domingo, 26 de agosto de 2012

O CENTENÁRIO DE NELSON RODRIGUES...


PELO JORNALISTA LUIZ BERTO FILHO...

 
Nelson Rodrigues (Recife, Ago/1912 — Rio de Janeiro, Dez/1980)
Nelson Rodrigues só fez mesmo nascer em Pernambuco, na cidade de Recife, em agosto de 1912. Quatro anos depois, mudou-se para o Rio de Janeiro onde viveu toda sua vida e onde produziu sua obra.
Se vivo fosse, completaria neste dia 23 de agosto exatamente 100 anos.
Nelson foi dramaturgo, cronista e jornalista. Não morro de amores por sua obra pra teatro, mas acho arretadas suas crônicas e seu estilo literário. Mesmo não sendo apaixonado por futebol, sempre tive na conta de geniais suas crônicas esportivas, um ramo no qual ele criou um estilo próprio e absolutamente peculiar.
Todavia, minha paixão mesmo na obra rodrigueana são as suas frases. Um criador insuperável, primeiro sem segundo, nesta arte mordaz e com a qual Nelson aniquilava amigos e adversários com um único tiro certeiro. Suas arengas com o grande pensador católico Alceu Amoroso Lima, que usava o pseudônimo de Tristão de Athayde, ficaram inscritas definitivamente entre os pontos altos dos anos 60 no Brasil. Os “padres de passeatas“, que eram os freis bettos da época, tanto quanto Dom Helder Câmara, também experimentaram o peso de sua ironia. As feministas, então, só faltavam meter o dedo na bacurinha pra rasgar. De raiva.
“Nem toda mulher gosta de apanhar. Só as normais. As neuróticas reagem”
Sou apaixonado pela incorreção política de Nelson. Neste campo, ele é meu ídolo e meu guia.
A próxima postagem, logo abaixo desta, traz uma crônica de Zuenir Ventura, bastante reveladora sobre a personalidade de Nelson Rodrigues. Neste dia de hoje quero homenageá-lo reproduzindo algumas frases, todas tiradas do livro de Ruy Castro,  “As 1.000 melhores frases de Nelson Rodrigues” Companhia das Letras, 1997.
Antes de relacionar as frases do livro, vou transcrever duas outras bem oportunas:
“Por definição o esquerdista é voltado para os interesses gerais, mais do que para os próprios. Roderick Long descreve a esquerda como uma “preocupação pelos direitos dos trabalhadores, pela plutocracia (sic), pelo feminismo e vários tipos de igualdade social”. (Goiano Braga Horta)
“Não há ninguém mais bobo do que um esquerdista sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer.” (Nelson Rodrigues)
E, agora, vamos às frases de Nelson.
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A solidão começou para o verdadeiro católico. Tomem nota: — ainda seremos o maior povo ex-católico do mundo.
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O casamento já é indissolúvel na véspera.
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A educação sexual só devia ser dada por um veterinário.
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Antigamente, o defunto tinha domicílio. Ninguém o vestia às pressas, ninguém o despachava às escondidas. Permanecia em casa, dentro de um ambiente em que até os móveis eram cordiais e solidários. Armava-se a câmara-ardente num doce sala de jantar ou numa cálida sala de visitas, debaixo dos retratos dos outros mortos. Escancaravam-se todas as portas, todas as janelas; e esta casa iluminada podia sugerir, à distância, a idéia de um aniversário, de um casamento ou de um velório mesmo.
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Sou contra a pílula, e ainda mais contra a ciência que a inventou; a saúde pública que a permite; e o amor que a toma.
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Diz o dr. Alceu que a Revolução Russa é “o maior acontecimento do século”. Como se engana o velho mestre! O “maior acontecimento do século” é o fracasso dessa mesma revolução.
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O dr. Alceu fala a toda hora na marcha irreversível para o socialismo. Afirma que a Revolução Russa também é irreversível. Em primeiro lugar, acho admirável a simplicidade com que o mestre administra a História, sem dar satisfações a ninguém, e muito menos à própria História. Não lhe faria mal nenhum um pouco mais de modéstia. De mais a mais, quem lhe disse que a Revolução Russa é irreversível?
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Só Deus sabe que fiz o diabo para ser amigo do nosso Tristão de Athayde. Durante cinco anos, telefonei-lhe em cada véspera de Natal: — “Sou eu, dr. Alce. Vim desejar-lhe um maravilhoso Natal para si e para os seus” etc etc. Tudo inútil. O dr. Alceu trancou-me o coração. Até que, na última vez, disse algo que, para mim, foi uma paulada: — “Ah, Nelson! Você aí, nessa lama!”. O mestre insinuara que a minha alma é um mangue, um pântano, um lamaçal. E, por certo, ao sair do telefone, foi se vacinar contra o tifo, a malária e a febre amarela que vivo a exalar. Pois é o que nos separa eternamente, a mim e ao dr. Alceu: — de um lado, a minha lama, e , de outro, a sua luz.
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Outrora, o remador de Ben-Hur era um escravo, mas furioso. Remava as 24 horas por dia, porque não havia outro remédio e por causa das chicotadas. Mas, se pudesse, botaria formicida no café dos tiranos. Em nosso tempo, o socialismo inventou outra forma de escravidão: — a escravidão consentida e até agradecida.
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A Igreja está ameaçada pelos padres de passeata, pelas freiras de minissaia e pelos cristãos sem Cristo. Hoje, qualquer coroinha contesta o Papa.
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O padre de passeata é hoje, uma ordem tão definida, tão caracterizada como a dos beneditinos, dos franciscanos, dos dominicanos e qualquer outra. E está a serviço do ódio.
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Os padres exigem o fim do celibato. Portanto, odeiam a castidade. Imaginem um movimento de meretrizes a favor da castidade. Pois tal movimento não me espantaria mais do que o motim dos padres contra a própria.
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Os padres querem casar. Mas quem trai um celibato de 2 mil anos há de trair um casamento em quinze dias.
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O tempo das passeatas acabou, mas o padre de passeata continua, inexpugnável no seu terno da Ducal e vibrando, como um estandarte, um Cristo também de passeata.
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D. Helder só olha o céu para saber se leva ou não o guarda-chuva.
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D. Helder já esqueceu tanto a letra do Hino Nacional quanto a da Ave-Maria. Prega a luta armada, a aliança do marxismo e do cristianismo. Se ele pegasse uma carabina e fosse para o mato, ou para o terreno baldio, dando tiros em todas as direções, como um Tom Mix, estaria arriscando a pele, assumindo uma responsabilidade trágica e eu não diria nada. Mas não faz isso e se protege com a batina. Sabe que um D. Helder sem batina, um D. Helder almofadinha, de paletó ou de terno da Ducal, não resistiria um segundo. Nem um cachorro vira-lata o seguiria.
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Estou imaginando se, um dia, Jesus baixasse à Terra. Vejo Cristo caminhando pela rua do Ouvidor. De passagem, põe uma moeda no pires de um ceguinho. Finalmente, na esquina a Avenida, Jesus vê D. Helder. Corre para ele; estende-lhe a mão. D. Helder responde: — “Não tenho trocado!”. E passa adiante.
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No Brasil, só se é intelectual, artista, cineasta, arquiteto, ciclista ou mata-mosquito com a aquiescência, com o aval das esquerdas.
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Não há ninguém mais bobo do que um esquerdista sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer.
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As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado.
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Considero o filho único um monstro de circo de cavalinhos, um mártir, mártir do pai, mártir da mãe e mártir dessas circunstâncias. As famílias numerosas são muito mais normais, mais inteligentes e mais felizes.
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Na velha Rússia, dizia um possesso dostoievskiano: — “Se Deus não existe tudo é permitido”. Hoje, a coisa não se coloca em termos sobrenaturais. Não mais. Tudo agora é permitido se houver uma ideologia.
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Quando os amigos deixam de jantar com os amigos [por causa da ideologia], é porque o país está maduro para a carnificina.
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Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.
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[Até o século XIX] o idiota era apenas o idiota e como tal se comportava. E o primeiro a saber-se idiota era o próprio idiota. Não tinha ilusões. Julgando-se um inepto nato e hereditário, jamais se atreveu a mover uma palha, ou tirar um cadeira do lugar. Em 50, 100 ou 200 mil anos, nunca um idiota ousou questionar os valores da vida. Simplesmente, não pensava. Os “melhores” pensavam por ele, sentiam por ele, decidiam por ele. Deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas. Estes descobriram que são em maior número e sentiram a embriaguez da onipotência numérica. E, então, aquele sujeito que, há 500 mil anos, limitava-se a babar na gravata, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, culturalmente etc. houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas.
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Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: — ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina.
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Qualquer indivíduo é mais importante que toda a Via Láctea.
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Ainda ontem dizia o Otto Lara Resende: — “O cinema é uma maneira fácil de ser intelectual sem ler e sem pensar”. Mas não só o cinema dá uma carteirinha de intelectual profundo. Também o socialismo. Sim, o socialismo é outra maneira facílima de ser intelectual sem ligar duas idéias.
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Eu amo a juventude como tal. O que eu abomino é o jovem idiota, o jovem inepto, que escreve nas paredes “É proibido proibir” e carrega cartazes de Lenin, Mao, Guevara e Fidel, autores de proibições mais brutais.
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Com o tempo e o uso, todas as palavras se degradam. Por exemplo: — liberdade. Outrora nobilíssima, passou por todas as objeções. Os regimes mais canalhas nascem e prosperam em nome da liberdade.
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Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade! A dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura.
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Como a nossa burguesia é marxista! E não só a alta burguesia. Por toda parte só esbarramos, só tropeçamos em marxistas. Um turista que por aqui passasse havia de anotar em seu caderninho: — “O Brasil tem 100 milhões de marxistas”.
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Hoje, o não-marxista sente-se marginalizado, uma espécie de leproso político, ideológico, cultural etc etc. Só um herói, ou um santo, ou um louco, ousaria confessar publicamente: — “Meus senhores e minhas senhoras, eu não sou marxista, nunca fui marxista. E mais: — considero os marxistas de minhas relações uns débeis mentais de babar na gravata”.
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No Brasil, o marxismo adquiriu uma forma difusa, volatizada, atmosférica. É-se marxista sem estudar, sem pensar, sem ler, sem escrever, apenas respirando.
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Marx roubou-nos a vida eterna, a minha e a do Otto Lara Resende. Pois exigimos que ele nos devolva a nossa alma imortal.
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As cartas de Marx mostram que ele era imperialista, colonialista, racista, genocida, que queria a destruição dos povos miseráveis e “sem história”, os quais chama de “piolhentos”, de “anões”, de “suínos” e que não mereciam existir. Esse é o Marx de verdade, não o da nossa fantasia, não o do nosso delírio, mas o sem retoque, o Marx tragicamente autêntico.
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O mundo é a casa errada do homem. Um simples resfriado que a gente tem, um golpe de ar, provam que o mundo é um péssimo anfitrião. O mundo não quer nada com o homem, daí as chuvas, o calor, as enchentes e toda sorte de problemas que o homem encontra para a sua acomodação, que aliás, nunca se verificou. O homem deveria ter nascido no Paraíso.
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Nas velhas gerações, o brasileiro tinha sempre um soneto no bolso. Mas os tempos parnasianos já passaram. Hoje, ferozmente politizado, ele tem sempre à mão um comício.
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Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso é o psicanalista.
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É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez.
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A Rússia, a China e Cuba são nações que assassinaram todas as liberdades, todos os direitos humanos, que desumanizaram o homem e o transformaram no anti-homem, na antipessoa. A história socialista é um gigantesco mural de sangue e excremento.
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Tão parecidos, Stalin e Hitler, tão gêmeos, tão construídos de ódio. Ninguém mais Stalin do que Hitler, ninguém mais Hitler do que Stalin.
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Vocês se lembram da fotografia de Stalin e Ribbentropp assinando o pacto nazi-comunista. Ninguém pode esquecer o riso recíproco e obsceno. Se faltou alguém em Nuremberg — foi Stalin.
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Havia, aqui, por toda parte, “amantes espirituais de Stalin”. Eram jornalistas, intelectuais, poetas, romancistas. Outros punham nas paredes retratos de Stalin. Era uma pederastia idealizada, utópica e fotográfica.
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Sou um pobre nato e, repito, um pobre vocacional. Ainda hoje o luxo, a ostentação, a jóia, me confundem e me ofendem.
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Hoje, o sujeito prefere que lhe xinguem a mãe e não o chamem de reacionário.
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Em muitos casos, a raiva contra o subdesenvolvimento é profissional. Uns morrem de fome, outros vivem dela, com generosa abundância.
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O povo é um débil mental. Digo isso sem nenhuma crueldade. Foi sempre assim e assim será, eternamente.

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