O NOVO TRABALHO DE FERNANDA TAVARES.
Luis Fernando Verissimo
Homem que é homem
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Homem que é Homem não usa camiseta sem manga, a não ser para jogar basquete. Homem que é Homem não gosta de canapés, de cebolinhas em conserva ou de qualquer coisa que leve menos de 30 segundos para mastigar e engolir. Homem que é Homem não come suflê. Homem que é Homem - de agora em diante chamado HQEH - não deixa sua mulher mostrar a bunda para ninguém, nem em baile de carnaval. HQEH não mostra a sua bunda para ninguém. Só no vestiário, para outros homens, e assim mesmo, se olhar por mais de 30 segundos, dá briga.
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HQEH só vai ao cinema ver filme do Franco Zeffirelli quando a mulher insiste muito, e passo todo o tempo tentando ver as horas no escuro. HQEH não gosta de musical, filme com a Jil Clayburgh ou do Ingmar Bergman. Prefere filmes com o Lee Marvin e Charles Bronson. Diz que ator mesmo era o Spencer Tracy, e que dos novos, tirando o Clint Eastwood, é tudo veado.
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HQEH não vai mais a teatro porque também não gosta que mostrem a bunda à sua mulher. Se você quer um HQEH no momento mais baixo de sua vida, precisa vê-lo no balé. Na saída ele diz que até o porteiro é veado e que se enxergar mais alguém de malha justa, mata.
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E o HQEH tem razão. Confesse, você está com ele. Você não quer que pensem que você é um primitivo, um retrógado e um machista, mas lá no fundo você torce pelo HQEH. Claro, não concorda com tudo o que ele diz. Quando ele conta tudo o que vai fazer com a Feiticeira no dia em que a pegar, você sacode a cabeça e reflete sobre o componente de misoginia patalógica inerente à jactância sexual do homem latino. Depois começa a passar no que faria com a Feiticeira se a pegasse. Existe um HQEH dentro de cada brasileiro, sepultado sob camadas de civilização, de falsa sofisticação, de propaganda feminina e de acomodação. Sim, de acomodação. Quantas vezes, atirado na frente de um aparelho de TV vendo a novela das 8 - uma história invariavelmente de humilhação, renúncia e superação femininas -, você não se perguntou o que estava fazendo que não dava um salto, vencia a resistência da família a pontapés e procurava uma reprise de Manix em outro canal? HQEH só vê futebol na TV. Bebendo cerveja. E nada de cebolinhas em conserva! HQEH arrota e não pede desculpas.
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Se você não sabe se tem um HQEH dentro de você, faça este teste. Leia esta série de situações. Estude-as, pense, e depois decida como você reagiria em cada situação. A resposta dirá o seu coeficiente de HQEH. Se pensar muito, nem precisa responder: você não é HQEH. HQEH não pensa muito!
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Situação 1
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Você está num restaurante com nome francês. O cardápio é todo escrito em francês. Só o preço está em reais. Muitos reais. Você pergunta o que significa o nome de um determinado prato ao maítre. Você tem certeza que o maítre está se esforçando para não rir da sua pronúncia. O maítre levará mais tempo para descrever o prato do que você para comê-lo, pois o que vem é uma pasta vagamente marinha em cima de uma torrada do tamanho aproximado de uma moeda de um real, embora custe mais de cem. Você come de um golpe só, pensando no que os operários são obrigados a comer. Com inveja. Sua acompanhante pergunta qual é o gosto e você responde que não deu tempo para saber. O prato principal vem trocado. Você tem certeza que pediu um "Boeuf à quelque chose" e o que vem é uma fatia de pato sem qualquer acompanhamento. Só. Bem que você tinha notado o nome: "Canard melancolique." Você a princípio sente pena do prato, pela sua solidão, mas muda de idéia quando tenta cortá-lo. Ele é um duro, pode aguentar. Quando vem a conta, você nota que cobraram pelo pato e pelo "boeuf" que não veio. Você: a) paga assim mesmo para não dar à sua acompanhante a impressão de que se preocupa com coisas vulgares como o dinheiro, ainda mais o brasileiro; b) chama discretamente o maítre e indica o erro, sorrindo para dar a entender que, "Merde, alors", estas coisas acontecem; ou c) vira a mesa, quebra uma garrafa de vinho contra a parede e, segurando o gargalo, grita: "Eu quero o gerente e é melhor ele vir sozinho!"
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Situação 2
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Você foi convencido pela sua mulher, namorada ou amiga - se bem que HQEH não tem "amigas", quem tem "amigas" é veado - a entrar para um curso de Sensitivação Oriental. Você reluta em vestir a malha preta, mas acaba sucumbindo. O curso é dado por um japonês, provavelmente veado. Todos sentam num círculo em volta do japonês, na posição de lótus. Menos você, que, como está um pouco fora de forma, só pode sentar na posição do arbusto despencado pelo vento. Durante 15 minutos todos devem fechar os olhos, jantar as pontas dos dedos e fazer "rom", até que se integrem na Grande Corrente Universal que vem do Tibete, passa pelas cidades sagradas da Índia e do Oriente Médio e, estranhamente, bem em cima do prédio do japonês, antes de voltar para o Oriente. Uma vez atingido este estágio, todos devem virar para a pessoa ao seu lado e estudar seu rosto com as pontas dos dedos. Não se surpreenda se o japonês chegar por trás e puxar as suas orelhas com força para lembrá-lo da dualidade de todas as coisas. Durante o "rom" você faz força, mas não consegue se integrar na grande corrente universal, embora comece a sentir uma sensação diferente que depois revela-se ser câimbra. Você: a) finge que atingiu a integração para não cortar a onda de ninguém; b) finge que não entendeu bem as instruções, engatinha fazendo "rom" até o lado daquela grande loura e, na hora de tocar o seu rosto, erra o alvo e agarra os seios, recusando-se a soltá-los mesmo que o japonês quase arranque as suas orelhas; c) diz que não sentiu nada, que não vai garantir adiante com aquela bobagem, ainda mais de malha preta, e que é tudo coisa de veado.
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Situação 3
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Você está numa daquelas reuniões em que há lugares de sobre para sentar, mas todo mundo senta no chão. Você não quis ser diferente, se atirou num almofadão colorido e tarde demais descobriu que era a dona da casa. Sua mulher ou namorada está tendo uma conversa confidencial, de mãos dadas, com uma moça que é a cara do Charlton Heston, só que de bigode. O jantar é à americana e você não tem mais um joelho para colocar o seu corpo de vinho enquando usa os outros dois para equilibrar o prato e cortar o pedaço de pato, provavelmente o mesmo do restaurante francês, só que algumas semanas mais velho. Aí o cabeleiro de cabelo mechado ao seu lado oferece:
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- Se quiser usar o meu...
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- O seu...?
* - Joelho.
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- Ah...
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- Ele está desocupado.
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- Mas eu não o conheço.
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- Eu apresento. Este é o meu joelho.
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- Não. Eu digo, você...
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Eu, hein? Quanta formalidade. Aposto que se eu estivesse oferecendo a perna toda você ia pedir referências. Ti-au.
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Você: a) resolve entrar no espírito da festa e começa a tirar as calças; b) leva seu copo de vinho para um canto e fica, entre divertido e irônico, observando aquele curioso painel humano e organizando um pensamento sobre estas sociedades tropicais, que passam da barbárie para a decadência sem a etapa intermediária da civilização; ou c) pega sua mulher ou namorada e dá o fora, não sem antes derrubar o Charlton Heston com um soco.
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Se você escolheu a resposta a para todas as situações, não é um HQEH. Se você escolheu a resposta b, não é um HQEH. E se você escolheu a resposta c, também não é um HQEH. Um HQEH acha que teste é coisa de veado.
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Este país foi feito por Homens que eram Homens. Os desbravadores do nosso interior bravio não tinham nem jeans, quanto mais do Pierre Cardin. O que seria deste país se Dom Pedro I tivesse se atrasado no dia 7 em algum cabeleireiro, fazendo massagem facial e cortando o cabelo à navalha? E se tivesse gritado, em vez de "Independência ou Morte", "Independência ou Alternativa Viável, Levando em Consideração Todas as Variáveis? Você pode imaginar o Rui Barbosa de sunga de crochê? O José do Patrocínio de colant? O Tiradentes de kaftan e brinco numa orelha só? Homens que eram Homens eram os bandeirantes. Como se sabe, antes de partir numa expedição, os bandeirantes subiam num morro em São Paulo e abriam a braguilha. Esperavam até ter uma ereção e depois seguiam na direção que o pau apontasse. Profissão para um HQEH é motorista de caminhão. Daqueles que, depois de comer um mocotô com duas Malzibier, dormem na estrada e, se sentem falta de mulher, ligam o motor e trepam com o radiador. No futebol HQEH é beque central, cabeça-de-área ou centroavante. Meio-de-campo é coisa de veado. Mulher do amigo de Homem que é Homem. HQEH não tem amizade colorida, que é a sacanagem por outros meios. HQEH não tem um relacionamento adulto, de confiança mútua, cada um respeitando a liberdade do outro, numa transa, assim, extraconjugal mas assumida, entende? Que isso é papo de mulher pra dar pra todo mundo. HQEH acha que movimento gay é coisa de veado.
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HQEH nunca vai a vernissage.
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HQEH não está lendo a Marguerite Yourcenar, não leu a Marguerite Yourcenar e não vai ler a Marguerite Yourcenar.
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HQEH diz que não tem preconceito mas que se um dia estivesse numa mesma sala com todas as cantoras da MPB, não desencostaria da parede.
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Coisas que você jamais encontrará em um HQEH: batom neutro para lábios ressequidos, pastilhas para refrescar o hálito, o telefone do Gabeira, entradas para um espetáculo de mímica.
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Coisas que você jamais deve dizer a um HQEH: batom neutro para lábios ressequidos, pastilhas para refrescar o hálito, o telefone do Gabeira, entradas para um espetáculo de música.
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Coisas que você jamais deve dizer a um HQEH: "Ton sur ton", "Vamos ao balé?", "Prove estas cebolinhas".
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Coisas que você jamais vai ouvir um HQEH dizer: "Assumir", "Amei", "Minha porção mulher", "Acho que o bordeau fica melhor no sofá e a ráfia em cima do puf".
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Não convide para a mesma mesa: um HQEH e o Silvinho.
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HQEH acha que ainda há tempo de salvar o Brasil e já conseguiu a adesão de todos os Homens que são Homens que restam no país para uma campanha de regeneração do macho brasileiro. Os quatro só não tem se reunido muito seguidamente porque pode parecer coisa de veado.
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Luis Fernando Verissimo
sábado, 30 de abril de 2011
sexta-feira, 29 de abril de 2011
DOIS PAULO VIANA...siameses na bondade...
Quero homenagear hoje o meu genro:Paulo Henrique Viana, o Filho...queria que todo pai tivesse um genro bom, como eu tenho.Deduzo que Paulo é um bom esposo e um bom genro, por que antes de tudo é um bom filho...é um homem atento á vida do pai, que também se chama Paulo Viana Nunes...Paulo Viana , o genro, completa hoje 36 anos.Faz dezenove anos que baixou na minha vida,sendo o primeiro e único namorado de Brena,a minha princesa, que hoje é defensora pública em Mossoró, onde Paulo, trabalha na justiça federal...Quero Ratificar as minhas palavras mostrando um abraço dos Paulos, que literalmente, diz das coisas que só se revelam na alma.Desejo aos dois, toda a felicidade do mundo, muitos anos de vida...ansioso já espero o meu Neto, que como diria DIX-UIT Rosado, é algo que tem gosto de açúcar.Quem sabe se nestes dias não nasce um PAULO BERNARDO...? obrigado meu Deus pelos meus Paulos...um vem do outro,é um afluente do mesmo rio, da mesma bondade,e refletem o mesmo amor,que com certeza eu irei auscultar no coração do meu neto...com a graça de DEUS.
Quem a boca do meu filho beija,a minha adoça.
CECÍLIA...A CACHORRA MAIS BONITA DE NATAL...
CECÍLIA É UMA PASTORA SUÍÇA...inteligentíssima,está com cinco anos,pariu uma vez,seis filhotes...é louca por galeto.Diaraiamente faço o seu prato,pessoalmente,quando ela não se farta vai direto para a ração, a título de complemento.Dorme no ar condicionado,come queijo e presunto diariamente...assim como diariamente me espera no portão...ela denuncia a minha chegada, dez minutos antes de eu chegar...apanha o jornal no jardim...detesta o carro de som do picolé caseiro de Caicó...todo dia é um escândalo, durante a passagem do mesmo...late no portão e dar pulos de um metro fazendo a FINTA, para os estranhos.
Eu sou um homem que não viveria sem cachorros...jamais eu chamo um cachorro de cão...cão é outra coisa.O bicho de estimação faz parte da vida interior...que é o anti-estresse possível.
PARECE UM CONTO DE TRANCOSO...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.
As vezes o inimigo mora ao seu lado...as vezes o inimigo dormiu trinta anos na cama com você...é a vida.
Nascí vendo imposto de renda ,sendo fiscalizado, com lápis comum e borracha...na era antes do computador.
Todos as minhas tias dispuseram de um emprego na receita federal,conseguidos pelo primo importante da época, Elias Souto,o primeiro dono do diário de Natal.Somente a minha mãe não aceitou, escolhera casar e morar EM NOVA CRUZ.
Carmem Celeste Pimentel era a pessoa que mais entendia de imposto de renda em Natal...uma mulher temida e anti propina...mas, no fundo, tinha prazer em orientar um contribuinte,evitando-o de multas, por pecados veniais.
A casa de Carmem celeste era uma enchente, na época de fazer a declaração...Ela fiscalizava com lápis comum, e aplicava a multa nos sonegadores, exemplarmente.Lá podia-se encontrar o Desembargador Floriano cavalcante,Luiz Maranhão,Antonio Pinto,Dr Hélen Costa,o nosso querido médico de família.
Um tio torto meu, que também era fiscal,começou a emprestar dinheiro á juros,era agiota...condição incompatível com um cargo de fiscal da receita...Mas,o perigo morava ao lado.
Um Fiscal da receita,colega desafeto do fiscal agiota,talvez aplicando a lei que, vingança é um prato que se come frio,conseguiu uma promissória numa gaveta, que comprovava a agiotagem, e encaminhou um processo...Resultado,o Tio Torto foi liminarmente demitido, á bem do serviço público.
Triste de quem bate de frente com a vida...o tio torto demitido entrou em depressão,vivia acabrunhado,e perdera o seu salário...envelheceu vinte anos em cinco, assim como definhou.Muitas vezes, criança, ia com mamãe almoçar na sua casa, no domingo...mamãe se entristecia com a tristeza do cunhado.
No seu desespero, fez uma carta ao presidente da República, o GENERAL GEISEL...
a carta foi parar no quarto das cartas, que não seriam lidas pelo presidente, mas incineradas...
O BEDEL do palácio do planalto,estava apanhando as cartas num tapete, para leva-las pro fogo...o que era um ato rotineiro.Neste instante ele viu uma carta proveniente de Natal...sentou-se e abriu-a dizendo:o que será que este conterrâneo queria com o presidente? era a carta do tio torto...o bedel leu e disse:eu vou ajudar este homem do meu estado...este simples funcionário tinha transito em todas as reuniões presidenciais, pois servia o cafezinho e água, era bem querido...
Certa vez,numa reunião de Geisel com o ministro da fazenda,Mário Henrrique Simons,o Bedel, que era Novacruzense,e se chamava Marcelino,colocou a carta no bolso do ministro,e na sua insignificancia, pediu por ele...POIS BEM, este senhor por não saber que era impossível,tornou possivel, fez.
O Ministro disse, traga seu protegido para falar comigo tal dia...
Marcelino escreveu para o tio torto, que nunca tinha visto, dizendo que ele viesse a Brasília tal dia, que o ministro ia ouvi-lo...convidou-o para que ele fosse seu hóspede, na sua estadia em Brasília...
O TIO TORTO quase não acreditou, mas foi...resumindo:foi readmitido no serviço público, e recebeu todo o atrasado...ficou rico de novo.
Marcelino, segundo meu pai, tinha um caldo de cana em Nova Cruz, no tempo que DOM-DOM jogava no andaraí...e foi recompensado com um fusca zero quilometro...dado de coração...até então o bedel não tinha carro.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
A MINHA SOLIDARIEDADE Á DOR DE DRA. CATARINA SIMÕES...
MEU PAI - MEU GRANDE AMOR
Cedo na vida tive uma experiência de amor que poucos tiveram! Cheguei ao mundo pelas mãos do meu pai. O obstetra da minha mãe iria ser meu pediatra também. E já nasci sabendo que existe uma coisa que quanto mais se divide, mais se tem para dar e receber. Chama-se: AMOR! Esse ensinamento comecei a apreender do meu pai assim que senti suas mãos me receberem. Mãos que não sabia eu , continuariam sempre a me receber... Agora, na ocasião da sua partida, olhando-as e sentindo-as imóveis sob as minhas, tive que compreender que precisavam partir. Chegou o momento da última despedida!
As lembranças se misturam com o silêncio das minhas lágrimas. A imagem mais forte: sua profunda calma, somada a um sorriso meigo que me entregava e era só meu... Ali , eu sentia a tradução de um sentimento grande e pleno. Essa ternura que fez com que nós familiares , ouvíssemos dos seus muito pacientes o reconhecimento a sua absoluta dedicação ao próximo... E, há muitas doces lembranças: quando me levava para juntos contemplarmos o mar do Alto da Sé em Olinda; ou me orientava:" não brigue muito. Quando a gente briga causa um mal ao outro e na mesma intensidade se transtorna"; ou ainda, na ocasião em que me escreveu uma carta de amor, que chegou pelo correio, falando: "quando olhar o arrebol dos pássaros na aurora, lembre-se que tem um pai com quem contar e confiar..." Eu sempre soube disso. Tive um pai com quem podia contar, confiar e amar! Esses foram os fortes elementos que me deixou: calma, confiança,integridade e amor! Despeço-me sabendo e sentindo que a saudade que inunda o meu ser, através de lágrimas que não param de cair, mudará. Diminuirá. Mas, conviverei com ela por toda a minha vida. Porque ainda terei que tomar muitas decisões e, em todas elas tem a parte em mim que é sua.
Ontem, quando olhava nossas mãos iguais, as minhas sobre as suas, desejava que fizessem pelos meus filhos, o que as suas fizeram por mim! Me guiando com ternura, equilíbrio, firmeza e sobretudo, confiança.
Vejo que tive a sorte maior de ter tido um pai especialmente sensível! Tenho certeza que toda a minha vida é melhor por essa razão!
Obrigada pelos ensinamentos profundos!
Com Amor
Sua filha
Catarina
NOTA DO AMIGO BERNARDO: QUERIDA CATARINA.
Fiquei emocionado com a sua carta...Já estou mais velho,e há folhas no meu coração, que o deixam mais sensível e arrítmico...eu sempre soube da importancia do seu pai na sua vida...quando voce se referia ao seu pai,voce tinha olhos azuis e remoçava nas manhãs dos plantões...ele era um raio de luz,que entrava pela porta da sua alma, e voce refletia nas feições...eu já sabia...
Mando um abraço grande para voce e para os seus irmãos de pesames e solidariedade...extensivo também a Dona Aidê, que a conheço pelas suas histórias e pela sua intelectualidade...Voces são o mesmo rio.
Para uma amiga tão importante e querida, em cujas veias correm poesia e afeto, ternura e simplicidade, vou lhe enviando uma canção,que me ocorreu quando lí a sua dor, em forma de cronica...
Tenho certeza, como dizia o velho, que alguns pássaros cantarão a mesma com voce,em muitos arrebóis,agora, em auroras de saudades, e será escutada no céu, pelo seu velho pai, e médico querido.
Receba todo o meu carinho e sentimento.
Bernardo Celestino Pimentel.
Pai e Mãe
Gilberto Gil
Eu passei muito tempo aprendendo a beijar
Outros homens como beijo o meu pai
Eu passei muito tempo pra saber que a mulher
Que eu amei, que amo, que amarei
Será sempre a mulher como é minha mãe
Como é, minha mãe? Como vão seus temores?
Meu pai, como vai?
Diga a ele que não se aborreça comigo
Quando me vir beijar outro homem qualquer
Diga a ele que eu quando beijo um amigo
Estou certo de ser alguém como ele é
Alguém com sua força pra me proteger
Alguém com seu carinho pra me confortar
Alguém com olhos e coração bem abertos
Para me compreender
Cedo na vida tive uma experiência de amor que poucos tiveram! Cheguei ao mundo pelas mãos do meu pai. O obstetra da minha mãe iria ser meu pediatra também. E já nasci sabendo que existe uma coisa que quanto mais se divide, mais se tem para dar e receber. Chama-se: AMOR! Esse ensinamento comecei a apreender do meu pai assim que senti suas mãos me receberem. Mãos que não sabia eu , continuariam sempre a me receber... Agora, na ocasião da sua partida, olhando-as e sentindo-as imóveis sob as minhas, tive que compreender que precisavam partir. Chegou o momento da última despedida!
As lembranças se misturam com o silêncio das minhas lágrimas. A imagem mais forte: sua profunda calma, somada a um sorriso meigo que me entregava e era só meu... Ali , eu sentia a tradução de um sentimento grande e pleno. Essa ternura que fez com que nós familiares , ouvíssemos dos seus muito pacientes o reconhecimento a sua absoluta dedicação ao próximo... E, há muitas doces lembranças: quando me levava para juntos contemplarmos o mar do Alto da Sé em Olinda; ou me orientava:" não brigue muito. Quando a gente briga causa um mal ao outro e na mesma intensidade se transtorna"; ou ainda, na ocasião em que me escreveu uma carta de amor, que chegou pelo correio, falando: "quando olhar o arrebol dos pássaros na aurora, lembre-se que tem um pai com quem contar e confiar..." Eu sempre soube disso. Tive um pai com quem podia contar, confiar e amar! Esses foram os fortes elementos que me deixou: calma, confiança,integridade e amor! Despeço-me sabendo e sentindo que a saudade que inunda o meu ser, através de lágrimas que não param de cair, mudará. Diminuirá. Mas, conviverei com ela por toda a minha vida. Porque ainda terei que tomar muitas decisões e, em todas elas tem a parte em mim que é sua.
Ontem, quando olhava nossas mãos iguais, as minhas sobre as suas, desejava que fizessem pelos meus filhos, o que as suas fizeram por mim! Me guiando com ternura, equilíbrio, firmeza e sobretudo, confiança.
Vejo que tive a sorte maior de ter tido um pai especialmente sensível! Tenho certeza que toda a minha vida é melhor por essa razão!
Obrigada pelos ensinamentos profundos!
Com Amor
Sua filha
Catarina
NOTA DO AMIGO BERNARDO: QUERIDA CATARINA.
Fiquei emocionado com a sua carta...Já estou mais velho,e há folhas no meu coração, que o deixam mais sensível e arrítmico...eu sempre soube da importancia do seu pai na sua vida...quando voce se referia ao seu pai,voce tinha olhos azuis e remoçava nas manhãs dos plantões...ele era um raio de luz,que entrava pela porta da sua alma, e voce refletia nas feições...eu já sabia...
Mando um abraço grande para voce e para os seus irmãos de pesames e solidariedade...extensivo também a Dona Aidê, que a conheço pelas suas histórias e pela sua intelectualidade...Voces são o mesmo rio.
Para uma amiga tão importante e querida, em cujas veias correm poesia e afeto, ternura e simplicidade, vou lhe enviando uma canção,que me ocorreu quando lí a sua dor, em forma de cronica...
Tenho certeza, como dizia o velho, que alguns pássaros cantarão a mesma com voce,em muitos arrebóis,agora, em auroras de saudades, e será escutada no céu, pelo seu velho pai, e médico querido.
Receba todo o meu carinho e sentimento.
Bernardo Celestino Pimentel.
Pai e Mãe
Gilberto Gil
Eu passei muito tempo aprendendo a beijar
Outros homens como beijo o meu pai
Eu passei muito tempo pra saber que a mulher
Que eu amei, que amo, que amarei
Será sempre a mulher como é minha mãe
Como é, minha mãe? Como vão seus temores?
Meu pai, como vai?
Diga a ele que não se aborreça comigo
Quando me vir beijar outro homem qualquer
Diga a ele que eu quando beijo um amigo
Estou certo de ser alguém como ele é
Alguém com sua força pra me proteger
Alguém com seu carinho pra me confortar
Alguém com olhos e coração bem abertos
Para me compreender
quarta-feira, 27 de abril de 2011
COMPOSTA NA ILHA DE LESBOS...?
Bárbara
Chico Buarque
Composição : Chico Buarque - Ruy Guerra
Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor, vem me buscar
O meu destino é caminhar assim
Desesperada e nua
Sabendo que no fim da noite serei tua
Deixa eu te proteger do mal, dos medos e da chuva
Acumulando de prazeres teu leito de viúva
Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor vem me buscar
Vamos ceder enfim à tentação
Das nossas bocas cruas
E mergulhar no poço escuro de nós duas
Vamos viver agonizando uma paixão vadia
Maravilhosa e transbordante, como uma hemorragia
Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor vem me buscar
Bárbara
A Ilha de Lesbos localiza-se no meio do Mar Egeu próxima da ilha do Santuário da Grécia, foi a primeira região no mundo a registrar acontecimentos maliciosos entre duas aranhas Turistas visitando a Ilha de Lesbos.
Lesbos foi criada por Safo, a primeira sapatão da história, que cansada de homens, criou a Ilha de Lesbos, e chamou todas as menininhas igualmente insatisfeitas com homens a irem colonizar Lesbos.
Originalmente foi colonizado por Loiras Suecas durante a Era Viking, após o fim dessa linhagem, anexou-se aos gregos que durante a história, principalmente nas culturas espartanas deportavam para a ilha as lésbicas, uma vergonha para a cultura grega.
No início a vida era dura, porém as habitantes da ilha foram conseguindo se desenvolver e poder executar seus mais diversos gostos sexuais sem se importar com ninguém. Personagem importante da ilha foi a poeta e cantora de MPG (Música Popular Grega) Safo, que viveu no local com sua amiga Sandrão.
O grande acontecimento épico histórico que não pode faltar em territórios gregos, foram o episódio das 300 de Lesbos. No século VII A.C, houve uma imensa orgia entre 300 lésbicas, record até hoje não batido.
Separou-se da Grécia recentemente por não admitir a ditadura de Nikos Petrakis e de seu primeiro-ministro Takis Tsoukalas do partido Ante Geia.
TEM CADA UMA...
GOZANDO NO TRABALHO
Ana Catarina Bezerra Silvares, 36 anos, divorciada, mãe de 3 filhos, analista contábil, possui uma doença que a difere das demais mulheres de seu ambiente de trabalho. Ela possui compulsão orgástica que é fruto de uma alteração química em seu córtex cerebral. Esta alteração a leva a uma constante busca por orgasmos que aliviem sua ansiedade.
Ana Catarina revela que já teve dia de se masturbar 28 vezes. “Foi neste momento que procurei ajuda. Comecei a suspeitar que isso poderia não ser normal”.
* * *
Depois de ser submetida a tratamento especializado, a moça está se masturbando apenas 15 vezes por dia. Só isso.
E tem mais: a Justiça de Trabalho de Vila Velha, Espírito Santo, concedeu a Ana o direito de abandonar o serviço durante 15 minutos, a cada duas horas, pra fazer sua terapia anti-stress. Também está autorizada a utilizar o computador da empresa, para acessar imagens eróticas que auxiliem seus sentidos e dêem uma força para ela reassumir o mais rápido possível as suas funções no trabalho.
UMBIGOFOBIA...
SIMONE MOURA E MENDES.
Muito respeito pela integridade daquela cavidade redonda e cheia de reentrâncias, localizada em seu abdômen; pois, em algum tempo da infância, alguém lhe dissera que uma mínima perfuração no umbigo seria capaz de matar uma pessoa. Cresceu acreditando nesse mito e, mesmo com o advento da razão, jamais permitia que a esposa, os filhos, ou quem quer que fosse, introduzissem o dedo no centro de sua vida, no ponto a partir de onde fora separado da mãe.
Ao descobrir esse esdrúxulo ponto fraco, sua família logo deslindava se, quando estava com as mãos cruzadas sobre o peito e a respiração suspensa, estaria a repetir a rechaçável brincadeira de se fingir de morto. O simples ato de ter o umbigo invadido por um dedo alheio culminaria no milagre da ressurreição – era cediço. Essas cenas foram tantas vezes repetidas, que ele já fingia sucumbido com as mãos sobre a cavidade proibida; assim, sua interpretação novelesca angariaria o benefício da dúvida. Mas, confesse: dessa vez não fui perfeito? Sempre indagava. Nunca, enquanto estiver a proteger o umbiguinho – respondia quem fosse o suposto enganado.
Por ironia do destino, submetera-se a extração de uma hérnia umbilical, mediante uma pequena incisão no orifício místico, após quatro anos de velada resistência. Ao invés de deixar um dreno para a liberação das impurezas orgânicas, o médico lhe fez uma razoável abertura no interior do umbigo, incumbindo a esposa de reabri-la sempre que lhe substituísse os curativos, o que recomendara ser feito duas vezes ao dia até ulterior avaliação. Nessa ocasião, a esposa incrédula lia seus pensamentos, seu pânico contido, a ponto de quase se desconcentrar das explicações médicas. Pobrezinho do meu marido ou seria a oportunidade de curar sua umbigofobia?
Décimo quarto curativo e, ui,ui, uiuuiii… Que foi dessa vez, rapaz? Mal trisquei em você?! Com uma fisionomia de insuperável sofrimento, lágrimas dispostas à precipitação, o marido respondeu aflito: você não sabia que tenho agonia quando o meu umbigo é violado? Por favor, não ria de mim, que a coisa é séria!
A esposa se despira do personagem da enfermeira doce e dedicada e irrompeu em ruidosas gargalhadas… Não concebia que um homem daquele tamanho fosse capaz de verter lágrimas pueris por causa de um cotonete no umbigo, sobremodo, quando da iminente cicatrização do orifício propositadamente elaborado pelo competente cirurgião.
O passo seguinte será uma consulta ao psicólogo na esperança de que haja alguma abordagem psicoterapêutica que cure a umbigofobia. Será que há?
CITAÇÕES...
“Quem quer que exalte a alma como soberano bem e condene a carne como coisa má, abraça e adora a alma com os sentidos; a seus sentidos também se atribuirá o sentimentos que o induz a fugir da carne, e que nasce do fato de raciocinarmos sob o império da vaidade humana e não em obediência à verdade divina.”
*
SANTO AGOSTINHO
A mania de citar
O que quer que um outro disser bem, é meu.
SENECA
Guia de leitura citações - Seneca
“Por que te queixas deste mundo? Não te convém? Vives infeliz? Culpa apenas a tua covardia. Para morrer basta deseja-lo; a morte está em toda parte, devemo-la à bondade dos deuses; podem tirar a vida de um homem: não lhe podem tirar a morte. Mil caminhos abertos a ela conduzem.”
*
SENECA
"Tirai do mundo a mulher e a ambição desaparecerá de todas as almas generosas. Realidade ou desejo incerto, o amor é o elemento primitivo da atividade interior; é a causa e o fim e o resumo de todos os humanos afetos."
*
ALEXANDRE HERCULANO
*
SANTO AGOSTINHO
A mania de citar
O que quer que um outro disser bem, é meu.
SENECA
Guia de leitura citações - Seneca
“Por que te queixas deste mundo? Não te convém? Vives infeliz? Culpa apenas a tua covardia. Para morrer basta deseja-lo; a morte está em toda parte, devemo-la à bondade dos deuses; podem tirar a vida de um homem: não lhe podem tirar a morte. Mil caminhos abertos a ela conduzem.”
*
SENECA
"Tirai do mundo a mulher e a ambição desaparecerá de todas as almas generosas. Realidade ou desejo incerto, o amor é o elemento primitivo da atividade interior; é a causa e o fim e o resumo de todos os humanos afetos."
*
ALEXANDRE HERCULANO
NA PENHA...
Batizado na Penha - Vinicius de Moraes
Batizado na Penha
***
***
Eu sou um sujeito que, modéstia à parte, sempre deu sorte aos outros (viva, minha avozinha diria: "Meu filho, enquanto você viver não faltará quem o elogie..."). Menina que me namorava casava logo. Amigo que estudava comigo, acabava primeiro da turma. Sem embargo, há duas coisas com relação às quais sinto que exerço um certo pré-frio: viagem de avião e esse negócio de ser padrinho. No primeiro caso o assunto pode ser considerado controverso, de vez que, num terrível desastre de avião que tive, saí perfeitamento ileso, e numa pane subsequente, em companhia de Alex Viany, Luís Alípio de Barros e Alberto Cavalcanti, nosso Beechraft, enguiçado em seus dois únicos motores, conseguiu no entanto pegar um campinho interditado em Canavieiras, na Bahia, onde pousou galhardamente, para gaúdio de todos, exceto Cavalcanti, que dormia como um justo.
***
Mas no segundo caso é batata. Afilhado meu morre em boas condições, em período que varia de um mês a dois anos. Embora não seja supersticioso, o meu coeficiente de afilhados mortos é meio velhaco, o que me faz hoje em dia declinar delicadamente da honra, quando se apresenta o caso. O que me faz pensar naquela vez em que fui batizar meu último afilhado na Igreja da Penha, há coisa de uns vinte anos.
***
Éramos umas cinco ou seis pessoas, todos parentes, e subimos em boa forma os trezentos e não sei mais quantos degraus da igrejinha, eu meio céptico com relação à minha nova investidura, mas no fundo tentando me convencer de que a morte de meus dois afilhados anteriores fora mera obra do acaso. Conosco ia Leonor, uma pretinha de uns cinco anos, cria da casa de meus avós paternos.
***
Leonor era como um brinquedo para nós da família. Pintávamos com ela e a adorávamos, pois era danada de bonitinha, com as trancinhas espetadas e os dentinhos muito brancos no rosto feliz. Para mim Leonor exercia uma função que considero básica e pela qual lhe pagava quatrocentos réis, dos grandes, de cada vez: coçar-me as costas e os pés. Sim, para mim cosquinha nas costas e nos pés vem praticamente em terceiro lugar, logo depois dos prazeres da boa mesa; e se algum dia me virem atropelado na rua, sofrendo dores, que haja uma alma para me coçar os pés e eu morrerei contente.
***
Mas voltando à Penha: uma vez findo o batizado, saímos para o sol claro e nos dispusemos a efetuar a longa descida de volta. A Penha, como é sabido, tem uma extensa e suave rampa de degraus curtos que cobrem a maior parte do trajeto, ao fim da qual segue-se um lance abrupto. Vinhamos com cuidado ao lado do pai com a criança ao colo, o olho baixo para evitar alguma queda. Mas não Leonor! Leonor vinha brincando como um diabrete que era, pulando os degraus de dois em dois, a fazer travessuras contra as quais nós inutilmente a advertimos.
***
Foi dito e feito. Com a brincadeira de pular os degraus de dois em dois, Leonor ganhou momentum e quando se viu ela os estava pulando de três em três, de quatro em quatro e de cinco em cinco. E lá se foi a pretinha Penha abaixo, os braços em pânico, lutando para manter o equilibrio e a gritar como uma possessa.
***
Nós nos deixamos estar, brancos. Ela ia morrer, não tinha dúvida. Se rolasse, ira ser um trambolhão só por ali abaixo até o lance abrupto, e pronto. Se conseguisse se manter, o mínimo que lhe poderia acontecer seria levantar vôo quando chegasse ao tal lance, considerada a velocidade em que descia. E lá ia ela, seus gritos se distanciando mais e mais, os bracinhos se agitando no ar, em sua incontrolável carreira pela longa rampa luminosa.
***
Salvou-a um herói que quase no fim do primeiro lance pôs-se em sua frente, rolando um para cada lado. Não houve senão pequenas escoriações. Nós a sacudíamos muito, para tirá-la do trauma nervoso em que a deixara o tremendo susto passado. De pretinha, Leonor ficava cinzenta. Seus dentinhos batiam incrivelmente e seus olhos pareciam duas bolas brancas no negro do rosto. Quando conseguiu falar, a única coisa que sabia repetir era: "Virge Nossa Senhora! Virge Nossa Senhora!"
***
Foi o último milagre da Penha de que tive notícia.
Vinicius de Moraes
terça-feira, 26 de abril de 2011
POR QUE NÃO TEM GOVERNO,NEM NUNCA TERÁ....POR QUE NÃO TEM JUÍZO...
O Que Será (à Flor da Pele)
Chico Buarque
Composição : Chico Buarque
O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz implorar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita
O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite
O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os tremores me vêm agitar
E todos os suores me vêm encharcar
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz suplicar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo
UMA ANÁLISE SOBRE A VIDA INTERIOR...UTOPIA.
Utopia
Padre Zezinho
Composição : Pe. Zezinho
Das muitas coisas
Do meu tempo de criança
Guardo vivo na lembrança
O aconchego de meu lar
No fim da tarde
Quando tudo se aquietava
A família se ajuntava
Lá no alpendre a conversar
Meus pais não tinham
Nem escola e nem dinheiro
Todo dia o ano inteiro
Trabalhavam sem parar
Faltava tudo
Mas a gente nem ligava
O importante não faltava
Seu sorriso, seu olhar
Eu tantas vezes
Vi meu pai chegar cansado
Mas aquilo era sagrado
Um por um ele afagava
E perguntava
Quem fizera estrepolia
E mamãe nos defendia
E tudo aos poucos se ajeitava
O sol se punha
A viola alguém trazia
Todo mundo então pedia
Ver papai cantar pra gente
Desafinado
Meio rouco e voz cansada
Ele cantava mil toadas
Seu olhar no sol poente
Correu o tempo
E eu vejo a maravilha
De se ter uma família
Enquanto muitos não a tem
Agora falam
Do desquite ou do divórcio
O amor virou consórcio
Compromisso de ninguém
Há tantos filhos
Que bem mais do que um palácio
Gostariam de um abraço
E do carinho entre seus pais
Se os pais amassem
O divórcio não viria
Chame a isso de utopia
Eu a isso chamo paz.
SOBRE A LINGUAGEM COLOQUIAL...
E a gente pensa que repete corretamente os ' ditos populares'
Dicas do Prof. Pasquale:
HOJE É DOMINGO PÉ DE CACHIMBO... e eu ficava imaginando como seria um pé de cachimbo, quando o correto é: HOJE É DOMINGO PEDE CACHIMBO... Domingo é um dia especial para relaxar e fumar um cachimbo ao invés do tradicional cigarro (para aqueles que fumam, naturalmente...).
No popular se diz: 'Esse menino não pára quieto, parece que tem bichocarpinteiro' "Minha grande dúvida na infância... Mas que bicho é esse que é carpinteiro, um bicho pode ser carpinteiro???"
Correto: 'Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho no corpo inteiro' "Tá aí a resposta para meu dilema de infância!" EU
NÃO SABIA. E VOCÊ?
Batatinha quando nasce, esparrama pelo chão.'
Enquanto o correto é: ' Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão.' "Se a batata é uma raiz, ou seja, nasce enterrada, como ela se esparrama pelo chão se ela está embaixo dele?"
'Cor de burro quando foge.'
O correto é: 'Corro de burro quando foge!'"Esse foi o pior de todos!
Burro muda de cor quando foge??? Qual cor ele fica??? Porque ele muda de cor???"
Outro que no popular todo mundo erra: 'Quem tem boca vai a Roma.'
"Bom, esse eu entendia, de um modo errado, mas entendia! Pensava que quem sabia se comunicar ia a qualquer lugar!" O correto é: 'Quem tem boca vaia Roma.' (isso mesmo, do verbo vaiar).
Outro que todo mundo diz errado,
'Cuspido e escarrado' - quando alguém quer dizer que é muito parecido com outra pessoa.
O correto é: 'Esculpido em Carrara.' (Carrara é um tipo de mármore)
Mais um famoso.... 'Quem não tem cão, caça com gato.' "Entendia também, errado, mas entendia! Se não tem o cão para ajudar na caça o gato ajuda! Tudo bem que o gato só faz o que quer, mas vai que o bicho tá de bom humor!"
O correto é: 'Quem não tem cão, caça como gato.... ou seja, sozinho!'
segunda-feira, 25 de abril de 2011
ENTREGANDO OS PONTOS...
Desalento
Chico Buarque
Composição : Chico Buarque - Vinicius de Moraes
Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu chorei
Que eu morri
De arrependimento
Que o meu desalento
Já não tem mais fim
Vai e diz
Diz assim
Como sou
Infeliz
No meu descaminho
Diz que estou sozinho
E sem saber de mim
Diz que eu estive por pouco
Diz a ela que estou louco
Pra perdoar
Que seja lá como for
Por amor
Por favor
É pra ela voltar
Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu rodei
Que eu bebi
Que eu caí
Que eu não sei
Que eu só sei
Que cansei, enfim
Dos meus desencontros
Corre e diz a ela
Que eu entrego os pontos
domingo, 24 de abril de 2011
TESTE DE VIRGINDADE X EXAME DA GOMA....POR LUIZ BERTO...
Kate Minddleton poderá passar por teste de virgindade
Segundo o site E! Online, A futura princesa, Kate Middleton, poderá se submeter a um teste que comprove a sua virgindade, o mesmo que Lady Di fez às vésperas de seu casamento com o príncipe Charles. Antigamente, este procedimento era realizado quando os reis queriam comprovar que suas mulheres não estariam grávidas de outro homem, pois isso colocaria em risco a pureza do sangue real.
* * *
Exame da goma
Existia um exame no exército que era muito temido pelo viado enrustido, o famoso exame da goma. Os recrutas, um após outro, tinham que se sentar numa cadeira onde se espalhava uma camada uniforme de goma (o mesmo que polvilho em algumas regiões do Brasil). Ao levantar-se, o paciente deixava o retrato gomado do cu. Contavam-se as pregas (o normal aceito pela convenção internacional dos engomadores de cú é de 25 pregas até os cinquenta anos, quando vai declinando até só restar a prega mestra) se estiver faltando a prega mestra (sinal de virgindade anal) o recruta era rejeitado com a desculpa de excesso de “cu tingente” (depois a palavra evoluiu para contingente). A falha no diagnóstico freqüentemente manchava (tingia –”tingente”) o nome das forças armadas.
FERNANDO SABINO...
A escrita é outra - Fernando Sabino
Leio no jornal uma entrevista com o autor de Cem Anos de Solidão. Só que seu nome é Gabriel Garcia Márquez e não Marques, como saiu publicado.
*
Não que eu seja lá muito cioso dessas coisas, pelo contrário: meus lapsos ortográficos costumam ser bem mais graves que uma simples troca do z pelo s. Fixei na memória a grafia certa do nome do escritor, não só por ter sido com Rubem Braga o seu primeiro editor no Brasil, mas principalmente por causa daquela sensacional entrevista sobre ele, que dei na época a uma estagiária de um jornal do Rio.
*
- Me mandaram fazer com você uma entrevista sobre o marquês - e ela foi ligando logo o gravador.
*
- Que marquês? - estranhei.
*
- Esse que vocês editaram.
*
- Não editamos nenhum marquês, que eu saiba.
*
- O autor desse best-seller de vocês, Cem Anos de Perdão.
*
- De solidão.
*
- Ou isso: de solidão. Ele não é marquês?
*
- Não. Ele não é marquês. O nome dele é Gabriel Garcia MÁRQUEZ. Com z no fim. Se duvidar, é capaz de ter até acento no a.
*
- Então é isso. Foi confusão minha - e ela não se deu por achado, muito menos por perdida, sempre empunhando um gravador junto ao meu nariz. - Por que é que o livro dele está fazendo tanto sucesso?
*
- Porque é um livro muito bom.
*
- Foi por isso que vocês publicaram?
*
Respirei fundo:
*
- Por isso o quê, minha filha? Por ser muito bom?
*
Ela me olhou como se estivesse entrevistando uma toupeira:
*
- O que eu estou querendo saber é por que vocês publicaram o livro dele.
*
- Porque nos foi recomendado como sendo um livro muito bom.
*
- Recomendado por quem?
*
- Pelo Neruda.
*
- Quem?
*
- Pablo Neruda. Quando ele esteve no Rio pela última vez, falou com o Rubem que se tratava do romance mais importante em língua espanhola desde Dom Quixote.
*
- Quem é esse?
*
- Esse quem? O Rubem?
*
- Não: o outro.
*
- Dom Quixote?
*
- Não: esse cara que você falou antes. O que recomendou o livro.
*
Resolvi deixar cair:
*
- Você vai me desculpar, minha filha, mas não dá. A entrevista fica para outra vez, quem sabe. É muita honra para um pobre marquês, mas infelizmente... Ou Márquez, se você não se incomoda. No mais, muito obrigado.
*
- Eu é que agradeço!
*
Ela desligou o gravador, com ar satisfeito, despediu-se e foi embora.
*
*
*
*
*
Tudo depende do nosso ponto de vista em relação ao assunto. O meu era de frente, em relação a esta outra: uma estudante de seus dezoito anos (vestibular do curso de Letras) que vinha a ser um verdadeiro esplendor.
*
Esplendor de nossa raça, bem entendido: direi em resumo que tinha competência para passar no vestibular do que quisesse, no que dependesse de apresentação física. Sua pele era da cor de sorvete de chocolate, daquele mais claro, mas não tão fria, muito antes pelo contrário, viva e cálida como a de um fruto - cor de jambo, como se dizia antigamente, só que já não me lembro bem da cor do jambo, faz tempo que não vejo um. O rosto era brejeiro, como também se dizia antigamente. E o corpo perfeito como... como...
*
- Como?
*
- Eu perguntei o que faz um redator.
*
Sentada à minha frente, ela deixara o eterno gravador ligado sobre a mesinha entre nós e esperava pela minha resposta, pernas cruzadas, joelhos à mostra. Descruzei as minhas:
*
- Não entendi bem a pergunta. Antes de mais nada, como é mesmo o seu nome?
*
- Lindalva - respondeu, com voz de criança.
*
- O que foi mesmo que você me perguntou, Lindalva?
*
- Eu perguntei o que faz um redator.
*
- Um redator? Um redator redige, não é isso mesmo? Mas por que você está me perguntando isso?
*
Ela desatou as pernas:
*
- Você não é um redator?
*
Cruzei as minhas:
*
- Bem, de certa maneira... no jornal não sou propriamente um redator, mas um cronista. Ou um colunista, se você prefere. Também redijo, não há dúvida, mas o que eu sou na realidade é um escritor.
*
- E o que faz um escritor? - ela perguntou então, inalterável.
*
Meu Deus, ia começar de novo.
*
- Um escritor esteve - respondi, com um suspiro resignado.
*
- Não é isso que eu quero saber - reagiu ela, fazendo beicinho.
*
- Então perguntou o que você quer saber, Lindalva.
*
- Quero saber o que eu perguntei: o que faz um escritor:
*
- Um escritor é um sujeito que só sabe perguntar e não responder a perguntas. Ainda mais perguntas como essa.
*
De repente entendi:
*
- Ah, você está querendo saber não a função que exerce um escritor, mas as qualidades intrínsecas que fazem de uma pessoa um escritor, não é isso mesmo.
*
- Isso mesmo: o que é que faz um escritor?
*
- As qualidades intrínsecas - arrematei.
*
- Qualidades o quê?
*
- Intrinsecas.
*
- Ah, sei...
*
Ela mostrou os dentes, abrindo os lábios num sorriso. Pensou um pouco, e não lhe ocorrendo mais nada a perguntar, desligou o gravador, dando a entrevista por encerrada.
*
Chegou a minha vez de perguntar:
*
- Que faz uma pessoa como você, Lindalva?
*
- Como eu, como?
*
- Como eu como?
*
Cruzei as pernas, sem que ela descruzasse as suas:
*
- Estou querendo dizer é que acho surpreendente uma moça como você perdendo tempo em me entrevistar.
*
Acompanhei-a até a porta:
*
- Por que não entrevista o Sargentelli, e suas lindas mulatas do Oba-Oba? Você tem futuro.
*
- Ele também é escritor?
*
Disse-lhe que não: a escrita dele era outra.
*
- Gosto muito dos seus escritos - concedeu ela, com um trejeito.
*
- E eu dos seus.
*
- Dos meus escritos?
*
- Dos seus encantos - emendei.
*
- Então tá - e ela estendeu o rosto me oferecendo a face, muito faceira, para um beijo de despedida.
*
Fernando Sabino
Leio no jornal uma entrevista com o autor de Cem Anos de Solidão. Só que seu nome é Gabriel Garcia Márquez e não Marques, como saiu publicado.
*
Não que eu seja lá muito cioso dessas coisas, pelo contrário: meus lapsos ortográficos costumam ser bem mais graves que uma simples troca do z pelo s. Fixei na memória a grafia certa do nome do escritor, não só por ter sido com Rubem Braga o seu primeiro editor no Brasil, mas principalmente por causa daquela sensacional entrevista sobre ele, que dei na época a uma estagiária de um jornal do Rio.
*
- Me mandaram fazer com você uma entrevista sobre o marquês - e ela foi ligando logo o gravador.
*
- Que marquês? - estranhei.
*
- Esse que vocês editaram.
*
- Não editamos nenhum marquês, que eu saiba.
*
- O autor desse best-seller de vocês, Cem Anos de Perdão.
*
- De solidão.
*
- Ou isso: de solidão. Ele não é marquês?
*
- Não. Ele não é marquês. O nome dele é Gabriel Garcia MÁRQUEZ. Com z no fim. Se duvidar, é capaz de ter até acento no a.
*
- Então é isso. Foi confusão minha - e ela não se deu por achado, muito menos por perdida, sempre empunhando um gravador junto ao meu nariz. - Por que é que o livro dele está fazendo tanto sucesso?
*
- Porque é um livro muito bom.
*
- Foi por isso que vocês publicaram?
*
Respirei fundo:
*
- Por isso o quê, minha filha? Por ser muito bom?
*
Ela me olhou como se estivesse entrevistando uma toupeira:
*
- O que eu estou querendo saber é por que vocês publicaram o livro dele.
*
- Porque nos foi recomendado como sendo um livro muito bom.
*
- Recomendado por quem?
*
- Pelo Neruda.
*
- Quem?
*
- Pablo Neruda. Quando ele esteve no Rio pela última vez, falou com o Rubem que se tratava do romance mais importante em língua espanhola desde Dom Quixote.
*
- Quem é esse?
*
- Esse quem? O Rubem?
*
- Não: o outro.
*
- Dom Quixote?
*
- Não: esse cara que você falou antes. O que recomendou o livro.
*
Resolvi deixar cair:
*
- Você vai me desculpar, minha filha, mas não dá. A entrevista fica para outra vez, quem sabe. É muita honra para um pobre marquês, mas infelizmente... Ou Márquez, se você não se incomoda. No mais, muito obrigado.
*
- Eu é que agradeço!
*
Ela desligou o gravador, com ar satisfeito, despediu-se e foi embora.
*
*
*
*
*
Tudo depende do nosso ponto de vista em relação ao assunto. O meu era de frente, em relação a esta outra: uma estudante de seus dezoito anos (vestibular do curso de Letras) que vinha a ser um verdadeiro esplendor.
*
Esplendor de nossa raça, bem entendido: direi em resumo que tinha competência para passar no vestibular do que quisesse, no que dependesse de apresentação física. Sua pele era da cor de sorvete de chocolate, daquele mais claro, mas não tão fria, muito antes pelo contrário, viva e cálida como a de um fruto - cor de jambo, como se dizia antigamente, só que já não me lembro bem da cor do jambo, faz tempo que não vejo um. O rosto era brejeiro, como também se dizia antigamente. E o corpo perfeito como... como...
*
- Como?
*
- Eu perguntei o que faz um redator.
*
Sentada à minha frente, ela deixara o eterno gravador ligado sobre a mesinha entre nós e esperava pela minha resposta, pernas cruzadas, joelhos à mostra. Descruzei as minhas:
*
- Não entendi bem a pergunta. Antes de mais nada, como é mesmo o seu nome?
*
- Lindalva - respondeu, com voz de criança.
*
- O que foi mesmo que você me perguntou, Lindalva?
*
- Eu perguntei o que faz um redator.
*
- Um redator? Um redator redige, não é isso mesmo? Mas por que você está me perguntando isso?
*
Ela desatou as pernas:
*
- Você não é um redator?
*
Cruzei as minhas:
*
- Bem, de certa maneira... no jornal não sou propriamente um redator, mas um cronista. Ou um colunista, se você prefere. Também redijo, não há dúvida, mas o que eu sou na realidade é um escritor.
*
- E o que faz um escritor? - ela perguntou então, inalterável.
*
Meu Deus, ia começar de novo.
*
- Um escritor esteve - respondi, com um suspiro resignado.
*
- Não é isso que eu quero saber - reagiu ela, fazendo beicinho.
*
- Então perguntou o que você quer saber, Lindalva.
*
- Quero saber o que eu perguntei: o que faz um escritor:
*
- Um escritor é um sujeito que só sabe perguntar e não responder a perguntas. Ainda mais perguntas como essa.
*
De repente entendi:
*
- Ah, você está querendo saber não a função que exerce um escritor, mas as qualidades intrínsecas que fazem de uma pessoa um escritor, não é isso mesmo.
*
- Isso mesmo: o que é que faz um escritor?
*
- As qualidades intrínsecas - arrematei.
*
- Qualidades o quê?
*
- Intrinsecas.
*
- Ah, sei...
*
Ela mostrou os dentes, abrindo os lábios num sorriso. Pensou um pouco, e não lhe ocorrendo mais nada a perguntar, desligou o gravador, dando a entrevista por encerrada.
*
Chegou a minha vez de perguntar:
*
- Que faz uma pessoa como você, Lindalva?
*
- Como eu, como?
*
- Como eu como?
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Cruzei as pernas, sem que ela descruzasse as suas:
*
- Estou querendo dizer é que acho surpreendente uma moça como você perdendo tempo em me entrevistar.
*
Acompanhei-a até a porta:
*
- Por que não entrevista o Sargentelli, e suas lindas mulatas do Oba-Oba? Você tem futuro.
*
- Ele também é escritor?
*
Disse-lhe que não: a escrita dele era outra.
*
- Gosto muito dos seus escritos - concedeu ela, com um trejeito.
*
- E eu dos seus.
*
- Dos meus escritos?
*
- Dos seus encantos - emendei.
*
- Então tá - e ela estendeu o rosto me oferecendo a face, muito faceira, para um beijo de despedida.
*
Fernando Sabino
sábado, 23 de abril de 2011
UMA LUZ QUE ILUMINAVA O MEU JARDIM...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL...
Acordei hoje com um desejo estranho:comprar uma Lamparina...com medo de um apagão...fui a feira de santo António, aí começou a chover e eu voltei no escuro....tenho lanternas de pilhas,mas queria uma lamparina, que tivesse asa para eu segurar,queimasse gás, fizesse um fogo,e fizesse tisna...tenho ficado até tarde lendo ou escrevendo, no terraço,a 100 metros do meu quarto.se faltar luz,será problemático...a vela é difícil de encontrar e o vento apaga...vento não apaga lamparina,esta só fica apagada se derramarem o gás...não é uma crise maníaca, é um reliquat de um menino criado em Nova Cruz sem luz , onde os antigos não deixavam de ficar sem um candeeiro na mão... é uma nostalgia, coisas da criança que nunca saiu de dentro da gente...A minha avó, no escuro, caminhava com o alumiar da lamparina,Lica Mousinho, outra velha da minha infância, reputava o seu candeeiro como o bem mais precioso da sua vida, pois tinha pavor do escuro...e isso era tão verdadeiro, que a compositora, Dona Ivone Lara, compôs, o candeeiro da vovó, que fala da tristeza da velha negra, quando roubaram o seu bem precioso, que ela havia trazido da África, de Angola.
Eu sou um homem que Não acredito em almas,mas tenho um medo terrível delas...e no meu jardim piorou...trabalhava, cuidando dele, um velho muito duro, macho, de oitenta anos, chamado BIRÓ...Biró só gostava de tratar o meu jardim, de mascar fumo e de mulher...as vezes,perguntávamos se ele transava,o seu sorriso amarelo,convencia-nos, que era uma AVE TREPADORA...
Biró era aposentado, era casado com Edite,aposentada por loucura, e Não tinha juízo para temperar um cuscus,que só leva água e sal...estourava o dinheiro das duas aposentadorias,era estroina,pródiga,Biró só comentava rindo,mas acho que ele gostava muito da companheira, do umbigo pra baixo...todo ano nascia um Birozinho, sem ser filho do vizinho.Edite fazia contas volumosas na bodega, que instantaneamente diluia o dinheiro das duas aposentadorias, no instante recebido...Biró ecapava, comendo os meus pirões...dava expediente integral, no meu jardim...parava para ver o seu delírio, varrendo e mascando fumo...nunca me perguntou nada, e só respondia o que eu perguntava, com sorrisos, e eu entendia perfeitamente as respostas, pois na vida, aprendí a ouvir estrelas...as vezes, se dizia, amanhã é feriado,Não precisa você vir,poupando-o...ele retrucava: eu venho tratar do jardim por prazer, por que eu gosto...e certa vez me disse:gosto tanto daqui, que quando eu morrer,vou viver neste jardim...eu não sairei dele, viverei aguando as plantas...
Relembrando o velho octogenário Biró, na sua humildade e na sua felicidade,eu revejo Cervantes duas vezes, quando escreveu: O PRAZER ESTÁ NA ESTRADA...TRISTE DE QUEM SÓ TEM PRAZER NA HOSPEDARIA.
EU NÃO ACREDITO EM BRUXARIAS NÃO,MAS QUE ELAS EXISTEM,EXISTEM.
Candeeiro de vovó
Dona Ivone Lara
Vige, Minha Nossa Senhora
Cadê o candeeiro de vovó
Seu troféu lá de Angola
Cadê o candeeiro de vovó
Era lindo e iluminava
Os caminhos de vovó
Sua luz sempre firmava
Os pontos de vovó
Quando veio de Angola
Era livre na Bahia
Escondia o candeeiro
Dia, noite, noite e dia
Mas um golpe traiçoeiro
Do destino a envolveu
Ninguém sabe até hoje
Como o candeeiro desapareceu
Vovó chorou, de cortar o coração
Não tem mais o candeeiro
Pra enfrentar a solidão
Vovó chorou, chorou
Como há tempos não se via
Com saudades de Angola
E sua mocidade na Bahia
Eu sou um homem que Não acredito em almas,mas tenho um medo terrível delas...e no meu jardim piorou...trabalhava, cuidando dele, um velho muito duro, macho, de oitenta anos, chamado BIRÓ...Biró só gostava de tratar o meu jardim, de mascar fumo e de mulher...as vezes,perguntávamos se ele transava,o seu sorriso amarelo,convencia-nos, que era uma AVE TREPADORA...
Biró era aposentado, era casado com Edite,aposentada por loucura, e Não tinha juízo para temperar um cuscus,que só leva água e sal...estourava o dinheiro das duas aposentadorias,era estroina,pródiga,Biró só comentava rindo,mas acho que ele gostava muito da companheira, do umbigo pra baixo...todo ano nascia um Birozinho, sem ser filho do vizinho.Edite fazia contas volumosas na bodega, que instantaneamente diluia o dinheiro das duas aposentadorias, no instante recebido...Biró ecapava, comendo os meus pirões...dava expediente integral, no meu jardim...parava para ver o seu delírio, varrendo e mascando fumo...nunca me perguntou nada, e só respondia o que eu perguntava, com sorrisos, e eu entendia perfeitamente as respostas, pois na vida, aprendí a ouvir estrelas...as vezes, se dizia, amanhã é feriado,Não precisa você vir,poupando-o...ele retrucava: eu venho tratar do jardim por prazer, por que eu gosto...e certa vez me disse:gosto tanto daqui, que quando eu morrer,vou viver neste jardim...eu não sairei dele, viverei aguando as plantas...
Relembrando o velho octogenário Biró, na sua humildade e na sua felicidade,eu revejo Cervantes duas vezes, quando escreveu: O PRAZER ESTÁ NA ESTRADA...TRISTE DE QUEM SÓ TEM PRAZER NA HOSPEDARIA.
EU NÃO ACREDITO EM BRUXARIAS NÃO,MAS QUE ELAS EXISTEM,EXISTEM.
Candeeiro de vovó
Dona Ivone Lara
Vige, Minha Nossa Senhora
Cadê o candeeiro de vovó
Seu troféu lá de Angola
Cadê o candeeiro de vovó
Era lindo e iluminava
Os caminhos de vovó
Sua luz sempre firmava
Os pontos de vovó
Quando veio de Angola
Era livre na Bahia
Escondia o candeeiro
Dia, noite, noite e dia
Mas um golpe traiçoeiro
Do destino a envolveu
Ninguém sabe até hoje
Como o candeeiro desapareceu
Vovó chorou, de cortar o coração
Não tem mais o candeeiro
Pra enfrentar a solidão
Vovó chorou, chorou
Como há tempos não se via
Com saudades de Angola
E sua mocidade na Bahia
VINICIUS...
SONETO DE DEVOÇÃO
Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.
Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!
VINICIUS DE MORAES
Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.
Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!
VINICIUS DE MORAES
SOBRE STRIPTEASE...
Como conquistei a Violeteira - José Carlos Oliveira
Há casos que só aconteceu comigo. Até parecem mentiras. Na primeira vez que vi um striptease, por exemplo, a estrela do espetáculo se apaixonou por mim. Isto aconteceu há quatro ou cinco anos, e desde então me vem frequentemente a tentação de contar como foi, mas não o faço porque ninguém talvez acreditaria. Estava eu zanzando pela noite e acabei atracando numa boate especializada em striptease. Esse gênero de espetáculos não me interessava de modo algum, pois conheço lugares bem mais apropriados para a contemplação de mulheres nuas, mas na época ninguém falava em outra coisa. Todo mundo que vinha de Paris descrevia os fabulosos striptease que lá são vistos; e já que a moda pegara também no Rio, fazendo o sucesso de três ou quatro boates, também fui ver. Tive a sorte de ocupar a mesma mais próxima da pista. Comecei a bebericar o uísque de praxe e a comer amendoim, e então o show começou.
*
Luzes. Música: La Violetera. Surge na pista a estrela, cujo nome é Não-Sei-o-Quê Soraya. (Grace Soraya, talvez; ou Brigitte Soraya; não me lembro mais.) Imensa mulher, mas com o corpo todo oculto num manto roxo e a cabeça escondida sob extravagante chapéu da mesma cor. Põe-se ela a dançar, tendo na mão uma cesta com violetas. Tira primeiro as luvas que lhe cobrem totalmente os braços e as deixa cair no chão. Todos os gestos são cadenciados por esses movimentos coleantes que alguns basbaques consideram o máximo em sensualidade. Finalmente, Soraya arranca o chapéu, num gesto brusco e calculado, e contempla os espectadores, um por um, nos olhos. Sua expressão é um convite à lasciva. Ela ainda não olhou para mim, porque sou quem está mais perto dela, falando perspectiva no momento. Mas quando olha... Ah! Tinha esquecido de dizer que sou irresistível! Ela não consegue mais despregar os olhos de mim. Sorri, pisca maliciosamente, aproxima-se e esvazia a cesta em minha cabeça. Recebo, impertubável, aquela chuva de violetas. Percebo que os demais espectadores estão também olhando para mim. Devem estar com inveja. Azar deles. Não é culpa minha se neste recinto só eu possuo charme e tenho feitiços capazes de hipnotizar uma mulher.
*
Enquanto isso, Soraya se despe. Após livrar-se de uma das meias, lançou-a na minha mesa. Tira a outra meia e novamente é a minha mesa quem a recebe. Tudo o mais que cobre o seu opulento edifício acaba amarfanhado em cima da minha mesa. Impertubável, prossigo bebericando o uísque e contemplo o corpo desnudo com ar de conhecedor. No fim, aplaudida por todos, ela se retira em apoteose, não sem antes piscar outra vez na minha direção, balançando levemente a cabeça em sinal de adeusinho. A boate ficará tranquila até o próximo show. Quanto a mim, daqui a pouco a minha querida virá sentar-se à minha mesa...
*
Soraya vem. Veste-se agora como qualquer mulher do seu meio: as carnes explodem por todos os lados do vestido de veludo colante. Não sendo o meu tipo, não deixa de ser uma bela mulher; e acontece que hoje estou muito eclético. Ela se aproxima rapidamente, luminosa, sorrindo e já lançando a mão direita para que eu a beije. Levanto-me, beijo-lhe a mão, ela se inclina para beijar-me no rosto...
*
- Um momento... Pero... Usted no es uted!
*
Como assim? Eu não sou eu? Terei mudado de personalidade tão rapidamente? O fato é que a minha Soraya solta um gritinho de dolorida decepção e corre para os fundos da boate. Enfim... Não se deve especular demais sobre a sensatez das mulheres. Nenhuma delas regula bem. Sem demonstrar perturbação, continuo bebendo o meu uísque. As violetas na mesa sugerem agora o luxuoso enterro dalguma paixão...
*
Mais tarde surge na boate uma figura imprevista: meu amigo Raimundo, jornalista radicado em Brasília desde a fundação da cidade, e excelente praça. Sei que de vez em quando ele vem ao Rio e volta carregado de mulheres, todas sucumbidas ao seu encanto quieto. Mas não digo nada; não tenho nada com isso. Convido-o a sentar-se comigo, o que é feito. Ele fala pouco e eu, preferindo sempre o convívio silencioso, não menciono o incidente Soraya. Cinco minutos depois, la Violetera reaparece, outra vez luminosa, e se dirige à minha mesa. Quem entende as mulheres? Vai começar tudo outra vez... O Raimundo saberá que outra pessoa, além dele, costuma endoidecer as damas. Vem, Soraya!
*
Mas não. Quem se levanta agora é Raimundo. Ele a beija, ela lhe faz carícias no cabelo... E apontando para mim: "Pero es como se fuera tu hermano!"
*
Meus amigos, a venezuelana estava gamada pelo Raimundo, e este último é um sósia perfeito deste vosso criado. Durante anos trabalhamos juntos na imprensa carioca e nuna havíamos reparado na semelhança mútua.
*
Para encurtar a conversa, lá se foi ele com a Soraya. Mas me consolei, pensando que éramos de tal modo gêmeos que, de certo modo, eu também estava indo para a intimidade das violeteiras.
*
José Carlos Oliveira
SOBRE A POESIA DA ALMA DO POVO....
QUADRAS E SEXTILHAS MEMORÁVEIS
Tanto a quadra quanto a trova são estrofes de quatro versos, com pequenas diferenças entre ambas, quando o assunto gira em torno da arte poética.
Algumas pessoas criticam a quadra por limitar a expressão poética do autor. Depende. Às vezes, em uma “simples quadra”, se consegue dizer o que não se diz em um tratado filosófico, com todo seu aparato e exigência.
Querem ver? Então vejamos o que disse em uma quadra o poeta/repentista Jó Patriota, considerado O Último dos Liricos do repente, de São José do Egito:
O mar que no bojo guarda
Todo os mistérios seus
Inda é um grão de mostarda
Perante os olhos de Deus.
Quer dizer, somente um poeta da dimensão de Jó, teria condições de colocar o mar em tamanha insignificância.
O poeta Adelmar Tavares, de Jaboatão dos Guararapes (ou Goiana, mata norte?) fez essas duas quadras a seguir, que representam o que há de mais belo dentro da expressão poética:
A cigarra está dizendo
No tronco do velho oiti
Que a vida seria um sonho
Se se se si si si si.
Tres Marias três amores
Passaram pelos meus dias
Ficou Maria das Dores
A dor pior das Marias.
Essas quadras, com certeza, irão mexer com o emocional dos leitores/poetas mais sensíveis.
O poeta, Antônio Marinho, de São José do Egito, bisavô de Marinho, filho de Zeto e Bia, na década de 40 improvisou esta eterna quadra:
O amor e a amizade
Vestidos numa só túnica
Tiveram uma filha única
Deram-lhe o nome saudade.
Existem sextilhas (agora são sextilhas), memoráveis, difícil é escolher as melhores. Tudo a depender do assunto, do momento, e do gosto de quem se propõem jogá-las na rede. Desde o homem simples, do poeta simples, até os mais sofisticados, o mais importante, quem dá as cartas é a comunicação, o modo de se expressar, e que seja compreendido por aqueles que recebam as mensagens.
Reclamando da sorte, o poeta do campo é capaz de passar pra frente uma reclamação, um desejo não obtido, embora que evocando aquele que poderia exercer a missão de solucionar o problema. Não sabemos o autor (alguém pode ajudar?), mas vejamos o que disse o poeta a seguir:
A minha vida está torta
Feito eivado de foice
A sorte me dá patada
O destino me dá coice
E eu peço as coisas a Jesus
Mas ele faz que nem oice.
Contou-me o poeta Joselito Nunes que numa pequena cidade tinha dois intrigados de sangue a fogo. Um tinha o nome de Paulo. Pois bem, Paulo estaria dormindo em sua casa, antes do dia amanhecer, quando alguém batera em sua porta para lhe passar uma notícia que já rolava na cidade desde a boca da noite.
- Paulo, Paulo, Paulo. Abra a porta. Falou com a voz áspera, o de fora.
- É fulano ôxe! O que aconteceu a essas horas?
- Paulo rapaz! Eu vim aqui para lhe pedir um único e último favor. Afinal, fulano está às portas da morte em sua casa, o padre já chegou para a extrema unção. Como sou amigo dos dois, e sei que vocês não se falam há 30 anos, o perdoe. Afinal de contas, o homem tá morrendo. Por favor, Paulo, você o perdoa em nome de Deus!
Paulo, depois de abrir somente a porta de cima, acendeu um “pacáia”, e respondeu:
Quando esse Paulo morrer
Se eu for pro enterro eu cegue
Eu fico é em casa pedindo
Que o Satanáz lhe carregue
E a cruz que eu boto na cova
É a caceta de um jegue.
A sextilha a seguir, tem várias versões. O verso oral é assim mesmo, cada um tem o seu “verdadeiro” pra dizer. E ainda existem aqueles que afirmam categoricamente que estavam no local. Isso é comum. Essa versão que vou passar pra frente foi o poeta Daudete Bandeira quem me disse, ou melhor, recitou, embora que conheço outras:
Já fiz muitas travessuras
Quando ainda era menino
Roubei gogóia na feira
Cortei a corda do sino
Só não dei o fê-o- fó
Mas andei tirando um fino.
ÉSIO RAFAEL.
sexta-feira, 22 de abril de 2011
O DIA MAIS IMPORTANTE DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE... A SEXTA FEIRA SANTA ...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL...
Hoje é o dia mais importante da história da humanidade: A SEXTA FEIRA SANTA,DIA DA MORTE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO...
Hoje é o dia, onde a Morte passa a ser a vida...Michelãngelo,quando retratou o quadro conhecido como La Pietá, RESUMIU A SÚMULA DA VIDA...em toda sala deveria ter este quadro...todo pai deveria explicar aos seuS filhos a mensagem que estÁ contida nesta obra de arte...Eu, na vida, expliquei aos meus filhos O valor do sacrifício de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, e nas vésperas de Natal, cheguei a fazer uma preleção, á meia noite, dizendo que a vida, tem que ser compreendida, dentro desta súmula: a imagem do menino jesus, e o mesmo menino morto, desfalecido,dilacerado,no Colo da sua mãe, aos trinta e três anos.Entre uma imagem e outra, entre uma perspectiva e outra,renasce no coração o sentimento da fé, A redefinição do que é de DEUS e do que é dos HOMENS...Não existe injustiça no mundo,que não se torne menor, do que a vida e morte de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO ...neste RACIOCÍNIO PODEMOS COMPREENDER O MUNDO,OS HOMENS, OS DESEJOS, AS FRUSTRAÇÕES, E FLUTUAR EM DIREÇÃO Á DEUS...
Na ótica dos homens,na ótica de dois e dois são quatro,a vida de jesus foi um fracasso...foi uma desonra...foi frustante...foi injusta... UM ESTELIONATO...
Um Homem que se dizia o filho de Deus,que dizia ser capaz de tudo,de curar os enfermos, de devolver a visão aos cegos,de abrir as águas do oceano, e transformar água em vinho, de multiplicar peixes,SER DESMORALIZADO, FUSTIGADO, HUMILHADO,PELO PODER, PELA RUINDADE,SER TORTURADO E SER MORTO NA CRUCIFICAÇÃO...Para os incautos, Jesus , sua vida foi um estelionato...O Próprio Jesus,vestido da condição humana, tremeu nas bases,teve medo, e isso nós percebemos nas sagradas frases:PAI, O ESPÍRITO ESTÁ PRONTO, MAS A CARNE É FRACA, pronunciadas ás vesperas da sua via crucis,quando foi visitado pela angústia e pelo medo...PAI AFASTA DE MIM ESTE CÁLICE...e já crucificado disse:PAI POR QUE ME ABANDONASTES ?
MEUS AMIGOS,O DIA DE HOJE É UM DIA GRANDIOSO,ONDE COMPREENDENDO A VIDA E MORTE DE JESUS, COMPREENDEMOS A ESSÊNCIA DA VIDA...E A DOR, O SOFRIMENTO, PASSA A TER OUTRO SIGNIFICADO...BEM AVENTURADOS OS QUE NÃO VIRAM MAIS CRERAM, EIS O MISTÉRIO DA FÉ...
IMAGINEM,O QUE SERIA DE NÓS, SE JESUS CRISTO TIVESSE FUGIDO DA CRUZ,TIVESSE USADO O PODER QUE TINHA ,PARA NEGAR FOGO?
O Sacrifício da crucificação de Nosso Senhor Jesus Cristo, é uma carta de crédito, dada a todos os homens, pelo exemplo de Jesus, e cujas vantagens e virtudes podem ser resgatadas sempre, todo dia, diante da tristeza, diante da injustiça, diante da angústia que suja os homens.
Meus amigos,em toda a minha vida, em tudo o que ví e escutei,vendo toda a biologia,estudando todas as fisiopatologias da vida,lendo os olhos e as ações dos homens,eu só tenho é de ratificar São Paulo: EU ME ORGULHO DA CRUZ DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.
Hoje é o dia, onde a Morte passa a ser a vida...Michelãngelo,quando retratou o quadro conhecido como La Pietá, RESUMIU A SÚMULA DA VIDA...em toda sala deveria ter este quadro...todo pai deveria explicar aos seuS filhos a mensagem que estÁ contida nesta obra de arte...Eu, na vida, expliquei aos meus filhos O valor do sacrifício de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, e nas vésperas de Natal, cheguei a fazer uma preleção, á meia noite, dizendo que a vida, tem que ser compreendida, dentro desta súmula: a imagem do menino jesus, e o mesmo menino morto, desfalecido,dilacerado,no Colo da sua mãe, aos trinta e três anos.Entre uma imagem e outra, entre uma perspectiva e outra,renasce no coração o sentimento da fé, A redefinição do que é de DEUS e do que é dos HOMENS...Não existe injustiça no mundo,que não se torne menor, do que a vida e morte de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO ...neste RACIOCÍNIO PODEMOS COMPREENDER O MUNDO,OS HOMENS, OS DESEJOS, AS FRUSTRAÇÕES, E FLUTUAR EM DIREÇÃO Á DEUS...
Na ótica dos homens,na ótica de dois e dois são quatro,a vida de jesus foi um fracasso...foi uma desonra...foi frustante...foi injusta... UM ESTELIONATO...
Um Homem que se dizia o filho de Deus,que dizia ser capaz de tudo,de curar os enfermos, de devolver a visão aos cegos,de abrir as águas do oceano, e transformar água em vinho, de multiplicar peixes,SER DESMORALIZADO, FUSTIGADO, HUMILHADO,PELO PODER, PELA RUINDADE,SER TORTURADO E SER MORTO NA CRUCIFICAÇÃO...Para os incautos, Jesus , sua vida foi um estelionato...O Próprio Jesus,vestido da condição humana, tremeu nas bases,teve medo, e isso nós percebemos nas sagradas frases:PAI, O ESPÍRITO ESTÁ PRONTO, MAS A CARNE É FRACA, pronunciadas ás vesperas da sua via crucis,quando foi visitado pela angústia e pelo medo...PAI AFASTA DE MIM ESTE CÁLICE...e já crucificado disse:PAI POR QUE ME ABANDONASTES ?
MEUS AMIGOS,O DIA DE HOJE É UM DIA GRANDIOSO,ONDE COMPREENDENDO A VIDA E MORTE DE JESUS, COMPREENDEMOS A ESSÊNCIA DA VIDA...E A DOR, O SOFRIMENTO, PASSA A TER OUTRO SIGNIFICADO...BEM AVENTURADOS OS QUE NÃO VIRAM MAIS CRERAM, EIS O MISTÉRIO DA FÉ...
IMAGINEM,O QUE SERIA DE NÓS, SE JESUS CRISTO TIVESSE FUGIDO DA CRUZ,TIVESSE USADO O PODER QUE TINHA ,PARA NEGAR FOGO?
O Sacrifício da crucificação de Nosso Senhor Jesus Cristo, é uma carta de crédito, dada a todos os homens, pelo exemplo de Jesus, e cujas vantagens e virtudes podem ser resgatadas sempre, todo dia, diante da tristeza, diante da injustiça, diante da angústia que suja os homens.
Meus amigos,em toda a minha vida, em tudo o que ví e escutei,vendo toda a biologia,estudando todas as fisiopatologias da vida,lendo os olhos e as ações dos homens,eu só tenho é de ratificar São Paulo: EU ME ORGULHO DA CRUZ DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.
UMA CRONICA DE CAETANO VELOSO...
A Ipanemia - Caetano Veloso
A Ipanemia
*
*
*
A Ipanemia é uma doença fácil - Endepidêmica, vem em ondas como o mar, e como o mar, vem em ondas sem por isso deixar de estar sempre aí mesmo. Não creio que ela se restrinja a Ipanema. Muito pelo contrário: no meu entender, a Ipanemia (como tudo) nasceu na Bahia. O Rio apenas esporta para o exterior (São Paulo).
*
A Ipanemia é uma doença fértil - Eu, por exemplo, recebi muitas cartas de felicitações pela minha morte, que, entre outras besteiras, eu mesmo noticiei há uns três Pasquins. Quero responder publicamente a todos os que me escreveram nessa oportunidade, explicando que eu quis dizer que estava morto, e não triste. Não estou nem mais alegre, nem mais triste do que antes. Nem mais nem menos poeta, tampouco. Quem nunca morreu não sabe, mas vem dar no mesmo: neve é ótimo, frio é chato, Paul McCarney assegura que está vivo, Gil manda dizer que recusa o Golfinho da Imagem e do Som. Londres é bom, fiz umas músicas bonitas que estão agradando aqui, acho que nunca vou aprender a falar inglês, mas não faz mal etc., tá legal tudo. Além do mais, não há motivo para tanta alegria: eu ainda posso ressuscitar. A nossa época é uma época de milagres. De qualquer modo, o negócio não é esse, bicho. Eu gostaria apenas que a minha morte fizesse bem à Gal Costa. Tomara que ela tenha percebido que eu morri. Digo isso porque eu mesmo não me apercebi de imediato. Alguns amigos me avisaram, mas eu não liguei, até que vi o retrato.
*
A Ipanemia é uma doença horrível - E na sua débil beleza, ela is suppsoed to be um anticorpo contra o dragão da maldade. Mas, na verdade, ela desempenha o papel da donzela, que deve ser salva pelo santo guerreiro. Só que não é mais donzela, nem nada. E não há nenhum santo em vista, e os guerreiros mal sobrevivem.
*
A Ipanemia é uma doença fóssil - O Pasquim, não tem modernidade para enfrentar o Nelson Rodrigues. A fossa é muito grande. A fosse é mais funda do que parece. Acredito que a Ipanemia seja anterior à alma lírica brasileira que tanto me interessa, a mim e ao Dr. Alceu, e ao Nelson Rodrigues. Eu, pessoalmente, adoro o Pasquim e Nelson Rodrigues e o Chico Buarque de Holanda e o Caetano Veloso. O que não suporto é a capacidade que a turma tem de nos suportar, ou melhor: eu adoro o Pasquim e eu odeio o Pasquim e eu odeio mais a maneira como se ama o Caetano Veloso e mais ainda a maneira como o Pasquim odeia o Nelson Rodrigues e a maneira fácil com quê. E sem quê. Sem quê nem por quê. E assim por diante até que eu adoro tudo em conjunto, caso contrário, eu daria daria um tiro na cabeça. De quem? - cabe a pergunta. A Ipanemia é uma espécie de "o-sistema-engloba-tudo" amadorístico. E Glauber é que está certo. O Zé Celso fala demais. E eu falo demais e o Rogério Sganzerla fala demais. E todo mundo se explica demais, e é uma merda. Mas talvez seja melhor: a gente se explica, se explica, e morre logo de Ipanemia e pronto. Quando a gente pensa que está lutando bravamente contra o vício de Ipanemia, a gente está se afundando cada vez mais nela. A Ipanemia é uma espécie de "o-sistema-engloba-tudo" amadorístico. Eu odeio esses brasileiros que vêm a Londres e falam mal do Pasquim. Porque essa vontade de falar mal exatamente do Pasquim é um sintoma da mesma doença congênita de que sofre o Pasquim. Tudo que não está além disso é a mesma porcaria. E eu não me sinto além de nada. Morrer não é ir para o além.
*
A Ipanemia é uma doença fútil - Portanto, eu agora quero falar da maneira mais clara possível. Quero falar de uma maneira lógica, de uma maneira à qual não estou habituado. Quero dizer que se eu falei que morri foi porque eu constatei a falência irremediável da imagem pública que eu mesmo escolhi aí no Brasil. Quando eu me congratulei com aqueles que eu me fizeram sofrer, eu estava querendo dizer que, dando motivo para crescer uma compaixão unânime por mim, que vira prêmios e homenagens e capas de revistas muito significativas, eles conseguiram realmente aniquilar o que me fez ver isso de uma forma muito mais nítida. Cansei. Não dá pé explicar tudo direitinho, parece que a gente está mentindo. Eu não sei falar assim. Eu sou apenas um colaborador do Pasquim, um colaboracionista. Aliás, eu mesmo sou contra tudo que penso. Portanto, ninguém tome ao pé da letra nada do que digo. Nem ao pé da letra, nem de nenhuma outra forma. Ou melhor: tome de qualquer jeito, que vem dar no mesmo. Eu quero é me divertir como o Paulo Francis quando escreve. Eu quero é comer com coentro. Já morri que eu sou muito vivo. Além do mais, estou cansado de escrever e ainda vêm estas frases sem pé nem cabeça (como se as outras o tivessem). Enfim: eu gostaria de fazer um filme chamado Memórias do subdesenvolvimento.
*
Caetano Veloso
A Ipanemia
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A Ipanemia é uma doença fácil - Endepidêmica, vem em ondas como o mar, e como o mar, vem em ondas sem por isso deixar de estar sempre aí mesmo. Não creio que ela se restrinja a Ipanema. Muito pelo contrário: no meu entender, a Ipanemia (como tudo) nasceu na Bahia. O Rio apenas esporta para o exterior (São Paulo).
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A Ipanemia é uma doença fértil - Eu, por exemplo, recebi muitas cartas de felicitações pela minha morte, que, entre outras besteiras, eu mesmo noticiei há uns três Pasquins. Quero responder publicamente a todos os que me escreveram nessa oportunidade, explicando que eu quis dizer que estava morto, e não triste. Não estou nem mais alegre, nem mais triste do que antes. Nem mais nem menos poeta, tampouco. Quem nunca morreu não sabe, mas vem dar no mesmo: neve é ótimo, frio é chato, Paul McCarney assegura que está vivo, Gil manda dizer que recusa o Golfinho da Imagem e do Som. Londres é bom, fiz umas músicas bonitas que estão agradando aqui, acho que nunca vou aprender a falar inglês, mas não faz mal etc., tá legal tudo. Além do mais, não há motivo para tanta alegria: eu ainda posso ressuscitar. A nossa época é uma época de milagres. De qualquer modo, o negócio não é esse, bicho. Eu gostaria apenas que a minha morte fizesse bem à Gal Costa. Tomara que ela tenha percebido que eu morri. Digo isso porque eu mesmo não me apercebi de imediato. Alguns amigos me avisaram, mas eu não liguei, até que vi o retrato.
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A Ipanemia é uma doença horrível - E na sua débil beleza, ela is suppsoed to be um anticorpo contra o dragão da maldade. Mas, na verdade, ela desempenha o papel da donzela, que deve ser salva pelo santo guerreiro. Só que não é mais donzela, nem nada. E não há nenhum santo em vista, e os guerreiros mal sobrevivem.
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A Ipanemia é uma doença fóssil - O Pasquim, não tem modernidade para enfrentar o Nelson Rodrigues. A fossa é muito grande. A fosse é mais funda do que parece. Acredito que a Ipanemia seja anterior à alma lírica brasileira que tanto me interessa, a mim e ao Dr. Alceu, e ao Nelson Rodrigues. Eu, pessoalmente, adoro o Pasquim e Nelson Rodrigues e o Chico Buarque de Holanda e o Caetano Veloso. O que não suporto é a capacidade que a turma tem de nos suportar, ou melhor: eu adoro o Pasquim e eu odeio o Pasquim e eu odeio mais a maneira como se ama o Caetano Veloso e mais ainda a maneira como o Pasquim odeia o Nelson Rodrigues e a maneira fácil com quê. E sem quê. Sem quê nem por quê. E assim por diante até que eu adoro tudo em conjunto, caso contrário, eu daria daria um tiro na cabeça. De quem? - cabe a pergunta. A Ipanemia é uma espécie de "o-sistema-engloba-tudo" amadorístico. E Glauber é que está certo. O Zé Celso fala demais. E eu falo demais e o Rogério Sganzerla fala demais. E todo mundo se explica demais, e é uma merda. Mas talvez seja melhor: a gente se explica, se explica, e morre logo de Ipanemia e pronto. Quando a gente pensa que está lutando bravamente contra o vício de Ipanemia, a gente está se afundando cada vez mais nela. A Ipanemia é uma espécie de "o-sistema-engloba-tudo" amadorístico. Eu odeio esses brasileiros que vêm a Londres e falam mal do Pasquim. Porque essa vontade de falar mal exatamente do Pasquim é um sintoma da mesma doença congênita de que sofre o Pasquim. Tudo que não está além disso é a mesma porcaria. E eu não me sinto além de nada. Morrer não é ir para o além.
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A Ipanemia é uma doença fútil - Portanto, eu agora quero falar da maneira mais clara possível. Quero falar de uma maneira lógica, de uma maneira à qual não estou habituado. Quero dizer que se eu falei que morri foi porque eu constatei a falência irremediável da imagem pública que eu mesmo escolhi aí no Brasil. Quando eu me congratulei com aqueles que eu me fizeram sofrer, eu estava querendo dizer que, dando motivo para crescer uma compaixão unânime por mim, que vira prêmios e homenagens e capas de revistas muito significativas, eles conseguiram realmente aniquilar o que me fez ver isso de uma forma muito mais nítida. Cansei. Não dá pé explicar tudo direitinho, parece que a gente está mentindo. Eu não sei falar assim. Eu sou apenas um colaborador do Pasquim, um colaboracionista. Aliás, eu mesmo sou contra tudo que penso. Portanto, ninguém tome ao pé da letra nada do que digo. Nem ao pé da letra, nem de nenhuma outra forma. Ou melhor: tome de qualquer jeito, que vem dar no mesmo. Eu quero é me divertir como o Paulo Francis quando escreve. Eu quero é comer com coentro. Já morri que eu sou muito vivo. Além do mais, estou cansado de escrever e ainda vêm estas frases sem pé nem cabeça (como se as outras o tivessem). Enfim: eu gostaria de fazer um filme chamado Memórias do subdesenvolvimento.
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Caetano Veloso
quinta-feira, 21 de abril de 2011
O BOM E O RUIM...É TUDO MISTURADO...
Coisas abomináveis
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Sem dizer das outras 8.329 coisas abomináveis, das quais não tenho tempo de me lembrar neste instante, eu denuncio na vida moderna os seguintes crimes contra a criatura humana:
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Sala de espera de ministério público, de autarquia, de banco, sobretudo quando uma réstia de sol morno e antipático bate em nossa cara; atraso de avião, para reparos no motor, sobretudo quando se está sozinho em aeroporto estrangeiro, com um alto-falante incompreensível em qualquer idioma; trem que atrasa na própria estação de partida, sobretudo da Estrada de Ferro Central do Brasil no primeiro dia de carnaval (isto já me aconteceu, é claro); menino de nariz sujo (menina então nem se fala); gol do América no último minuto contra o Botafogo ou gol do Escurinho de pé direito; preencher aquele formulário hermético e algébrico da Divisão do Imposto de Renda, sobretudo quando não se tem renda, mas vai pagar assim mesmo; a penúltims hora em qualquer viagem e em qualquer tipo de transporte; torneiras secas há mais de três dias (todo carioca contemporâneo tem crédito no Paraíso); verificar que o prato pedido no restaurante está intragável; garçom que fica malcriado quando quer gorjeta além dos 10% já incluidos na conta; uísque ostensivamente falsificado; domingo às seis horas da tarde, sobretudo se há resenha esportiva, mas a televisão está enguiçada; técnico de televisão; anúncio de televisão; Marcom; buscar um registrado no Colis Postaux; desembaraçar bagagem na alfândega; delegacia de polícia, em qualquer circunstância; prostituta sem dentes; falso malandro; falso valente; sujeito falsamente importante; fila de elevador e elevador propriamente dito; bafo de respiração em nossa nuca dentro do elevador; um arábe (dizia Ovalle) vestido a caráter dentro de elevador; enguiço de elevador e a gente lá dentro; moça que não sabe que mulher só pode falar um palavrão por semana; aviso de banco; gerente de banco (o subgerente é pior) quando nos diz com sarcasmo: "Sempre os eternos 10%!"; tinta quando acaba se a gente já está enchendo a promissória (tem de pedir a caneta do gerente emprestada); pobre bajulando rico; rico bajulando pobre; rir com exagero da anedota contada pelo patrão; campainha de telefone de madrugada; esperar um telefonema com ansiedade e, vai atender, é engano; enfarte de pessoa da nossa idade; caixa, quando nos diz para passar no dia seguinte (no dia seguinte talvez ele nos pague, mas com uma cara enjoadíssima de quem concede um favor excepcional); cachorro latindo em nossas pernas; quintal com papagaio e macaco; discurso em geral, mas, notadamente, os empolados e compridos; cara de falsa modéstia; tratar de papéis para a compra de imóvel; processo na Caixa Econômica; eletrola quando fica biruta; vacina antivariólica; rumores de epidemia de varíola; apartar briga em espanhol; brigar em francês; amar em alemão; ser puxado por alguém para dançar; enjôo de mar (mais forte que amor de mãe, diz Gilberto Amado); jornal largando tinta; pagar a mesma conta duas vezes (o poeta Keats refere-se a isso com uma sacrossanta indignação); acordar com gripe; dor de dente, sobretudo depois de trinta anos; poesia declamada por mulher gorga ou magra demais; chapéu à nossa frente no teatro; jantar perto de pessoa que nos vai devorando as fritas; "quer me dar só uma pontinha de bife?"; ser chamado de "bichão" ou "batuta" por pessoa que não tem intimidade conosco; beliscão; o segundo beliscão; practical jokes, sobretudo se o idioma é do Texas; topada; agentes de seguros (porque evidentam dizer-nos a palavra morte e só pensam nisso); conta de boate, sobretudo quando o cavalheirismo nos obriga a pagar sem checar o roubo; policial empurrando a gente de leve (com força é mais que abominável); batedores de motocicleta, sobretudo no verão, no dia que a gente não tomou banho porque faltou água; os serviços em geral da Companhia Telefônica; a telefonista-chefe do serviço interurbano; demora aproximada de seis horas porque há alguns circuitos com defeito; precisar inadiavelmente de táxi em noite de chuva; esquecer a carteira em casa; perder cardeneta de endereços; isqueiro quando acaba o fluido mas há ainda uma tênue esperança; perder dinheiro; achar dinheiro e o dono aparecer na mesma hora; comerciante quando nos aconselha a comprar logo porque vai subir de preço; chimpanzé metido a besta; araponga em tarde de dor-de-cotovelo; serra circular em dia de ressaca; ressaca em dia de serra circular; queda ridicula em via pública; estar com vontade de fumar e nem o motorista do táxi tem fogo; amigo que não compra cigarros para fumar pouco; ser apresentado mais de 13 vezes a uma mesma pessoa; não reconhece uma pessoa que já nos foi apresentada; pessoa que nos diz "você não se lembra de mim", e não contra; batida de automóvel na hora do engarrafamento; mão suada; festas juninas; sujeito que adora falar mal língua estrangeira; sujeito que fala bem demais língua estrangeira; mulher feia falando mal de mulher bonita; o abominável homem das neves.
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Coisas deleitáveis
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Depois de ter publicado uma lista de coisas abomináveis, pediram-me para fazer uma relação de coisas deleitáveis. Pois não:
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Coleção de revistas de antes da Primeira Grande Guerra, em feriado chuvoso; cigarro depois do café da manhã, sobretudo de manhã fria, no interior; água de geladeira; às quatro horas da manhã, depois de uma festa; arrancar os sapatos depois do baile; andar descalço em relva úmida; breakfast em cama de hotel; cochilar em viagem de automóvel com rádio tocando canções napolitanas; montar cavalo bonito; banho de cachoeira; banho de mar em manhã de verão na praia de Boa Viagem; grande partida de futebol à noite no Maracanã; dizer baixinho versos de Verlaine em madrugada de romantismo e vaga melancolia; ganhar discos de presente (João!); ganhar uísque de presente; conhecer gente que conheceu Machado de Assis; sombra de árvore; um bom papo em carro-restaurante; dormir cansando; viagem de segunda classe em transatlântico de luxo; lago de águas límpida; andar de canoa em rio grande; acertar um sem-pulo de canhota; acertar tiro ao alvo, sobretudo garrafa; jogar novela de Conrad no mar; música de João Sebastião quando a manhã é infinita; canivete alemão; aroma de madeira; passarinho colorido quando pousa perto da gente; oferecer bebida a uma senhora de idade e ela aceitar com prazer; octogenário lúcido e lépido; casa na qual morou quem admiramos muito; tulipas e narcisos à beira do Avon; batucada bem batida; batida bem batucada; flamenco bem dançado; comida chinesa; salto acrobático que pode causar a morte do artista; crawl com estilo; time de basquetebol americano; passe de Didi; gol de Pelé; drible de Garrincha; lembrar os grandes craques argentinos do passado; rasgar papéis inúteis; copiar caderneta de telefones; dinheiro que não se esperava; dinheiro quando é mais do que se esperava; fisgar um peixe; ver Raimundo Nogueira diante duma travessa de caranguejos; cartomante ou palmista quando acerta alguma coisa; geladeira nova, sobretudo a primeira; mudar para apartamento maior; andar de bailarina; roupa de palhaço de circo; o olhar superior do tigre; vento de montanha; tomar ponche de rum nos Alpes; canja de galinha dum restaurante subterrâneo que existe em Hamburgo; catedral góticas; igrejas barrocas de Ouro Preto; o adro da igreja de São Francisco de Assis, em São João del Rei; jabuticaba de Sabará; ar refrigerado; lareira em terra fria; milho cozido; bateria de cozinha novinha em folha; trazer para casa um queijo enorme; dar boneca para menina pobre; menino preto tomando sorvete; comer mexido à meia-noite, desembarcar de avião; álbum de pintura, sobretudo Paul Klee; brincar com argila; sol da manhã no inverno; foto em que a gente fica mais bonito do que é; máquinas de escrever, nova; lenço de linho; atlas; mapas antigos; passear de jangada; telefonar para outro país; descobrir, quando o cigarro acaba, que a gente ainda tem um cachimbo e uma lata de fumo; a palavra cognac, aprender o que é Weltanschuung aos 20 anos; xícara de porcelana; taça de cristal fino; facão de cozinha bem amolado; aprender que faca de pão é o instrumento ideal para descascar abacaxi; paradoxo de Bernard Shaw; cesta de cajus do Nordeste; hortaliças frescas em cima do mármore; aquele coelho de relógio em Alice no País das Maravilhas; lembrar de repente um episodio da infância; mãe; ser cumprimentado com intimidade pelo ministro da Guerra; passagem de graça para a Europa; achar dinheiro; ilha fluvial coberta de vegetação; piracema; baleia; balança de farmácia; adega de vinho; comer pão saído do forno; brincar de cozinhar; matar aula; votar bem cedinho e ter o dia todo para não fazer nada; pensar na confusão que havia em Jerusalém no tempo de Cristo; “sua pressão está ótima”; “no fígado o senhor não tem nada”; “assine o recibo nesta linha”; bisbilhotar biblioteca dos outros; discos dos velhos tempos; varanda de fazenda; pátio espanhol; cisterna; água nascente; a Floresta Negra; montanha-russa; water-shoot; apanhar com a mão a laranja que nos lançaram de longe; notar de repente que uma pessoa muito feia tem uma voz muito bonita; retirar o gesso; ducha escocesa; demonstrar teorema de geometria; mata de pinheiros; álamo; conversar com um velhinho que só entende de árvores; rever Luzes da cidade; o andar de Michèle Morgan; o sorriso de Ingrid Bergman; a feiúra de Katharine Hepburn; encher o filtro com batida de limão em dia de feijoada; ser apresentado a um rio famoso; ver uma raposa na estrada; flores; frevo; escola de samba; aquarela de criança; bola de couro nova; ganhar uma bola de borracha maciça na aula de catecismo; a vida de São Francisco; claustro; caixa de ferramentas; janelas para o mar; luvas de inverno; ter em casa uma poltrona de humorista inglês; espelho do século passado; quadro de Braque e de Morandi; motorista de táxi gentil; médico beberrão; crescimento de árvore plantada por nós; descobrir semelhança entre pessoas e objetos (por exemplo, entre uma lâmpada guarnecida por uma armação de ferro e o pai de Hamlet); o Rio visto de avião; fotografia antiga; descobrir uma frase que nos revele; colega de boa memória, recordando coisas do colégio; gente engraçada; gente que sabe imitar os outros; esquilo roendo avelã; Tarzã, o filho das selvas; Sherlock Holmes; mocinho que não erro tiro; o Blue Boy aos 17 anos; o Coração de De Amicis aos 14; Papini aos 18; o Jeca Tatu aos 7; Gulliver e Robinson Crusoé em edições juvenis aos 13; Pinóquio em qualquer idade; ver marceneiro trabalhar; fogueira na praia, à noite; dormir em barraca; estar vivo; descobrir que viver é de graça; poder falar a verdade; os momentos que precedem o jantar em casa de amigos; chegar em casa depois de viagem; ficar de short o dia inteiro; coceira de bicho-de-pé; ler na cama; casaco de camurça; ver jogo de futebol, na televisão, deitado; o primeiro contato com Pepino, o Breve; Luís Lopes Coelho; fazer a própria lista de coisas deleitáveis.
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Paulo Mendes Campos
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Sem dizer das outras 8.329 coisas abomináveis, das quais não tenho tempo de me lembrar neste instante, eu denuncio na vida moderna os seguintes crimes contra a criatura humana:
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Sala de espera de ministério público, de autarquia, de banco, sobretudo quando uma réstia de sol morno e antipático bate em nossa cara; atraso de avião, para reparos no motor, sobretudo quando se está sozinho em aeroporto estrangeiro, com um alto-falante incompreensível em qualquer idioma; trem que atrasa na própria estação de partida, sobretudo da Estrada de Ferro Central do Brasil no primeiro dia de carnaval (isto já me aconteceu, é claro); menino de nariz sujo (menina então nem se fala); gol do América no último minuto contra o Botafogo ou gol do Escurinho de pé direito; preencher aquele formulário hermético e algébrico da Divisão do Imposto de Renda, sobretudo quando não se tem renda, mas vai pagar assim mesmo; a penúltims hora em qualquer viagem e em qualquer tipo de transporte; torneiras secas há mais de três dias (todo carioca contemporâneo tem crédito no Paraíso); verificar que o prato pedido no restaurante está intragável; garçom que fica malcriado quando quer gorjeta além dos 10% já incluidos na conta; uísque ostensivamente falsificado; domingo às seis horas da tarde, sobretudo se há resenha esportiva, mas a televisão está enguiçada; técnico de televisão; anúncio de televisão; Marcom; buscar um registrado no Colis Postaux; desembaraçar bagagem na alfândega; delegacia de polícia, em qualquer circunstância; prostituta sem dentes; falso malandro; falso valente; sujeito falsamente importante; fila de elevador e elevador propriamente dito; bafo de respiração em nossa nuca dentro do elevador; um arábe (dizia Ovalle) vestido a caráter dentro de elevador; enguiço de elevador e a gente lá dentro; moça que não sabe que mulher só pode falar um palavrão por semana; aviso de banco; gerente de banco (o subgerente é pior) quando nos diz com sarcasmo: "Sempre os eternos 10%!"; tinta quando acaba se a gente já está enchendo a promissória (tem de pedir a caneta do gerente emprestada); pobre bajulando rico; rico bajulando pobre; rir com exagero da anedota contada pelo patrão; campainha de telefone de madrugada; esperar um telefonema com ansiedade e, vai atender, é engano; enfarte de pessoa da nossa idade; caixa, quando nos diz para passar no dia seguinte (no dia seguinte talvez ele nos pague, mas com uma cara enjoadíssima de quem concede um favor excepcional); cachorro latindo em nossas pernas; quintal com papagaio e macaco; discurso em geral, mas, notadamente, os empolados e compridos; cara de falsa modéstia; tratar de papéis para a compra de imóvel; processo na Caixa Econômica; eletrola quando fica biruta; vacina antivariólica; rumores de epidemia de varíola; apartar briga em espanhol; brigar em francês; amar em alemão; ser puxado por alguém para dançar; enjôo de mar (mais forte que amor de mãe, diz Gilberto Amado); jornal largando tinta; pagar a mesma conta duas vezes (o poeta Keats refere-se a isso com uma sacrossanta indignação); acordar com gripe; dor de dente, sobretudo depois de trinta anos; poesia declamada por mulher gorga ou magra demais; chapéu à nossa frente no teatro; jantar perto de pessoa que nos vai devorando as fritas; "quer me dar só uma pontinha de bife?"; ser chamado de "bichão" ou "batuta" por pessoa que não tem intimidade conosco; beliscão; o segundo beliscão; practical jokes, sobretudo se o idioma é do Texas; topada; agentes de seguros (porque evidentam dizer-nos a palavra morte e só pensam nisso); conta de boate, sobretudo quando o cavalheirismo nos obriga a pagar sem checar o roubo; policial empurrando a gente de leve (com força é mais que abominável); batedores de motocicleta, sobretudo no verão, no dia que a gente não tomou banho porque faltou água; os serviços em geral da Companhia Telefônica; a telefonista-chefe do serviço interurbano; demora aproximada de seis horas porque há alguns circuitos com defeito; precisar inadiavelmente de táxi em noite de chuva; esquecer a carteira em casa; perder cardeneta de endereços; isqueiro quando acaba o fluido mas há ainda uma tênue esperança; perder dinheiro; achar dinheiro e o dono aparecer na mesma hora; comerciante quando nos aconselha a comprar logo porque vai subir de preço; chimpanzé metido a besta; araponga em tarde de dor-de-cotovelo; serra circular em dia de ressaca; ressaca em dia de serra circular; queda ridicula em via pública; estar com vontade de fumar e nem o motorista do táxi tem fogo; amigo que não compra cigarros para fumar pouco; ser apresentado mais de 13 vezes a uma mesma pessoa; não reconhece uma pessoa que já nos foi apresentada; pessoa que nos diz "você não se lembra de mim", e não contra; batida de automóvel na hora do engarrafamento; mão suada; festas juninas; sujeito que adora falar mal língua estrangeira; sujeito que fala bem demais língua estrangeira; mulher feia falando mal de mulher bonita; o abominável homem das neves.
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Coisas deleitáveis
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Depois de ter publicado uma lista de coisas abomináveis, pediram-me para fazer uma relação de coisas deleitáveis. Pois não:
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Coleção de revistas de antes da Primeira Grande Guerra, em feriado chuvoso; cigarro depois do café da manhã, sobretudo de manhã fria, no interior; água de geladeira; às quatro horas da manhã, depois de uma festa; arrancar os sapatos depois do baile; andar descalço em relva úmida; breakfast em cama de hotel; cochilar em viagem de automóvel com rádio tocando canções napolitanas; montar cavalo bonito; banho de cachoeira; banho de mar em manhã de verão na praia de Boa Viagem; grande partida de futebol à noite no Maracanã; dizer baixinho versos de Verlaine em madrugada de romantismo e vaga melancolia; ganhar discos de presente (João!); ganhar uísque de presente; conhecer gente que conheceu Machado de Assis; sombra de árvore; um bom papo em carro-restaurante; dormir cansando; viagem de segunda classe em transatlântico de luxo; lago de águas límpida; andar de canoa em rio grande; acertar um sem-pulo de canhota; acertar tiro ao alvo, sobretudo garrafa; jogar novela de Conrad no mar; música de João Sebastião quando a manhã é infinita; canivete alemão; aroma de madeira; passarinho colorido quando pousa perto da gente; oferecer bebida a uma senhora de idade e ela aceitar com prazer; octogenário lúcido e lépido; casa na qual morou quem admiramos muito; tulipas e narcisos à beira do Avon; batucada bem batida; batida bem batucada; flamenco bem dançado; comida chinesa; salto acrobático que pode causar a morte do artista; crawl com estilo; time de basquetebol americano; passe de Didi; gol de Pelé; drible de Garrincha; lembrar os grandes craques argentinos do passado; rasgar papéis inúteis; copiar caderneta de telefones; dinheiro que não se esperava; dinheiro quando é mais do que se esperava; fisgar um peixe; ver Raimundo Nogueira diante duma travessa de caranguejos; cartomante ou palmista quando acerta alguma coisa; geladeira nova, sobretudo a primeira; mudar para apartamento maior; andar de bailarina; roupa de palhaço de circo; o olhar superior do tigre; vento de montanha; tomar ponche de rum nos Alpes; canja de galinha dum restaurante subterrâneo que existe em Hamburgo; catedral góticas; igrejas barrocas de Ouro Preto; o adro da igreja de São Francisco de Assis, em São João del Rei; jabuticaba de Sabará; ar refrigerado; lareira em terra fria; milho cozido; bateria de cozinha novinha em folha; trazer para casa um queijo enorme; dar boneca para menina pobre; menino preto tomando sorvete; comer mexido à meia-noite, desembarcar de avião; álbum de pintura, sobretudo Paul Klee; brincar com argila; sol da manhã no inverno; foto em que a gente fica mais bonito do que é; máquinas de escrever, nova; lenço de linho; atlas; mapas antigos; passear de jangada; telefonar para outro país; descobrir, quando o cigarro acaba, que a gente ainda tem um cachimbo e uma lata de fumo; a palavra cognac, aprender o que é Weltanschuung aos 20 anos; xícara de porcelana; taça de cristal fino; facão de cozinha bem amolado; aprender que faca de pão é o instrumento ideal para descascar abacaxi; paradoxo de Bernard Shaw; cesta de cajus do Nordeste; hortaliças frescas em cima do mármore; aquele coelho de relógio em Alice no País das Maravilhas; lembrar de repente um episodio da infância; mãe; ser cumprimentado com intimidade pelo ministro da Guerra; passagem de graça para a Europa; achar dinheiro; ilha fluvial coberta de vegetação; piracema; baleia; balança de farmácia; adega de vinho; comer pão saído do forno; brincar de cozinhar; matar aula; votar bem cedinho e ter o dia todo para não fazer nada; pensar na confusão que havia em Jerusalém no tempo de Cristo; “sua pressão está ótima”; “no fígado o senhor não tem nada”; “assine o recibo nesta linha”; bisbilhotar biblioteca dos outros; discos dos velhos tempos; varanda de fazenda; pátio espanhol; cisterna; água nascente; a Floresta Negra; montanha-russa; water-shoot; apanhar com a mão a laranja que nos lançaram de longe; notar de repente que uma pessoa muito feia tem uma voz muito bonita; retirar o gesso; ducha escocesa; demonstrar teorema de geometria; mata de pinheiros; álamo; conversar com um velhinho que só entende de árvores; rever Luzes da cidade; o andar de Michèle Morgan; o sorriso de Ingrid Bergman; a feiúra de Katharine Hepburn; encher o filtro com batida de limão em dia de feijoada; ser apresentado a um rio famoso; ver uma raposa na estrada; flores; frevo; escola de samba; aquarela de criança; bola de couro nova; ganhar uma bola de borracha maciça na aula de catecismo; a vida de São Francisco; claustro; caixa de ferramentas; janelas para o mar; luvas de inverno; ter em casa uma poltrona de humorista inglês; espelho do século passado; quadro de Braque e de Morandi; motorista de táxi gentil; médico beberrão; crescimento de árvore plantada por nós; descobrir semelhança entre pessoas e objetos (por exemplo, entre uma lâmpada guarnecida por uma armação de ferro e o pai de Hamlet); o Rio visto de avião; fotografia antiga; descobrir uma frase que nos revele; colega de boa memória, recordando coisas do colégio; gente engraçada; gente que sabe imitar os outros; esquilo roendo avelã; Tarzã, o filho das selvas; Sherlock Holmes; mocinho que não erro tiro; o Blue Boy aos 17 anos; o Coração de De Amicis aos 14; Papini aos 18; o Jeca Tatu aos 7; Gulliver e Robinson Crusoé em edições juvenis aos 13; Pinóquio em qualquer idade; ver marceneiro trabalhar; fogueira na praia, à noite; dormir em barraca; estar vivo; descobrir que viver é de graça; poder falar a verdade; os momentos que precedem o jantar em casa de amigos; chegar em casa depois de viagem; ficar de short o dia inteiro; coceira de bicho-de-pé; ler na cama; casaco de camurça; ver jogo de futebol, na televisão, deitado; o primeiro contato com Pepino, o Breve; Luís Lopes Coelho; fazer a própria lista de coisas deleitáveis.
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