sábado, 26 de janeiro de 2013

A POESIA QUE FAZ A ALMA LEVITAR...



João Paraibano
Olho e vejo a mão divina
Num botão de flor se abrindo
No berço que uma criança
Sonha com Jesus sorrindo
A mão caçando a chupeta
Que a boca perdeu dormindo.
* * *
Firmo Batista

O povo de Monteiro
Tem razão de ser feliz.
É a terra de Pinto,
Jansen, Lino e Diniz.
Uma terra com quatro estrelas,
Não é céu por que não quis.
* * *
Beija-Flor
O homem fez um motor
Um rádio e televisão
Fabricou um avião
Obra de tanto valor
O homem fez um motor
Pra correr nas profundezas
Fez uma cama e um mesa
Um revolver e um faca
Morre e não faz uma jaca
Que é fruto da natureza.
* * *
Severino Feitosa
Quando eu era criança
Sem escola em minha terra
Não sabia que as armas
Eram feitas para a guerra
E pra mim o mundo acabava
Do outro lado da serra.
* * *
Pinto do Monteiro
Recordo perfeitamente
Quando em minha idade nova
O meu pai cavava a cova
E eu plantava a semente
Eu atrás ele na frente
Por ter força e mais idade.
Olhando a fertilidade
Da vastidão da campina
Aquela chuvinha fina
Me faz chorar de saudade.
* * *
Onildo Barbosa
Quando a lua branquinha se mistura
Com o sorriso matuto da menina
Traz o vento o aroma da campina
Dando à mata acanhada a formosura
Quando a nuvem cinzenta, meio escura
Cobre o rosto da lua, o mundo inteiro
Silencia e sorri sentindo o cheiro,
Da rezina rosada da  romã,
Deus do céu abre as conchas da manhã
Com perfume de flor de cajueiro.
O lençol do espaço muda a cor
Uma estrela passeia em grande estilo
A orquídea acumula em seu pistilo
Todo néctar que tem pro beija flor
O pequeno azulão, feito um tenor,
Diz que é da floresta o seresteiro,
Saltitante por entre o nevoeiro
Feito um príncipe a procura de uma fada,
Vai rompendo o frescor da madrugada,
No perfume da flor do cajueiro.
Quando dá 5 horas da manhã
O perfume da flor do cafezal
Pinhão roxo, alecrim e laranjal,
Dá um clima de paz do alto à chã
Coleirinha, tiziu, guriatã,
Se agasalham no velho juazeiro,
O fiel jataí chega primeiro
Pousa leve na ponta de uma folha
E depois de posar faz a escolha
De partículas de flor de juazeiro.
Boticário, poético colibri,
Mostra toda ciência de um mago
Quando beija uma flor dando um afago
Desabrocha um pequeno maturi,
Com um manto amarelo o bem-te-vi
Aparece na copa do coqueiro,
Parecendo um profeta verdadeiro
Fecha as asas na ponta de um galho
Bebe a última gotinha de orvalho
Numa pétala da flor do cajueiro.
Quando o vento do novo entardecer
Tras da relva o perfume de alfazema
O xexéu acalenta com um poema,
Um filhote que acaba de nascer
Quando a mãe vai buscar o que comer,
Fica o pai, vigilante, alvissareiro,
Ajeitando no ninho o travesseiro,
Onde o filho adormece na penugem,
Com pedaços de folhas de babugem,
E essência de flor de cajueiro.
Baraúnas, frondosos coqueirais
Dão um tempo no colo da aurora
Num encontro da fauna com a flora
Numa orquestra de lindos sabiás
Buritis, goiabeiras, araçás
Cada um representa o próprio cheiro
Mas da selva o espírito aventureiro
Segue um mito e conduz a sua saga
Bebe a fonte, adormece e se embriaga
No perfume da flor do cajueiro.
Nos cabelos da moça campesina
Na espuma da água do riacho
Na ramagem que brota flor de cacho
No orvalho da hora matutina
Na babugem de folha crespa e fina
Na fumaça que sobe do bueiro,
Nas costuras da roupa do vaqueiro
No chapéu do caboclo agricultor
No alforje do velho caçador
Tem perfume de flor de cajueiro.
* * *
Chico Sobrinho
Um carrinho de brinquedo
O meu pai fez e me deu
As rodas eram de tábua
Porque não tinha pneu
O volante era um cordão
E o motorista era eu.
* * *
Raimundo Cassiano
Eu entrei no hospital
Já quase no fim do dia
Ali falei ao Doutor
Na mesa de cirurgia
Mexam no meu coração
Mas me deixem a poesia!
* * *
Sebastião Dias
A cultura do nosso pé-de-serra
E dos caboclos que tem na fazendola
Ela veio nos arames da viola
Quando o povo voltou depois da guerra
Com os índios que tinham nessa terra
E com os negros que vinham no porão
Que um navio chegava na nação
Para serem trocados por dinheiro
A cultura do povo brasileiro
Se formou com a miscigenação.
* * *
Zé Viola
Este  sagrado instrumento
Faz quem gosta passar sono
A peça  que mais nos toca
Ficando no abandono
Viola é como chapéu
Parece a cara do dono.
Me orgulho por ser dono
Da viola que comprei
Não dou, não troco e nem vendo
Que se fizer isto eu sei
Que estou vendendo a segunda
Mãe dos filhos que criei.

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