domingo, 18 de setembro de 2011

SOBRE A MUNDIÇA DO MARANHÀO...

DORALICE, EU BEM QUE TE DISSE

Ruth de Aquino

Caiu o ministro que nunca deveria ter sido – e o peteleco que o derrubou foi Doralice, a governanta. Na casa grande & senzala do maranhense Pedro Novais, quase tudo parece ser pago com verba pública: do motel à empregada e ao motorista da mulher. Difícil saber o que, afinal, o octogenário pagava do próprio bolso. É o quarto ministro defenestrado por amoralidades com a verba pública em menos de nove meses do governo Dilma. É mau ou bom sinal?
Há quem encare esse número de ministros exonerados como recorde negativo no Brasil. Prefiro encarar como a primeira depuração real de políticos que perderam a noção do que significa ocupar um cargo público. Essa varredura só é possível num país com imprensa livre. Palocci, Nascimento, Rossi e agora Novais saíram envoltos em diversos tipos de maracutaias, denunciadas pela mídia. Eles fazem parte da herança maldita deixada pelo governo Lula. A ética não vingou nos dois mandatos do presidente que prometeu moralizar a política.
Como chefe da Casa Civil, Dilma jamais esteve iludida sobre os malfeitos. Viu vários companheiros cair em desgraça com o mensalão. Mas era uma subordinada. Hoje, como presidente, reage às acusações de corrupção na cúpula com mais firmeza que seu antecessor. Escândalos já lhe custaram quatro cargos de confiança. “De confiança” tornou-se, aliás, uma expressão vazia. Está muito difícil confiar, não é mesmo, Dilma?
Pedro Novais, no Turismo, era um dos exemplos mais significativos da incompetência aliada à falta de pudor. Com Sarney como padrinho, era um peralta reincidente e intocável. Meses antes de se tornar ministro, Novais pediu à Câmara reembolso de R$ 2 mil por uma festa no motel Caribe, em São Luís. Aos 80 anos! Flagrado o deslize, devolveu o dinheiro. E continuou a gastar e desviar. Aprovou convênios de até R$ 66 milhões para beneficiar os donos do Maranhão. Fraudes foram descobertas em seu gabinete.
Mas foi só com Doralice que a coisa pegou. Era sua governanta havia oito anos e foi contratada por uma empresa do Ministério do Turismo. Inspirado na música de João Gilberto, Novais foi visto cantando triste pelos cantos: Doralice eu bem que te disse/ Olha essa embrulhada em que vou me meter?/ Agora, Doralice, meu bem/ Como é que nós vamos fazer? Bem que ele tentou se agarrar à saia de Dilma, mas não adiantou. A presidente decidiu que ou ele saía ou seria saído.
Por princípio, a queda desses ministros é um bom presságio. Mas quem subiu no lugar de Novais foi um ministro genérico. Gastão Vieira não é um técnico, não entende nada de turismo, e suas credenciais são o PMDB, o Maranhão e Sarney. Ou seja, já entra cambaleando. Gastão terá de gastar direito. Sua nomeação respeitou uma exigência de Dilma que a nós, eleitores, parece surreal. A presidente disse ao PMDB que o substituto precisava ter “ficha limpa”. É encorajador saber que novos ministros não poderão mais apresentar um passado suspeito. É inacreditável que essa exigência seja verbalizada, como se fosse um adorno e não uma premissa básica.
Tirando Nelson Jobim, o gauchão que caiu por falar demais (e mal) do governo, o povo quer saber o que acontecerá com os ministros exonerados por suspeita de irregularidades. Nada? Quando Dilma diz que tomará “medidas cabíveis” contra todos que cometem malfeitos, o que isso quer dizer? Eles só perderão seus cargos, mas permanecerão políticos profissionais em dois ou três dias de trabalho por semana no Congresso?
Existe uma crise de confiança na política. Os nomes e as quantias desviadas já não importam. Sabemos que a punição jamais chega aos mandantes. Novais não passava de um “trombadinha” dentro de uma política maior e mafiosa.
Dá vergonha ver a manobra de Sarney e Collor por sigilo eterno nas informações oficiais no Brasil. O padrinho ao qual Dilma se curva no congresso do PMDB é o mesmo que a constrange em sua campanha por governos abertos. Enquanto a presidente técnica não tiver cacife e autonomia para refundar a política no Brasil, muitas Doralices serão pagas com nosso dinheiro.

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