Carlos Chagas
A agressão do deputado Jair Bolsonaro à presidente Dilma Rousseff tem raízes podres. Mais do que atingir a chefe do governo, sem preocupar-se em criticar sua administração preferiu tirar do lixo a própria frustração. Não agüentou ver uma ex-participante da luta armada contra a ditadura sancionando a criação da Comissão da Verdade, quando mesmo sem levar a julgamento os responsáveis por crimes de tortura e assassinato, será possível identificá-los e apontá-los à execração pública.
Foi essa a razão do destempero do parlamentar que há décadas identifica-se com o que de pior emergiu do regime militar. Assistir uma antiga guerrilheira exercer a presidência da República e a chefia suprema das forças armadas já representou um golpe para o ex-capitão eleito às custas do ressentimento de minorias retrógradas. Mas foi demais ver Dilma compondo um grupo destinado a revelar as entranhas da ditadura.
Engana-se quem supuser aplaudindo Bolsonaro os participantes e os partidários do período em que os militares detiveram o poder. Pelo contrário. Mesmo os mais arraigados defensores daqueles anos bicudos rejeitam a intervenção do tresloucado representante do Rio. Vão engolir a Comissão da Verdade e, se tiverem condições, aproveitarão a oportunidade para ajudar a memória nacional a desvendar o outro lado, ou seja, identificar aqueles que em nome da luta contra o regime também assassinaram, seqüestraram e torturaram. Coisa que só os tarados admitem, porém, é apoiar as aleivosias do deputado contra a presidente.
A esse propósito, muita gente sustenta que o Conselho de Ética da Câmara deveria abrir processo contra Bolsonaro, chegando até a cassar-lhe o mandato. Melhor não. Seria dar mais palco ao palhaço. Oferecer-lhe a condição de vítima. É preferível que continue a ocupar o lugar que lhe cabe no Congresso: o esgoto, que também corre nas profundezas.
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