sexta-feira, 18 de junho de 2010

VERSEJANDO...






Carlos Severiano Cavalcanti

Mote:

Devagar, como fogo de monturo,
A saudade invadiu meu coração.

Na fazenda nasci e me criei,
peraltava e fazia escaramuça,
morcegava, no campo, a besta ruça,
jararaca até mesmo já matei.
Não me lembro da vez em que acordei
assombrado com tiros de trovão,
pinotava da rede para o chão
e saía correndo pelo escuro.
Devagar, como fogo de monturo,
A saudade invadiu meu coração.

* * *

Salomão Rovedo

Mote:

Meu caralho hoje namora
Dois pelancudos colhões.

A minh’alma triste chora
Este fato inusitado
Depois de ser muito usado
Meu caralho hoje namora.
Nem mais o vento deflora
Falido de ereções
Se gozou aos borbotões
Lindos rabos e bocetas
Hoje tem como muletas
Dois pelancudos colhões.

* * *

Zé Barreto

Mote:

Por esses caminhos venho
pedaços de mim deixando.

Nem juntos arte e engenho
de Camões podem cantar
como em vão a tropeçar
por esses caminho venho.
O amor para mim é lenho
que em meio aos lobos em bando,
aos trancos vou carregando
e a cada mulher que passa
sou tragado na fumaça,
pedaços de mim deixando.

* * *

Severino Ferreira da Silva

Mote:

Os meus sonhos de poeta
Já foram realizados

De porta veneziana
Eu não tenho moradia
Pra passar meu dia-a-dia
Tenho apenas a choupana
Uma garrafa de cana
E uns cadernos borrados
Dois troféus enferrujados
Na coleção incompleta
Os meus sonhos de poeta
Já foram realizados

A viola companheira
Que me ajuda todo dia
Eu viver de poesia
Adquirir minha feira
Tem quem ache uma besteira
Meus improvisos rimados
Meus versos filosofados
Bem pouca gente interpreta
Os meus sonhos de poeta
Já foram realizados


* * *

Zé Cardoso

Mote:

Você corre, mas não passa
Um palmo na minha frente.

Eu já vi você beber
Cinqüenta e um com Cinzano
E agora vem Caetano
Ser crente pra reverter
Não é, mas poderá ser
Que esse povo, geralmente
Só inventa de ser crente
Depois que bebe cachaça
Você corre, mas não passa
Um palmo na minha frente.

* * *

Pedro Alcântara

Mote:

Nunca mais senti o cheiro
Do cascão que o leite cria.

Eu me lembro atualmente
Da casinha onde nasci,
Do balanço que eu armava
No juazeiro da frente.
O coqueiro era assistente
Quando uma vaca paria.
O bezerro já nascia
Lambendo a mão do vaqueiro.
Nunca mais senti o cheiro
Do cascão que o leite cria.

* * *

Antônio Carneiro Portela

Mote:

Ela finge mas eu sei
que inda é doida por mim.

Ela zomba quando eu canto
me assusta quando lhe busco
não quer saber se me ofusco
quando me bota quebranto
não posso negar o tanto
do sonho que acho ruim
é por isso que vivo assim
no maior dos aperrei
ela finge mas eu sei
que inda é doida por mim.

Um homem da minha idade
que não caçoa e nem diz
que a gente pra ser feliz
não pode sentir saudade
e se não fosse a amizade
que ela já me teve, enfim
não plantava no jardim
que toda vida eu reguei
ela finge mas eu sei
que inda é doida por mim.

Inda tentei lhe querer
mas ela me pôs de banda
só um recadinho me manda
para eu não me aborrecer
pedindo para eu viver
bem longe do seu carim
diz no bilhete: - Toim
se arrede, saia do mei
ela finge mas eu sei
que inda é doida por mim.

Pedi que ela devolvesse
as cartas que lhe escrevi
resposta não recebi
dum assuntozim como esse
mas se ela me aparecesse
eu lhe contava tudim
do princípio até o fim
do jeito que me enganei
ela finge mas eu sei
que inda é doida por mim.

* * *

Um folhete de José Honório

O ATENTADO TERRORISTA E O DESMANTELO DA GUERRA

Que Alá seja por mim
Concedendo inspiração
Como deu a Maomé
No momento do Corão
Para que meus toscos versos
Não tenham fins tão perversos
E nem causem comoção.

Que também receba os halos
Do espírito picaresco
E por meio destas rimas
De um modo pitoresco
Usando a cena sangrenta
Lembre a eles que pimenta
No “olho alheio” é refresco.

Dia Onze de Setembro
De dois mil e um o ano
Oh que manhã desgraçada
Para o povo americano
Que se viu surpreendido
Ameaçado e ferido.
Pelo terrorismo insano.

O World Trade Center
Teve as torres destruídas
Pelos boeings seqüestrados
Guiados por suicidas
Deixando neste atentado
O mundo todo espantado
E milhares sem suas vidas.

Outro avião seqüestrado
No Pentágono caiu
Provocando alguns estragos
Muitos mortos lá se viu
Mas houve maior espanto
É que isso mostrou o quanto
Mesmo a potência é fragil.

Outro aparelho também
Teria destino vil Seguia pra
Casa Branca Foi o que se deduziu
Mas graças aos passageiros
Patriotas verdadeiros
Na Pensilvânia caiu.

Quem age como se o mundo
Tem que ser o seu quintal
Pode até cantar de galo
Se julgando o maioral
Mas esse acontecimento
Fez ver que a qualquer momento
Acaba se dando mal.

Porque “Quem com ferro fere
Com ferro será ferido”
E quem criou o Bin Laden
Hoje está arrependido
Pois pela cobra criada
Terminou sendo mordido.

Enquanto houver vida humana
Neste planeta onde a paz
Sempre foi um bem sonhado
Não se esquecerá jamais
Este dia tão funesto
Pras forças ocidentais.

Mas também será lembrado
Por outro viés da História
E nos guerreiros de Alá
Não sairá da memória
O dia em que o Taleban
Conquistou grande vitória.

E não será esquecido
Pelos órgãos de defesa
Que dentro da própria casa
Amargaram essa surpresa
Mostrando que a grande águia
Voava toda indefesa.

A partir do acontecido
Muita piada se fez
Dizem até que abalou
Um certame de xadrez
Por jogar sem duas torres
O Tio Sam não teve vez.

Bolsa, dólar, economia
Estão na maior derrota
Mexendo em todo mercado
Do galês ao cipriota
A nau está à deriva
Sem carta, porto, sem rota.

Se milhares foram embora
Bilhões hoje aqui estão
A paz merece uma chance
E pede tino e razão
Não cabendo neste instante
Se agir pela emoção.

Como fez Manoel Saraiva
Um português revoltado
Por ser alvo das piadas
Que lhe deixavam humilhado
E resolveu se vingar
Com semelhante atentado.

Escolheu primeiro o alvo
Com prazer especial
Tinha que ser monumento
De importância capital
Pela aparência escolheu
O Congresso Nacional.

Dentre as outras opções
Para a sua ação malsã
Estavam o Pão-de-Açúcar
Também o Maracanã
Nosso Cristo Redentor
E o Cacete de Brennand.

O Alvorada, o Sambódromo
Bem como o Carandiru
O Templo de Aparecida
O Xangô de Pai Edu
O Largo do Pelourinho
E a fábrica da Pitú.

Como agiria sozinho
Pra não chamar atenção
Usou sua inteligência
E chegou à conclusão
Que não tinha muita chance
De roubar um avião.

Pensou, pensou e pensou
E nesse longo pensar
Uma outra alternativa
Conseguiu ele encontrar
Que nas estrofes da frente
Ao mundo vou revelar.

Procurando relaxar
Ele foi para uma praia
Na esperança que uma idéia
De repente do céu caia
Ou então que por milagre
Da sua cachola saia.

E ficou ali sentado
Na areia branca e macia
As mulheres seminuas
Admirava e curtia
Mantendo a concentração
Que a situação exigia.

De tanto olhar para as bundas
Por ali tão abundantes
Num salto gritou: - Eureca!
E por que não pensei antes?
Agora eu sei como faço
Pra vingar-me dos tratantes.

É que reparou nas formas
Dos biquínis que havia
Fio-dental (cordão cheiroso,
Como Lua cantaria)
Mini-tanga… Asa-delta -
Esse aí tem serventia!

Um mês após o atentado
Faria a sua investida
Dia 11 de Outubro
A data bem escolhida
Bem pertinho da grande festa
Da Senhora Aparecida.

Rezou à Virgem de Fátima
Almoçou um bacalhau
Bebeu um vinho do Porto
Após esse ritual
Partiu pra sua vingança
Em nome de Portugal.

Foi atrás duma asa-delta
Que estivesse de bobeira
No maior pique do mundo
Ele saiu na carreira
Pra pegar um bom embalo
Na viagem derradeira.

Controlando o aparelho
Foi à Brasília afinal
Seguindo na direção
Do Congresso Nacional
Na véspera do feriado
Deu-se o desfecho fatal.

Colidiu na torre norte
Num vôo empenado, torto
Registrado na manchete
Lá da Gazeta do Porto:
Atentado português
Fim da tragédia: 01 morto.

E se tivesse escapado
Dessa audaciosa ação
Haveria de morrer
De raiva e decepção
Por seu ato não ter tido
A menor repercussão.

Nem Globo, nem Bandeirantes
Falaram de Manoel
Quanto mais CNN
Que cumpre bem seu papel
Ficou só nas anedotas
E nos versos de cordel.

Foi um, mas bem poderia
Ser milhares ou milhões
Porque uma ação bem simples
Pode tomar proporções
Indo muito mais além
Das melhores previsões.

Do mundo seja extirpado
O que houver de tirania
E o planeta se envolva
Com o véu da democracia
Para as nações serem pródigas
Sem perder autonomia.

Que não se gaste com mísseis
Com balas, com explosivos
Recursos que poderiam
Transformar-se em lenitivos
Aos milhões de desvalidos
Vivendo qual mortos-vivos.

Que o mundo não se consuma
Em nome de um fanatismo
Que cega, que embrutece
Como o fundamentalismo
Ou então pela ganância
Do cruel capitalismo.

Que os jatos não despejem
Por sobre a população
Gases, bombas, bactérias
Mas joguem em profusão
Essências de flores várias,
Amor, paz e união.

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