Merval Pereira
Definitivamente a imprensa livre e as críticas não fazem bem aos políticos brasileiros, seja de que ideologia forem. Vários deles ontem tiveram ataques de nervo, reagindo de maneiras diversas, mas todas beirando a histeria, a críticas recebidas.
O deputado do PP Jair Bolsonaro, cuja atuação política é marcada por atitudes radicais e provocações baratas, teve o desplante de subir à tribuna da Câmara para insinuar, aos berros, que a presidente Dilma tem tendências homossexuais.
Criticado por todos seus colegas, disse que não pediria desculpas, mas tentou explicar que sua frase, embora possa ter dado essa impressão, não queria dizer que a presidente era homossexual, mas sim que ela “gostava” de homossexuais, no sentido de que apoiava suas reivindicações.
O mesmo Bolsonaro já protagonizara inaceitável episódio anteriormente, levando para o plenário da Câmara o tenente-coronel do Exército Lício Augusto Ribeiro, que prendeu e interrogou em 1972 o então guerrilheiro do Araguaia José Genoino.
O ministro das Cidades, Mario Negromonte, também do PP, derramou lágrimas (de crocodilo?) ao ser homenageado por seguidores, numa tentativa de prestar-lhe solidariedade contra as denúncias de que seu ministério fraudou um documento para mudar o projeto de transporte de Cuiabá para a Copa do Mundo: em vez de uma linha rápida de ônibus (BRT), a alteração permitiu, contra parecer técnico, a contratação de um Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), aumentando em R$ 700 milhões o custo da obra.
Há gravações de reuniões em que pressões claras foram feitas, e documentos que provam que o parecer técnico original foi adulterado.
No entanto, o ministro se diz “perseguido pela imprensa do sul”, que teria “desprezo por nordestino”.
Também o ex-presidente José Sarney, atual presidente do Senado, soltou uma nota indignada em seu blog oficial, intitulada “A política e a burrice”, onde afirma, entre outras coisas, que os que criticam o fato de a Fundação José Sarney ter sido assumida pelo governo do Maranhão, por proposta de sua filha, a governadora Roseana Sarney, reúnem “todos aqueles defeitos que movem o ódio político: a inveja, a burrice e a ingratidão”.
Na visão do ex-presidente, são injustas as críticas “de alguns idiotas”, pois doou com “grandeza, amor e desprendimento” ao povo do Maranhão “um patrimônio, como o que outros presidentes venderam, do meu valioso arquivo de mais de um milhão de documentos, três mil peças de museu de obras de arte e uma biblioteca de mais de 30.000 livros, muitos raríssimos, que acumulei ao longo de minha vida”.
A Fundação Sarney funciona no Convento das Mercês, um prédio do século XVII, tombado pelo Patrimônio Histórico, que foi doado à família Sarney pelo aliado político e então governador Epitácio Cafeteira, o que também mereceu críticas.
Acho normal que um prédio público abrigue a fundação de um ex-presidente da República, embora essa não seja a prática internacional e nem mesmo local.
Os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula mantêm fundações com os mesmo objetivos de Sarney em prédios próprios e mantidas com doações privadas.
Daí a um estado pobre como o Maranhão ter que custear a manutenção da fundação vai uma distância grande, por mais que o Estado deva comemorar seu filho ilustre, único presidente da República maranhense na História até o momento.
Seria preciso que o país tivesse mecanismos, como existem, por exemplo, nos Estados Unidos, para que os acervos dos ex-presidentes, quando fosse o caso, pudessem ser incorporados ao patrimônio nacional, como a Biblioteca Nixon, que acabou fazendo parte do sistema de bibliotecas nacionais do país.
Mas esse é um passo grande demais para um país de tantas necessidades.
Já o ex-deputado cassado José Dirceu voltou a seu tema obsessivo, o controle dos meios de comunicação, que ele chama de “regulamentação”.
No seminário do PT para debater o tema, mesmo garantindo que não haverá ameaça à liberdade de imprensa, Dirceu fez críticas à imprensa de maneira geral não se conteve e explicitou o objetivo da ação quando soltou, em meio a seu discurso, a seguinte pérola:
“Os proprietários de veículos de comunicação são contra nós do PT. Fazem campanha noite e dia contra nós. Só lamento que não haja jornal de esquerda, que seja a favor do governo.”
Para desmenti-lo, mesmo que sem querer, o líder do PT, deputado Paulo Teixeira, fez uma homenagem aos blogueiros “de esquerda” que apóiam o governo, afirmando que eles ajudam a “democratizar a mídia”.
O presidente do PT, Rui Falcão, arranjou um subterfúgio para justificar a obsessão petista de regulamentar a mídia, como eles chamam o conjunto de órgãos de informação que atuam no país.
Agora, em vez de controlar os meios de comunicação, intenção que sempre negaram, os petistas querem mesmo é “protegê-los” das leis do mercado.
O termo “controle social” da mídia, que era o mote principal sempre que se falava do assunto, será abandonado, por sugestão do ex-ministro da Comunicação do governo Lula, Franklin Martins, que o considerou “ambíguo e ruim”.
No seu lugar, surgiu a palavra “proteção”. O presidente do PT, Rui Falcão, passou a usar o termo sempre que abordava o tema, alegando que sem uma legislação que a protege, a “mídia” fica à mercê da “lei da selva”.
Na mesma batida, Franklin Martins usou o argumento de que as regras que o PT quer criar servirão para proteger as emissoras de rádio e televisão. Segundo ele, “comunicações é um vale-tudo, um faroeste caboclo.”
E o PT, em vez de bandido, quer se apresentar como o “mocinho”…
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