Em violino fado - José Saramago
Ponho as mãos no teu corpo musical
Onde esperam os sons adormecidos.
Em silêncio começo, que pressente
A brusca irrupção do tom real.
E quando a alma ascendendo canta
Ao percorrer a escala dos sentidos,
Não mente a alma nem o corpo mente.
Não é por culpa nossa se a garganta
Enrouquece e se cala de repente
Em cruas dissonâncias, em rangidos
Exasperantes de acorde errado.
Se no silêncio em que a canção esmorece
Outro tom se insinua, recordado,
Não tarda que se extinga, emudece:
Não se consente em violino fado.
José de Sousa Saramago (Azinhaga, Golegã, Portugal 16 de novembro de 1922 - Tías, Lanzarote, Espanha, 18 de junho de 2010) - Além de escritor, foi contista, dramaturgo, jornalista e poeta português. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1998, assim como o Prêmio Camões de Literatura. Dentre sua vasta obra, publicou três livros de poemas: Poemas Possíveis (1966), Provavelmente Alegria (1970) e O Ano de 1993 (1975).
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