sexta-feira, 13 de maio de 2011

GRANDES CORDÉIS...






Moacir Laurentino cantando com João Lourenço

Moacir Laurentino

Eu sendo nordestino,
a feira livre conheço,
velha calça desbotada,
camisa pelo avesso,
sapato de várias marcas,
banana por todo preço.

João Lourenço

Eu juro como conheço,
feijão e farinha fina,
sabão de barra e de coco,
macarrão e margarina,
café, pão, bolacha, broa,
corda, trempe e lamparina,….

Moacir Laurentino

Numa feira nordestina,
tem verdura e tem mamão,
e onde tem casa de couro,
chapéu de couro e gibão,
que das feiras do passado,
guardo a recordação.

João Lourenço

Na feira tem uma latada,
com refresco e café quente,
com sandália, fumo, prego,
cebola, carne, aguardente,
camisa, calça, sapato,
brinco, marrafa e corrente.


Moacir Laurentino

Batata, milho, semente,
arroz, jerimum, feijão,
gergelim e rapadura,
bota, correia, cilhão,
arame, chibanca, enxada,
foice, machado e facão.

João Lourenço

Camisa, mandapulão,
cabresto, canga, cangalha,
pote, cambito, peixeira,
balde, pilão e navalha,
urupemba e alguidar,
cachimbo e chapéu de palha.

* * *

Severino Feitosa cantando com João Paraibano

João Paraibano

Muda a cor da cabeleira,
sem trocar de personagem,
a alma se arrepende,
corpo perdendo a coragem,
a boca enfeitando a sopa,
e o corpo esperando a roupa
da derradeira viagem.

Severino Feitosa

A velhice é uma filmagem,
em grande velocidade,
a tristeza lhe atrofia,
a saudade lhe invade,
sua saudade é medonha,
na hora que dorme sonha
no que fez na mocidade.

João Paraibano

Fica como tempestade,
soprando ares de abrolhos;
pelas entranhas do peito,
as saudades são de molhos,
aparecendo outro tanto,
não falta enchente de pranto
Na correnteza dos olhos.

Severino Feitosa

As saudades são de molhos,
que aparecem a todo instante,
tem remédio controlado,
necessita de um calmante,
vai se sentir num deserto,
de quem esteve tão perto,
vai viver muito distante.

João Paraibano

Tenta recordar que antes
levava uma vida bela,
depois de velho sem sangue
já sente a pele amarela,
pressão alta e pranto baixo,
cada ruga é um riacho,
pra lágrima descer por ela.

Severino Feitosa

Todo duro, se atropela
com o peso da idade,
o cabelo fica branco,
com um lençol de saudade,
filho torna-se inimigo
e pode não ir pra o abrigo,
por muita felicidade.

João Paraibano

Perto dos 100 de idade,
um homem, sabem vocês
que o rosto pega mostrando
um sinal de palidez,
cabelo pintando a trança,
Jesus fazendo a cobrança
dos crimes que a carne fez.

Severino Feitosa

Sozinho mais de um mês,
é outra decepção
porque lhe falta carinho,
mais amor, mais emoção,
faz um príncipe encarcerado
nas paredes do pecado,
no cárcere da solidão.

João Paraibano

Depois do homem ancião,
quando ele pode olhar,
admirando uma moça,
quando avista ela passar,
acha graça quando passa,
como quem vê uma garça,
sem chumbo para atirar.

* * *

Cego Aderaldo cantando com Domingos Fonseca

Cego Aderaldo

Mas amigo eu estou preocupado
Vamo agora nós dois cantá
Um trabalho que eu quero citá
Para ir num martelo agalopado
Segundo se vai anunciado
É uma obra bonita de grandeza
É preciso falá pela nobreza
Convidá aos seus, eu também vou
Como és o Domingo cantadô
Vais cantar o poder da natureza

Domingos Fonseca

É melhor, num sentido diferente
Que cantar a natureza é bem custoso
É preciso um poeta espirituoso
E, aliás, um pouquinho inteligente
Porque só contemplar-se o sol poente
O seu raio tão rico de beleza
E o ar, pelo qual a chuva é presa
Pelo tempo da chuva, a terra diz
Depois de mole a terra ainda assobia:
É muito grande o poder da natureza

Cego Aderaldo

Por exemplo, se planta uma semente
Numa terra limpa e bem queimada
Ela nasce linda e bem grelhada
Por impulso dessa terra úmida e quente
Vai crescendo e ficando diferente
Tomando aspecto e beleza
Embora que a árvore nasça presa
Entre dois rochedos absolutos
Ela cria mesmo flores e frutos
Pelo pulso da mão da natureza

Domingos Fonseca

Se o macaco se lembra, energia
Quando vai roubar milho em um roçado
Sempre deixa na cerca colocado
Um macaco pequeno como espia
Se o dono do roçado, neste dia
Vai buscar um legume pra despesa
Ele avisa aos outros e com ligeireza
Sai correndo da mata pela fralda
Com os rastilhos de milho presos à cauda
Isto tudo é poder da natureza

Cego Aderaldo

Se é lagarta em forma de serpente
Quando vai caminhando em um’estrada
Mas, depois, metamorfoseada
Ela toma porte diferente
Cria asas e couro reluzente
Verdadeiro vislumbre de beleza
Nem arte, nem dinheiro, nem riqueza
Poderá pintar beleza igual
Também tudo isto universal
Impulso da mão da natureza

Domingos Fonseca

Deixa a onça, de noite, a sua caverna
Para o filho, vai atrás do alimento
Procurando andar de encontro ao vento
Devagar, por ali, trocando pernas
O amor próprio lhe governa
E obriga a lutar, sem ter certeza
Se vence ou é vencida pela presa
Mas, vencendo, quem vence é o pedaço
Ela leva pro filho alimentar-se
Nisto tudo se estampa a natureza

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