
A casca e uma semente
* * *
Cícero Vieira da Silva
Nasci numa cordilheira
Numa casa muito ruim,
As telhas eram de capim
E a porta era uma esteira;
No pé de uma ladeira
Foi onde fizeram ela
Se um gato subisse nela
Só faltava derribar…
Antes da chuva chegar
Já chovia dentro dela.
* * *
Otacílio Batista
Fazer o bem é perdido,
fazer o mal não convém,
entre a maldade e o bem,
quem faz o bem é traído.
Eu não fui compreendido,
quando tive compaixão
de quem me estendia a mão,
desejando ser feliz:
A quem mais favor eu fiz
Só me fez ingratidão.
 * * *
Francisco Caetano
Meu dom é dado por Deus
Quando eu morrer ele fica
Eu sou pobre igual a Jó
Mas a minha rima é rica
Possui o gosto da fonte
Do olho d`água da bica.
* * *
Oliveira de Panelas
Quando o óvulo fecundo acelerado ,
Gira o sangue com toda hemoglobina,
Nisso a mãe necessita proteina
Para dar a seu filho encarcerado
Onde todo o destino foi marcado
Logo após o contato conjugal
Na primeira carícia sensual;
O espírito na carne se mistura,
O destino de cada criatura
É traçado no ventre maternal.
* * *

A LITERATURA DE VIOLANTE PIMENTEL...

     VIOLANTE PIMENTEL RECEBENDO DVD AUTOGRAFADO DO CANTOR MACIEL MELO, EM RECENTE CONFRATRENIZAÇÃO EM RECIFE, APIPUCOS...

INTRIGA DE BEATAS
Antigamente, quando havia alguém num leito de morte, era costume se “fazer quarto” ao doente em casa, aguardando a hora fatal. Alguns vizinhos, parentes e amigos prestavam solidariedade à pessoa moribunda e à sua família, passando noites em claro, no seu quarto, até que a “Moça Caetana” chegasse.
Quando se fazia quarto ao doente é porque nada mais a medicina da época podia fazer. O doente já estava desenganado e somente um milagre poderia dar jeito. As noites eram passadas em claro, com muito cafezinho durante todo o tempo.Moribunda1
Em Natal, adoeceu gravemente, de uma “congestão”, dona Mariinha Santos, uma conhecida beata, de família ilustre, e logo se espalhou na cidade o boato de que ela estaria somente aguardando a hora da morte.
As beatas da Igreja, suas companheiras de missa e de terço, começaram a se revezar, oferecendo seus préstimos à família da enferma para lhe fazer “quarto”, até o momento do crucial desenlace. A maior amiga da moribunda, e quase vizinha, era Dona Idila Lima, beata e solteirona, que não largava seu terço e estava sempre disponível para todas as rezas.
Dona Idila foi a primeira beata a se oferecer para fazer quarto à doente, passando dez noites nessa “via-crucis”, e nada da mulher morrer. Cansada e decepcionada porque Dona Mariinha não morria, Idila trocou seu “plantão” com outras beatas e companheiras da Igreja, afastando-se da casa da doente e evitando até passar na porta.
Aos poucos, Idila foi se distanciando cada vez mais da casa da enferma, e todos os dias, quando ia almoçar na casa da sobrinha Carmen, a moça lhe pedia notícias da saúde de Dona Mariinha.
Numa das vezes, a tia Idila resolveu abrir o jogo para a sobrinha e contou a verdade:
- Cacá, eu fiquei mal com Mariinha e deixei de ir lá!!!
Admirada, Carmen quis saber o que tinha acontecido entre as duas amigas e perguntou à tia Idila qual a razão dessa intriga. Muito espirituosa e com toda a franqueza que lhe era peculiar, a tia Idila respondeu:
- Cacá, eu fiquei mal com Mariinha porque ela não morreu!!! Eu fiz quarto a ela durante dez noites seguidas e ela ainda está viva!!! Perdi meu tempo!!! Agora já estou cansada e, pra me ver livre dessa obrigação, resolvi ficar mal com ela!!!
Carmen Pimentel, por brincadeira, tomou conta da história, e dizia às pessoas mais íntimas que a tia Idila ficara “mal” com dona Mariinha, porque lhe tinha feito quarto durante dez noites seguidas, pensando que ela iria morrer, e a mulher não havia morrido…
O mais hilário é que ainda não foi dessa vez que Mariinha morreu!!! Pelo contrário, a beata ainda viveu muitos anos…

CULTURA: MACHADO DE ASSIS E A MULHER...




O feminismo de Machado de Assis


O FEMINISMO DE MACHADO DE ASSIS

Pedro J. Bondaczuk

O professor e pesquisador de literatura brasileira, Mauro Rosso – destacado ensaísta e escritor, além de palestrante e conferencista – publicou, em 2008 (não consegui precisar a data exata), na revista de literatura e artes “Germina”, instigante matéria, intitulada “Machado e a mulher”. O texto em questão, informativo e esclarecedor, trata de um dos aspectos que mais chamam a atenção na prolífica e incomparável obra do nosso “Bruxo do Cosme Velho”. Ou seja, o que muitos pesquisadores caracterizam como seu “feminismo”. Como tudo o que se refere ao nosso maior escritor, pioneiro em vários sentidos, quer no que se refere a estilo quer, e principalmente, à sua variada e eclética temática, esse aspecto merece, também, análise cuidadosa, atenta, criteriosa e a mais didática possível, para que possa ser devidamente assimilado e valorizado pelo leitor.
Mauro Rosso inicia, assim, seu citado artigo: “Machado sempre escreveu sobre mulheres e para mulheres. Os amores e frustrações femininos eram seus temas constantes. A mulher sempre foi personagem primordial da sua ficção. Em Machado, o feminino confirma-se como uma categoria literária – eis um sinóptico intróto que muito bem caracteriza um dos cernes da sua obra ficcional (...)”. “Quer dizer, então, que Machado de Assis era feminista convicto!”, concluirá o atento leitor, com base nesta (e em outras tantas informações). Bem, depende de que feminismo estamos falando. Se estivermos pensando no movimento internacional organizado, sobretudo, na Europa, de cunho ideológico, que lutou (e luta) pela irrestrita igualdade de direitos e deveres entre os dois gêneros, tal conclusão será um tanto açodada, se não exagerada. Afinal, o escritor era fruto da mentalidade do seu tempo, mesmo que vários e vários passos adiante da esmagadora maioria de seus contemporâneos. Mas se pensarmos, exclusivamente, pelo lado do pioneirismo, pelo da valorização da mulher como ser humano inteligente e sensível que é, e como tema, portanto, de sua literatura, essa caracterização é não somente válida, como oportuna.
Mauro Rosso, em outro parágrafo do seu lúcido artigo, lança luz sobre isso: “Sem se constituir propriamente em explícito ‘defensor dos direitos da mulher’ – muito menos um ‘dialético feminista’ – Machado era convicto de que as mulheres deviam ser instruídas e não permanecer atadas á vida doméstica, ao mesmo tempo sempre preocupado e atento para as necessidades emocionais, afetivas e mesmo sexuais das mulheres. Desde o início da sua gestação ficcional em prosa, Machado traçou caminhos próprios e peculiares para tratar das relações entre os homens e as mulheres muito além da visão ingênua dos românticos, do discurso dos realistas e naturalistas, injetando em sua obra muitas sementes da modernidade: criou um estilo de literatura não apenas de observação das pessoas, mas, sobretudo, de interpretação, expondo as pequenas coisas, as passagens a princípio inocentes, um outro lado, que muitas vezes aludia á presença, sempre insidiosa, do inconsciente. Sempre foi um autor interessado em prospectar as paixões humanas, em dissecar-lhes as intimidades, em levantar questões e torná-las públicas pela voz de seus personagens. Em Machado, o narrativo e o descritivo deu lugar ao psicológico, ao íntimo – transcendendo o visível, o corpóreo, o material (...)”.
Embora seja até acaciano para os leitores familiarizados com informações históricas, lembro (para os que sabem) e informo (aos que desconhecem) que no tempo de vida de Machado de Assis não havia nada sequer parecido com o Dia Internacional da Mulher e nem se cogitava a esse propósito e não só no Brasil, como na maior parte do mundo, salvo em um ou outro país, notadamente da Europa, como Inglaterra, França e os estados escandinavos. A data comemorativa foi instituída, apenas, dois anos após a morte do escritor. Nunca é demais saber, ou reforçar, a origem dessa celebração (que já tratei em outras crônicas, mas que é sempre oportuno reiterar).
Em 8 de março de 1857, funcionárias de uma indústria têxtil de Nova York, inconformadas com a desumana exploração de que vinham sendo vítimas, decidiram sair às ruas, em passeata, para protestar e, assim, chamar a atenção da sociedade para a sua terrível situação. Embora épico, o espetáculo não deixava de ter seu lado patético. Era comovente, e ao mesmo tempo chocante, a visão daquelas mulheres corajosas, destemidas e determinadas, cobertas de andrajos, com vestidos esfarrapados e pés descalços, mas de cabeça erguida, a clamar, a exigir, a cobrar justiça.
Naquela época, sequer se cogitava de qualquer legislação que protegesse a integridade física e mental dos operários, não importava de que sexo, que eram tratados pior do que animais de carga ou do que as máquinas das indústrias. As jornadas de trabalho estendiam-se, não raro, por 16 horas ou mais, sem férias, repouso remunerado ou qualquer outra espécie de proteção.
Havia casos de trabalhadores que eram forçados a dormir nas próprias fábricas, ao lado de tornos ou teares, para cumprir metas de produção estabelecidas pelos patrões, geralmente exageradas e abusivas. Teoricamente “livres”, os operários de fins do século XIX eram tratados pior do que os escravos. E todos achavam esse procedimento “normal”.
Nesse contexto, de abuso e de exploração, as mulheres eram duplamente injustiçadas. Além de cumprirem as mesmas e estafantes jornadas de seus colegas masculinos – o que lhes minava a saúde e roubava anos e anos de vida – ainda recebiam salários irrisórios, ínfimos, ridículos, que correspondiam à metade dos que eram pagos aos companheiros homens que exerciam as mesmas funções.
Quando as corajosas e desesperadas participantes da manifestação de protesto de Nova York, nesse fatídico 8 de março de 1857, voltaram à tecelagem, para avaliar o resultado político do seu ato público, foram criminosamente punidas. Não com suspensão, desconto de salários ou demissão sumária, o que já seria inominável abuso. Sua punição, no entanto, foi muito, muitíssimo pior. As ousadas trabalhadoras pagaram com a vida pelo “atrevimento” de reivindicar direitos.
A fábrica em questão foi, conforme se comprovou posteriormente, intencionalmente incendiada, a mando dos patrões, com as operárias rebeldes no seu interior. As chances de escapar com vida eram mínimas, quase nulas. Poucas tiveram essa felicidade. Tratou-se, logicamente, de episódio de grande repercussão, que Hollywood, inclusive, transformou em filme de grande sucesso de bilheteria.
Resultado dessa sinistra e covarde revanche patronal: 139 trabalhadoras mortas, carbonizadas, sacrificadas somente por não se conformarem com a desumana exploração de que eram vítimas! Foi em homenagem a essas heróicas mártires que a Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague, em 1910, por proposta da ativista Clara Zelkin, instituiu o 8 de março de cada ano como o Dia Internacional da Mulher.
Quando esse fato ocorreu, Machado de Assis estava com dezessete anos de idade, a meses de completar dezoito. Não creio que tenha tomado conhecimento dessa trágica notícia, embora fosse, desde moço, pessoa muito bem informada. Tenho minhas dúvidas até se algum jornal brasileiro veiculou a informação. Intuo que não. O interesse de Machado de Assis pelas mulheres (e não me refiro ao natural e instintivo que nós, homens, temos por elas, mas o que se refere, sobretudo, ao seu papel social e profissional), portanto, não teve nada a ver com qualquer tipo de doutrinação, de influência externa, de propaganda de eventual organização feminista (que, aliás, nem existia no Brasil, país que ainda hoje é sumamente machista, imaginem como era no século XIX!!). Foi intuitivo, lógico, humano e racional, contrariando, inclusive, a patuléia ignara e chocando, por conseqüência, os descerebrados, incapazes de pensar por si próprios que se escandalizam com o que fuja à sua compreensão.

sexta-feira, 27 de março de 2015

TENHO MEDO DO CHATO ESSSENCIAL...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL

SOBRE O CHATO ESSENCIAL...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL...

O CHATO ESSENCIAL OU O ESSENCIALMENTE CHATO...


 
                PRETENDO VIVER O RESTANTE DA VIDA, MORANDO EM CASA... COM JARDIM, FLORES,CACHORROS, SONS ALTOS E QUINTAL, PARA SE URINAR NOS FERIADOS...

               VOCÊ JÁ AMANHECEU NUM FERIADO, ACORDOU TARDE E URINOU BEM RELAXADO NO PÉ DE UMA MANGUEIRA...? você chega a encontrar a sua alma, de tanta tranquilidade.

               TEMO IR MORAR NUM APARTAMENTO E SER VIZINHO DE UM CHATO ESSENCIAL... UM INTOLERANTE...QUE SÓ APARECE SE FIZER CONFUSÃO ...

                O chato essencial existe...é uma realidade...as vezes dá um Show no caixa do supermercado, humilha a caixa indefesa, ele só aparece se fizer confusão... Santa Bárbara... 
               AONDE ESTE FILHO DA PUTA ESTIVER, EU O ENFRENTO...SOU TOLERANTE, E ISTO É UMA VIRTUDE, SÓ VIRO RADICAL DIANTE DO RADICALISMO... 
              QUANDO MOREI EM EDIFÍCIO, acordei um dia com o bedeu cortando uma árvore centenária... perguntei por que? de onde veio esta ordem? o sr chato essencial decretou a morte da árvore, pois ela tem um cupim, e este cupim pode danificar o elevador, e o chão do elevador cair... Me debrucei na sacada e gritei: isto só pode ter sido uma ordem de uma cabeça cheia de merda.

               Peço a Deus todo dia...me livra senhor do chato essencial...triste de quem é vizinho de um chato essencial, o que não é o meu caso... meus vizinhos valem ouro e eu os adoro.

              post script: o chato essencial termina enfartando...é uma questão de tempo...pode anotar.


               certa vez, quando era doutorando, presenciei um chato essencial, repreender uma mãe meia hora, por que ela tinha ido pedir uma receita de gardenal no pronto socorro... temia que seu filhinho tivesse uma convulsão... ele discursou meia hora, e não resolveu um problema grande para uma mãe, que teria resolvido em um minuto... o referido chato essencial, hoje está está com rodovia nova, entenda se :PONTE DE SAFENA...
              
             ...eu já sabia...

               "CHATO É O INDIVÍDUO, SER, COISA OU EVENTO CUJA PRESENÇA, EXISTÊNCIA, ATITUDE, AÇÃO OU LEMBRANÇA, CONTINUADAMENTE, TEM A CAPACIDADE DE INSPIRAR SENTIMENTOS CONTRÁRIOS À ALEGRIA DE VIVER, À PAZ DE ESPÍRITO E À PAZ MUNDIAL." (Guilherme Figueiredo - Tratado Geral dos Chatos)

DESASTRE...


A MÚSICA DE LETÍCIA PERSILES









LETÍCIA PERSILES EXPÕE COISAS COTIDIANAS EM CARTAS DE AMOR E SAUDADE


POR BRUNO NEGROMONTE.
ov
A música, o lirismo e o teatro fundem-se de modo harmonioso neste primeiro álbum da atriz e cantora carioca
Em 2014 completou-se duas décadas que o ator francês Jean Barrault faleceu aos 83 anos. Tal ator disse certa vez que o teatro seria o primeiro soro que o homem inventou para proteger-se da angústia. Já o multifacetado Nietzsche costumava dizer que sem música a vida seria um erro. Além destes, há também o poeta e escritor português Fernando Pessoa (ou Álvaro de Campos, se preferirmos identificá-lo por seu heterônomo) que chegou a afirmar todas as cartas de amor são ridículas pois não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. A citação desses nomes aparentemente sem nexo e lógica alguma fundem-se de modo harmonioso quando a alquimista Letícia Persiles mostra-se capaz de misturar esses e outros relevantes nomes do século XX em sua arte, ao seu som e a suas ideias de modo bastante ímpar.
Carioca, a atriz e cantora vem constituindo um trabalho adornado por características bastante peculiares nas diversas minúcias que constituem as atividades que executa, dinâmica faz-se capaz de trazer elementos do folclore nordestino (sob influências de histórias populares e nomes como Ariano Suassuna) em plena comunhão com ícones contemporâneos e cosmopolitas como é o caso do compositor alemão Kurt Weill. “As cartas de amor e saudade” é um disco que traz junto a si a possibilidade de destrinchar-se em diversos sem perder a unidade, uma vez que neste contexto é possível vislumbrar a fusão de modo uníssono de diversos gêneros musicais ao longo das oito faixas presentes.
Dentre os aspectos existentes é possível observar elementos da música flamenca junto a outros da cultura popular nordestina a partir de melodias muito bem arregimentadas. Então não é de se estranhar a capacidade de simbiose que “As cartas de amor e saudade” traz arraigada. Acredite, depois da audição deste álbum você por um instante pode vir a acreditar que a região do Crato cearense e Andaluzia, a famosa cidade espanhola, são cidades vizinhas.
Vale salientar que a sua carreira como atriz teve início quando a atriz estava com onze anos e cerca de quatro anos depois Letícia já teve a oportunidade de formar a sua primeira banda. No entanto só por volta de 2009 foi que ela chegou a ganhar relativo destaque a frente banda Manacá ao lado dos músicos Luiz César Pintoni (guitarra), Daniel Wally (baixo) e Bruno Baiano (bateria) formando assim um dos quartetos de maior destaque da cena musical indie do Rio de Janeiro à época, chegando inclusive a gravar um disco. Vem desse período a participação de Persiles na minissérie global Capitu, interpretando a personagem principal, o que acabou gerando a possibilidade do quarteto ganhar espaço na trilha sonora da produção televisiva.
Agora, cinco anos depois, a artista vem apresentando o seu primeiro trabalho solo imbuído por toda essa vasta experiência acumulada ao longo dos anos e que foram fundamentais para que a mesma pudesse adornar os mais distintos adjetivos à sua arte. Sob um olhar que transpassa a beleza de sua tonalidade esverdeada, Letícia traduz em suas letras e canções de modo bastante vigoroso todo o seu universo particular em letras que abordam os mais distintos temas como é o caso de “Tamarametista” que remete-nos a um tipo de amor caracterizado pela entrega total. Os ditos populares mostram-se em perfeita sincronia com sabores em uma gastronomia aguçada por sentidos e sensações.
Já a reflexiva “No passo do passarinho” traz a experiência como palavra-chave, retratando a valorosa e instigante descoberta de um animal que acaba de sair do seu ovo e passa a caminhar com as próprias pernas. Dentre as regravações estão as faixas “Quem sabe”, composta por Carlos Gomes no século XIX, “Youkali Tango” escrita pelo já citado compositor alemão Kurt Weill e registrada em 1934; sem contar com a canção “Dos Cruces”, da dupla espanhola Carmello Larrea e Antonio Molina. O álbum ainda conta com mais duas canções: “Os versos e as horas” e “Catavento”.
A belíssima arte do álbum vem sob a assinatura de André Luiz Machado a partir de fotos tiradas por Valkiria Persiles, mãe da atriz e cantora. As ilustrações foram confeccionadas pela própria Letícia, que também participou da produção do álbum ao lado de Toninho Ferragutti e Chico Neves, conceituado produtor do cenário pop nacional. Neves nas últimas duas décadas,foi responsável, dentre tantos, pela produção de álbuns como “O Dia em que Faremos Contato” do cantor e compositor Lenine e “Bloco do Eu Sozinho”, da banda carioca Los Hermanos. Os arranjos de “As cartas de amor e saudade” ficaram a cargo de Bebê Kramer e Ferragutti (que também executa acordeon).
Singelo, porém vigoroso, este projeto apresenta uma Letícia imersa em suas ideias em uma peculiar sonoridade. Os híbridos acordes que embalam as divagações da compositora sobre os mais variados temas fazem de “As cartas de amor e saudade” um álbum audacioso onde a artista apresenta-se de modo visceral e único a partir de composições intrinsecamente arregimentadas por letras bem escritas e uma sonoridade que dá ao disco uma unidade precisa. De modo singular cada faixa borda no disco os mais distintos temas e isso faz com que consequentemente seja também vivenciada as mais diversas sensações adornadas nos acordes executados brilhantemente pelos músicos que a acompanha.
“As cartas de amor e saudade” chega para coroar em definitivo um trabalho que consegue abranger as entranhas de nossa cultura desnudando-as de conceitos e rótulos a partir do dissecamento da própria artista. Desprovida de qualquer vaidade Letícia Persiles desnuda-se e entrega-se, de corpo e alma, à Deusa música demostrando ter muito mais que olhos de ressaca.


PIANO ANTIGO – Chico Jó



Na penumbra de um canto da saleta,
Ex-amante infeliz e desprezado,
O teu piano de madeira preta
Esquecido ficou, velho e quebrado.
Mal se vê sua escura silhueta
Escondida no vão do cortinado;
Lá deixaste os papéis sobre a banqueta
E a poeira e o bolor sobre o teclado.
Mas em noites de lua e de surdina
Uma sombra saudosa, feminina,
Pairar nos ares, solitária, vem
E ele recorda, enternecido, quando,
Ao se entregar a tuas mãos, chorando,
Murmurava noturnos para alguém.

quinta-feira, 26 de março de 2015

A CONCEIÇÃO DE MURILO...




A CONCEIÇÃO DE MURILO
(Dom Augusto Álvares da Silva)
I
Já não era criança
Um maranhal de fios
Grisalhava-lhe a fronte
Cismadora e rude,
Onde uns olhos profundos,
Tépidos, sombrios,
Punham tom de mistérios,
Indícios de virtude!
II
Desde muito era visto
Andar pelas esquinas,
A olhar curiosamente
A turba circunstante,
E, até fazer parar
Moças e meninas
Pra mirar-lhes de perto
As linhas do semblante!
III
Teria enlouquecido?
O rei crente e piedoso
Ordenara-lhe um dia
Desse execução
Ao seu desejo ardente.
Um quadro primoroso
A cópia mais fiel
Da Imaculada Conceição!
IV
Por isso é que ele andava
Inquieto, apreensivo,
Fitando a todo o mundo,
Olhando a toda gente,
Pra ver se achava enfim
Caracterizada e vivo
Modelo ideal
Que brinca-lhe na mente!
V
Esta? Não serve.
Aquela? Causa pena vê-lo
A angústia em que se agita
Sua alma torturada,
Por não achar nenhures
pálido modelo.
Que possa traduzir
Esta alma imaculada!
VI
Junto às prisões do estado,
Em pedra humana e fria,
das ruas de Madrid,
O sol ia já posto.
Uma pobre menina,
Em prantos, escondia,
na noite do seu véo
a aurora do seu rosto!
VII
Murilo aproximou-se
Delicadamente:
Por que choras assim?
Levanta-te, sê forte!
Ela volveu-lhe o rosto,
E disse simplesmente:
Meu pai está preso ali
Está condenado à morte!
VIII
Ao contemplar desnuda
a fronte peregrina,
Artista, ele estaca,
E arrebatado vai
Tomando-a pela mão
Dizendo-lhe: menina, vem comigo,
E eu livrarei teu pai!
IX
Meu pai, senhor, é mouro,
E o rei que nos persegue
É bárbaro, é cruel,
apesar de ser cristão.
Dos nossos, nem um só
Que foi-lhe entregue
Senão para morrer
Saiu desta prisão!
X
Menina, vem comigo,
E eu juro: a liberdade
Será dada a teu pai,
Herege ou criminoso.
O rei que dizes mau
E afeito a crueldade,
Tem o sangue espanhol
Ardente e generoso!
XI
Vem! Vamos daqui!
Partamo-nos depressa
Que teu pai será livre!
Esta esperança é um fato!
Porque o rei cumprirá
Fiel sua promessa
De dar-me o que eu pedir,
Em troca de um retrato!
XII
Sim, O REI prometeu
Se eu lhe pintasse a gosto
A Conceição sem mandra
Espórtula avultada.
E, criança, tu tens
Nos traços do teu rosto,
Os traços mais fiéis
De uma alma imaculada!
XIII
Anda! pois, e ela foi...
O artista satisfeito
Tem-na diante de si.
A vasta cabeleira em ondas
Soltas, o olhar fitando o céu,
As mãos em cruz no peito,
E aos poucos murmurando:
Então, meu pai não volta?
XIV
Quando tudo acabou,
Nervosamente ufano
Tomou-a pela mão
E alteando a vóz lhe disse:
Agora, vem comigo.
Ouviste? O soberano
Prometeu pagar-me
O preço que eu pedisse.
XV
Quando chegaram lá,
Era o palácio em festa.
Clero, nobreza e povo,
A fina flor da Espanha
A uma mera exposição
de um quadro novo.
Empresta a rodo ali
Solenidade estranha!
XVI
Ia-se inaugurar
A Virgem de Murilo,
Quando um oh de repente
Em meio à sala estoura!
Estava junto ao pintor
Impávido, tranquilo,
Inquieta e perturbada
A pobrezinha moura!
XVII
Nisto ergue-se a cortina
E esplêndido aparece
O retrato fiel
Da moura ali presente.
O olhar fitando o céu
Mimosa boca em prece,
Onde brinca um sorriso
Ingênuo, inocente!
XVIII
Ao correr da cortina
A sala estruge em palmas!
E os olhares se vão da moura à tela.
O rei ao pintor genial
Que assim retrata as almas.
Pede-me quanto quiseres,
Diz, que eu te darei!
XIX
Senhor! Se meu trabalho algum valor alcança.
Se m’o quereis pagar,
Murilo principia.
Então dai liberdade
Ao pai desta criança,
Em honra da beleza
E em honra de Maria!
XX
E as duas portas férreas
Da prisão do estado
Abriram-se par em par.
E da prisão sombria
Viu-se sair liberto
um condenado,
louvando a Conceição
sem manchas de Maria!