quinta-feira, 26 de maio de 2011

SOBRE BOB DYLAN...




RICARDO ANÍSIO


BOB DYLAN, MAIOR POETA DA CANÇÃO POPULAR




O impacto que Bob Dylan me causou quando ouvir um disco seu pela primeira vez (no início da década de 1980) foi brutal. Ora, eu estava saindo da fase em que tudo que não fosse rock era tolice. E mais; imaginem-me naquela época, ouvindo um cantor fanho se acompanhando de violão e da popular gaita de boca, hoje conhecida muito mais como harmônica. Foi tudo estranho. Eu nem pensei em aderir ao grupo de aficionados que arrancavam os cabelos para advogar em defesa do autor de “Like a Rolling Stone”.

Todos os argumentos me levavam sempre a gostar mais de bandas como Led Zeppellin e Deep Purple e, com cada vez mais convicção, correr para longe do autor de “Blowin’in The Wind”. Lembro-lhes que eu não tinha mais que 22 anos, me iniciando no jornalismo e tendo estreado como articulista com um texto sobre o movimento Punk. Ou seja, da pedrada do The Clash para o folk caipira de Bob Dylan, eu correria o risco de ter um choque e fatal. Por isso foi melhor que o tempo se encarregasse de fazer o meu namoro com o baixinho de nariz de papagaio e dono de uma das vozes mais feias da história do folk-rock.

Um belo dia estava eu namorando uma bela gaúcha recém-chegada a esta linda Parahyba, quando ela me convida a uma audição musical em sua vivenda. E qual seria o prato sonoro? Bob Dylan, exatamente ele. Foi quando ela botou na vitrola o LP “Blonde on Blonde”, o libelo psicodélico do bardo americano. Então eu me apaixonei por Dylan e nunca mais consegui ter um namoro tão apaixonado quanto platônico.

Por aí fui devorando todos os seus discos. Do sofrível “New Morning” ao escandalosamente genial “Another Side of Bob Dylan” (que a esmagadora maioria da crítica detona sem dó nem piedade) onde encontrei a mais bela canção popular de todos os tempos; para meu gosto, claro. A balada “Chimes Of Freedom” é como uma oração para mim, pois a escuto todo santo dia. Os “Carrilhões da Liberdade” chegaram a me inspirar alguns poemas do meu livro “Canção do Caos” e foi por causa de Dylan que eu decidi que um dia seria poeta, e venho tentando sê-lo.

Outros discos de Dylan que ouço sistematicamente são “The Times They Are Changing” e “The Freewheelin’ Bob Dylan”, mas não dispenso o fabuloso “Desire” e o estranhíssimo “Self Portrait”. Ou seja, quase tudo em sua discografia me tocam de alguma forma. Por isso eu até suporto o CD que Zé Ramalho dedicou inteiramente a sua obra, que deixa a desejar muito mas Dylan é Dylan. É como a versão cantada por Geraldo Azevedo para “Tomorow Is a Long Time”, que não é lá um dos clássicos do cancioneiro dylaniano, mas que tem um verso que vale por tudo, que é a filosofia de que “o amanhã é distante”, porque na verdade nunca alcançaremo-lo.

Enfim, um cara nanico, narigudo e de voz tão sofrível não chegaria aonde chegou se não fosse um gênio. Meio mundo de artistas gravou canções suas, de Steve Wonder a Gal Costa, dos Rolling Stones a Vitor Ramil. Ou seja, minha paixão por Bob Dylan é daquelas às quais chamamos de eternas. Porque a genialidade não tem fim, nem teve começo. Saiu do meio de um ventre de estrelas garimpadas em um jardim de versos.



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