quinta-feira, 1 de setembro de 2011

IMPROVISOS...



José Alves Sobrinho

O poeta popular
Escreve o que tem vontade
Quando tem inspiração
Engenho e mentalidade.
Exalta, acusa e defende
Compara a capacidade.

* * *

Wedmo Mangueira

À SHYRLEY

De silêncio e saudade se arquiteta
essa tarde voraz que me consome.
Tudo tem sempre o “s” do seu nome
quando a mente assim se me inquieta:
desde a réstia de sol que se projeta,
ao perfil sinuoso de algum monte;
desde o arco alongado de uma ponte,
ao esguicho da fonte de água turva.
Por você, nessa tarde, até se curva
toda a reta da linha do horizonte.

* * *

Severino Pinto

Nesses dias vou fazer
Como o nosso Zé Limeira:
Comprar uns óculos escuros
Desses de tolda de feira,
Botar o bicho na cara,
Sair cantando besteira.

* * *

Zé Limeira

Quando D. Pedro II
Governava a Palestina
E Dona Leopoldina
Devia a Deus e ao mundo
O poeta Zé Raimundo
Começou a capar jumento.
Daí veio um pensamento:
Tudo aquilo era boato.
Oito noves fora quatro,
Diz o Velho Testamento.

* * *

Anselmo Souza

Vou lová sua esposa
Da cabeça ao calcanhá:
Lovo mão e lovo dedo.
Lovo braço e lovo pá;
Ao depois lovo a cabeça
Cabelo de penteá.

* * *



Lourival Batista Patriota

Procuro porém não acho
Poeta que me dê choque
Canto de qualquer maneira
Quem quiser que me provoque
O gênio manda que eu diga
A viola manda que eu toque

* * *

Eduardo Macedo

Nestes meus rudes traçados,
Rusticamente entalhados,
Ribombam antepassados
Ecos de seca e trovão;
Melodias ancestrais,
Desafios, madrigais,
Dos confins dos abissais
Mananciais do sertão.

* * *

Chico Nunes

Caipora, campo, campina,
Cabrita, cabra, carneiro,
Castanha, Caju, Coqueiro,
Craveiro, Cravo, Cravina,
Cabelo, cacho, cortina,
Comprando, comprei, compra-lo,
Caçando, coçando, calo,
Compadre, compra, carimbo,
Cachaça, café, cachimbo,
Caboclo, carvão, cavalo.

* * *

Raimundo Caetano

Toda espera sempre cansa,
quando a pessoa não vem
e é triste esperar alguém,
que não manda nem lembrança,
a mãe espera a criança
desde o dia que engravida,
pela placenta envolvida,
no ventre aonde se gera.
As horas de quem espera
são as mais longas da vida.

* * *

Fenelon Dantas

O rádio é para se ouvir
E todo mundo entender
O telefone é melhor
Para a gente ouvir sem ver
No telefone eu namoro
Sem minha mulher saber.

* * *

Um folhe de Olegário Fernandes da Silva

Romance do Homem que Enganou a Morte no Reino da Mocidade

Peço talento a Jesus
que tenho necessidade
Para versar um romance
que vem da antigüidade
o homem que enganou a morte
no reino da mocidade

Dou volta no pensamento
com divina inspiração
pra descrever esse drama
que faz chamar atenção
o reino da mocidade
da primeira geração

Houve esse grande reino
da remota antigüidade
os que moravam nele
gozavam felicidade
velhos de 76 anos
ficavam novo a vontade

La havia uma princesa
bonita, risonha e bela
17 anos de idade
contava essa donzela
por nome de Yracema
foi esse o batismo dela

Porém vou deixar o reino
com o seu drama fagueiro
para falar de um homem
o qual não tinha dinheiro
porem vivia gozando
como qualquer fazendeiro

Esse homem era pobre
mais vivia cansado
porque pela sua esposa
era bastante estimado
e por seus vizinhos
era muito acreditado

Amava muito a esposa
e não lhe era ingrato
antes queria morrer
de que lhe dar o maltrato
mais foi um dia caçar
e caiu em desacato

Ele disse pra esposa
prepare nosso jantar
que vou matar uma paca
e não tardarei voltar
nisso pegou a espingarda
saiu pro mato a caçar

Na cacada perdeu-se
num degrado montanhoso
porem a nada temia
por ser homem corajoso
foi sair no outro dia
no reino misterioso

Desceu um despenhadeiro
por dentro de uma jibeira
igual a toca de índios
da raça de tabajara
que tem o pescoço fino
e o bico como arara

Adiante viu uma pedra
e na pedra uma janela
e na janela uma moca
bonita atraente e bela
ela fitou pra ele
e ele fitou pra ela

Quando ela fitou pra ele
e seu coração pasmou
que tinha família
na hora não se lembrou
foi esse o motivo justo
que ele no reino ficou

Quando ele entrou no reino
ficou muito admirado
foi vendo um leão de ouro
de um tamanho agigantado
e um tigre de brilhante
junto do leão prostrado

A princesa disse a ele
não fique impressionado
porque você vai ver coisa
de ficar maravilhado
no reino da mocidade
e como um sonho dourado

Nisto ele foi avistando
o mundo todo alvejado
com um grande rio de leite
deixando todo alagado
ele dizia consigo
aqui estou encantado

Depois ouviu uma voz
que falava muito além
a voz perguntava assim
quem és te e de onde vem
e viu numa placa escrita
aqui não mora ninguém

A princesa deu-lhe um abraço
dizendo vamos meu bem
vou te botar num lugar
que para você convém
e te mostrar as riquezas
que no meu reino tem

Saiu de braço com ele
chamando de João Sem Fim
passaram por uma praça
onde havia um jardim
e depois entrou num quarto
todo forrado a cetim

Disse a ele fique ai
e durma muito contente
que aqui passa 100 anos
sem nunca cair doente
a morte não te persegue
nem nunca fica demente

Ele deitou-se e ficou
igualmente a andorinha
quando se aparta das outras
que fica triste sozinha
nisto chegou a princesa
perguntando o que ele tinha

Disse ele estou pensando
na minha velha morada
e também na minha esposa
tão boa e tão educada
eu deixei sem motivo
tristemente abandonada

Disse a princesa meu bem
tudo pode acontecer
você aqui vai gozar
muita saúde e prazer
tem eu como seu amor
e esta livre de morrer

Deixou ele conformado
corno a princesa queria
cada dia que passava
e o amor dele crescia
falamos na mulher
o disprazer que sofria

Vinte anos esperou
sem mais nunca ele voltar
ficou triste e cadavérica
tristonhamente a chorar
dizia as feras o comeram
quando ele foi caçar

E depois de 20 anos
Jesus ordenou a Monte
dizendo vá hoje mesmo
faca um ligeiro transporte
e me traga João Sem Fim
sem ele aqui não me volte

A Morte desceu ao mundo
sem cara enferruscada
e chegou na casa dele
com uma foice afiada
bateu na porta e falou
a mulher saiu vexada

Ah perguntou a Monte
mulher cadê seu marido
Jesus mandou buscar ele
não tem choro nem perdido
a senhora cuida logo fazer
um preto vestido

A mulher disse pra Monte
meu marido esta ausente
faz 20 anos que ele
já é morto certamente
disse a Monte sendo assim
você vai em minha frente

E aí passou-lhe a foice
a velha descangotou
morreu sem fazer zuada
e a monte logo voltou
dizendo não achei João
mais a mulher me pagou

chegando disse a Jesus
não encontrei João Sem Fim
mais matei a velha dele
magra que só um sagüim
Jesus disse para Monte
você faz papel ruim

Eu quero o João e vá logo
por este mundo afora
procure até encontra-lo
se não a coisa piora
e vá' ligeiro mesmo
que eu não quero demora

E a Morte atrás de João
corria mais do que jeep
circulando o mundo inteiro
igualmente um eclipse
dizendo onde encontrar
mato ele de gripe

Viajou 40 dias
caçou por toda parte
por Terra, Lua, as estrelas
por Vênus, Saturo e Marte
voltou dizendo
já sei que vou perder minha arte

Jesus disse para ela
cuidado que você erra
não procure ele nos astros
o homem esta na Terra
e Se não der conta dele
o seu emprego se encerra

E ela saiu correndo
igualmente a ventani3
chorando e se maldizendo
correndo de noite a dia
porem João lá no reinado
nunca a Morte descobria

Aqui deixando a Morte
neste serviço pesado
e vou falar em João
saber 0 SCU resultado
que um dia destinou-se
cair fora do reinado

Chamou a princesa disse
ha um motivo qualquer
que me obriga agora
eu ir ver minha mulher
preciso provar a ela
o meu sagrado mister

A princesa disse a ele
tu não tem que viajar
tua mulher já morreu
não pode mais avistar
e faz 100 anos que a Morte
procura te encontrar

Se tu quiseres teimar
veras mudar tua sorte
pois já completa 1-00 anos
que morreu tua consorte
e invés de tua esposa -
vais encontrar com a Morte

Ela vive atrás de ti
sem descansar noite e dia
na hora que te encontrar
será grande a tirania
dessa vez vai morar
debaixo da terra fria

Disse João e como é isso
que nem 8 dias faz
que deixei em minha casa
a minha esposa capaz
se já fizesse cem anos
ninguém viveria mais

A princesa disse a ele
não teime com a verdade
já lhe disse que aqui
0 reino da mocidade
cem anos que demonstra
ter um dia de idade

Mas corno tu queres Ir
eu vou te satisfazer
te monta neste cavalo
que tem um grande poder
vá e volte e não desmonte
sob pena de morrer

João Se montou e seguiu
sua viagem contente
porém quando chegou lá
achou tudo diferente
porque no lugar da casa
era uma mata somente

Ele ali ficou em pé
como quem teve e não tem
olhando prá todo lado
para ver se via alguém
nisto chegou um rapaz
João lhe tratou bem

Excelente caro moço
me diga que se passou
com o povo desta casa
se morreu ou se mudou
ora rapaz disse parece
que o amigo emalucou

o rapaz disse pra João
meu avo sempre contava
que nesta casinha
velha ha uns 100 anos morava
um caçador que morreu
nos dente da fera brava

A mulher ficou sozinha
sem filho sem parentela
com 20 anos depois
velo a Morte e levou ela
e hoje resta somente
esta mata tão singela

João até ficou tristonho
se maldizendo da sorte
e montado no seu cavalo
possante, aredo e forte
caminhou sem esperar
cair nas garras da Morte

Adiante ele avistou
uma grande confusão
era um carro de boi
em forma de um caixão
e nele vinha uma velha
magra que só um canção

o cavalo vendo a velha
tratou de se espantar
pois a velha era a morte
que andava a J0a0 procurar
e João vendo que caía
teve que se desmontar

Quando ele desmontou
viu logo mudar a sorte
a velha se aproximou
com uma foice de corte
e foi dizendo a João
encontrou a velha Morte

Não me mate disse João
que lhe dou este animal
a velha disse é com isso
que queres me fazer mal
repare pra minha cara
se é de guarda fiscal

Você já deve saber
que minha parada é dura
eu não respeito valente
galã e nem formatura
quanto mais o cabra é rico
mas a foiçada é segura

Tua mulher já botei
no meu caderno antigo
faz 100 anos que ela está
bem guardada no jazigo
tu agora estais viuvo
teu casamento é comigo

Disse João Ave Maria,
rniseric6rdia, São Bento
enfrentar esta parada
é um serviço incerto
se Jesus Pai Poderoso
me defenda no momento

Ele dizia consigo
minha vida está perdida
nunca mais eu vou no reino
nem vejo minha querida
mas vou inventar um truque
e agarrar essa bandida

João disse a ela já sei
que 0 tempo está vencido
mas como a senhora
me atende 0 ultimo pedido
que morro satisfeito
depois de ser atendido

A Morte disse eu atendo
pode dizer neste instante
disse João deixe eu montar
no meu cavalo possante
para morrer a cavalo
corno um her6j viajante

A Morte disse então monte
João pulou no meio da sela
e gritou para 0 cavalo
me defenda sentinela
o cavalo deu um pulo
se encantou na vista dela

Ligeiro igualmente um raio
sumiu-se João no gramado
a Morte quase endoidesse
caçando pra todo lado
e enquanto estava assim
ele entrou no reinado

A morte não vendo João
ficou igual a Caim
voltou e disse a Jesus
agora é que está ruim
eu me acabo e não vou
atras do tal João Sem Fim

Porém Jesus disse a ela
não quero ver arrelia
você vai andar na Terra
com toda calma e macia
daqui pra findar-se o mundo
você pega ele um dia

Assim a Morte até hoje
atras de João tem andado
mas vamos deixa-la aqui
correndo pra todo lado
e vamos falar em João
quando chegou no reinado

Disse João para princesa
topei uma parada forte
perdi todos meus parentes
morreu minha consorte
para falar a verdade
lutei até com a Morte

Assim João contou a ela
a sua finalidade
e disse já que perdi
minha esposa de bondade
agora vamos casar
e gozar a mocidade

Muito bem querido João
disse princesinha bela
vamos casar ainda hoje
naquela linda capela
sem saber que um primo
que estava louco por ela

Esse moco era um príncipe
filho da mesma nação
que a princesa tinha a ele
jurado seu coração
Mas tinha esquecido ele
quer agora o João

E na hora que eles iam
na capelinha entrando
trocando beijo e abraços
o padre se preparando
o príncipe entrou também
Por esta forma gritando

Yracema, ô Yracema
você está esquecida
que jurou perante a Deus
ser minha esposa querida
só pode casar com outro
quando eu perder a vida

E por isto agora mesmo
a luta vai ser pesada
porque você fez jura
de comigo ser casada
agora já vem com outro
com boato e enrolada

0 príncipe olhou pra João
dizendo cabra de peia
você” vem lá do inferno
iludir a filha alheia
mas seu casamento agora
é cemitério ou cadeia

E disse logo decida
que minha parada é dura
puxou uma espada
com palmo e meio de largura
sacudiu com tanta força
que ainda cortou-lhe abertura

João também puxou uma
corno quem quer fazer briga
ele disse até a morte
comigo perdeu a liga
quanto mais tu que só tens
canela fina e barriga

Nisto a princesa gritou
príncipe não corneta feita
você” sabe que aqui
a nossa lei é exata
no reino da mocidade
não se morre nem se mata

O príncipe disse é verdade
reconheço que errei
por violência de amor
mas já me regenerei
pode se casar com ela
que obedeço a nossa lei

Casou João com Yracema
na maior felicidade
com este tempo que vivem
são de uma s6 idade
e quem compra um romance
goza da mesma igualdade

o príncipe procurou outra
para ser sua consorte
Yracema é sempre nova
bonita corada e forte
e João ainda hoje vive
dando pitomba na Morte

Tem seu palácio firmado
lá no meio de um jardim
onde vive com Yracema
o seu anjo querubim
mandando cartas poéticas
escritas por João Sem Fim.

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