quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

UMA GRANDE CANTORIA...

Cantoria do Cego Aderaldo com Domingos Fonseca

Cego Aderaldo

Ó doce luz dos meus olhos
Coração e a lembrança
Tudo quanto eu percuro
Eu vejo perseverança
Meu peito vive cansado
Porém não sente mudança

Domingos Fonseca

Eu desde muito criança
Que procurei me manter
Vivendo da cantoria
Para vestir e comer
Já que ser grande poeta
Lutei, mas não pude ser

Cego Aderaldo

Jesus a mim quis fazê
Neste caso que se deu:
Eu perdê a minha vista
Meus olhos escureceu
Mas estou cantando as virtudes
Que a natureza me deu

Domingos Fonseca

Jesus me favoreceu
Com a pequena viola
Me deu a inteligência
Que ao verso desenrola
Eu acho que ele deu-me
Uma preciosa esmola

Cego Aderaldo

Deus a mim, me deu a bola
Para levar a cantoria
Tirou a luz dos meus olhos
Eu não vejo a luz do dia
Porém eu levo a palavra
Transcrita em poesia

Domingos Fonseca

Jesus prometeu-me um dia
E eu fiquei disto ciente
Eu havia de ser pobre
De viver sempre doente
Porém me deu por consolo
A cantoria repente

Cego Aderaldo

Eu não vivo indiferente
Aqui no Rio de Janeiro
Vivo muito consolado
Meu canto são verdadeiro
Embora que nesta terra
Não tenho ganhado dinheiro

Domingos Fonseca

Eu sei que o Rio de Janeiro
É uma cidade interessante
Mas eu sempre me recordo
Do velho sertão distante
Tanto que da minha terra
Não esqueço um só instante

Cego Aderaldo

Levo a minha vida avante
Na terra misteriosa
Nesta cidade tão linda
De pessoas tão garbosa
Lugar aonde se vive
A terra cheia de rosa

Domingos Fonseca

De fato é muito formosa
Não há quem diga que não
Parece com um pedacinho do céu
Estendido no chão
Mas não se acaba a vontade
De eu voltar pra o meu sertão

Cego Aderaldo

Eu sinto no coração
Aqui uma grande alegria
Porém eu não vejo o mundo
Perdi toda a simpatia
Ah, se eu pudesse ver
A estátua de Caxia

Domingos Fonseca

Teve grande garantia
Aquele homem aliás
Em reverência ao seu nome
Todo mundo ainda faz
O nome dele na história
Não se apaga nunca mais

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