sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

VATES...


Josinaldo Mota da Silva
(Homenagem póstuma ao seu pai Cícero Vieira da Silva)

Descansa eternamente
No reino do paraíso
Calou seu improviso
E morreu o seu repente
Quando estava doente
Em cima de um colchão
A morte na traição
O levou sem piedade
do meu pai só a saudade
ficou no meu coração.

* * *

Dedé Monteiro

Oh! casa velha do cão
A de vovó Januária
Caverna bicentenária
Sem um sinal de cristão
Morcego sobre o fogão
Nos móveis somente pó
No muro uma planta só
No jardim rato e mosquito
Eis o retrato esquisito
Da casa de minha vó.

* * *

João Paulo Martins
(Homenagem póstuma ao poeta Sebastião Nunes Batista)

Deus te dê bom lugar Sebastião
Realmente senti a morte sua
Reconheço que a morte negra e crua
Que não usa bondade nem perdão
Infeliz do que cai em sua mão
Pois o jeito é subir para o além
Quando menos se espera ela vem
Acabar com a vida do cristão
Se conforme amigo Sebastião
Qualquer dia eu sei que vou também.

* * *

José Bernardo da Silva

Não sou poeta vos digo
mas com rima arranjo o pão,
sou chapista e impressor
sou bom na composição
dentro da tipografia
o meu saber irradia
conheço com perfeição
agradeço esta opulência
à Divina Providência
e ao Padre Cícero Romão.

* * *

Cícero Vieira da Silva (Mocó)

Nasci numa cordilheira
numa casa muito ruim,
as telhas eram de capim
e a porta era uma esteira;
no pé de uma ladeira
foi onde fizeram ela,
se um gato subisse nela
só faltava derribar…
antes da chuva chegar
já chovia dentro dela.


* * *

Apolônio Alves do Santos

Nasci no mês de setembro
do ano de vinte e seis
do dia– data do mês
ainda hoje relembro
fui batizado em novembro
do mesmo ano corrente
porque eu caí doente,
mamãe era quem dizia,
pensando que eu morria
me batizaram urgente.

Meu velho pai se chamava
Francisco Alves dos Santos
ainda verto meus prantos
por ele, a quem tanto amava:
minha mãe se assinava
Maria da Conceição;
lá na celeste mansão
ambos estão bem unidos
porque Jesus foi servido
que lá fizessem união.

* * *

Professor Garcia

Podem ver que os colibris
são amantes sonhadores,
que apesar de pequeninos
são felizes sedutores,
vivem beijando, e beijando,
de manhã cedo roubando
a virgindade das flores!

* * *

Um folheto de Simião

O Matuto Vendendo Fumo

Agora mesmo escrevi
um folheto interessante
quem lê a primeira página
achará muito importante
a conversa dum matuto
vendendo fumo ambulante

Ele tinha mais ou menos
trinta anos de idade
morava no interior
sem haver prosperidade
fez um bocado de fumo
se dirigiu pra cidade

Quando chegou na cidade
começou a oferecer:
- O fumo é ispiciá
eu tenho ele pa vendê
é preto, cheroso e forte
Mió ninguém pode tê.

E fazendo a propaganda
gritava de rua a fora:
- O fumo vinha imbruiado
Mai deseimbruei agora
pra num mim dá trabai
ando com ele de fora

Passando numa porta,
Foi por uma velha chamado
pra comprar cem réis de fumo
e tendo se demorado
disse: num faço tostão
que o fumo tá alevantado

A mulher olhou e disse:
que fumo feio danado!
Ele disse: sinhá dona,
é do só que tem levado
a capa de fora é seca
mai o miolo é melado

Num há pessoa no mundo
que ache esse fumo fraco
quem quizé vê u’a coisa
torre e pise ele num saco
se ele é bom de cachimbo
inté mió no tabaco

O meu fumo de principe
Num tem essa furtidão
mai condo chega no mei
é bom sem cumparação
no fim tem um paladá
que causa admiração

Inté pra se vendê fumo
tomem precisa de sorte
esse meu é de premêra
só num tem bunito corte
porém tem outra vantage
é preto, cheroso e forte

Todos prestavam atenção
tudo quanto ele dizia
antes de andar com fumo
nas condições que vivia
logo ai pôs-se a contar
todos bens que possuia

- Eu herdei uns pé de coco
que foi meu pai que prantô
no momento que morreu
tudo pra mim deixô
inté o tempo presente
ainda num safrejô

Vendo fumo aperreado
mais tarde tenho descanso
condo os coqueiro botá
de alegre eu canto e danço
o fumo já levantô
us coco tão com balanço

Vinha u’a mulher vendendo
retalho de pano e renda
ele disse: sinhá dona,
minha muié me ricumenda
se eu lhe visse comprasse
uns metro dessa fazenda

De renda já tenho a conta
pruque já tá comprado
pra infeitá a camisa
eu trago já decorado
é quarta e meia de taio
e dois metro de babado

Diz a mulher: tenho aqui
dos pano que você quer
se não quiser comprar muito
compre o tanto que quiser
mas eu sei a quantidade
que leva sua mulher

Leva três metro e meio
que u’a vez ela comprou
foi u’a conta tão certa
que nem passou nem faltou
agora tem u’a coisa
a fazenda levantou

Quando a mulher se calou
Diz ele: isso me afronta
eu agrado os meus freguês
porém a senhora espanta
seu pano já levantô
só meu fumo não levanta

Pegou no fumo e saiu
e nem comprou a fazenda
em casa disse à mulher:
não comprei tua incomenda
os pano tá muito arto
é bom que você cumprenda

A mulher perguntou: Zele,
vendeu o fumo pagão?
Ele disse: tinha um pedaço
impurrei no Damião
com tanta facilidade
que causou adimiração

O resto tá lá dentro
você mele e trate dele
pruque eu quero tirá
todos pirjuiso nele
levo o fumo pu Rucu
e nos povo meto ele

Voltou ele foi à loja
pra uma calça comprar
pôs-se a bater no balcão
Disse à dona: há de chegar
daí uns dez minutos
veio a mulher despachar

Ele avistou umas calças
lá no arame trepada
e perguntou: quanto é
aquela ali pendurada?
Disse a mulher: seis mil réis
não posso baixar mais nada

Disse o matuto: dou quatro
se quisé pode imbruiá
A mulher disse: freguês,
o senhor num quer comprar
lhe faço cinco e quinhentos
por menos não posso dar

Tem muita, o senhor escolha
à sua satisfação
tanto tem naquele armário
como em cima do balcão
- Achei mió a trepada
cá na minha opinião

A mulher disse: freguês,
que cunversa é essa à toa?
ele aí respondeu logo:
disculpe, minha patroa,
só fiz dizê à sinhora
que achei a trepada boa

E a senhora avie logo
que num posso ter demora
se quisé fazê o meno
pode mim dizê agora
que dou quatro pur a trepada
se não quisé vou mimbora

Disse a mulher: pegue lá
não quero fazê questão.
Ele pagou o dinheiro
e na mesma ocasião
retirou-se e foi embora
levando a calça na mão.

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