quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
ERA UMA VEZ...O BARÃO DO BURITÍ.
Palmério Dória:
A Urna do Zé
Como foi que o menino Ribamar virou Sarney – “Nasceu, cresceu e criou dentes dentro do Tribunal” – Primeiras trapaças com urnas – “Al Capone seria aprendiz perto desse rapaz de bigodinho”, disse o italiano logrado.
Uma história alegra o anedotário político maranhense desde os idos de 1950. Pelas ruas de São Luis, lá vai o desembargador Sarney Costa. Carrega numa das mãos alguns livros, e uma caixa de madeira embaixo do outro baço. Tem forma de pirâmide, mas com o topo cortado e um tampo com uma fenda no centro. Ele só largava a caixa e os livros se passasse em frente de alguma igreja, para pode ajoelhar-se e fazer o sinal-da-cruz.
O desembargador, que chegou a presidente do Tribunal de Justiça, tinha um tique não muito raro, de piscar e repuxar para cima um dos olhos junto com o canto da boca. Foi ao Rio de Janeiro, inclusive, consultar-se com m grande neurologista que lhe indicaram, o doutor Deolindo Porto. Mas desistiu na primeira consulta: o homem tinha o mesmo cacoete que ele. O Sarney pai, que mais tarde daria nome a povoações e a tudo quanto é logradouro e prédio público Maranhão afora, quando o paravam na rua e perguntavam que caixa era aquela quecarregava, respondia, batendo na madeira:
“Esta é a urna do meu filho Zé”.
O povo aumenta mas não inventa.
A parábola da urna evidencia a quem José Sarney deve sua carreira política. Ele começa sem identidade própria. É apenas o “Zé do Sarney”, por sua vez com tal nome registrado porque o avô do nosso herói, diz a história, quis homenagear um inglês ilustre que aportou a serviço no Maranhão e a quem todos chamavam de Sir Ney.
“Al Capone seria Mero Aprendiz”
O pai é quem lhe abre todas as portas. A família Costa veio do interior, de Pinheiros, no oeste, para as bandas da fronteira com o Pará, na região da Baixada, que forma grandes lagos na época das chuvas. Sarney com 15 anos, começou a estudar no Liceu Maranhense. Aderson Lago, de tradicional estirpe política, chefe da Casa Civil do governador maranhense Jackson Lago em 2009, é uma memória viva daquele tempo:
“Sarney nasceu, cresceu e criou dentes dentro do “Tribunal”, diz Aderson, que faz o seguinte resumo, em seu gabinete do Palácio Henrique La Rocque, em São Luis, o centro administrativo do governo. “O pai não era um fazendeiro abastado, empresário, não era porra nenhuma. Nunca tiveram nada. Nunca acertaram nem no jogo do bicho. Sarney não tem como explicar a fortuna que tem. Ele mesmo contou, quando presidente da República, na inauguração do Fórum Sarney Cost, que o pai teve que vender sua máquina de escrever para mante-lo por uns tempos”.
Nascido em 24 de abril de 1930, pouco antes da Revolução modernizadora liderada por Getúlio Vargas, Sarney Filho cursou direito e iniciou-se na política estudantil na década de 1950. O pai arranja-lhe o primeiro emprego, secretário do Tribunal de Justiça. Nessa época, os processos eram distribuídos por sorteio. Colocavam os nomes dos desembargadores numa caixinha e o secretário do Tribunal era quem sorteava o relator de cada processo. Seus primeiros “negócios” foram feitos nessa caixinha. O desembargador que ele “sorteava” era sempre aquele que resolveria o caso conforme a sua conveniência.
Aderson Lago narra a história de certo engenheiro italiano que havia construído a fortaleza de Dien Bien Phu, no Vietnã, e para cá veio tocar a construção do porto de Itaqui, perto de São Luis – por onde meio século depois sairia o minério de Carajás e outras mil riquezas do Brasil. Surgiu uma demanda judicial contra a empresa do italiano. No último julgamento, que a empresa perderia e, por isso, quebraria, descendo a escadaria do Tribunal, o italiano, referindo-se a Sarney, comentou com seus advogados: “Se Al Capone estivesse vivo e aqui estivesse, diante desse rapaz de bigodinho seria um mero aprendiz”.
Na juventude, Sarney usava bigodinho à Clark Gable, como o cantor das multidões Orlando Silva, o Cauby Peixoto. E, como os colegas de sua idade, sonhava com um lugar na Academia Maranhense de Letras, que um dia ele conquistaria. Afinal, São Luis era a Atenas Brasileira. Ou melhor, segundo línguas mais realistas: a Apenas Brasileira.
Aos 24 anos, sem ter sido sequer vereador, Sarney se elege quarto suplente de deputado federal nas eleições de 3 de outubro de 1954 pelo Partido Social Democrático, o PSD de Victorino Freire, realizadas pouco depois do suicídio de Getúlio Vargas, e quem viveu na época não duvida que tal feito se deveu a fraude na quadragésima- primeira Zona Eleitoral de São Luis. Nesse episódio é que se viu, durante um trote de calouros da faculdade de direito, um cartaz que mostrava o desembargador Sarney Costa com uma urna embaixo do braço e o balão:
“Essa é do Zé, meu filho”
A escada sempre era o pai. Aderson conta como Sarney se inicia de verdade na política:
“Ele começou como oficial de gabinete do governador Eugênio Barros, trabalhava no Palácio. Pela influência do pai, sempre. Ele foi oficial de gabinete porque era brilhante ? Não. Sim porque o pai era desembargador e a Justiça no Maranhão estava sempre atrelada ao Governo.”
Em 1958, sim, ele então se elege deputado federal, já pela UDN. Não é mais José Ribamar Ferreira de Araújo Costa. Tomou para si o nome do pai e se tornou José Sarney. Assim, chega a Câmara Federal, ainda no Rio de janeiro, no Palácio Tiradentes, e assina o termo de posse a 2 de fevereiro de 1959, data que ele considera oficialmente como a do início de sua careira política – cujo cinqüentenário ele comemorou em dia tão anuviado, apesar do sol sobre Brasília, naquele 2 de fevereiro de 2009.
Não lhe saia da cabeça o filho, cérebro do império Sarney, transformado em caso de polícia, enquadrado pelos federais num rosário de crimes e sujeito a qualquer momento a ganhar um par de algemas em torno dos pulsos e ir parar atrás das grades.
É hora de fazermos mais uma “parada técnica”. Esta série ainda trará grandes novidades para os leitores fubânicos, que poderão até, guardar os textos que compõem a sinopse que preparamos, possibilitando assim, o privilégio de possuir o que há de melhor na obra “HONORÁVEIS BANDIDOS” de Palmério Dória. Evidentemente que não o terão na íntegra, porém, o conteúdo da sinopse traz os melhores tópicos incluídos na narrativa daquele jornalista.
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