sábado, 24 de setembro de 2011

UMA INGRATIDÃO COM OTONIEL MENEZES...

UM PRÍNCIPE SEM NOBREZA

Homenagem ao autor de Serenata dos Pescadores, Othoniel Menezes, é vetada pelo comando do Quartel da Rampa

A praieira dos amores do poeta Othoniel Menezes é mesmo ingrata com seus filhos ilustres. O chamado “príncipe plebeu” - letrista do hino de Natal: Serenata dos Pescadores (também conhecida por Praieira) - quis tão somente descansar sua vida humilde de bardo poeta da província, na figura de um busto de bronze chantado no caminho que leva à Fortaleza dos Reis Magos - o chamado Beira-Rio - recanto lírico presente em seus versos.

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Mas antes mesmo de concretizada a homenagem, a chantadura onde seria colocada o busto foi arrancada por ordem do comando do Quartel da Rampa.

Na verdade, Othoniel Menezes nunca foi chegado a homenagens, nem desejou estátuas ou bustos em praça pública, segundo seu filho Laélio Ferreira. Foi dele a sugestão da homenagem, aceita pela Secretaria Extraordinária de Cultura/Fundação Jose Augusto e datada para inaugurar no último 14 de março, data comemorativa do Dia da Poesia. O local escolhido foi o Beira-Rio, de acesso à Fortaleza dos Reis Magos - próprio do Estado e tombado pelo Patrimônio da União. A intenção foi de que o busto ficasse voltado ao Rio Potengi, tão cantado nos versos do vate.

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Neste local, no Beira-Rio, de acesso à Fortaleza dos Reis Magos, seria colocado o busto do poeta

Nada foi inaugurado. Segundo Laélio Ferreira, a FJA alegou, para o adiamento, dificuldades na realização de licitação para a pequena obra - tão somente uma chantadura para apoiar o busto, entregue em fevereiro, logo depois do requerimento à Secrataria. Mesmo atrasada, a obra foi iniciada há pouco mais de dois meses. Segundo a diretora administrativa da Fundação José Augusto, Ana Neuma, dois dias depois o Exército embargou a obra. “Solicitamos, portanto, explicação para o ato. No momento, o comando do Exército espera resposta da central de Recife para nos repassar”.

Ana Neuma confessou o esquecimento em pedir autorização do Exército para iniciar a obra: “Pedimos apenas a licença do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional)”. O filho do autor de Praieira criticou o ato militar: “O que um coronel desses entende de cultura e história? Geralmente são caras de fora e só entendem mesmo de ‘ordinário, marche’, saudosos dos tempos da ‘Redentora’”. E ironizou: “Natal, como acontece sempre, só desconsagra. Othoniel, depois de quarenta anos da sua morte, ainda é perseguido na própria terra - ele, que se findou, auto-exilado, no Rio de Janeiro”.

O busto tem mais de três anos. Foi elaborado pelo escultor Eri Medeiros a pedido de Laélio Ferreira. A ideia inicial era colocar em frente à casa onde Othoniel Menezes nasceu, na Rua da Laranjeira. “Desisti ao lembrar que, no caso, a obra teria de ser doada à Prefeitura de Natal. O Município, na gestão do Carlos Eduardo, já havia feito uma sujeira com a memória de Othoniel - quando prometeu e descumpriu - e eu nada havia pedido - a promessa de ’substituir’, no Canto do Mangue (face à grita dos intelectuais e historiadores), a estátua de Exupèry por uma do Poeta”, comentou Laélio.

Devolução

Caso o impasse seja mantido e a obra permaneça embargada, Laélio Ferreira irá solicitar a devolução da obra em bronze ao Estado. A única exigência do filho do poeta à feitura da obra foi a de que, no pedestal, em placa própria, além dos mínimos registros da existência de Othoniel Menezes, constasse também a transcrição da sextilha “Sertão de Espinho e de Flor”, livro do homenageado: “A glória a que aspiro - a única -/ e que há de ser minha túnica,/ mais sagrada que a de um rei,/ posse intangível, se planta/ na alma do povo - que canta/ as canções que lhe ensinei!”.

A reportagem do Diário de Natal buscou informações no Quartel da Rampa a respeito do episódio, junto ao setor de Relações Públicas. Nas três ligações, em três horários diferentes da manhã, os responsáveis não se encontravam no setor.

Saiba mais

Othoniel Menezes nasceu em 1895, no dia 10 de março. Foi considerado o “Príncipe dos Poetas do Rio Grande do Norte” (título conferido por seus pares em 1918). O poeta foi o autor dos versos da Serenata do Pescador, a popular Praieira, composta em 1922 e musicada por Eduardo Medeiros. A música foi tão tocada na época, que o Governo Municipal de Natal a considerou Canção Tradicional da Cidade, através do Decreto Lei Nº 12, de 22 de Novembro de 1971. Foi cantada pela primeira vez, oficialmente, em 16 de Dezembro de 1923, por Deolindo Lima, no Teatro Carlos Gomes, hoje Teatro Alberto Maranhão. É possível que tenha sido cantada pela segunda vez no mesmo teatro apenas em 2006, pelo Trio Iraquitan, no mesmo dezembro. Em 1963, Othoniel Menezes passou a morar no Rio de Janeiro e ali faleceu a 19 de abril de 1969, aos 74 anos. “

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