domingo, 20 de novembro de 2011

POESIA...

Jadson Lima glosando o mote:

É assim quando amanhece
nas quebradas do sertão

O galo acorda cantando
com um grande alarido
o vaqueiro adormecido
que podia tá sonhando
a bezerrama berrando
e ele vê no mourão
o maldoso gavião
que foi num foi aparece
é assim quando amanhece
nas quebradas do sertão.

Canta lá no cajueiro
o lindo galo campina
apaga-se a lamparina
que ilumina o terreiro
na copa dum juazeiro
canta forte um carão
chapéu perneira e gibão
o vaqueiro embonitesse
é assim quando amanhece
nas quebradas do sertão.

Logo um cheiro de café
se espalha pelo terreiro
vem o vaqueiro faceiro
beija os filhos e a mulher
pede a Deus com muita fé
que abençoe esse chão
terminada a oração
de estrada a fora desse
é assim quando amanhece
nas quebradas do sertão.

Vem o sol com sua grandeza
clareando os passarinhos
de longe brilha os espinhos
dá ao cardeiro beleza
a cobra acha uma presa
um pobre camaleão
é pego de supetão
isso sempre acontece
é assim quando amanhece
nas quebradas do sertão.

Na vereda um preá
se espoja em sua cama
suja-se o porco na lama
ali canta um sabiá
lindo pé de trapiá
brilha na separação
foi-se embora a escuridão
e a coruja emudece
é assim quando amanhece
nas quebradas do sertão.

Vai o vaqueiro aboiando
em versos de poesia
sentindo muita alegria
do dia que tá chegando
ele sai cantarolando
com amor no coração
sua vida é uma canção
a Deus pai ele agradece
é assim quando amanhece
nas quebradas do sertão.

* * *

João Paraibano glosando o mote:

Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no Sertão.

O bezerro mamando a cauda abana;
A espuma do leite cobre o peito;
Cada estaca de cerca tem direito
A um rosário de flor da jitirana.
No impulso do vento a chuva espana
A poeira do palco do verão;
A semente engravida e racha o chão,
Descansando dos frutos que germina.
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três dias de chuva no Sertão.

Quando Deus leva em conta a nossa prece
O relâmpago clareia, o trovão geme,
Uma nuvem se forma, o vento espreme,
Pelos furos do véu, a água desce;
A campina se enfeita, a rama tece
Um tapete de folhas sobre o chão;
Cada flor tem formato de um botão
No tecido da roupa da campina.
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no Sertão.

No véu negro da barra, o sol se esconde;
Um caniço amolece e cai no rio;
Nos tapetes de grana do baixio,
Um tetéu dá um grito, outro responde;
A frieza da terra faz por onde
Pé de milho dar nó no esporão
E a boneca, na sombra do pendão,
Lava as tranças com gotas de neblina.
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no Sertão.

A presença do Sol é por enquanto.
Onde vinga uma fruta, a flor desprende;
Cada nuvem que a mão de Deus estende
Cobre os ombros do céu, de canto a canto.
Camponês não precisa roubar santo,
Nem lavar mucunã pra fazer pão;
Faz cacimba na areia com a mão
Onde o pé deixa um rastro, a água mina.
Jesus salva a pobreza nordestina,

Com três meses de chuva no Sertão.
A cabocla mulher do camponês
Caça ninho nas moitas quando chove
Quando acha dez ovos, tira nove,
Deixa o outro servindo de indez;
As formigas de roça fazem vez
De beatas seguindo procissão;
As que vêm se desviam das que vão,
Sem mão dupla, farol e nem buzina.
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no Sertão.

Sertanejo apelida dois garrotes,
Bota a canga nos dois e desce a serra;
Passa o dia no campo arando terra,
Espantando mocó pelos serrotes;
Sabiá, pra o conforto dos filhotes,
Forra o ninho com pasto de algodão;
Bebe o suco da polpa do melão,
Limpa o bico nas varas da faxina
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no Sertão.

Treme o gado na lama do curral,
Sopra o vento, cheirando a chão molhado;
Cada pingo de chuva, congelado,
Brilha mais do que pedra de cristal.
Uma velha, durante o temporal,
Se ajoelha, rezando uma oração,
Fecha os lhos com medo do trovão
E abre a porta, depois que a chuva afina
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no Sertão.

Cresce a planta, viçosa, e frutifica
Com um cacho de flor em cada galha;
Vê-se o milho mudando a cor da palha
E o telhado chorando pela bica;
A cigarra emudece, a acauã fica
Sem direito a fazer lamentação;
Deus afina a corneta do carão,
Só depois de três meses, desafina.
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no Sertão.

* * *

Aldo Neves glosando o mote:

Seca a palha do milho bonecado
Na quentura do fogo do verão

O desgosto foi tanto que chorei
Vendo as plantas na roça se acabando
O feijão da vazante está murchando
As batatas também não arranquei
Cinco quilos de milho que eu plantei
Não chegou a soltar nem o pendão
E muito pouco mostrou o esporão
Entre as brechas do risco do arado
Seca a palha do milho bonecado
Na quentura do fogo do verão

Hora triste que eu sei é pra o vaqueiro
Vendo a vaca com fome já caída
Um bezerro berrando na bebida
Um restante de lama com mal cheiro
Sem ter água no fundo d’um barreiro
A parede marcada com um rachão
A boiada berrando sem ração
E o fantasma da seca do seu lado
Seca a palha do milho bonecado
Na quentura da fogo do verão

Sertanejo faz vez de andarilho
Sente o vento da seca lhe empurrando
Numa chuva de pranto se molhando
Vendo o sol apagando o último brilho
Lá curva ele acena pra o seu filho
Que ficou lhe olhando do portão
A saudade preenche o matulão
E pelo homem sem sorte é carregado
Seca a palha do milho bonecado
Na quentura da fogo do verão.

* * *

Jessé Costa glosando o mote:

No dia qu’eu me zangar
Mato você de carinho.

Eu, caba homem, valente
E conhecido matador
Sei como imprimir a dor
No corpo de um vivente
Mas, meio que de repente,
Tua fulô sem espinho
Brotou bem no meu caminho
E como eu não sei amar
No dia qu’eu me zangar
Mato você de carinho.

Já dormi engaiolado
Por desacatar doutor,
Meter bala em senador,
Dar bufete em delegado;
Mas hoje tô enlaçado
Na vida de passarinho,
Ganhei parelha no ninho,
E nesse amor de lascar
No dia qu’eu me zangar
Mato você de carinho.

No meio desse escarcéu,
Minha fúria foi ferida
Por tua face bandida
Que me conduziu ao céu.
Tua beleza é cruel,
Pôs-me num redemoinho.
Mas sou forte, não definho
E sei como me vingar
No dia qu’eu me zangar
Mato você de carinho.

* * *

Majó glosando o mote:

Mandei a saudade embora;
ela se foi mas voltou.

Tenho que agir agora,
vou resolver a questão,
pra poupar meu coração
mandei a saudade embora;
agi logo sem demora
pois ela a paz me roubou,
quase até que me matou
e criou ódio de mim,
querendo ver o meu fim,
ela se foi mas voltou.

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