sexta-feira, 19 de novembro de 2010

UMA CRÔNICA DE QUEM SAIU PARA VOTAR...



Praia do Francês

Gregório acordou-se, nove horas da manhã, se espreguiçou pensando seu roteiro do dia. Era domingo, segundo turno da eleição. Tomou banho, vestiu calça jean, camisa leve; nos trinques que nem matuto para votar. Tomou café com a esposa, depois rumou a Marechal Deodoro onde exerceria a sacro-santa cidadania, dar seu voto. É bom que se diga antes de prosseguir, Gregório é um homem decente, de só um defeito, uma doença, compulsão ao sexo feminino. Maluco por mulher.

Ao passar pela orla da Pajuçara, duas turistas em roupas de praia esperavam condução. Nosso amigo gentilmente parou o carro, ofereceu carona. Coincidência ou artimanha do destino, elas tinham o mesmo destino, praia do Francês em Marechal Deodoro. Entraram no carro. Eram paulistas, faixa etária entre 30 e 40 anos. Gisélia professora de música da USP e Catarina, engenheira ambiental.

Houve empatia imediata entre os três. Gregório se apresentou, trabalhava em Marechal Deodoro, ia votar. As moças, se assim pode chamá-las, estavam fascinadas com a beleza das praias, o azul do mar. Conheceram o Litoral Norte, agora o Litoral Sul. Ao atravessar a ponte sobre a Lagoa Mundaú, Gregório informou, entravam no velho município de Marechal Deodoro, 415 anos. Estavam na Ilha de Santa Rita, área de proteção ambiental, a maior ilha lacustre do Brasil. Catarina pediu para tirar algumas fotos, manguezais, lagoa, canais, coqueirais. Não conhecia no mundo uma beleza exuberante verde, cortada por tantas águas.

Antes da praia do Francês, Gregório sugeriu mostrar o Centro Histórico da cidade à beira da Lagoa Manguaba. As duas paulistas se encantaram com o Palácio Provincial, as construções barrocas, a casa onde nasceu Marechal Deodoro, as Igrejas, o Convento de Santa Maria Madalena, o Museu de Arte Sacra. Gregório aproveitou, rápido votou no Grupo Escolar. Certo momento nosso grande anfitrião atendeu o celular, era o chefe, ele disse estar com uma comissão de turismo de São Paulo, depois relataria com detalhes.

Afinal foram à praia do Francês, no estacionamento Gregório tirou por trás do pneu estepe, outro tipo de estepe, um velho calção de banho escondido para casos de emergências. Pegaram sombrinha e cadeira em frente ao mar. As paulistas ficaram apenas de tanga, o sangue de Gregório ferveu nas veias, pediu tira-gosto, peixe, ova, camarão, ostra, regado a cerveja gelada e bom uísque. O papo entre os três cada vez mais alegre, mais íntimo, já havia clima para uma boa tarde de amor. Gregório só não sabia a quem escolher.

Entraram na água límpida, transparente, viam os pés no fundo do mar, conversaram, sorriram, afinal a vida são momentos passageiros. Ao voltar à sombrinha, Gregório atendeu novamente o celular:

“- Querida, tudo bem, já votei, mas vou ficar na casa do chefe, aguardando a apuração. Só volto para casa depois do resultado para comemorar com você.”

As paulistas sorriram discretamente, Gregório propôs onde almoçar, havia uma série de bons restaurantes à beira da Lagoa no povoado da Massagueira, excelentes pratos de peixes e mariscos, entretanto, ele também gostava muito da comida de um restaurante rústico, da Maria Furadinha (levou sete facadas, daí o apelido) na Barra Nova, outro paraíso dentro de Marechal Deodoro.

Entraram na barraca armada. Maria Furadinha preparou dois tipos de prato de marisco e peixe, para ser justo e honesto, deveriam ser comidos de joelhos.

Em plena euforia, nosso amigo contava histórias e cantava. As meninas alegres, felizes, dia maravilhoso de céu azul. Certa hora Catarina, olhou nos olhos de Gregório, colocou o dedo em seus lábios, foi enfática.

“- Escuta aqui seu alagoano desavergonhado, somos adultos, queremos terminar bem nosso dia, é um dia especial para o Brasil, inesquecível para nós. Eu e Gisélia íamos disputá-lo na porrinha. Acontece que decidimos, por que não os três? Você dá conta de nós, seu cangaceiro da água salgada?”

Gregório se refez da surpresa, deu um beijo na boca de Catarina. Eram quatro horas da tarde quando pediram a suíte presidencial do motel, suíte 21. Beleza de conforto, piscina ao ar livre, pequeno jardim, todos ficaram à vontade, como vieram ao mundo. Para não fraquejar Gregório tomou discretamente uma pílula azul. Assistiram toda apuração pela televisão, saíram quando terminou o resultado. Em meia hora deixou as belas paulistas no hotel, viajavam na segunda de madrugada.

Nove da noite chegou em casa, Sandra, a esposa vibrava, nossos candidatos ganharam, vamos sair, tomar um vinho. Sem remorso Gregório beijou a mulher. Antes de dormir ainda conseguiu um terceiro turno caseiro.
Carlito Lima.

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