terça-feira, 29 de janeiro de 2013

SOBRE O SUICÍDIO...


A CONSTANCIA DA INCONSTANCIA DA 


VIDA É O IMPOSTO MAIS ANTIGO Á 


INTELIGENCIA...


FERNANDO PESSOA.



UM TEXTO DE LUIZ OTÁVIO CAVALCANTI

VIVER

Camus disse que a única questão filosófica séria é o suicídio. Por que existem suicidas ? Walmor Chagas, aos 82, almoçou macarrão com molho shoyu, sentou numa cadeira e atirou na cabeça. Sem mensagem a ninguém.
Não encontrou recursos para continuar vivendo na energia familiar, nem no afeto de amigos. Nem no estoque de talento que lhe deu fama. E ainda era capaz de exibir. Consumiu-se na perda gradativa de sentidos, afetados pelo diabetes.
Era homem marcado pela morte súbita, no palco, de sua mulher, Cacilda Becker. Entre o primeiro e o segundo atos de uma peça na qual eles contracenavam. Talvez a rudeza daquela morte lhe tenha servido de provocação. E instalado nele a vontade de mostrar que o último gesto lhe pertencia. Não o delegaria à indesejada.
O problema da vida que possivelmente fica, ou que vai, ou se esvai, está no filme francês Amor. Com Jean Louis Trintignant e Isabelle Hupert. Trata de casal que, nos derradeiros anos de vida, consegue sustentar-se no fio de lucidez. De repente, ela tem um AVC e vai pra cadeira de rodas. Entrando em declínio desesperador. O marido faz tudo para ampará-la. Ela recusa a ajuda sabendo-se no limiar da falta absoluta de movimentos.
Ele dispensa o apoio da filha. Impotente diante da doença, termina, no desespero da solidão a dois, matando a mulher. E se suicidando. Desconfio que o suicídio não é um ato, é um processo. E que só quem o comete é capaz de se sentir vitorioso ou derrotado.

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