Um poema de Francisco Egídio Aires Campos
O “Corno” da minha rua
Tem certos tipos de “cornos”
Que são bem peculiares
Enfrentando suas “côrnezas”
De formas particulares,
Ficam inventando estratégias
Pra não ofenderem as egrégias
Santas-damas dos seus lares.
Inventam modos impares
No seu raciocínio insano,
Pois nenhum mal os atinge
Se fugir do desengano,
De num descuido fatal
Dar de cara com o tal
“Ricardão” ou “Pé de pano”.
Meu vizinho passa o ano
Bancando a maior moral,
É grosso com a vizinhança,
Trata aos subalternos mal,
Fugindo ao que lhe desgosta
Ele finge que só gosta
De ouvir forró imoral.
Na sua velha “Rural”
Aplicou sua ciência
De corno recalcitrante
Mas de pouca sapiência,
Colocou um som potente
Que deve ter certamente
Dez mil watts de potência.
Ele não tem consciência,
É grande, feio e violento,
um tremendo cara-dura
Bravateiro e zuadento,
Numa análise banal
Deve ter o cérebro igual
Ao cérebro de um jumento.
Dá pra saber o momento
Que do bairro se aproxima,
Pois de mais de um quilometro,
O vento que vem de cima
Traz aqui o som possante,
E seu sócio num instante
Vai pastar em outro clima.
Quando ele chega, se anima,
Põe no máximo o volume,
Do super som, com as músicas
Que nem servem pra estrume,
E a vizinhança acovardada
fica sofrendo calada
Sussurrando seu queixume.
PS:
Já chamei sua atenção,
Ele ciscou no terreiro,
Mas depois baixou o som
E até ficou mais ordeiro,
Eu não temo entrar no forno
Porquê na casa de corno
MANDA QUEM CHEGAR PRIMEIRO...
Manda quem chegar primeiro
.
Deixe a Menina
Chico Buarque
Não é por estar na sua presença
Meu prezado rapaz
Mas você vai mal
Mas vai mal demais
São dez horas, o samba tá quente
Deixe a morena contente
Deixe a menina sambar em paz
Eu não queria jogar confete
Mas tenho que dizer
Cê tá de lascar
Cê tá de doer
E se vai continuar enrustido
Com essa cara de marido
A moça é capaz de se aborrecer
Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz
E atrás dessa mulher mil homens, sempre tão gentis
Por isso para o seu bem
Ou tire ela da cabeça ou mereça a moça que você tem
Não sei se é para ficar exultante
Meu querido rapaz
Mas aqui ninguém o agüenta mais
São três horas, o samba tá quente
Deixe a morena contente
Deixe a menina sambar em paz
Não é por estar na sua presença
Meu prezado rapaz
Mas você vai mal
Mas vai mal demais
São seis horas o samba tá quente
Deixe a morena com a gente
Deixe a menina sambar em paz
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