O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, elege Ana Arraes para o TCU e dá uma cartada importante para se projetar nacionalmente
Por praxe, as eleições para ministro do Tribunal de Contas da União despertam interesse apenas no Congresso e noPalácio do Planalto. As disputas em geral movimentam deputados, senadores e representantes do governo federal interessados em recomendar um nome de confiança na instituição responsável pela fiscalização das contas federais. Na semana passada, foi diferente. Os deputados se reuniram na quarta-feira para escolher o substituto do ministro Ubiratan Aguiar, que se aposentou. O grande protagonista da eleição foi o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos. Estrela ascendente na política brasileira, Campos usou a eleição na Câmara para se projetar no cenário nacional. Com um empenho desproporcional à relevância do cargo vago, ele se envolveu pessoalmente na disputa e conseguiu eleger a mãe, a deputada Ana Arraes (PSB-PE), para o TCU.
Ana Arraes venceu a disputa com 222 votos, contra 149 do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e 47 de Átila Lins (PMDB-AM). Para entender sua intromissão nos assuntos do Legislativo, é necessário avaliar as pretensões de Eduardo Campos. Herdeiro político de Miguel Arraes, governador de Pernambuco por três vezes, Campos sonha com a possibilidade de ocupar um lugar de destaque na eleição presidencial de 2014. Ele trabalha para ganhar o posto de vice numa chapa presidencial ou mesmo, a depender das circunstâncias, lançar-se candidato ao Palácio do Planalto. Nas movimentações para eleger a mãe, Campos amarrou acordos compartidos e caciques políticos tanto da base parlamentar da presidente Dilma Rousseff, como o PT e o PMDB, quanto da oposição, como o PSDB.
Entre os que ajudaram Campos, estavam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o senador tucano Aécio Neves (MG). Campos também jogou em dobradinha com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, fundador do PSD, o partido ainda em formação que “não é de direita, nem de esquerda nem de centro”. Outra prova da abrangência da vitória de Campos foi a presença na Câmara, na hora da votação, do governador do Ceará, Cid Gomes (PSB). Até o ano passado, Cid e o irmão Ciro disputavam o controle interno do PSB com Campos. Ao apoiar Ana Arraes, Cid demonstra que aceita a supremacia do pernambucano no comando da legenda.
Filha de Miguel Arraes, a nova integrante do TCU tem experiência apenas relativa na área em que vai atuar. Com 64 anos e dois mandatos de deputada federal, ela tem no currículo uma passagem pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) de Pernambuco, onde atuou como secretária de um dos conselheiros, cargo de pouquíssima importância no organograma do órgão. No TCU, ela receberá salários de R$ 25 mil, terá férias de dois meses por ano, carro oficial e cota de passagens aéreas.
A importância política do posto de ministro do TCU vai além das vantagens pessoais. Para Eduardo Campos, ter a mãe no TCU significa a possibilidade de mostrar influência a todos os que têm interesse nas decisões do órgão, como prefeitos e governadores, atores importantes em qualquer eleição. O TCU tem por prerrogativa fiscalizar as contas do governo federal e os repasses de recursos a prefeituras. Seus ministros podem determinar a paralisação de obras e aplicar punições contra os que cometerem irregularidades.
Quem acompanha as movimentações de Eduardo Campos observa que ele tem dado atenção especial à ocupação de cargos em Tribunais. O atual presidente do TCE de Pernambuco, Marcos Loreto, assessorou Campos em duas oportunidades: foi chefe de gabinete no governo de Pernambuco e, antes, assessor especial no Ministério da Ciência e Tecnologia, quando Campos era ministro. Loreto é primo de Renata, mulher de Eduardo Campos. O governador também articulou a nomeação de um primo para o TCE, o conselheiro João Campos, ex-desembargador eleitoral em Pernambuco. Estendeu a mão, ainda, a adversários políticos aonomear como secretário de Turismo Alberto Feitosa (PR), genro de José Jorge, outro ministro do TCU.
A nomeação de Ana Arraes para o TCU ainda depende de aprovação do Senado. Opositor do governador em Pernambuco, o senador Jarbas Vanconcelos (PMDB-PE) critica a indicação. “Infelizmente, o resultado da eleição para o TCU é o retrato do Brasil. Vivemos num país que precisa dar um salto de qualidade, sem corrupção, sem aparelhamento do Estado e sem nepotismo”, diz Vasconcelos. Apesar da voz contrária de Vasconcelos, as alianças costuradas por Campos também devem prevalecer no Senado na hora da votação do nome de Ana Arraes.
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