terça-feira, 15 de março de 2011
TODOS CALÇAM SAPATOS NÚMERO 40...
O que distingue Jaqueline Roriz (PMN-DF) dos seus 512 colegas deputados federais eleitos ou reeleitos em outubro? Nada. Salvo o fato de que Jaqueline foi filmada recebendo dinheiro de Caixa 2 para financiar sua campanha - e os outros não foram filmados. Nunca se sabe, é verdade. Há sempre uma câmera, um gravador ou um celular à espreita.
Jaqueline é filha de Joaquim Roriz, quatro vezes governador do Distrito Federal e notório pilantra. Eleito senador em 2006, renunciou ao mandato para escapar de ser cassado. Um grampo da polícia captou sua voz negociando a partilha de R$ 2,2 milhões com o então presidente do Banco Regional de Brasília, Tarcísio Franklin de Moura.
No seu último governo, Roriz delegou ao delegado Durval Barbosa a tarefa de arranjar dinheiro sujo para pagar despesas de campanhas de aliados. Durval deu conta do recado, mas foi além: para eventual uso futuro, passou a registrar em vídeo a entrega do dinheiro e conversas comprometedoras com políticos e empresários.
Procedeu em legítima defesa. Temia ser descoberto, processado e preso. Essa foi a gênese do escândalo do mensalão do DEM do Distrito Federal, que resultou na prisão e renúncia ao governo de José Roberto Arruda, sucessor de Roriz, na renúncia e cassação de deputados distritais e na destruição de reputações que pareciam sólidas.
Durval entregou sua videoteca ao Ministério Público Federal ao ver o perigo de se dar mal em um processo e ao sentir-se abandonado por Arruda, a quem filmara com um maço de R$ 50 mil nas mãos. O vídeo de Jaqueline é novidade para o distinto público – não é para o Ministério Público, com quem Durval negociou a delação premiada.
Como não é novidade o vídeo onde Durval conversa com Agnelo Queiroz (PT), ex-ministro dos Esportes do governo Lula, e atual governador do Distrito Federal. A conversa nada teve a ver com dinheiro de campanha. Mas a divulgação, hoje, do seu teor constrangeria – e muito - Agnelo, segundo pessoas que tiveram acesso ao vídeo.
O destino do mandato de Jaqueline pertence a seus colegas. Ou a ela mesma caso prefira imitar o pai e renunciar. Bobagem a história de que o mandato dela será preservado porque o crime de embolsar dinheiro ilegal ocorreu em 2006. Na época, Jaqueline era candidata a deputada distrital.
Presidente do PMDB, da Câmara dos Deputados e da Assembléia Constituinte de 1988, Ulysses Guimarães ensinava: “No Congresso, se você tem maioria, só não faz mulher virar homem nem homem virar mulher”. Nos anos 60, o relógio da Câmara foi atrasado em algumas horas para que uma votação terminasse oficialmente antes da meia-noite.
Luiz Estevão de Oliveira foi acusado de ter desviado dinheiro da construção do Fórum da Justiça do Trabalho em São Paulo antes de se eleger senador pelo PMDB do Distrito Federal. Cassaram-lhe o mandato em meados de 2.000 sob a alegação de que mentira para seus pares ao se defender. Ora, a lei admite que você minta para não ser punido.
O mensalão do PT custou a José Dirceu a chefia da Casa Civil da presidência da República e, em seguida, o mandato de deputado federal. De nada adiantou ele alegar que não exercia o mandato quando o mensalão foi denunciado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Precisava rolar uma cabeça coroada do PT para salvar a de Lula.
Lei não retroage para punir. Mas a da Ficha Limpa retroagiu e barrou candidaturas. O Supremo Tribunal Federal dividiu-se quanto à questão. Mas o Tribunal Superior Eleitoral, não. O respeito à ética é condição indispensável para quem aspire representar o povo no parlamento ou exercer cargos públicos.
Jaqueline já era. Seu partido, o PMN, é uma sigla de aluguel. O sobrenome de Jaqueline acaba pesando contra ela. E a Câmara não parece disposta a inaugurar uma nova legislatura sob a marca da conivência com a quebra de decoro. Acabar em pizza é corriqueiro. Começar com pizza é indigesto.
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