quinta-feira, 24 de novembro de 2011

SOBRE A AMPULHETA...

Diários de amor perdido XIII - João José de Melo Franco

Ele esperou… Tanto, tanto, tanto… E esperou de tal modo, como se fora sua sina e o mais íntimo fado, que não mais lembrava quantas vezes virara a ampulheta.

E a virara tanto, tanto, tanto… que apagou a hora e afastou o pranto, até se transformar no girar dessa ampulheta e, depois, na areia que caía e recaía e, finalmente, no deserto de onde trouxeram a areia.

Assim, homem-deserto, na mais negra de suas noites, fitou perplexo a abóbada repleta de astros, onde divisou as constelações copulando há bilhões de anos, muito antes da espécie humana florescer sobre a terra, então imarcescida…

Assim, homem-deserto, entendeu, pela primeira vez, que a vida é portal e passagem e, por isso, já passado… Que do passado a saudade nos aferra e aprisiona e o tempo é seu cárcere.

Todos os homens do mundo já foram esse homem.

João José de Melo Franco nasceu em Barretos, São Paulo, em 1956, e hoje, reside no Rio de Janeiro. É poeta, tradutor, publicitário, cineasta e editor, e estreou, em 1979, com o livro Primeira Poesia. Depois publicou Esse Louco Desejo (1980) e Amor Perfeito (1984). Em 2006, depois de 20 anos afastado do mercado editorial, publicou O Mar de Ulisses, pela Ibis Libris Editora. Em 2010, publicou Pequeno Dicionário Poético.

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