segunda-feira, 7 de novembro de 2011

SAUDADES...

Sinto saudades...LUCIANE TREVEJO

Constantemente.

Saudades do cheiro da minha lancheira da escolinha e da ansiedade por abri-la no meio das manhãs e pegar a garrafinha plástica com suco de groselha quase gelado, o pedaço de bolo e o pao com manteiga.

Saudades de como meu primeiro cachorro me queria bem e do meu cheiro misturado ao cheiro dele no final das tardes.

Sinto saudades do pão torrado com café que minha avó me fazia. Do cheiro do leite com açúcar queimado que ela me trazia quando estava com dor de garganta.

Sinto imensa saudade de amamentar minha filha e da carinha de satisfação que ela me lançava enquanto alimentava-se.

Saudades da tranquilidade emanada de um amor que um dia senti, e que ja nao existe mais.

Saudades do meu avô, e da forma como ele me via.

Eu sinto saudades das tardes no clube, regadas a risada, despreocupação e coca-cola.

Sinto saudades do toque, do sabor e do cheiro do objeto do meu desejo e do modo como ele me toca e faz minhas pernas bambearem.

Sinto saudades das crianças pequenas, ao redor da arvore, esperando Papai Noel chegar.

Sinto saudades de amigos que moram longe, da alegria que sinto em revê-los.

Eu sinto saudades das pessoas que se foram para nunca mais voltar, querendo eu, ou não.

Sinto saudades da vida que nao vivi, da paz que nao consegui, do caminho que nunca se fez, das pontes que nunca foram construídas para se chegar até mim.

Sinto saudades dos momentos bons que a vida me proporcionou, daqueles que me recusei a receber e até mesmo daqueles que não tive, mas quis ter.

Sinto saudades do meu primeiro All Star, do dia em que li “positivo” e soube que entao, eu nao estava mais só no mundo.

Sinto saudades do cheiro de fumo de corda que tinha nas pontas dos dedos de minha avó.

Eu sinto saudades de minha bisavó levando leite com ovomaltine pra mim na cama.

Sinto saudades do seu Miguel Bijuzeiro, sobretudo em momentos de fome.

Sinto saudades do cheiro da grama molhada e do cheiro da chuva.

Sinto saudades dos amigos da infância.

Sinto saudades do cheiro da massinha de modelar que a tia nos dava na escolinha Pinócchio.

Sinto saudades do primeiro beijo, mas sinto muito mais do último.

MInha saudade mora longe, e eu sou apenas uma menina. Nao consigo alcançá-la nunca.

Estendo os braços, as maos e a ponta dos dedos e ainda assim ela me foge.

Talvez eu deva deixá-la lá longe e viver somente o presente, abrir cada laço de fita que envolve as caixas que me são entregues e ser feliz agora, com as possibilidades a mim apresentadas, para que no futuro, eu ainda continue tendo momentos felizes para recordar.

Se isso é tudo que ambiciono?

Não. Claro que nao. Eu quero baús repletos de felicidade. Felicidade em metro, em litros, em saquinhos descartável, em embalagens tetra pack. Eu quero a felicidade todos os momentos. Quero dormir e acordar feliz e tranquila. Eu quero a sorte de ter essa felicidade.

E sempre, sempre poder olhar para traz e ter do que sentir saudades.

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