POR LUIZ OTAVIO CAVALCANTI.
FAZENDEIRO DO AR
Nasceu em Cachoeiro do Itapemirim. Uma figura alta e desajeitada. Definiu-se assim: “Sou um homem quieto, o que eu gosto é ficar num banco sentado, entre moitas, anoitecendo devagar, lembrando coisas que nem valiam a pena lembrar”.
Faria cem anos agora. Seu nome: Rubem Braga. O cronista. Cultivava amizades embora fosse reservado. Raro sorriso, não falava mal de ninguém. Tinha duas especialidades: produzir crônicas e beber scotch. A terceira não era especialidade, mas doce obsessão: mulher.
Reconhecidamente cultor da graça feminina: “Era tão linda assim entardecendo que me perguntei se estávamos preparados, nós rudes homens, para testemunhar sua fugaz presença sobre a terra. Os ombros são subitamente fortes para suster braços longos; mas os seios são pequenos e o corpo esgalgo foge para cintura breve; as ancas adquirem o direito de ser graves e as coxas são longas, as pernas desse escorço de corça, tornozelos de raça, pés repetindo em outro ritmo a exata melodia das mãos”.
Funcionário diplomático no Marrocos, anos 60, foi-lhe permitido trazer para o Brasil um BMW. Vendeu e tomou todinho de uísque com os amigos na cobertura, em Ipanema, que era mais um pomar. Daí o apelido Fazendeiro do Ar.
Com o passar do tempo, o velho Braga, observador de pessoas e de coisas, tornou-se perfil mítico. Exemplar feito de humanismo casmurro que não existe mais. O mundo tecnológico, veloz e monocromático, dispensa cronistas. A crônica é um modo de pensar delicado, íntimo. Quase inexistente neste mundo de ânsias.
Uma vez, ele disse: “Ultimamente têm passado muitos anos”.
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