ÁGUA NA FERVURA...POR LEONARDO MOTA.
Ouvi dizer em Minas Gerais que certo padre Elesbão era um tanto esquivo ao cumprimento de seus deveres de pastor de almas. Sacerdote velho, o que mais o aborrecia era o serviço do confessionário. Achava um abuso, e não sem razão, que beatas histéricas e rabugentas o ocupassem, dia e noite, a absolvê-las de bobices que supunham graves pecados. Homens não faziam isso; somente mulheres.
- Cavillação! – exclamava o paroco, todos os domingos, à hora da missa, após o Evangelho. – essa gente vem se confessar diariamente, por não ter, ao que me parece, outra coisa que fazer, nem outra distração. Mas eu tenho direito a repouso e não posso viver a ouvir besteiras. Por que é que os homens não fazem isso?
De nada valiam, entretanto, as exortações de Padre Elesbão, os apelos para que as devotas não teimassem em lhe azucrinar os ouvidos.
- Ahn! é assim? – disse o velho reverendo com os seus botões de batina. – Pois esperem aí que eu já lhes dou um ensino…
E, no primeiro domingo que se apresentou, falou para os fiéis:
- Meus irmãos, tudo na vida deve ser feito com método. Para regularizar o serviço do confessionário, para estabelecer certa ordem nesse pesado encargo de meu santo ministério, deliberei organizar uma tabela, segundo a qual serão ouvidas em confissão as penitentes da freguesia. Façam-me todas o especial favor de, depois da missa, prestar atenção ao quadro que será aposto à porta principal da matriz!
O tal quadro era um papelão com os seguintes categóricos dizeres:
O VIGÁRIO SÓ CONFESSARÁ
2ª feira – As casadas que namoram
3ª feira – As viúvas desonestas
4ª feira – As donzelas levianas
5ª feira – As adúlteras
6ª feira – As falsas virgens
Sábado – As mulheres da vida
Domingo – As velhas mexeriqueiras
Foi água na fervura! Desde esse dia, padre Elesbão começou a levar uma vida folgada… E, tempos depois, gabava-se ele a um colega:
- Freguesia boa é a minha: – mulher lá só se confessa em hora de morte…
Nenhum comentário:
Postar um comentário