segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
A EMINENCIA PARDA...
UM TEXTO DE RUY FABIANO
A TUTELA DE LULA
Não há surpresa – pelo menos não deveria haver – na desenvoltura com que Lula indica e veta ministros para Dilma, que os aceita passivamente. Afinal, sem Lula, Dilma não existiria. Foi ele quem a impôs ao PT e ao eleitorado, como uma emulação sua.
Lula chegou a dizer que, não podendo concorrer, haveria um vazio na cédula – e esse vazio seria preenchido com o nome de Dilma. E foi. Se Lula não a patrocinasse, Dilma nem conseguiria legenda para disputar a Presidência. Não tinha currículo político para tal, nem era uma petista histórica.
Portanto, a tutela de Lula é uma realidade e está sendo (e, ao que parece, continuará a ser) exercida. O núcleo duro do governo Dilma – na política e na economia – foi montado por Lula. E é esse núcleo que dará assessoria direta para a presidente eleita.
O que se questiona é até quando o esquema funcionará. O sistema presidencialista brasileiro enfeixa nas mãos do titular do cargo grande soma de poderes e é improvável que a tutela se estenda por todo o mandato.
A tradição brasileira (para não falar da mundial) é o afilhado político insurgir-se contra o padrinho, pelo incômodo de lhe prestar vassalagem no exercício do cargo. O poder é indissociável de seu detentor – sobretudo o poder máximo, a Presidência da República. E há ainda o PMDB, cioso de seu papel na eleição de Dilma e na consolidação de sua maioria parlamentar, a cobrar a fatura.
O partido já demonstra não estar satisfeito com o que lhe está reservado na partilha do bolo ministerial. Dilma lhe oferece quatro ministérios. O partido quer ao menos cinco, espaço que lhe coube no governo Lula, quando era apenas parceiro, e não sócio, como supõe ser agora. Como Dilma lidará com isso?
Quanto a Lula, já deu sinais contrários sobre seu futuro. Uma hora diz que irá para São Bernardo tomar cerveja com os amigos; que irá mostrar como deve se comportar um ex-presidente, mantendo silêncio obsequioso (até aqui, apenas uma promessa).
Outra diz que continuará ativo, viajando pelo país e advertindo a presidente para os problemas que detectar. Disse também que lutará pela reforma política, sem explicar por que não o fez nos oito anos em que esteve no comando. Outra atividade a que pretende se dedicar, segundo revelou, é em relação aos países do Terceiro Mundo, sobretudo os da África e da América Latina, através do instituto que levará seu nome.
Mencionou igualmente que se dedicará a “desmontar a farsa do Mensalão”, mesmo sabendo que a instância incumbida de fazê-lo é o STF. Lula, portanto, não é o melhor indicador sobre seu futuro. O que melhor o indica é sua ação presente, inteiramente voltada para a montagem do governo Dilma.
Lula teve ontem um dia de intensa prolixidade, incomum a um presidente que deixa o cargo. Tocou em temas polêmicos, de maneira polêmica – em alguns casos, até provocativa. Disse, entre outras coisas, que o Mensalão foi uma tentativa de golpe de Estado, e que o controle social da mídia, que chama de “regulação” e “democratização”, é inevitável.
A loquacidade do presidente em fim de mandato contrasta com o silêncio de sua sucessora, que até aqui evita contatos com a imprensa e não se manifesta sobre assunto algum. Nem mesmo os embates contra o tráfico no Rio lhe arrancaram uma única palavra.
Há, portanto, uma inversão de posturas: fala quem sai e silencia quem chega.
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