terça-feira, 15 de junho de 2010

OS DISSIDENTES DO PT...


“JÁ VOU TARDE”

A lavagem do símbolo do PT com creolina e sabão em pó (foto acima) aconteceu no fim do mês passado, no Maranhão, durante uma manifestação de membros do partido (da Ação Camponesa Operária) contrários ao grupo comandado pelo ex-deputado federal Washington Luís (Construindo um Novo Brasil), que quer apoiar a candidatura de Roseana Sarney.

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Fiz ontem uma postagem onde havia uma foto de petistas maranhenses lavando a estrela do partido com creolina.

Tratava-se de uma matéria a respeito da maneira caudilhesca, stalinista e sufocante com que Lula humilha os militantes e caga na cabeça do partido que ajudou a fundar e que o levou ao poder.

Quando foi à noite, dando uma passeada no noticiário do dia, fui surpreendido com a notícia de que Sandra Starling, petista histórica e parte indissociável da história do partido, havia pedido desfiliação do PT. Professora, advogada e cientista política, Sandra Starling se desfiliou após a direção nacional da legenda impor ao ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel que cedesse a candidatura ao governo de Minas ao senador Hélio Costa (PMDB) .

E, no ato seguinte, escreveu uma carta, cujo teor está abaixo reproduzido. Vai ser mais uma que o curral de antas cegadas pela paixão ideológica vai chamar de “reaça”, de “direitosa” e de insensível às “pecualiaridades pragmáticas” do Socialismo Muderno.

Ao ler o texto, tenham em mente o seguinte: Sandra tem a seu crédito o fato de ter assinado o manifesto de fundação do PT ao lado de Lula, de cujo primeiro governo foi integrante no segundo escalão do Ministério do Trabalho. Além de ter sido a primeira candidata do partido a concorrer ao governo de Minas Gerais, em 1982. Dos seus 66 anos de vida, 32 foram dedicados ao partido.

Como Sandra não tem cargo ou boquinha alguma no governo (que eu saiba, pelo menos…), pode ser que seu gesto não seja assim tão corajoso, pois ainda está pra aparecer o cumpanhero que venha a sacrificar a sinecura em nome da vergonha na cara.

De qualquer forma, foi uma ato da bixiga lixa este que Sandra tomou.

Leiam a carta:

“Manda quem pode, obedece quem tem juízo”

Ao tempo em que lutávamos para fundar o PT e apoiar o sindicalismo ainda “autêntico” pelo Brasil afora, aprendi a expressão, que intitula este artigo. Era repetida a boca pequena pela peãozada, nas portas de fábricas ou em reuniões, quase clandestinas, para designar a opressão que pesava sobre eles dentro das empresas.

Tantos anos mais tarde e vejo a mesma frase estampada em um blog jornalístico como conselho aos petistas diante da decisão tomada pela Direção Nacional, sob o patrocínio de Lula e sua candidata, para impor uma chapa comum PMDB/PT nas eleições deste ano em Minas Gerais.

É com o coração partido e lágrimas nos olhos que repudio essa frase e ouso afirmar que, talvez, eu não tenha mesmo juízo, mas não me curvarei à imposição de quem quer que seja dentro daquele que foi meu partido desde sempre.

Ajudei a fundá-lo, com muito sacrifício pessoal; tive a honra de ser a sua primeira candidata ao governo de Minas Gerais em 1982. Lá se vão 28 anos! Tudo era alegria, coragem, audácia para aquele amontoado de gente de todo jeito: pobres, remediados, intelectuais, trabalhadores rurais, operários, desempregados, professores, estudantes.

Íamos de casa em casa tentando convencer as pessoas a se filiarem a um partido que nascia sem dono, “de baixo para cima”, dando “vez e voz” aos trabalhadores. Nossa crença abrigava a coragem de ser inocente e proclamar nossa pureza diante da política tradicional.

Vendíamos estrelinhas de plástico para não receber doações empresariais. Pedíamos que todos contribuíssem espontaneamente para um partido que nascia para não devermos nada aos tubarões.

Em Minas, tivemos a ousadia de lançar uma mulher para candidata ao governo e um negro, operário, como candidato ao Senado. E em Minas (antes, como talvez agora) jogava-se a partida decisiva para os rumos do país naquela época. Ali se forjava a transição pactuada, que segue sendo pacto para transição alguma.

Recordo tudo isso apenas para compartilhar as imagens que rondam minha tristeza. Não sou daqueles que pensam que, antes, éramos perfeitos.

Reconheço erros e me dispus inúmeras vezes a superá-los. Isso me fez ficar no partido depois de experiências dolorosas que culminaram com a necessidade de me defender de uma absurda insinuação de falsidade ideológica, partida da língua de um aloprado que a usou, sem sucesso, como espada para me caluniar.

Pensei que ficaria no PT até meu último dia de vida. Mas não aceito fazer parte de uma farsa: participei de uma prévia para escolher um candidato petista ao governo, sem que se colocasse a hipótese de aliança com o PMDB. Prevalece, agora, a vontade dos de cima.

Trocando em miúdos, vejo que é hora de, mais uma vez, parafrasear Chico Buarque: “Eu bato o portão sem fazer alarde. Eu levo a carteira de identidade. Uma saideira, muita saudade. E a leve impressão de que já vou tarde”.

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