Tempo rei
“Não se iludam
Não me iludo
Tudo agora mesmo
Pode estar por um segundo...”
(Gilberto Gil)
O tempo não para! Cazuza nos alertou; Renato Russo, idem: “Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou...”. Tempo, que Santo Agostinho dizia que sabia o que era, mas se alguém lhe perguntasse e ele tivesse que explicar, aí ele já não sabia do que se tratava.
Tempo, que é o maior professor de todos: “O tempo é escola dos sábios”. Por isso, há professores de vários tipos: “Há tempo de tudo debaixo do sol; há tempo de plantar, há tempo de colher...”. Há tempo em que é preciso entender que “viver é negocio muito perigoso”. Pois é no homem, este ser cambiante e multiforme, que reside o mal. Mal capaz de entrar numa escola e disparar várias vezes contra crianças inocentes... Pobre homem que não sabe valorizar o seu livre arbítrio! Pobre mundo! Pobre de nós...
Há tempo de entender que não basta apenas ir para as ruas, protestar, cruzar os braços por 24 horas, contra os absurdos e desmantelos que somos submetidos na nossa labuta, se este protesto não vier acompanhado de uma profunda e enorme mudança ética nas nossas ações...
Há tempo de entender que a amizade tem o seu preço e a cobrança vem através da lealdade, honestidade, parceria... de olhar, não um para o outro, mas sim, de olhar na mesma direção, como queria Saint-Exupéry.
Há tempo de entender que a ingratidão é o mais certo prêmio da dedicação... Você é 100% fiel ao individuo, mas é só dar-lhes as costas para ser apunhalado: “Até tu, Brutus?!”.
No entanto, há tempo de entender que se desculpar, não é um sentimento de inferioridade, mas sim de nobreza... e que somente nas verdadeiras amizades é que cresceremos, que nos tornaremos melhores pessoas...
Há tempo de entender que a inveja faz parte da condição humana. E que aquele cara, que você acredita que tem tudo - dinheiro, posição social, mulher famosa, etc. etc.-, na verdade ele não tem nada, a não ser uma enorme e profunda inveja. Sua alma é infinitamente menor do que o seu tamanho...
Há tempo em que é preciso entender que o silêncio é um barulho muito maior do que qualquer grito. Que o calar e a falta de palavras não representam um consentimento, mas sim, uma enorme e grandiosa dor, que talvez nem o tempo – o maior cicatrizante de todos -, seja capaz de curar...
Há tempo de entender que é preciso se libertar do passado. Seguir os ensinamentos do maior poeta português de todos os tempos: “Há tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo... e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares... É o tempo da travessia... E se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos...”.
Há tempo de entender que tudo acaba. Tudo passa. E que isso é bom, pois senão ficaríamos nos lamentando como Fernando Pessoa: “Tenho dó das estrelas luzindo há tanto tempo; tenho dó delas. Não há um cansaço das coisas? Um cansaço de existir?”... Mas, é preciso lembrar de que “só o que passa, permanece...”
Há tempo que é preciso entender que a maior característica do ser humano é a sua capacidade de recomeçar. Afinal se a coisa não me mata; imediatamente ela me fortalece, sentenciou Nietzsche. É preciso entender, portanto, que o caminhar é sempre em frente: “Não temos tempo a perder. Nosso suor sagrado é bem mais belo que esse sangue amargo”...
Há tempo de entender que “sem a música, a vida seria um erro”. Por isso, vou terminar - por hora apenas, pois compreendi que a dor é território sagrado da poesia... -, cantando a canção de Guilherme Arantes: “Amanhã! Mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam ver o dia raiar. Amanhã! Ódios aplacados, temores abrandados,/ Será pleno! Será pleno!”.
Francisco Edilson Leite Pinto Junior
Professor, médico e escritor
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