Tornamento - Guimarães Rosa
I
A viagem dos teus cabelos -
este cabelos povoariam legião de poemas
e as borboletas circulam indagando tua cintura,
incertamente. Teu corpo em movimento
detém uma significação de perfume.
O som de um violino conseguiria dissolver
um copo de ouro?
II
Houve reis que construíram seus nomes milenários
e poetas que governam palácios em caminhos.
Povos. Proêmios. Penas.
Mas toda você, um gosto só, matar-me-ia a sede
e teus pés e rosas.
III
Às vezes – o destino não se esquece -
as grades estão abertas,
as almas estão despertas:
às vezes,
quando quanda,
quando à hora,
quando os deuses,
de repente
- antes-
a gente
se encontra.
João Guimarães Rosa (Cordisburgo, Minas Gerais, 27 de junho de 1908 - Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1967) - Além de escritor, também foi médico e diplomata. Mundialmente conhecido pelo seu Grande Sertão: Veredas, foi traduzido para diversos idiomas. Membro da Academia Brasileira de Letras, chegou a ser cogitado para o Prêmio Nobel de Literatura. Publicou um livro de poemas 'Magma' no início da carreira. 'Ave, Palavra', foi publicado depois de sua morte.
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