sábado, 23 de abril de 2011

SOBRE STRIPTEASE...





Como conquistei a Violeteira - José Carlos Oliveira



Há casos que só aconteceu comigo. Até parecem mentiras. Na primeira vez que vi um striptease, por exemplo, a estrela do espetáculo se apaixonou por mim. Isto aconteceu há quatro ou cinco anos, e desde então me vem frequentemente a tentação de contar como foi, mas não o faço porque ninguém talvez acreditaria. Estava eu zanzando pela noite e acabei atracando numa boate especializada em striptease. Esse gênero de espetáculos não me interessava de modo algum, pois conheço lugares bem mais apropriados para a contemplação de mulheres nuas, mas na época ninguém falava em outra coisa. Todo mundo que vinha de Paris descrevia os fabulosos striptease que lá são vistos; e já que a moda pegara também no Rio, fazendo o sucesso de três ou quatro boates, também fui ver. Tive a sorte de ocupar a mesma mais próxima da pista. Comecei a bebericar o uísque de praxe e a comer amendoim, e então o show começou.
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Luzes. Música: La Violetera. Surge na pista a estrela, cujo nome é Não-Sei-o-Quê Soraya. (Grace Soraya, talvez; ou Brigitte Soraya; não me lembro mais.) Imensa mulher, mas com o corpo todo oculto num manto roxo e a cabeça escondida sob extravagante chapéu da mesma cor. Põe-se ela a dançar, tendo na mão uma cesta com violetas. Tira primeiro as luvas que lhe cobrem totalmente os braços e as deixa cair no chão. Todos os gestos são cadenciados por esses movimentos coleantes que alguns basbaques consideram o máximo em sensualidade. Finalmente, Soraya arranca o chapéu, num gesto brusco e calculado, e contempla os espectadores, um por um, nos olhos. Sua expressão é um convite à lasciva. Ela ainda não olhou para mim, porque sou quem está mais perto dela, falando perspectiva no momento. Mas quando olha... Ah! Tinha esquecido de dizer que sou irresistível! Ela não consegue mais despregar os olhos de mim. Sorri, pisca maliciosamente, aproxima-se e esvazia a cesta em minha cabeça. Recebo, impertubável, aquela chuva de violetas. Percebo que os demais espectadores estão também olhando para mim. Devem estar com inveja. Azar deles. Não é culpa minha se neste recinto só eu possuo charme e tenho feitiços capazes de hipnotizar uma mulher.
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Enquanto isso, Soraya se despe. Após livrar-se de uma das meias, lançou-a na minha mesa. Tira a outra meia e novamente é a minha mesa quem a recebe. Tudo o mais que cobre o seu opulento edifício acaba amarfanhado em cima da minha mesa. Impertubável, prossigo bebericando o uísque e contemplo o corpo desnudo com ar de conhecedor. No fim, aplaudida por todos, ela se retira em apoteose, não sem antes piscar outra vez na minha direção, balançando levemente a cabeça em sinal de adeusinho. A boate ficará tranquila até o próximo show. Quanto a mim, daqui a pouco a minha querida virá sentar-se à minha mesa...
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Soraya vem. Veste-se agora como qualquer mulher do seu meio: as carnes explodem por todos os lados do vestido de veludo colante. Não sendo o meu tipo, não deixa de ser uma bela mulher; e acontece que hoje estou muito eclético. Ela se aproxima rapidamente, luminosa, sorrindo e já lançando a mão direita para que eu a beije. Levanto-me, beijo-lhe a mão, ela se inclina para beijar-me no rosto...
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- Um momento... Pero... Usted no es uted!
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Como assim? Eu não sou eu? Terei mudado de personalidade tão rapidamente? O fato é que a minha Soraya solta um gritinho de dolorida decepção e corre para os fundos da boate. Enfim... Não se deve especular demais sobre a sensatez das mulheres. Nenhuma delas regula bem. Sem demonstrar perturbação, continuo bebendo o meu uísque. As violetas na mesa sugerem agora o luxuoso enterro dalguma paixão...
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Mais tarde surge na boate uma figura imprevista: meu amigo Raimundo, jornalista radicado em Brasília desde a fundação da cidade, e excelente praça. Sei que de vez em quando ele vem ao Rio e volta carregado de mulheres, todas sucumbidas ao seu encanto quieto. Mas não digo nada; não tenho nada com isso. Convido-o a sentar-se comigo, o que é feito. Ele fala pouco e eu, preferindo sempre o convívio silencioso, não menciono o incidente Soraya. Cinco minutos depois, la Violetera reaparece, outra vez luminosa, e se dirige à minha mesa. Quem entende as mulheres? Vai começar tudo outra vez... O Raimundo saberá que outra pessoa, além dele, costuma endoidecer as damas. Vem, Soraya!
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Mas não. Quem se levanta agora é Raimundo. Ele a beija, ela lhe faz carícias no cabelo... E apontando para mim: "Pero es como se fuera tu hermano!"
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Meus amigos, a venezuelana estava gamada pelo Raimundo, e este último é um sósia perfeito deste vosso criado. Durante anos trabalhamos juntos na imprensa carioca e nuna havíamos reparado na semelhança mútua.
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Para encurtar a conversa, lá se foi ele com a Soraya. Mas me consolei, pensando que éramos de tal modo gêmeos que, de certo modo, eu também estava indo para a intimidade das violeteiras.
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José Carlos Oliveira

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