domingo, 6 de junho de 2010
A vida como ela é...
Ivete quase não dormiu quando o marido saiu de casa. Chorou desde as cinco da tarde ao ler o pequeno bilhete:
“Desculpe amor, não quero mais lhe enganar, estou apaixonado por outra mulher, a vida não é justa, você merece toda felicidade do mundo, mas o destino me fez encontrar nova vida. Serei sempre seu amigo. Amarante”.
Há mais de dois anos Ivete sabia do namoro do marido com uma colega de jornal, 30 anos mais nova. A situação ficou insuportável, muita pressão da amante, colega jornalista, promovida agora à concubina de cama e mesa. Ivete estava aceitando ser corneada, dizia ser próprio da mulher, conformada, palavras de consolo querendo enganar a si mesma. Nunca imaginou sentir tanta a falta do marido, 29 anos de convivência.
SOLIDÃO
Sentiu pavor à solidão, mesmo com apoio da família, palavras confortantes, suas amigas foram formidáveis naquela hora de sofrimento, entretanto, a se ver sozinha ela caiu em depressão, chorava se sentindo a mais miserável da criatura humana, ofendida e humilhada, precisou algum tempo para sair de casa. Pediu afastamento na repartição, sem problemas, é prima de um vereador. As noites pareciam eternas, televisão, filmes, não tomou medicamento ou antidepressivo, agüentou o inferno astral no cru, na real, sem uma dose de álcool ou remédio, tinha certeza que superava a crise.
O FILHO
Passaram-se dois, três, quatro meses, até que chegou de férias seu único filho, Téo, mora em Brasília. Com sua capacidade de envolvimento foi arrancando a mãe do marasmo, levou-a ao Orákulo, ao Burgenville, local adequado para solteiros, descasados e viúvos. Ivete dançou com um coroa avexado, queria porque queria levá-la para seu apartamento naquela noite. Ela pediu tempo, o coroa era simpático, alegre, mas não houve a química esperada. Em casa Téo abriu os olhos da mãe, não estava em posição de muita preferência, terminaria na solidão, não fosse tão severa na escolha.
Ivete é quase cinquentona, bonita, corpo conservado, atrai olhares masculinos, entretanto, ainda pensava no marido, tinha uma insuportável e explícita inveja da nova companheira de Amarante.
Depois de muitas saídas noturnas, muita boemia com sua mãe embaixo do braço, Téo retornou à Brasília, aumentou a solidão.
PROBLEMAS HIDRAÚLICOS
Ivete se dedicou ao trabalho, mesmo com pouca coisa para fazer, ela tinha boa camaradagem, levava o trabalho como terapia. Certo dia ela perguntou se alguém conhecia um bombeiro hidráulico. Indicaram Tonhão, trabalhava de “faz tudo” na repartição. Mulato, bonito, se prontificou, sempre sorrindo, era bom em conserto hidráulico, o que a colega precisava? Ivete esclareceu, problema na pia da cozinha do apartamento. Quando acabou o expediente, Tonhão arrumou suas ferramentas. Rumaram para o apto de Ivete.
O Negão deu o diagnóstico, canalização entupida, precisava abrir parede e canos para substituir os velhos. Os dois foram a uma loja compraram o que tinham de comprar. De repente Ivete sentiu um inesperado encantamento pela simples maneira de ser feliz do mulato Tonhão, 20 anos mais moço.
A QUÍMICA
Tonhão ao chegar à cozinha pediu licença para tirar a camisa, haveria molhadeira quando arrancasse alguns canos. Ivete ofereceu um calção do filho. Ao sair do banheiro, o negão surpreendeu com seu corpo atlético, musculatura perfeita, ela ficou embevecida, o sangue correu quente nas veias da coroa, era a tal química, coração aos pulos ao ver o mulato seminu dentro de casa, apenas os dois.
Ivete não pensava mais em nada, se achegou, se prontificou à ajuda. Ao abrir uma peça hidráulica a água jorrou com força, os dois molhados sorriam feito meninos. Tonhão apertou as peças, a água voltou a correr pelo cano, Ivete estava bem perto, de repente sem querer, ou querendo, se tocaram. Bastou para os dois se consumirem no fogo da paixão. Ali mesmo na cozinha se amaram como dois animais molhados.
Hoje Ivete vive tranquila, não pensa mais no marido. Seu único problema tornou-se crônico, o entupimento nos canos da cozinha. Entretanto, Tonhão, o bombeiro hidráulico, vai constantemente ao seu apartamento dar assistência técnica permanente.
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