terça-feira, 28 de junho de 2011
SOBRE A CACHAÇA...
Cego Aderaldo
Cachaça é bebida boa
O povo chama “branquinha”:
Botam mel pra ficar doce
Então chamam “meladinha”,
Mas sai com as pernas trançando
Como quem cose bainha!
Os que gostam de aguardente
Não devem beber demais,
Que um velho de oitenta anos
Bebendo quer ser rapaz,
E no banho veste a calça
Com a barguilha pra trás.
* * *
Francisco Evaristo
O homem degenerado
Que se vicia a beber
Quando está puxando fogo
Só trata em aborrecer,
Faz coisas que o diabo
Faz questão pra não querer…
A cachaça, meus amigos,
Sempre só faz ação feia:
Logo que o cabra a toma
A todo mundo aperreia,
Precisa até a policia
Levá-lo logo à cadeia…
E termina até na peia
Devido ser imprudente
Depois se solta, mas fica
Tristonho e muito doente
Tudo isso só porque
Meteu-se na aguardente
Eis a razão porque digo
Dela qual o seu defeito:
Ataca primeiro o cérebro
Come o “figo”, acaba o peito,
E depois do mal tá crônico
Não há médico que dê jeito.
* * *
Zé da Venda
Carro sem roda não anda
Bebo deitado não cai
Corno em casa não manda
E cana sem ponche não vai.
* * *
Ascenso Ferreira
Suco de cana caiana
passado nos alambiques,
pode ser que prejudique,
mas bebo toda sumana .
* * *
Raminho
Aguardente é moça branca,
filha do velho usineiro.
Por causa dessa derrota,
hoje sou um cachaceiro.
* * *
Chico de Noca
Para quem bebe aguardente,
Se mete num grande porre,
Dá, apanha, mata ou morre
O beber não é decente…
Porém dando pra contente
Ou mesmo pra entristecer,
Podendo a cana fazer
Tornar-se franco um sovino,
Direi sempre que combino:
Não é defeito o beber!
* * *
Zé Preto
Nasce um menino e se cria
Na proa duma barcaça.
Não há serviço no mar
quesse menino num faça.
Quando se ajunta c’uns outros,
Começa a beber cachaça.
* * *
Siqueira de Amorim
Aguardente geribita
feita da cana caiana
Eu bebo desde o começo
Até o fim da semana
O cantador só é forte
Quando canta e bebe cana!
Um pouquinho de aguardente
A muita gente conforta:
Faz esquecer a tristeza,
Revive a esperança morta
Até as mulheres bebem
Também por detrás da porta!
Quando eu pego na viola
Disposto a cantar repente
Digo ao dono do “pagode”:
— Traga um pouco de aguardente…
Bebo pra matar o frio
E bebo pra ficar quente!
Hoje bebe todo mundo
Deputado e senador,
Bebe o soldado, o sargento,
O juiz, o promotor.
Como é que pode deixar
De beber o cantador?
* * *
Edinho de Magali
Sou canista sem segundo
Bebo mais que toda a gente
Se o veneno da serpente
Fosse cachaça com sobra
Eu desejava ser cobra
Tanto gosto de aguardente.
* * *
Zé Quincas
Se o rapaz fez mal à moça
E assaltou na sacristia
A culpa é da ‘marvada’
O pastor já bem dizia.
Se o rico bebeu uísque
E caiu no mictório,
Se excedeu, coitado, é pena
Não deve haver falatório.
Vomitou bem no decote
Da mulher do seu amigo
Correu nu em gritaria
Se borrou até o umbigo.
Esqueceu a mãe no freezer
CPF no bidê
Empurrou a avó na escada
Se for contar, ninguém crê
A cena é cotidiana,
‘Tudo isto é tolerável…
Quem não erra? – reza o dito,
O doutor é tão amável’
Mas, se um pobre bebe cana
É só diz uma verdade,
É cachaceiro, doente,
Não é de sociedade.
Um preconceito tarado
Grava a nossa cachaça
Sem razão, sem argumento,
Uma febre que não passa.”
* * *
Cancioneiro popular sergiano
Água de cana é cachaça
Concha pequena é cuié
Língua de véia é a desgraça
Bicho danado é muié.
* * *
Taioca dos Palmares
Bebo cana toda hora
Bebo cana todo dia
No dia que bebo cana
Burra peida e gata mia
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