Uma coisa há que se dizer, em favor de Dunga. O sargentão fechou a seleção para a imprensa sem exceções. E a Globo, que sempre foi dona do time, de seus jogadores, da comissão técnica e de todas suas almas, está tendo de aprender a viver sem a promiscuidade de outras eras. Dá até dó da Fátima Bernardes com seu sorriso cheio de dentes passando frio do lado de fora da concentração. Em tempos recentes, estaria sentada no sofá da antessala da suíte do treinador, cercada de jogadores submissos com fones de ouvido, todos eles na escuta para participarem do programa da Xuxa, ou soletrar algo no programa do narigudo, ou fazer um sorteio no Faustão, ou passar ridículo assentido no Casseta & Planeta.
Assim, os sorrisos dos apresentadores globais têm sido mais amarelos que de costume. A emissora, que é incapaz de falar “seleção brasileira” e só chama Dunga & seus dunguetes de “nossa seleção”, porque no fundo é dela, mesmo, da Globo, sócia da CBF e tudo mais, está tendo de fazer um pouco de jornalismo, em vez de incluir o time em seu casting, como de hábito. O que é bom. Seus bons jornalistas, e não são poucos, estão amassando barro, como a gente diz. Em vez de ficarem encastelados ao lado de seus amiguinhos jogadores, têm de sair para a rua, criar pautas, descobrir coisas.
Alguns estranham nitidamente a nova função. Estavam habituados a fazer suas piadinhas sem graça para o riso generoso da turminha da bola, que em geral é bem tonta. Mostram-se pouco à vontade quando se misturam à massa ignara sem privilégios para criar algo que seja interessante o bastante para ir ao ar. Mas acabam se acostumando. E estamos livres, felizmente, de babaquices como jogador falando com o papagaio da Ana Maria Braga, e achando aquilo o máximo, e o papagaio se sentindo importante.
Anteontem Robinho escorregou e deu uma entrevista à Globo na folga. Levou uma dura. Os tempos na era Dunga são realmente outros.
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