Sandro Vaia
Quando você começa a se acostumar com a idéia de que, apesar das evidências de que mentiu, o ministro Carlos Lupi continuará no cargo até a reforma ministerial, eis que surge na avenida um novo samba enredo.
Enquanto o ministro que ama a presidenta está garantido por mais alguns meses, o outro, Mario Negromonte, das Cidades, que já andava na berlinda há alguns meses, é acusado agora de facilitar uma fraude que aumenta em 700 milhões os gastos previstos para um projeto de mobilidade urbana a ser realizado em Cuiabá (MT), para a Copa do Mundo de 2014.
O truque foi relativamente simples: havia no ministério um processo para a construção de uma linha rápida de ônibus em Cuiabá, ao custo de 500 milhões de reais.
O governo de Mato Grosso alterou o projeto para a construção de um VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos) que custaria 1,2 bi, 700 milhões a mais do que o projeto original.
Um parecer de 16 páginas produzido pela assessoria técnica do próprio ministério foi contra a construção do VLT não só por causa do custo, mas também por causa dos prazos e da falta de estudos comparativos entre as duas modalidades de transporte.
Com autorização do chefe de gabinete do ministro das Cidades, Cassio Peixoto, e com o aval do próprio ministro, o parecer contrário da área técnica foi substituído por um parecer favorável, que foi inserido no processo com o mesmo número de páginas do parecer original e com o mesmo número de nota técnica: 123/2011.
O novo parecer teria sido feito pela diretora de Mobilidade Urbana do ministério, Luiza Gomide Vianna.
Enquanto o PPS pedia ao TCU para que investigasse o caso, o Ministério das Cidades divulgava uma nota dizendo que a mudança de parecer teve “caráter técnico” e é “um procedimento normal”.
Diz ainda a nota do Ministério:
“Seguindo o rito processual da administração pública, os técnicos envolvidos no trabalho discutiram, analisaram e reavaliaram a pertinência ou não do novo modelo de transporte proposto pelo Governo do Estado, tendo manifestado opinião divergente ao parecer final, opinião essa que foi revisada e refutada tecnicamente no momento da conclusão da análise”.
O líder do governo, Cândido Vacarezza, teve a mesma reação que costuma ter sempre que aparece uma denúncia ou suspeita sobre a administração pública: é preciso ver se existe o documento, não podemos permitir linchamentos, e as platitudes já consagradas do gênero.
Segundo a tabela da FIFA, Cuiabá vai sediar quatro jogos pela série B da Copa do Mundo de 2014, e é bem possivel que conseguisse melhorar bastante a sua mobilidade urbana com ônibus de 500 milhões sem precisar de trens de 1,2 bilhões.
Uma coisa é certa: há mais mistérios entre a Copa do Mundo e as obras públicas do que sonha nossa vã filosofia.
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