terça-feira, 22 de junho de 2010

SOBRE BELCHIOR...

Belchior, o injustiçado.


“Eu não estou interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia, nem no algo mais nem em tinta pro meu rosto ou oba oba melodia pra acompanhar bocejos, sonhos matinais, a minha alucinação é suportar o dia-a-dia, e meu delírio é a experiência com coisas reais...” Em canção gravada por Belchior em 1976 revela toda a sua revolta e insatisfação com a alienação da maioria do povo em relação à vida, fato ratificado na canção “Apalo Seco”: “Sei que assim falando pensas que esse desespero é moda em 73, mas ando mesmo descontente desesperadamente eu grito em português.” Também em “Apenas um rapaz latino americano”: Não me peças que lhe faça uma canção como se deve, correta, branca e suave, muito limpa e muito leve, sons, palavras são navalhas e eu não posso cantar como convém, sem querer ferir ninguém”. Essa abertura de texto é pra dizer que considero Belchior um dos maiores compositores brasileiros e não louco como pensam alguns. Realmente é pra qualquer um enlouquecer quando liga o rádio ou a TV e ouve e ver o lixo musical que é tocado nessas emissoras onde apenas o axé baiano, o forró de plástico e o falso sertanejo tem vez. Belchior é um dos autores mais consciente e crítico deste país. Teve suas canções gravadas por grandes nomes da MPB, tais como o rei Roberto Carlos, “Mucuripe” e Elis Regina, “Como nossos pais”. Na primeira, revela-se um romântico:”Calça nova de riscado, paletó de linho branco, que até no mês passado lá no campo ainda era flor, sob o meu chapéu quebrado, o sorriso ingênuo e franco, de um rapaz novo encantado com vinte anos de amor...”. Na de Elis, faz uma crítica contundente a mudança comportamental das pessoas: “Já faz tempo eu vi você na rua cabelo ao vento gente jovem reunida, na parede da memória esse é o quadro que dói mais, minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais...”.
Na música “Paralelas”, critica o capitalismo selvagem mostrando pessoas que só valorizam o ter em detrimento do ser: “no escritório em que trabalho e fico rico, quanto mais eu multiplico diminui o meu amor...”Aliás esse é o tema da campanha da fraternidade desse ano. Na canção “ Tudo outra vez”, retrata a vida de um exilado político:”Sentado à beira do caminho pra pedir carona tenho falado à mulher companheira, quem sabe lá no trópico a vida esteja a mil, um cara que transava à noite no Danúbio azul me falou que faz sol na América do Sul, quem sabe nossas irmãs nos esperam no coração do Brasil...”. Em “Fotografia 3 X 4”, fala sobre a discriminação contra os imigrantes nordestinos: “Em cada esquina que eu passava o guarda me parava, pedias os meus documentos e depois sorria examinando o 3 X 4 da fotografia e estranhado o lugar de onde eu vinha...”Na música “Não leve flores”, alerta sobre o perigo daqueles que subestimam o adversário: “Não cante vitória muito cedo, não, nem leve flores para a cova do inimigo que as lágrimas do jovens são fortes como um segredo, podem fazer renascer um mal antigo...”
Finalizando, ele revela a identidade da maioria dos brasileiros, cantando:”Eu sou apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior...”

José Normando Bezerra
Geógrafo e Professor


Paralelas


Belchior
Composição: Belchior
Dentro do carro
Sobre o trevo
A cem por hora, ó meu amor
Só tens agora os carinhos do motor

E no escritório em que eu trabalho
e fico rico, quanto mais eu multiplico
Diminui o meu amor

Em cada luz de mercúrio
vejo a luz do teu olhar
Passas praças, viadutos
Nem te lembras de voltar, de voltar, de voltar

No Corcovado, quem abre os braços sou eu
Copacabana, esta semana, o mar sou eu
Como é perversa a juventude do meu coração
Que só entende o que é cruel, o que é paixão

E as paralelas dos pneus n'água das ruas
São duas estradas nuas
Em que foges do que é teu

No apartamento, oitavo andar
Abro a vidraça e grito, grito quando o carro passa
Teu infinito sou eu, sou eu, sou eu, sou eu


Natal-RN


À Palo Seco
Los Hermanos
Composição: Belchior
Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos lhe direi
Amigo, eu me desesperava

Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 73
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português

Tenho 25 anos de sonho e de sangue
E de América do Sul
Por força desse destino
O tango argentino me vai bem melhor que o blues

Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 73
Eu quero que esse canto torto
Feito faca corte a carne de vocês

Apenas um Rapaz Latino-Americano
Belchior
Composição: Belchior
Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior...

Mas trago, de cabeça
Uma canção do rádio
Em que um antigo
Compositor baiano
Me dizia
Tudo é divino
Tudo é maravilhoso...(2x)

Tenho ouvido muitos discos
Conversado com pessoas
Caminhado meu caminho
Papo, som, dentro da noite
E não tenho um amigo sequer
Que ainda acredite nisso
Não, tudo muda!
E com toda razão...

Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior...

Mas sei
Que tudo é proibido
Aliás, eu queria dizer
Que tudo é permitido
Até beijar você
No escuro do cinema
Quando ninguém nos vê...(2x)

Não me peça que eu lhe faça
Uma canção como se deve
Correta, branca, suave
Muito limpa, muito leve
Sons, palavras, são navalhas
E eu não posso cantar como convém
Sem querer ferir ninguém...

Mas não se preocupe meu amigo
Com os horrores que eu lhe digo
Isso é somente uma canção
A vida realmente é diferente
Quer dizer!
A vida é muito pior...

E eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Por favor
Não saque a arma no "saloon"
Eu sou apenas o cantor...

Mas se depois de cantar
Você ainda quiser me atirar
Mate-me logo!
À tarde, às três
Que à noite
Tenho um compromisso
E não posso faltar
Por causa de vocês...(2x)

Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior
Mas sei que nada é divino
Nada, nada é maravilhoso
Nada, nada é sagrado
Nada, nada é misterioso, não...

Na na na na na na na na...

Apenas um Rapaz Latino-Americano
Belchior
Composição: Belchior
Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior...

Mas trago, de cabeça
Uma canção do rádio
Em que um antigo
Compositor baiano
Me dizia
Tudo é divino
Tudo é maravilhoso...(2x)

Tenho ouvido muitos discos
Conversado com pessoas
Caminhado meu caminho
Papo, som, dentro da noite
E não tenho um amigo sequer
Que ainda acredite nisso
Não, tudo muda!
E com toda razão...

Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior...

Mas sei
Que tudo é proibido
Aliás, eu queria dizer
Que tudo é permitido
Até beijar você
No escuro do cinema
Quando ninguém nos vê...(2x)

Não me peça que eu lhe faça
Uma canção como se deve
Correta, branca, suave
Muito limpa, muito leve
Sons, palavras, são navalhas
E eu não posso cantar como convém
Sem querer ferir ninguém...

Mas não se preocupe meu amigo
Com os horrores que eu lhe digo
Isso é somente uma canção
A vida realmente é diferente
Quer dizer!
A vida é muito pior...

E eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Por favor
Não saque a arma no "saloon"
Eu sou apenas o cantor...

Mas se depois de cantar
Você ainda quiser me atirar
Mate-me logo!
À tarde, às três
Que à noite
Tenho um compromisso
E não posso faltar
Por causa de vocês...(2x)

Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior
Mas sei que nada é divino
Nada, nada é maravilhoso
Nada, nada é sagrado
Nada, nada é misterioso, não...

Na na na na na na na na...



Como Nossos Pais
Elis Regina
Composição: Belchior
Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...

Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...

Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...
Mucuripe
Belchior
Composição: Belchior & Fagner
As velas do Mucuripe
Vão sair para pescar
Vão levar as minhas mágoas
Pras águas fundas do mar
Hoje à noite namorar
Sem ter medo da saudade
Sem vontade de casar

Calça nova de riscado
Paletó de linho branco
Que até o mês passado
Lá no campo inda era flor

Sob o meu chapéu quebrado
Um sorriso ingênuo e franco
De um rapaz moço encantado
Com vinte anos de amor

Aquela estrela é bela
Vida vento vela levame daqui
Aquela estrela é bela
Vida vento vela leva-me daqui

As velas do Mucuripe
Vão sair para pescar
Vão levar as minhas mágoas
Pras águas fundas do mar

Hoje à noite namorar
Sem ter medo da saudade
Sem vontade de casar

Calça nova de riscado
Paletó de linho branco
Que até o mês passado
Lá no campo inda era flor

Sob o meu chapéu quebrado
Um sorriso ingênuo e franco
De um rapaz moço encantado
Com vinte anos de amor

Aquela estrela é bela
Vida vento vela levame daqui
Aquela estrela é bela
Vida vento vela leva-me daqui

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