terça-feira, 29 de março de 2011

RIMAS...









José de Sousa Dantas glosando o mote:

Quem foi sujo no passado
Quer ser limpo no presente

Quem tem o dom de roubar,
vive procurando um meio
de se valer do alheio
para se locupletar,
manter-se e continuar
ganhando irregularmente;
trapaceia, finge e mente,
com seu jeito descarado.
Quem foi sujo no passado
quer ser limpo no presente !

Faz de tudo para ter
uma oportunidade
que dê rentabilidade
e possa se promover,
ganhando, sem merecer,
livre e descaradamente,
enganando a muita gente,
num esquema enviesado.
Quem foi sujo no passado
quer ser limpo no presente !

Não tem vergonha na cara
e se mostra como santo,
o seu fingimento é tanto
que dissimula e mascara,
e ainda se declara
ser leal e coerente,
mas não passa finalmente,
de covarde e de safado.
Quem foi sujo no passado
quer ser limpo no presente !

O sujopode deixar
a família envergonhada,
marcada e prejudicada,
sem saber como encarar
tanta sujeira sem par,
e sentir-se realmente
ofendida moralmente,
com críticas de todo lado.
Quem foi sujo no passado
quer ser limpo no presente !

Além de ser sujo quer
viver ganhando dinheiro
pra manter-se o tempo inteiro
como bem lhe convier,
dê o caso no que der,
mente deslavadamente,
usa desse expediente
que nos deixa indignado.
Quem foi sujo no passado
quer ser limpo no presente !

É preciso punição
para toda criatura
acusada de usura,
calote e corrupção,
além de devolução
de valor integralmente,
logrado indevidamente
de ato ilegal provado.
Quem foi sujo no passado
quer ser limpo no presente !

Tem sujo que quer ficar
limpo de cara lavada,
com sua vida inovada,
procura se lapidar,
para se purificar
externo e internamente,
mudando literalmente
o rumo antes traçado.
Quem foi sujo no passado
quer ser limpo no presente !

Ser limpo é uma virtude,
uma forma de respeito;
mas ser sujo é um defeito,
um vício, uma ilicitude,
um tipo de atitude
abusiva, inconsequente,
desleal e indecente,
que constitui um pecado.
Quem foi sujo no passado
quer ser limpo no presente!

* * *

Carneiro Portela glosando o mote:

Neste Brasil de novela
Futebol e carnaval.

Veja a coisa como anda
Nesta Pátria idolatrada
Sua honra está manchada
Apesar da propaganda
Está entrando na ciranda
Da mídia fenomenal
E todo povo em geral
Com isto se desmantela
Neste Brasil de novela
Futebol e carnaval.


É tanta vagabundagem
tanta farra e anarquia
confundem a democracia
com a própria “fuleragem”
curtição e vadiagem
bacana com bacanal
quem anima é animal
quem tem pêlo não apela
neste Brasil de novela
futebol e carnaval.

Brasilzim das mordomias
dos ladrões engravatados
de tanto reais jogados
nos cofres das loterias
o Brasil dos nossos dias
está enfermo,passa mal
fechando tanto hospital
não cura tanta mazela
neste Brasil de novela
futebol e carnaval.

O Brasil vive jogando
sua cultura na lama
a novela é o programa
pra gente besta pirando
carnaval de vez em quando
para o povo é triunfal
no mundo não tem rival
chega dói na espinhela
neste Brasil de novela
futebol e carnaval.

* * *

Anastácio e Zé Limeira glosando o mote:

Vou fazer serenata na calçada
Da menina que amei na minha vida

Anastácio

Venho amando do tempo da infância
Uma linda menina que ainda prezo,
Inda quase maluco eu não desprezo
Sua imagem e a sua rutilância .
Desprezá-la seria ignorância,
Minha deusa bonita e preferida
Que por Deus para mim foi escolhida,
Minha estrela brilhante e consagrada…
Vou fazer serenata na calçada
Da menina que amei na minha vida.

Zé Limeira

Pra fazê serenata eu sou bambão ,
Toco em frente, de banda, quina e lado.
Na viola eu até toco um bocado,
Sou ribombo e zuada de truvão.
Muitas vezes eu decanto uma canção
Lá no açude de Santa Margarida.
Eu me lasco mais faço uma ferida
No toitiço da velha madrugada…
Vou fazer serenata na calçada
Da menina que amei na minha vida.

* * *

Manoel Xudu glosando o mote:

Cleópatra Rainha do Egito,
Messalina Rainha do Romano.

Madalena mulher escandalosa,
Filha legítima de Betânia,
Abalou toda aquela Babilônia
Com seus trajes e roupa vaporosa.
Sua mãe era muito virtuosa
E seu pai trabalhava todo o ano,
Mas Lázaro já havia feito um plano
E a Maria deu um castigo maldito.
Cleópatra Rainha do Egito,
Messalina Rainha do Romano.

* * *

Um folheto de Arievaldo Viana

ROMANCE DE LUZIA-HOMEM

Seca de setenta e sete
Estranho e terrível mal
O século é dezenove
E o cenário é Sobral
Sob um sol causticante
Vemos uma retirante
Lá no morro do curral.

O seu talhe é esbelto
E o rosto muito bonito
Possui o braço mais forte
Nesse cenário maldito
Canseiras não a consomem
Lhe chamam Luzia-Homem
Pelo seu jeito esquisito.

O seu pai era vaqueiro
Na fazenda Ipueira
Por não ter um filho homem
Transformou-a em vaqueira
Nas lidas do dia-a-dia
E a fama de Luzia
Corria aquela ribeira.

O pai morreu, veio a seca
Mudou então seu destino
Tornou-se uma retirante
Grão de areia pequenino
No mar da vida jogado…
Só dois amigos a seu lado
Eram Alexandre e Raulino.

Alexandre, moço fino
Fora um dia fazendeiro
E por amor a Luzia
Tornou-se um bom companheiro
Do outro o que se conta
É que foi salvo da ponta
De um touro traiçoeiro.

Raulino Uchôa, o vaqueiro
Era forte e destemido
Quis pegar um touro à unha
Milagre, não ter morrido
Por ironia do destino
Foi o valente Raulino
Por Luzia socorrido.

Agora vamos falar
Da heroína Luzia
Em um casebre afastado
Com a sua mãe vivia
Dona Zefinha doente
Tinha uma asma inclemente
Que aos poucos lhe consumia.

Rumavam as duas peregrinas
Com destino ao litoral
Mas o caminho puxado
Agravou da velha o mal
A pobre mal se arrastava
Por ela, Luzia estava,
Contra a vontade, em Sobral.

Na sua lida diária
Batalhava pelo pão
Mas por ser forte e arredia
Sofria discriminação
Cercada por inimigos
Somente seus dois amigos
Inda lhe davam atenção.

Lá no morro do curral
Tinha um soldado metido
Era um tal de Crapiúna
Sujeito vil, enxerido
Que sempre a perseguia
Se aproximou de Luzia
Visando tirar partido.

Rejeitado com veemência
Não se dava por vencido
Dia a dia foi ficando
Mais ousado e atrevido
Sempre, sempre a lhe cercar
Vivia a se lamentar
Por ser dela preterido.

Vendo então que Alexandre
Era de fato um rival
O soldado Crapiúna
Pensava em fazer-lhe o mal
Mas Alexandre, direito,
Aumentava seu conceito
Na cidade de Sobral.

Conquistou a confiança
Por ser um homem de bem
E tinha em seu poder
As chaves de um armazém
Foi a sua perdição
Porque da vil traição
Não está livre ninguém.

Na porta desse armazém
Os pobres aglomerados
Recebiam um quinhão
Dos mantimentos guardados
O socorro federal
Que diminuía o mal
Daqueles pobres coitados.

Um dia em que Alexandre
Foi ver Zefinha e Luzia
Perguntou à bela jovem
Se com ele casaria
Deu-lhe uma flor perfumada
Sem saber que na cilada
Do soldado cairia.

Pois quando se retirou
Da casa de sua amada
Encontrou no armazém
Uma multidão formada
Lhe acusando de ladrão
Não adiantou então
A inocência protestada.

Terezinha, a única amiga
Que Luzia-Homem tinha
Foi correndo avisá-la
Dessa desgraça mesquinha
Ela a notícia escutando
Correu depressa, deixando
Sua mãe com Terezinha

Chegando ali se prostrou
Aos pés da autoridade
E defendeu Alexandre
Com tanta sinceridade
Que até mesmo o promotor
Viu que acima do amor
Estava ali a verdade.

Porém a justiça é cega
E lenta em seu caminhar
Nisto chegou Crapiúna
E pôs-se dela a zombar
Mas ela tinha guardado
Uma carta onde o safado
Prometia se vingar…

Luzia pega a tal carta
Mostra ao promotor então
Crapiúna com cinismo
Se livra da acusação
Saiu contente o soldado
E Alexandre foi levado
Às grades da detenção.

Luzia seguiu pra casa
Bastante contrariada
Terezinha então lembrou
De uma velha afamada
Que sabia adivinhar
Mas precisava levar
A quantia estipulada.

Responso de Santo Antônio
A poderosa oração
Que para as pessoas cultas
Não passa de um abusão
Pra muitos funcionava
Era o que a velha usava
Para descobrir ladrão

No entanto, Terezinha
Viu uma cena confusa
Mais pareciam ciganos
Da velha terra andaluza
Na cena também foi vendo
O papangu mais horrendo
Numa careta disfusa.

Luzia todos os dias
Com muita dedicação
Levava para Alexandre
O de comer, na prisão.
Porém, uma certa vez
O seu amado lhe fez
Estranha revelação.

Contou que uma tal Gabrina
Moça a quem ele ajudara
Viera a promotoria
E um falso lhe imputara
Mostrou cortes de fazenda
Um par de brincos, outra prenda
Disse que dele ganhara.

Mordida pelo ciúme
Luzia se retirou
E a partir daquele dia
À prisão não mais voltou.
Terezinha, por seu lado
Seguindo o torpe soldado
Todo o crime desvendou.

Pois ela viu Crapiúna
Um baú desenterrar
E de dentro dessa arca
Grande quantia tirar
Separou ele uma nota
E reuniu-se à patota
Para beber e jogar.

Terezinha correu célere
Foi dizer ao delegado
E Crapiúna foi preso
Depois do crime apurado
Soltaram o réu inocente
E ali no mesmo ambiente
Deixaram preso o soldado.

Alexandre resolveu
Ir morar noutra parada
Levando os seus amigos
Dona Zefinha e a amada
Partiu na frente sozinho
Pra arranjar com carinho
Sua futura morada.

Luzia seguiu depois
Com Dona Zefa e Raulino
Mas vejam a negra cilada
Que preparou-lhe o destino
Pois Crapiúna fugiu
E de perto a seguiu
Com seu instinto assassino.

Achando-a só um instante
Tratou de lhe agarrar
Chamando por Alexandre
Pôs-se Luzia a gritar
Travou-se a luta mortal
E aquele bruto animal
Entendeu de lhe matar.

Defendendo sua honra
Luzia ainda lutou
Com suas unhas um olho
De Crapiúna arrancou
E tombou morta em seguida
A sua amada sem vida
Pobre Alexandre encontrou.

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