segunda-feira, 2 de maio de 2011
A VOZ DO POVO...
Manoel Xudu
A arte do passarinho
Nos causa admiração:
Prepara o ninho de feno,
No meio bota algodão
Para os filhotes implumes
Não levarem um arranhão.
* * *
João Siqueira
Mulher ao nascer é um anjo;
Sendo moça, um sol nascente,
Sendo noiva, uma esperança,
Sendo esposa, uma semente,
Sendo mãe, é uma fruteira,
Sendo sogra, é uma serpente!
* * *
Pinto do Monteiro
Há vários dias que ando,
Com o satanás na corcunda:
Pois, hoje, almocei na casa
Duma negra tão imunda,
Que a prensa de espremer queijo
Era as bochechas da bunda.
* * *
José Amâncio
Felício já namorou
No seu tempo de rapaz.
Já amou, já foi amado,
Hoje é que não ama mais.
Tá qual ferro de engomar,
Solta fumaça é por trás!
* * *
Dimas Batista
Ali na cabana de alguns pescadores
Fitando a beleza do mar, do arrebol,
Bonitas morenas queimadas de sol,
Alegres ouviram cantar meus amores.
O vento soprava com leves rumores,
O pinho a gemer, depois a chorar.
Aquelas morenas à luz do luar
Me davam impressão que fossem sereias,
Alegres, risonhas, sentadas nas areias,
Ouvindo meus versos na beira do mar.
* * *
Chico Nunes
Sou natural de Alagoas,
Nasci pra ser cantador,
Francisco Nunes Brasil,
Poeta improvisador.
*
A vileza do destino
Espedaçou o meu futuro,
O meu viver é obscuro
Desde o tempo de menino..
Hoje sou um peregrino,
Não sei o que é riqueza,
Bruxuleia a luz acesa,
Perdi a perseverança…
E o retrato da minha infância
Está na minha pobreza.
.
Me meti por tanto atalho
Que não sei mais onde é a entrada
Minha vida tá cortada,
Perdi amparo e agasalho,
Fui como rosa no galho,
Hoje só pétala caída,
Sem perfume, esmaecida,
Levada na tempestade,
Sentindo a dô da saudade
Na sombra negra da vida.
.
Na terra dos marechais,
Sem ter quem me queira bem,
Oh, morte, por que não vens…
Tirar os meus dias finais?
Vivo gemendo meus ais,
Só sei o que é aspereza.
Não apresento nobreza,
Sou igual a uma balança…
E o retrato da minha infância
Está na minha pobreza.
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