sábado, 23 de abril de 2011

SOBRE A POESIA DA ALMA DO POVO....








QUADRAS E SEXTILHAS MEMORÁVEIS


Tanto a quadra quanto a trova são estrofes de quatro versos, com pequenas diferenças entre ambas, quando o assunto gira em torno da arte poética.

Algumas pessoas criticam a quadra por limitar a expressão poética do autor. Depende. Às vezes, em uma “simples quadra”, se consegue dizer o que não se diz em um tratado filosófico, com todo seu aparato e exigência.

Querem ver? Então vejamos o que disse em uma quadra o poeta/repentista Jó Patriota, considerado O Último dos Liricos do repente, de São José do Egito:

O mar que no bojo guarda
Todo os mistérios seus
Inda é um grão de mostarda
Perante os olhos de Deus.

Quer dizer, somente um poeta da dimensão de Jó, teria condições de colocar o mar em tamanha insignificância.

O poeta Adelmar Tavares, de Jaboatão dos Guararapes (ou Goiana, mata norte?) fez essas duas quadras a seguir, que representam o que há de mais belo dentro da expressão poética:

A cigarra está dizendo
No tronco do velho oiti
Que a vida seria um sonho
Se se se si si si si.

Tres Marias três amores
Passaram pelos meus dias
Ficou Maria das Dores
A dor pior das Marias.

Essas quadras, com certeza, irão mexer com o emocional dos leitores/poetas mais sensíveis.

O poeta, Antônio Marinho, de São José do Egito, bisavô de Marinho, filho de Zeto e Bia, na década de 40 improvisou esta eterna quadra:

O amor e a amizade
Vestidos numa só túnica
Tiveram uma filha única
Deram-lhe o nome saudade.

Existem sextilhas (agora são sextilhas), memoráveis, difícil é escolher as melhores. Tudo a depender do assunto, do momento, e do gosto de quem se propõem jogá-las na rede. Desde o homem simples, do poeta simples, até os mais sofisticados, o mais importante, quem dá as cartas é a comunicação, o modo de se expressar, e que seja compreendido por aqueles que recebam as mensagens.

Reclamando da sorte, o poeta do campo é capaz de passar pra frente uma reclamação, um desejo não obtido, embora que evocando aquele que poderia exercer a missão de solucionar o problema. Não sabemos o autor (alguém pode ajudar?), mas vejamos o que disse o poeta a seguir:

A minha vida está torta
Feito eivado de foice
A sorte me dá patada
O destino me dá coice
E eu peço as coisas a Jesus
Mas ele faz que nem oice.

Contou-me o poeta Joselito Nunes que numa pequena cidade tinha dois intrigados de sangue a fogo. Um tinha o nome de Paulo. Pois bem, Paulo estaria dormindo em sua casa, antes do dia amanhecer, quando alguém batera em sua porta para lhe passar uma notícia que já rolava na cidade desde a boca da noite.

- Paulo, Paulo, Paulo. Abra a porta. Falou com a voz áspera, o de fora.

- É fulano ôxe! O que aconteceu a essas horas?

- Paulo rapaz! Eu vim aqui para lhe pedir um único e último favor. Afinal, fulano está às portas da morte em sua casa, o padre já chegou para a extrema unção. Como sou amigo dos dois, e sei que vocês não se falam há 30 anos, o perdoe. Afinal de contas, o homem tá morrendo. Por favor, Paulo, você o perdoa em nome de Deus!

Paulo, depois de abrir somente a porta de cima, acendeu um “pacáia”, e respondeu:

Quando esse Paulo morrer
Se eu for pro enterro eu cegue
Eu fico é em casa pedindo
Que o Satanáz lhe carregue
E a cruz que eu boto na cova
É a caceta de um jegue.

A sextilha a seguir, tem várias versões. O verso oral é assim mesmo, cada um tem o seu “verdadeiro” pra dizer. E ainda existem aqueles que afirmam categoricamente que estavam no local. Isso é comum. Essa versão que vou passar pra frente foi o poeta Daudete Bandeira quem me disse, ou melhor, recitou, embora que conheço outras:

Já fiz muitas travessuras
Quando ainda era menino
Roubei gogóia na feira
Cortei a corda do sino
Só não dei o fê-o- fó
Mas andei tirando um fino.


ÉSIO RAFAEL.

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